terça-feira, 16 de agosto de 2005

Desafinação

Há, de vez em quando, umas vozes que desafinam no meio do coro variegado que brada contra o fim do aeroporto da Portela (onde estava esta gente toda quando a decisão de construir novo aeroporto foi tomada em 1999 e depois retomada, embora não implementada, pelos governos PSD/CDS?). O facto de os seus argumentos fazerem todo o sentido não deve bastar, porém, para serem ouvidas. Momentos há de unanimismo altissonante, em que a dissidência fica clandestina...

segunda-feira, 15 de agosto de 2005

O Aceh verde e azul


Demagogia (2)

Que os autarcas peçam a declaração do "estado de calamidade pública" por cada incêndio florestal no seu concelho, sem estarem preenchidos os correspondentes requisitos legais, compreende-se mal, mesmo em época pré-eleitoral. Que comentadores políticos responsáveis, devendo conhecer tais requisitos, secundem tal exigência, isso é concorrência desleal. A demagogia deveria ser exclusiva dos políticos...

Demagogia

O cúmulo da demagogia dos últimos dias é a ideia de que o primeiro-ministro deveria interromper as férias por causa dos incêndios florestais. Traria, porventura, com ele a chuva?

Aceh - a paz é possível

De 22 a 26 de Julho passado voltei ao Aceh, integrada numa missão do Parlamento Europeu.
No «Courrier Internacional», edição de 5 de Agosto, na coluna «Todo-o-Terreno», publiquei um relato do que vi, senti e percebi - «Pela Paz no Aceh». Na «Aba da Causa» poderá ser lida a versão integral.
Não contei tudo. Não contei, por exemplo, que em cinco dias e quatro noites, sentimos 6 tremores de terra, um de grau 5.6 na escala de Richter. Vi o pânico nos olhos dos acehneses que me rodeavam. Compreensivelmente - o tsunami seguiu-se a um terramoto devastador, meia-hora antes. A reconstrução não é só dolorosa: é angustiante. Mais uma razão por que sem ao menos paz, não é possível reconstruir no Aceh.
Confirmou-se a assinatura hoje, em Helsinquia, de um Acordo de Paz entre o Governo de Jacarta e o movimento separatista GAM. Os acehneses aplaudem-no, esperançosos, embora com prudente cepticismo - já viram outros semelhantes falhar na aplicação.
Muito vai depender dos monitores internacionais, que não devem esperar cumprimento escrupuloso dos compromissos de ambas as partes - elas e os monitores serão inevitavelmente armadilhados pelos sectores, de ambos os lados, que não querem a paz porque beneficiam com o conflito.
Os monitores serão da UE e da ASEAN. Portugal não deve deixar de contribuir para a missão europeia. 5 monitores (homens ou mulheres) já será contribuição decente.

Epílogo

Mário Pinto volta a atacar hoje no Público a questão da escola pública, confundindo mais uma vez a liberdade de criar escolas privadas e de as frequentar (liberdade constitucionalmente garantida, que ninguém contesta, muito menos eu) e o direito ao ensino, cuja satisfação constitui uma obrigação constitucional do Estado através da escola pública, não tendo este nenhum dever de financiar a frequência de escolas privadas, como pretende MP (que era a questão que desde o início estava em causa).
As deliberadas confusões que ele amontoa na sua pseudo-resposta ao meu artigo da semana passada não precisam de réplica (ele não responde a nenhum dos meus argumentos) e os ataques pessoais que me dirige (em que é useiro e vezeiro) não me levam a incorrer na mesma via. Já lhe dei mais troco do que merece.
Queira ele ou não, existe uma diferença essencial entre o interesse público e os interesses particulares. Não defendemos coisas equivalentes.

Adenda
É evidente que eu não imputei a MP nenhuma malfeitoria, ao contrário do que ele se queixa, torcendo a leitura de uma passagem do meu texto, que não consente tal interpretação. Primeiro, não está nos meus hábitos atacar pessoalmente os meus opositores; segundo, para mim a honorabilidade de MP não está, nem nunca esteve, em causa; terceiro, é sabido que os fiéis de organizações transcendentais, quando pedem ou reclamam benesses, é para elas e não para si mesmos.

"Baixar as expectativas no Iraque"

Nas vésperas da aprovação do projecto de constituição iraquiana -- que em vários aspectos ficará bem longe dos padrões de uma democracia ocidental -- os Estados Unidos baixam subtancialmente as suas expectativas em relação à ocupação do País. Um longo artigo do Washington Post de ontem dá conta do pessimismo reinante. Entre outras coisas, já foi abandonada a ideia de derrotar a insurreição contra a ocupação, que não dá mostras de abrandar. A partida das tropas norte-americanas sem a missão cumprida é claramente assumida. «"We've said we won't leave a day before it's necessary. But necessary is the key word -- necessary for them or for us? When we finally depart, it will probably be for us," a U.S. official said.»

Ligeira, mas...

... mesmo assim merecedora de uma menção a análise da blogosfera nacional, ontem no Diário de Notícias.

Adenda
Ver também a nota crítica de Paulo Gorjão.

domingo, 14 de agosto de 2005

Lugares de desencanto

Detrito doméstico numa praia algarvia, Ilha da Culatra, parque natural(?!) da Ria Formosa, Agosto 2005.

Estado fraco

Quem ontem viajou na auto-estrada do Norte, muito congestionada, deveria saber por que é que o Estado não obriga a Brisa a construir a terceira faixa de rodagem nos troços que já ultrapassaram há muito os limites de tráfego previstos no contrato de concessão. Num Estado fraco os concessionários privados podem dar-se ao luxo de incumprimento sem riscos de sanção...

Pergunta

Por que razão é que a nova ligação rodoviária entre a A1 e a A13 junto a Santarém -- permitindo pela primeira vez uma ligação rápida entre o Norte e o Sul sem se ter de passar por Lisboa -- não é feita em perfil contínuo de auto-estrada, em vez de obrigar a dois controles de portagem e a passar pelo estrangulamento da variante externa daquela cidade?

sexta-feira, 12 de agosto de 2005

Lugares de encanto

Angra do Heroísmo, Ilha Terceira, Açores, 2005.

Surrealismo

«PS local impugna listas do próprio PS em Felgueiras». Definitivamente o PS não se dá bem com Felgueiras...

Correio dos leitores: Colégio Militar

1. «"O Colégio Militar é um Estabelecimento de educação e ensino destinado a filhos de militares e também de civis, em regime de internato, preparando-os para frequência ulterior das Academias Militares. Ministra aos alunos sólida educação moral, intelectual, física e militar. O ensino está legalmente equiparado ao dos Estabelecimentos de ensino dependentes do Ministério da Educação" (in site do M.Defesa Nacional).
Posso assegurar-lhe que é a excelência da Escola que a mantém em funcionamento com larga percentagem de miúdos filhos de civis não havendo qualquer espírito de casta a manter artificialmente a Escola (creia que o espírito de casta foi chão que já deu uvas..., infelizmente).
No que respeita aos Institutos Superiores há muito deviam ter sido reunidos num único pois não só há capacidade física para tal como se recupera a possibilidade de colocar em contacto estreito oficiais dos três ramos.»

Morais Silva

2. «O que justifica a permanência do Colégio Militar é, evidentemente, a procura do qual é alvo. Se um Colégio tem procura da parte dos pais, por quê ir extingui-lo?
A educação no Colégio Militar paga-se, e paga-se bem. Trata-se para todos os efeitos, tanto quanto julgo, de um Colégio de índole privada, embora pertencente ao Estado. E não vejo nada de errado nisso.»

Luís Lavoura

Comentário
Não vejo onde é que se enquadra constitucional e legalmente a possibilidade de o Estado manter colégios "privados"...

Privilégios

Portugal é um dos países onde os trabalhadores gozam de maior período de férias, diz um relatório comparativo internacional. Também é provavelmente um dos que tem maior número de dias feriados e de "pontes". Portanto, é um dos países onde menos se trabalha. Depois admiramo-nos de vivermos acima das nossas possibilidades...

quinta-feira, 11 de agosto de 2005

Lugares de encanto

Fortaleza de Angra do Heroísmo, Ilha Terceira, Açores, 2005.

Escolas militares

Após anos e anos de estudos, projectos e resistências, foi finalmente concretizada a reunião dos três institutos de estudos superiores das forças armadas num só. Como é difícil fazer reformas que afectam interesses e feudos instalados!
A propósito de escolas militares, o que é que justifica hoje a existência de escolas do ensino básico e secundário, como o Colégio Militar, se não um deslocado espírito de casta (aliás, reservado a rapazes)?

O novo aeroporto

O Ministro das Obras Públicas publica hoje um artigo no Diário Económico -- infelizmente indisponível online -- a defender o aeroporto na Ota. Invoca especialmente o estudo de impacto ambiental de 1999. Todavia, trata-se somente da vertente ambiental, que valida a escolha do local em comparação com outros. Falta obviamente o estudo de impacto financeiro e económico da construção do novo aeroporto.

O que se suspeitava

A Anacom, a entidade reguladora das comunicações, veio confirmar o que se supeitava quanto à falta de efectiva concorrência na telefonia móvel e à "coordenação" de práticas tarifárias entre os três operadores, o que insinua claramente uma acusação de práticas restritivas da concorrência.
Para além da atenção da Autoridade da Concorrência, o que estas conclusões suscitam é a necessidade de aumento do número de operadores no mercado. Se existem países com numerosos operadores, por que é que em Portugal existe um mercado reservado para somente três operadores?

Segredo de polichinelo

Ridicularizando pertinentemente os que à direita tentaram demonstrar que para Sócrates era melhor ter Cavaco em Belém do que Soares, Rui Ramos vem dizer o que verdadeiramente vai na alma da direita quanto às presidenciais e quanto ao seu candidato: o que ela quer e espera é obviamente a demissão do Governo.
Eis, portanto, uma questão à qual Cavaco Silva não vai poder fugir: esclarecer devidamente a sua posição em relação à estabilidade política em geral e à estabilidade givernativa em especial.

Escola pública

«Em desespero de causa, os adversários da escola pública defendem que o Estado não deve encarregar-se do ensino, nem de outros direitos sociais ou culturais, devendo limitar-se às "tarefas soberanas". É obviamente livre a opinião sobre as tarefas do Estado. Mas quem as define é a Constituição e o voto dos eleitores e não os "opinion makers", sobretudo quando são parte interessada. A Constituição diz o que diz e não o que o "lobby" do ensino privado queria que ela dissesse.»
Este é um excerto do meu artigo desta semana no Público, já disponível, como habitualmente, na Aba da Causa.

quarta-feira, 10 de agosto de 2005

Lugares de encanto


Angra do Heroísmo, Ilha Terceira, Açores, 2005.

A cruzada

Prossegue, apaixonada, a cruzada paroquial de Lisboa contra a mudança do aeroporto da Portela. Vale tudo. O Governo dá uma prestimosa ajuda, ao adiar para Outubro (vá-se lá saber porquê...) a divulgação dos estudos que sustentam a construção do novo aeroporto.

Por que será?

Portugal é o País da UE onde há relativamente mais incêndios florestais. Porquê? Provavelmente, porque nenhum outro tem uma floresta tão vulnerável aos fogos como a nossa.

Correio dos leitores: A extinção do Ballet da Gulbenkian

«(...) A FCG tem uma identidade própria, associada ao título de "Ministério da Cultura português" até muito recentemente. Tal perfil só foi possível por conciliar duas filosofias de intervenção: uma directa, com serviços próprios, outra indirecta, com subsídios e apoios vários. Foram e/ou ainda são serviços directos alguns dos organismos mais emblemáticos da FCG: as bibliotecas itinerantes e fixas, o Ballet Gulbenkian, a Orquestra Gulbenkian, o ACARTE, etc. Há argumentos que revelam uma estratégia deliberada dos administradores ideologicamente mais liberais no sentido de acabar com os serviços directos (...).
Aqui surge um problema: se numa visão liberal faz sentido exigir uma menor presença do Estado na sociedade civil, já um menor peso da sociedade civil nela mesma é um contra-senso. Porém, é nisso que se traduz o esvaziamento do papel da FCG na oferta e na concorrência culturais, ambas cruciais para o desenvolvimento da sociedade portuguesa. (...)
A extinção do Ballet Gulbenkian foi nefasta, dada a sua intempestividade (a renovação artística fora almejada e a programação de 2005/6 já fora aprovada), o momento escolhido (celebração dos seus 40 anos), o valor do grupo de bailado (prestigiado internacionalmente, à custa de muito investimento e árduo labor) e, como vimos, por comprometer definitivamente a própria filosofia mista de intervenção sócio-cultural da FCG ao longo da sua existência.
(...) Cabe à opinião pública debater estas questões, pois a FCG é uma das instituições mais importantes da nossa sociedade civil, e por isso deve ser alvo de escrutínio público. Uma petição com 20 mil assinaturas vai nesse sentido (vd. http://www.petitiononline.com/bg05ext/petition.html). Para o bem do interesse comum, da nossa democracia.»

Daniel Melo, historiador

Correio dos leitores: «O fogo e nós»

«Agora que me envolvi directamente, durante dois dias, lutando até à exaustão, no meio de um inferno de chamas e fumo ardente, procurando defender a humilde casa de meus pais - lugar de memória da minha infância e recanto de paz nos encontros domingueiros de são convívio entre três gerações ? melhor entendo o valor da enorme solidariedade e abnegação do nosso povo. (...)
Mas é triste, de uma tristeza infinita, observar o nosso vasto e rico património florestal e ambiental desaparecer num ápice, perante a nossa impotência, com consequências tão nefastas que provavelmente ainda nem nos demos conta, tal é o estado de pasmo e incredulidade com que olhamos agora, atónitos, estas manchas intermináveis de paisagem negra, bélica, ainda ontem tão fresca e paradisíaca.
É este sentimento de raiva interior, que ora se abafa, ora parece explodir, por verificar que os mais pobres continuam os mais sofredores, as suas casas as que ardem, o seu desespero o mais ignorado. Entregues a si próprios e ao seu destino, apenas podem contar consigo e a solidariedade possível. E ficar mais pobres. (...)
Razão tem o meu pai, nos seus lúcidos 75 anos, confessando a um órgão de informação (os novos paparazzi da desgraça!) face ao cenário de tragédia jamais visto na sua aldeia: "Tivesse eu agora 20 ou 30 anos, voltaria a emigrar para bem longe e tão cedo não regressaria a este triste e pobre país."
E nós, valerá a pena ficar? Até quando?»

(M.Oliveira, Leiria)

terça-feira, 9 de agosto de 2005

Abrupto ou abutre?

"A Capital é hoje um jornal que vale a pena ler, até porque a sua agenda é muito diferente da dos outros jornais diários. (...) É um jornal maison, íntimo, e por isso é um jornal urbano interessante, que publica trabalhos jornalísticos com informação nova e temas pouco tratados".

(Pacheco Pereira sobre A Capital, no Abrupto, em Agosto de 2004)

"A Capital vai-me fazer falta, mas sempre que eu via um número revoltava-me a incúria com que era feita. Eu sei que é duro dizer isto, mas não era segredo para ninguém, a começar pelos seus leitores, que o desastre era inevitável".

(Pacheco Pereira sobre o fim da Capital; na Sábado de 5 a 11 de Agosto de 2005)

Correio dos leitores: Lisboetês

«Não sei se será lisboetês ou não. Português é que não é de certeza. Repetidamente o pivôt da RTP 1 José Rodrigues dos Santos comenta que tal matéria "não tem a haver" com qualquer coisa. Então não há um(a) colega que lhe faça o reparo? Ninguém lhe dirá que "não tem a haver" não tem mesmo nada a ver com "não tem a ver"?»
Fernando Barros

Correio dos leitores: CGD

«Então e na CGD ?
Esta instituição é uma autêntica agência de emprego do bloco central (PS/PSD).Quem entrar para a CGD sem cartão daqueles partidos se chegar a chefe de secção já é muito bom. Hoje a Caixa está enxameada de Directores oriundos das mais variadas origens e cujos currículos são uma vergonha, enquanto dantes os quadros superiores eram recrutados na instituição.
O [Armando] Vara então é de bradar aos céus, como é que um 1.º ministro se enterra desta maneira. O tesoureiro da agência de Vinhais foi promovido a administrador. Querem maior afrontra para que lá trabalha honradamente?»

M. Malaca

«Quanto aos meninos-familia [na PT]:
1- e os que estudam lá fora à custa dos metecos nacionais?
2- e como é nas repartições onde trabalha a família toda mais a prole (experimente fazer as contas sobre o valor do legado que é um emprego no estado para um vencimento de 1.500 euros/mês)?
3- e na CGD pode constatar que está lá a famelga toda.
5- e nas Câmaras? A avaliar pelo municipio local, se nos outros a coisa tiver um nível de degradação igual a 50% ao "deste" poder local, a coisa só é sustentável porque o povo é pouco letrado... ou não tem nem voz nem direitos substantivos.
6- e nos Intitutos, fundações e quejandos onde o Estado mete o bedelho?
Mas a questão é: como moralizar esta sociedade, esta classe política tão... tão seráfica? Eu sei que os empresários não são melhores, os operários também são o que são e os amanuenses em geral já não se convencem com uma "gasosa"...
Soluções?
(...) Como salvar o regime sem a transmissão gratuita da soberania para a Espanha (país que eu aliás muito aprecio), sendo certo que os portugueses de um modo geral, não apreciam os espanhóis?
Aqui em casa estamos a lutar por uma solução nada sui generis: emigrar. Emigrar para sempre, o que quer dizer, mandar às malvas o Futebol Clube do Porto, a Académica (...), deixar de ficar agarrado à TV com medo que o pinhal da família também arda, passar as férias no Montenegro, falar alemão e francês lá em casa, e ter vergonha de usar o passaporte que se exibe!
(...) Sopra no ar um vento pútrido de dissolução que põe em causa um bem cujo valor não há dinheiro que pague. A vida em liberdade. Mas liberdade com roubo acintoso, costuma dar em tragédia.»

A. A. Oliveira

Correio dos leitores: Floresta

Sobre a floresta baseada no pinheiro bravo e no eucalipto, e apoiada pelos interesses de produtores florestais e madeireiros, a coisa não é assim tão simples.
A economia florestal em Portugal não é, em geral, rentável. Em boa parte, por falta de mão-de-obra, e pelo baixo preço pago pela madeira. Os proprietários não têm como cuidar da sua floresta. (...) É por isso que proprietários inteligentes optam por plantar eucalipto - porque lhes dá um trabalho menor a manter as suas terras.
Se [se] quiser substituir os pinheiros bravos e eucaliptos por carvalhos, terá que [se] subsidiar os proprietários para que eles os plantem e tratem deles durante a juventude - mondando as ervas e árvores nascidiças à sua volta. E terá que arranjar mão-de-obra para fazer isso - coisa que hoje em dia é praticamente impossível de arranjar por esse Portugal fora. Sem um mercado de mão-de-obra, de máquinas, e de compradores de madeira abundante, facilmente disponível, e em efetiva concorrência económica, nada feito.»

Luís Lavoura

«À sua lista dos possíveis interessados nos incêndios eu acrescentaria ainda as empresas que detêm os meios aéreos de combate aos incêndios, as que fornecem diverso material necessário ao combate dos mesmos (...).
De qualquer modo, vendo que actualmente arde qualquer coisa, mesmo que não seja uma mata bem provida de árvores, estou em crer que os incêndios acontecem por maldade pura, fruto da ausência de consciência cívica, e, quiçá, por afronta ao poder.
Penso que os meios aéreos de combate aos fogos deveriam pertencer ao Estado. Mas se isso acontecer, quando acontecer, provavelmente, no início, não diminuirão os incêndios...
O Estado também não é exemplo no cuidado que presta às áreas florestais do seu domínio. Dantes organizavam-se as matas de grandes extensões de forma a obviar os danos de possíveis incêndios; agora, as matas públicas estão desorganizadas, mal limpas... e exige-se aos particulares um cuidado que o Estado não tem.»

Agostinho Pereira