quarta-feira, 26 de abril de 2006

Para reduzir o défice das contas públicas (7)

7ª medida: Eliminar os subsídios públicos a determinadas categorias profissionais, como sucede com a segurança social dos advogados e com o sistema de saúde dos jornalistas. Nada justifica tais privilégios.

O discurso (3)

O preocupção com a justiça social faz parte integrante do projecto constitucional, pelo que cabe perfeitamente na agenda pública presidencial. Já é menos pacífico que o Presidente possa ir ao ponto de apontar políticas concretas (como a referência ao "plano nacional de acção contra a exclusão social") sem pisar o risco que demarca as suas funções em relação às do Governo...

terça-feira, 25 de abril de 2006

O discurso (2)

O Presidente fez um discurso manifestamente "à esquerda", centrado na denúncia da desigualdade e da exclusão social e na reinvindicação de acção política em prol da inclusão e da justiça social, expressões que usou pelo menos um dúzia de vezes. Nestes termos, só admira que os sectores mais à direita da AR o tenham aplaudido. Vai ser muito interessante ver a reacção das colunas e blogues neoliberais...

O discurso

Na sua edição de 14 de Abril, em manchete de 1ª página, o Expresso anunciava que o Presidente da República criticaria os deputados pelas faltas parlamentares, notícia logo reproduzida como coisa certa e segura por vários outros jornais. Como isso não sucedeu, e não é crível que o Presidente tivesse deixado escapar a intenção de censurar os deputados e depois se tivesse arrependido, torna-se evidente que o semanário inventou a notícia, tomando os desejos por realidades.
Assim vamos em matéria de "jornalismo de referência". Será que o semanário vai pedir desculpa aos seus leitores na próxima edição?

segunda-feira, 24 de abril de 2006

Para reduzir o défice das contas públicas (6)

6ª medida: Municipalizar os transportes públicos urbanos da área de Lisboa e do Porto e transferir para os municípios beneficiários dos mesmos (como sucede no resto do País) as despesas que hoje impendem sobre o orçamento do Estado. É também uma questão de equidade territorial.

"Lei da paridade"

«Marcelo aconselha Cavaco a enviar lei da paridade para o TC". Concordo. Não apenas por causa da controvérsia surgida acerca da votação, mas também porque houve partidos de oposição que contestaram a ligitimidade constitucional do conteúdo legal. Ora, a fiscalização preventiva serve não somente para impedir a entrda em vigor de leis inconstitucionais, mas também, sendo caso disso, para ilibar as dúvidas infundadas.

Para reduzir o défice das contas públicas (5)

5ª medida: Acabar com os hospitais militares e demais instituições militares que deixaram de ter a justificação que tinham. Mesmo que não tivesse havido a diminuição dos efectivos militares que houve, que sentido faz manter hospitais próprios para os militares?

Gestores públicos

Segundo a imprensa, a administradora da CGD, Celeste Cardona, foi eleita delegada ao congresso do seu partido, o CDS. Talvez não seja caso único, podendo até haver casos de acumulação de cargos de administração em empresas públicas e de cargos de direcção partidária. Não acho bem. Mesmo que não havendo nenhum impedimento legal, penso que a administração de empresas públicas, sobretudo das que estão no mercado, deveria estar imune a esse tipo de ostensiva associação partidária. Tal deveria fazer parte do código de conduta dos seus administradores. O argumento de que tais situações também ocorrem no sector privado não procede, dada a diferença de situações.
A propósito, para quando a prometido novo estatuto dos gestores públicos?

domingo, 23 de abril de 2006

Para reduzir o défice das contas públicas (4)

4ª medida: rever a lei das finanças regionais e pôr fim aos subsídios orçamentais à Madeira. O Estado tem a obrigação de ajudar o desenvolvimento das regiões mais pobres. Ora, a Madeira é hoje a 2ª região mais rica do País, já não precisando de nenhuma ajuda. Pelo contrário, constitui uma iniquidade manter uma situação em que as regiões mais pobres continuam a subsidiar uma das regiões mais ricas.

Para reduzir o défice das contas públicas (3)

3ª medida: Eliminar as SCUT, ou seja, as auto-estradas "sem custos para os utentes", mas com custos para os contribuintes que as não usam. Uma coisa é admitir isenções em relação aos residentes no caso das auto-estradas situadas nas regiões mais pobres, outra coisa é manter a gratuitidade de auto-estradas para todos, mesmo em regiões ricas. Os casos do Algarve e da auto-estrada litoral entre o Porto e Aveiro, por exemplo, não são somente um atentado contra as finanças públicas mas também contra a equidade social e territorial.

Escola pública e interesses privados

Só hoje coloquei no Aba da Causa o meu artigo da semana que passou no Público, com o título em epígrafe.

sábado, 22 de abril de 2006

Para reduzir o défice das contas públicas (2)

2ª medida: eliminar, ou reduzir drasticamente, as deduções fiscais para despesas de educação e de saúde, salvo nos casos em que os correspondentes sistemas públicos não proporcionam os respectivos serviços em condições aceitáveis. Na verdade, não faz sentido que, havendo serviços públicos de educação e de saúde gratuitos, pagos pelo orçamento do Estado, aqueles que preferem serviços privados sejam beneficiados com o desconto dessas despesas para efeitos de dedução fiscal (com limites bastante generosos), o que se traduz numa considerável "despesa fiscal".
Ainda por cima, trata-se em geral dos titulares de rendimentos acima da média, não poucas vezes caracterizados por uma elevada evasão fiscal (industriais e comerciantes, gestores, profissionais liberais, etc.). Duplo privilégio, portanto.

sexta-feira, 21 de abril de 2006

Para reduzir o défice das contas públicas (1)

Parece que são necessárias mais medidas para reduzir o défice das contas públicas. Começo neste post com uma série de sugestões concretas para tal efeito.
1ª medida: estabelecer um limite máximo para as novas pensões de reforma. É verdadeiramente iníquo que anualmente sejam concedidas centenas de pensões de reforma acima de 5000 euros, no sector público. Nem se diga que quem delas beneficia "descontou" para elas. Tal não é verdade, na maior parte dos casos. Um desconto para a CGA de 10% do vencimento, ao longo de 36 anos, com base em remunerações que durante boa parte do período contributivo foram bem inferiores ao valor da pensão, nunca dariam para justificar pensões tão elevadas ao longo da média de vida previsível na situação de reformado (10 anos ou mais). Uma parte considerável daquelas pensões é paga pelos impostos.

quinta-feira, 20 de abril de 2006

Direito de resposta

É evidente que nenhuma maioria parlamentar pode admitir que cada dirigente administrativo demitido transforme a AR em sistemática câmara de eco do seu ressentimento contra o Governo. Mas no caso do ex-director da Polícia Judiciária, justificava-se tal audição, no exercício de um direito de resposta, visto ele ter sido directamente acusado no Parlamento (justificadamente ou não, isso é irrelevante para o caso). Na dúvida, deveria prevalecer o interesse da oposição na audição parlamentar (mesmo sabendo-se que ela não seria tão generosa, se fosse Governo...). De resto, não se vê que vantagem política tirou o PS da sua recusa.

quarta-feira, 19 de abril de 2006

Algo de errado

Pelo menos pela terceira vez, o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos (Estrasburgo) condena Portugal por violação da liberdade de expressão, por causa de uma errada condenação judicial por alegado crime de injúria num caso de disputa de cariz político.
Pelos vistos, se se acrescentar que na maior parte dos casos Portugal tem sido condenado em Estrasburgo por demoras na justiça, temos de concluir que em Portugal os primeiros violadores dos direitos humanos são... os tribunais. Considerando que os tribunais deveriam ser os primeiros garantes dos direitos fundamentais, há evidentemente algo de errado nisto!

Não, obrigado!

Na sua coluna regular no New York Times, Thomas L. Friedman, que apoiou a invasão no Iraque, pergunta agora: "If these are our only choices, which would you rather have: a nuclear-armed Iran or an attack on Iran's nuclear sites that is carried out and sold to the world by the Bush national security team, with Don Rumsfeld at the Pentagon's helm?»
No dilema Iraq II or a Nuclear Iran, a resposta do autor é: outro Iraque, com a incompetência de Bush e Rumsfeld --, não, obrigado! Pelos vistos, o Iraque salva a pele do Irão. Ironias da história, ou: os erros pagam-se, estúpido! Ou ainda: uma guerra errada pode precludir a possiblidade de uma guerra justa...

terça-feira, 18 de abril de 2006

Os militares e a política

Seria a última pessoa a discordar dos generais norte-americanos fora do activo que têm vindo a defender a demissão do ministro da defesa de Bush, Ronald Rumsfeld. Todavia, não posso deixar de discordar, como princípio geral, que os militares se imiscuam na política. Mesmo retirados, os generais continuam generais. O poder político deve responder perante os cidadãos e não perante os generais.

"Fecho" de cadeias

Há quem esteja contra o "fecho de cadeias", ainda que ninguém tenha proposto o encerramento de nenhuma, mas somente a deslocação de três delas (Lisboa, Coimbra e Pinheiro da Cruz). Por mim, aplaudo a mãos ambas a saída da penitenciária de Coimbra do centro da cidade. Antigo local de um colégio universitário (colégio dos freires de Tomar), caído em ruína depois da extinção das ordens religiosas em 1834, a saída da prisão constitui uma excelente ocasião para recuperar para a cidade esse vasto espaço murado (pena que não seja para a Universidade).

segunda-feira, 17 de abril de 2006

Sostiene Prodi

Nas suas primeiras declarações pós-eleitorais Romano Prodi não deixou os seus créditos europeus por mãos alheias, advogando um impulso na integração económica e política da UE. Quanto à Constituição europeia, defendeu que a discussão seja retomada depois das eleições presidenciais francesas de 2007, de modo a que uma versão mais simples da Constituição seja submetida a novo referendo junto com as eleições europeias de 2009.
Para começar, nada mal!

Equidade

Em execução do disposto no Orçamento do Estado para o corrente ano, a "dedução específica" para efeitos de IRS aplicável às pensões foi reduzido de 8 283 euros para 7 500 euros, mesmo assim muito acima dos 3 334 euros, que constituem a dedução específica dos rendimentos do trabalho.
A discrepância do regime fiscal das pensões (categoria H) em relação ao dos rendimentos do trabalho (categoria A) não tem justificação, dado que as primeiras constituem rendimentos substitutivos dos segundos. Assim sendo, rendimentos de igual montante pagam impostos diferentes, conforme a sua categoria, de tal modo que nos casos de pensão equivalente ao último vencimento (caso da função pública, até agora), o rendimento líquido após impostos aumenta com a passagem à reforma! Há alguma lógica nisso?

Manuais escolares

Sem ligar aos interesseiros protestos dos editores, o Governo aprovou o projecto de novo regime dos manuais escolares: certificação independente obrigatória da sua qualidade, aumento da sua vigência temporal (6 anos), gratuitidade para os alunos carenciados. Um módico de rigor na selva em que se tinha tornado o negócio dos livros escolares...

Livro de reclamações (1)

O site electrónico da Direcção-Geral da Contribuições e Impostos indica um telefone de ajuda aos utentes: 707 205 707. Só que... não atende, pelo menos dentro dos primeiros 12 minutos de espera, máximo de espera inglória que suportei na minha mais recente tentativa! Dá para ouvir um andamento das quatro estações de Vivaldi, e para gastar uns euros de ligação telefónica, mas não para obter as necessárias informações.
O contrário de simplex e de disponibilidadex administrativa.

Iraque, Irão, Israel, a India, a bomba e...a CIA

Estão na ABA da CAUSA alguns artigos que escrevi recentemente:

- "Israel-Palestina - não há paz unilateral" (publicado pelo COURRIER INTERNACIONAL24.3.06)

- "Iraque - o deve e o haver" (publicado pelo PÚBLICO,26.3.06)

- "Voos da CIA - é preciso investigar" (para ACÇÃO SOCIALISTA, escrito em 27/3)

- "A India, o Irão e a bomba" (publicado no EXPRESSO, 1.4.06)

O xadrez iraniano

Está na ABA DA CAUSA um artigo que escrevi para o COURRIER INTERNACIONAL (publicado a 7 de Abril), onde aponto para aquilo que o Senador Richard Lugar, Presidente da Comissão de Negócios Estrangeiros do Senado americano, veio ontem sugerir - a necessidade de conversações directas entre os EUA e o Irão para se resolver de forma pacífica a crise sobre a tecnologia nuclear que o regime dos «mollahs» insiste em possuir.
Desafio já os lusos «guerreiros e comentadores de bancada» no "pay-roll", que costumam acusar-me de "wimpism" e anti-americanismo, a dirigir os mesmos mimos ao Senador Lugar.

O pogrom de 1506

"O pior que pode suceder a uma colectividade nacional é deixar-se embalar pelas suas grandezas e perder a memória das suas misérias"
Subscrevo o Vital e agradeço ao Nuno Guerreiro lembrar-nos.

domingo, 16 de abril de 2006

O pogrom de 1506

Apesar do quase silenciamento da historiagrafia oficial, nada pode apagar a página negra da história portuguesa que foi a bárbara matança de judeus em Lisboa, há quinhentos anos, acicatada pela Igreja Católica. O Rua da Judiaria, de Nuno Guerreiro, que tem dedicado uma notável acção ao resgate da memória judaica portuguesa, convoca uma evocação colectiva desse dia nefasto.
O pior que pode suceder a uma colectividade nacional é deixar-se embalar pelas suas grandezas e perder a memória das suas misérias.

sexta-feira, 14 de abril de 2006

75 anos

Comemoram-se hoje os 75 anos de instauração da II República espanhola (1931-39). Quase três décadas depois do fim do franquismo, a democracia espanhola continua sem prestar homenagem às vítimas da guerra civil e da ditadura.

Lugares de encanto

Baía de Paraty, RJ, Brasil, Abril de 2006.

"6ª-feira santa"

A greve dos funcionários dos museus, por serem obrigados a trabalhar na "6ª-feira santa" (por causa da afluência de visitantes), revela a irresponsabilidade de certas categorias de funcionários públicos. Se os museus não estivessem abertos nos dias feriados, como cumpririam a sua missão?
[revisto]

Lamentável

A falta de quórum da AR na 4ª feira passada é condenável sob qualquer ponto de vista, visto que a única explicação está em que a maioria dos deputados resolveu antecipar o fim-de-semana da Páscoa. E é evidente que os deputados do partido governamental têm responsabilides políticas acrescidas.
Para agravar a situação só faltava saber que muitos deputados se limitam a passar pelo parlamento para assinar o ponto e marcar presença.
Depois, queixem-se do avanço do populismo antiparlamentar!