terça-feira, 18 de julho de 2006

O massacre de um país


Ecoando a propaganda israelita, alguns meios de comunicação de hoje noticiavam que Israel continuou a "destruir as infra-estruturas do Hezbollah". Na verdade, o que Israel está a fazer é a destruir as infra-estruturas do Líbano, arrasando pontes e estradas, bairros urbanos, centrais eléctricas e outros equipoamentos colectivos, etc. E a matar e a deslocar muita gente, lançando todo o país no caos (as agências internacionais falam em quase duas cenetnas de mortos e centenas de milhares de deslocados).
Aliás, no final desta orgia sádica de violência bélica contra um país indefeso, que deixará o Líbano em ruínas, a única coisa que Israel não conseguirá destruir é justamente o Hezbollah (que, como todos os movimentos elusivos, não precisa de infra-estruturas próprias).

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«As políticas de educação postas em prática ao longo das últimas décadas tiveram efeitos que só podem qualificar-se de desastrosos.
A eliminação, durante anos, dos exames nacionais no final de cada grau de ensino não democratizou a educação, mas eliminou a noção de mérito e de esforço e acabou por pôr o ensino básico, obrigatório, em concorrência com formas de entretenimento, numa luta desigual que só podia ditar a derrota da escola.»
(Teodora Cardoso, "A educação e a política", Jornal de Negócios de hoje)

domingo, 16 de julho de 2006

Lugares de encanto

Veneza.

Lugares de encanto

Veneza.

"Nem Fidel Castro se esquivou"

O meu artigo desta semana no Público, com o título em epígrafe, está agora disponível na Aba da Causa.

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«O caso [do anúncio da jornalista Maria João Avilez] não é "excessivamente grrrave", num país em que jornalistas apresentam reality shows, em que manequins são actores ou apresentam notícias, em que apresentadores saem directamente dos noticiários para empresas de "comunicação", em que magazines são apresentados por pessoas que fazem publicidade, em que talk-shows são mostruários de produtos e serviços dos amigos dos apresentadores. Sobre isto nem a Comissão da Carteira nem os papas da deontologia têm uma palavra a dizer. Ao pé da promiscuidade generalizada e da submissão do jornalismo à economia, o caso do anúncio do BPP é uma ninharia.» (Eduardo Cintra Torres, Público de hoje; link só para assinantes)

sexta-feira, 14 de julho de 2006

Dois pesos, duas medidas

Os países da União Europeia lamentam em palavras os excessos da ofensiva militar israelita contra a faixa de Gaza e o Líbano (destruição de inúmeros objectivos civis, morte de dezenas de pessoas inocentes, ataque a um Estado soberano, etc.), em resposta à provocação de grupos extremistas palestinianos, que capturaram dois ou três militares israelitas. Mas quando se trata de forçar Israel a pôr fim ao uso desproporcionado da força e ao ataque ilícito a objectivos civis, a UE fica-se... pelas palavras.
Será dessa maneira, tomando ostensivamente o partido de Israel, sem a mínima equanimidade em relação aos palestinianos, que a UE quer desempenhar um papel imparcial e construtivo no conflito israelo-palestiniano, como é seu dever e interesse?

A política das palavras

Seguindo a qualificação israelita, a captura dos soldados israelitas pelos movimentos radiciais palestinianos é geralmente qualificada como "rapto" pelos media. Ora, num regime de ocupação as tropas do ocupante são um alvo legítimo da resistência armada nos territórios ocupados, sobretudo quando a potência ocupante não respeita os mais elementares direitos das populações dos territórios ocupados.
Já a morte de dezenas de civis inocentes em Gaza e no Líbano em consequência da retaliação israelita só pode ter o nome que tem: assassínios de Estado.

quarta-feira, 12 de julho de 2006

Sempre há uma explicação

«O PSD fez um pacto secreto com o governo e o PS. Apenas esta realidade pode explicar a inexistência de uma oposição capaz por parte do partido de Marques Mendes.» (A. A. Amaral, no Insurgente).

Radicalismo retórico

Uma deputada do BE acusava hoje o Governo de ser "rufia" (sic), por ser "forte com os fracos e fraco com os fortes". A deputada não deve viver neste país, visto que se há coisa de que o Governo não pode ser acusado com razão é de complacência perante os grupos privilegiados, bastando recordar o fim dos regimes especiais e as regalias dos políticos, dos militares, dos juízes, dos professores, dos grandes agricultores, etc. (ainda hoje foi anunciado o fim do regime especial de pensões de reforma do Banco de Portugal e da CGD). Mesmo na reforma da segurança social, quem sai com posições mais salvaguardadas são os titulares de pensões mais baixas, com sacrifício das mais altas.
Uma das razões da boa imagem do Governo na opinião pública (apesar de algumas medidas realmente criticáveis) está justamente em fazer questão de mostrar que, desta vez, a austeridade toca a todos e não somente aos mesmos de sempre.
Com "boutades" daquelas, como é que a oposição quer credibilizar a sua contestação do Governo, mesmo quando há razões para isso? O radicalismo retórico só serve para esconder a falta de ideias e de projectos.

Já se sabe para onde vai o dinheiro ....

... da Câmara Municipal de Lisboa. Segundo o Correio da Manhã, «a Câmara de Lisboa tem nos gabinetes do executivo quase 100 assessores com contratos de prestação de serviços e avenças, com os quais gasta mais de 3,1 milhões de euros por ano».
Um dos grandes mistérios financeiros do País é o do sugadouro de fundos no município de Lisboa. Sendo o município mais rico do país, não tendo despesas importantes que outros têm, porque os Estado (ou seja, o resto do país) as suporta (por exemplo, os transportes públicos), intrigava a sua permanente situação de dificuldade financeira. Agora, a confirmarem-se as notícias do diário lisboeta, começamos a ter um princípio de explicação.

terça-feira, 11 de julho de 2006

Mas é que deve ser mesmo

«Caso GM tem de ser exemplar, diz ministro da Economia». Ai do Governo, se consentisse a mínima complacência face a esta violação grosseira das obrigações contratuais da empresa. Portugal não pode ser uma República das bananas, muito menos de bananas.

Fatalidade

"GM Europe: fecho da Azambuja é definitivo". Fatalidade dos pequenos países periféricos, que já perderam a vantagem dos custos de trabalho comparativamente baixos (de resto, os salários crescem acima da produtividade), mas que mantêm todos os factores negativos: distância e custos de transporte, défice de qualificação profissional, baixa produtividade, falta de fornecedores domésticos qualificados, elevados custos de energia, falta de competividade fiscal, etc.
Temos de fazer melhor em todos esses aspectos.

Para o caso de alguém se ter esquecido

«Aperto do cinto é para continuar, diz Governo». Ponto é que valha para todos, incluindo os que se habituaram há muito a viver à conta do orçamento alheio (como a região autónoma da Madeira...).

Correio dos leitores: Simplex

«Quantos professores dos ensinos básico e secundário se encontram a trabalhar nos serviços centrais e regionais do Ministério da Educação? Desejando tentar obter uma pergunta a esta simples questão decidi contactar a Direcção Regional de Educação do Norte e, com enorme rapidez, ligaram-me a um Director de Serviços que simpaticamente me disse que esta informação deveria ser obtida na Secretaria Geral do Ministério. Liguei para este organismo e durante muito tempo andei a ser desviado de serviço para serviço. Ao fim de quase entrar em desespero alguém me comunicou que deveria contactar o Departamento de Recursos Humanos do ME. Também aqui fui tratado como uma bola de "pinball" até que, de outro lado da linha, alguém me diz: "Nós não tratamos disto. Nós só tratamos de informação estatística." "Mas o que eu quero é uma informação estatística", retorqui. Mandaram-me aguardar. Ao fim de algum tempo fui informado de que a informação pretendida deveria ser solicitada por escrito em carta dirigida à Senhora Ministra da Educação. É por isso que foi criado o Simplex não foi?»
Paulo S.

Nem mais um tostão para a Madeira

O líder regional da Madeira escreveu recentemente ao Primeiro-Ministro (cuja demissão imediata pediu ha pouco tempo ao Presidente da República...) a pedir ajuda para a grave crise financeira da região. Mas a resposta só pode ser um rotundo NÃO; e deveria haver rapidamente uma investigação do Tribunal de Contas aos despautérios financeiros no arquipélago. Em qualquer País onde a ideia de responsabilidade financeira quisesse dizer alguma coisa, Jardim já estaria destituído por dolosa irresponsabilidade (suborçamentação de despesas, realização de despesas sem dotação orçamental, endividamento acima do permitido, compromissos financeiros a longo prazo sem qualquer garantia de cobertura, empresas públicas fictícias, subsídios a rodos para os amigos políticos, serviços públicos gratuitos à labúrdia, como no caso da saúde, etc. etc.).
A Madeira beneficia de um regime de privilégio financeiro. Fica com todas as receitas fiscais nela geradas; não contribui um cêntimo para as despesas gerais da República (forças armadas, tribunais, relações externas, etc.); apesar de se ter tornado uma das regiões mais ricas do País, continua a receber anualmente milhões e milhões adicionais do orçamento do Estado, ou seja, dos impostos do Continente, com regiões muito mais pobres; o Estado continua a suportar várias despesas de investimento (por exemplo, o aeroporto) e vários serviços públicos na Madeira (por exemplo, a Universidade).
E depois desta cornucópia, ainda falta dinheiro? Nem mais um cêntimo, para além dos milhões previstos no orçamento do Estado, cumprindo a generosa Lei de Finanças Regionais. Quando o Estado faz sacrifícios para disciplinar as finanças públicas, seria um verdadeiro crime contra os contribuintes do Continente alimentar o saco sem fundo do destrambelhamento financeiro do Governo regional da Madeira. Se não tem dinheiro para cumprir os compromissos financeiros, que aperte o cinto, aumente os impostos (muito mais baixos do que no Continente) ou... declare falência!

segunda-feira, 10 de julho de 2006

É só para lembrar...

... este convite.

É só por perguntar

Desculpem a pergunta de leigo: e se, em vez do fantasma de Pauleta (a selecção portuguesa pareceu jogar sempre só com 10 jogadores...), tivesse entrado mais vezes o Nuno Gomes (como aconteceu nos minutos finais do derradeiro jogo), a sorte da selecção nacional de futebol na Alemanha não poderia ter sido diferente, para melhor?

Desfeita

Segundo noticia o Diário de Notícias, citando a imprensa italiana, o Vaticano condenou duramente o chefe do Governo espanhol, Rodríguez Zapatero, por não este não ter ido à missa celebrada pelo Papa em Valência, por ocasião de um "Encontro Mundial da Família", organizado por círculos religiosos e políticos conservadores.
Segundo o porta-voz papal, esta é uma "desfeita" sem precedentes na história das visitas do sumo pontífice romano: "Quando fomos à Nicarágua, [o Presidente] Daniel Ortega foi à missa. Em Varsóvia, durante o período comunista, [o primeiro-ministro] Wojciech Jaruzelski fez o mesmo." Até em Cuba, concluiu, "Fidel [Castro] não se esquivou à missa".
Com efeito, com tão convincentes exemplos, como é que há um governante, ainda por cima da Espanha "fidelíssima", que ousa desacatar a universal obediência devida pelo poder temporal ao poder espiritual do Papa? Decididamente, nestes tempos ímpios, já não há respeito pelas hierarquias tradicionais do poder!

Regalias

«Segundo apurou o CM junto de fonte do Ministério da Justiça, 3573 magistrados (80 por cento do total) optaram por receber o subsídio de compensação previsto na lei pelo não uso das casas de função, mais conhecidas por casas dos juízes, no valor de 700 euros por mês. Este subsídio de compensação acumula ao vencimento dos magistrados e não está sujeito a impostos.» (Correio da Manhã, via Câmara Corporativa).
Ora, aí está uma regalia que os demais encarregados de funções públicas (e privadas!) não se importavam de ter. Não valerá aqui um princípio de universalidade quanto à "casa de função" e seu sucedâneo pecuniário?

domingo, 9 de julho de 2006

A tempestade perfeita

Vale a pena ler o artigo de Michael Abramowitz e Robin Wright "A Driven President Faces a World of Crises" , publicado no Washington Post, dia 6 de Julho.
O artigo cita Madeleine Albright, a ex-Secretária de Estado da era Clinton, a propósito das graves crises a estourar por todo o lado na cena internacional, designadamente as últimas provocações vindas da Coreia do Norte: «OS EUA estão a enfrentar a "tempestade perfeita" na política externa... Não temos prestado atenção a uma série de problemas... O Afeganistão está fora de controle porque não lhe foi prestada suficiente atenção".
«Este é um governo distraído que tem que tomar conta de muitas coisas ao mesmo tempo e se deixou consumir pela guerra no Iraque» diz Moisés Naím, editor da revista "Foreign Policy".
As preocupações já transpõem fronteiras partidárias ou ideológicas e exasperam mesmo os falcões:
Richard Hass, que serviu na Administração Bush e agora preside ao Council on Foreign Relations, afirma: "Não consigo pensar num outro momento nos tempos modernos com tantos desafios confrontando este país ao mesmo tempo (... O perigo é que o Sr. Bush entregue a Casa Branca a um sucessor que tenhe de fazer face a um muito mais caótico mundo, com muito menos recursos para lhe fazer face".
O guru neo-conservador William Kristol, editor do "Weekly Standard" diz:"A Coreia do Norte dispara mísseis. O Irão caminha para o nuclear. A Somália é controlada por radicais islamistas. O Iraque não está a melhorar e o Afeganistão está a piorar. Dou crédito ao Presidente por se manter forte em relação ao Iraque. Mas estou preocupado que isso o tenha tornado excessivamente passivo no confronto dos outros perigos".
Zbigniew Brzezinski, que foi National Security Adviser na Administração Carter observa: "É como o malabarista: tem de se manter todas as bolas a girar. Qualquer uma que saia fora da trajectória, ameaça todas as outras..."
O comentário da Sra. Albright faz alusão apropriada ao filme "The perfect storm". De facto, quem semeia ventos, colhe tempestades. Por nós todos, esperemos é que o final seja diferente. É que em «Staying the course»,o filme com título igual ao mantra de Bush, Clooney foi ao fundo...

Feira Mundial do Livro Electrónico

São cerca de 330 mil obras em formato digital, em mais de 100 línguas, que poderão ser descarregadas gratuitamente até 4 de Agosto.
A iniciativa assinala o 35º aniversário da colocação do primeiro eBook online, pelo fundador do Projecto Gutenberg, Michael Hart, a 4 de Julho de 1971. Desde então, o número de textos gratuitos à disposição dos internautas não parou de aumentar. O objectivo é chegar a um milhão em 2009.
Entre os mais de 50 títulos em língua portuguesa, encontram-se «Os Lusíadas», de Luís de Camões, várias obras de Camilo Castelo Branco, incluindo «Amor de Perdição», Eça de Queiroz («A Cidade e as Serras», «A Relíquia» e «As Farpas», com Ramalho Ortigão), Florbela Espanca («Livro de Mágoas»), Cesário Verde («O Livro de Cesário Verde»), António Nobre («Só»), Júlio Dinis («Uma Família Inglesa»), Almeida Garrett («Frei Luís de Sousa») e Fernão Lopes («Chronica de el-rei D. Pedro I»).
Consultas em
http://worldebookfair.com/

O guardião dos direitos humanos na Europa

Ano após ano aumenta o papel do Tribunal Europeu dos Direitos Humanos na defesa dos direitos garantidos na Convenção Europeia de Direitos Humanos de 1950. É por isso muito oportuna a apresentação e discussão da sua jusrisprudência, que vai ter lugar no Curso de Verão do Centro de Direitos Humanos da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, com ínício já no próximo dia 12, 4ª feira.
Participam alguns dos maiores especialistas nacionais e estrangeiros (ver programa no link indicado). A língua de trabalho é o Inglês. A frequência é livre (sem direito a documentação e certificado).
[Declaração de interesses: sou um dos responsáveis tanto pela direcção do referido Centro como pela organização da conferência.]

A Constituição conimbricense

Eis a capa da recente e bela edição da Carta Constitucional de Coimbra (link para uma versão electrónica, porém com alguns lapsos de transcrição), que foi aprovada no I Congresso da Cidade (2001), tendo sido agora publicada por ocasião do II Congresso.

Gostaria de ter escrito isto

«Compreendo muito bem o meu direito a que o meu vizinho não saiba o que vai pelas minhas contas [bancárias]. Mas o fisco? Não havendo propriamente um direito meu à fraude e à evasão, o que é que tal sigilo visa acautelar? Qual é o direito da personalidade, qual é o elemento da minha privacidade, que são ameaçados se e quando a administração fiscal puder conhecer a origem lícita dos depósitos na minha conta bancária? Ou o que está em causa é um direito à privacidade do ilícito? As perguntas são tão rudimentares e correntes que certamente as objecções que as calam são da mais inatingível sofisticação técnica.» (Nune Brederode Santos, "Os segredos do sigilo", Diário de Notícias de hoje)

sábado, 8 de julho de 2006

Bolsar Bolton...

No artigo do WASHINTON POST que refiro no post anterior, o embaixador Richard Holbrooke sublinha a ausência no encontro entre os enviados de Bush e Kofi Annan e Malloch Brown do actual embaixador americano junto da ONU, John Bolton (estava ele em vociferante desaguisado com Malloch Brown, a propósito do processo de reforma da ONU).
De facto, a atitude arrogante e de desafio de Bolton não ajuda nada Washington face à enormidade da tarefa diplomática que se propõe alcançar para passar a bola à ONU no Iraque.
O que vale é que Bolton está a prazo na ONU, uma vez que não foi sequer confirmado pelo Senado...

Bring multilateralism on !

Numa cândida entrevista à revista alemã DER SPIEGEL de 7 de Junho, o astuto embaixador americano em Bagdad, Zalmay Khalilzad, descreve as dificuldades em pôr de pé um Estado de direito no Iraque. Depois da Secretária de Estado Condi Rice ter admitido que os EUA «cometeram milhares de erros tácticos» no Iraque, Khalilzad lembra também que Washington «cometeu erros terríveis [some terrible mistakes] na fase de planeamento» da guerra.
Os EUA nunca admitirão que a guerra no Iraque foi um erro, grave, estratégico. Mas esta nova modéstia (também afivelada no recente arrependimento de Bush por ter usado retórica de índios e cowboys no contexto da «guerra contra o terrorismo» - o fanfarrão «bring them on !...») representa a capitulação de um estilo, de uma maneira de estar nas relações internacionais.
Apesar dos actos de contrição, não é fácil à Admnistração Bush abandonar velhos hábitos. E, de facto, internamente a Casa Branca procura dar a ideia de que está inabalável e que manterá a todo o custo o rumo ('stay the course') no Iraque, afastando qualquer sugestão de calendário para retirada das tropas.
Mas tudo indica que, na realidade, a diplomacia americana se prepara para entregar o Iraque às Nações Unidas.
Quem o sublinha é Richard Holbrooke, ex-embaixador americano na ONU na era Clinton. Num interessante artigo publicado no WASHINGTON POST, de 28 de Junho, («Turning to the UN, again»), Holbrooke conta como dois enviados de Bush se encontraram com o Secretário Geral Kofi Annan e o Sub-Secretário-Geral Mark Malloch Brown para lhes pedirem apoio na organização de uma conferência internacional sobre o Iraque no Outono, numa acção que garanta ampla participação da comunidade internacional na criação de um novo 'Iraq compact' para assegurar o desenvolvimento daquele país.
Todos nos lembramos da campanha de deslegitimação da ONU levada a cabo pelos EUA e pelo Reino Unido antes da invasão de 2003. Recordamos a histeria artificial de Washington e Londres, a quererem convencer-nos de que a iminência da ameaça das armas de destruição maciça iraquianas não deixava ao 'mundo livre' outra opção que não invadir aquele país e à ONU nenhuma alternativa senão legitimar tamanha loucura. Não esquecemos de que a 'relevância' da ONU foi posta em causa neste contexto por Bush e Blair, porque os restantes membros do Conselho de Segurança - por variadas razões - decidiram não se juntar ao delírio intervencionista. E de que, segundo um memorando encontrado em Downing Street (transcrito no livro 'Lawless World' escrito pelo advogado britânico Philippe Sands QC), num encontro com Blair a 31 de Janeiro de 2003, Bush admitia enviar um avião americano pintado com as cores da ONU para sobrevoar e ser derrubado por Bagdad, provocando a invasão e a legitimação da mesma pelo Conselho de Segurança...
Enfim, não será certamente fácil à comunidade internacional esquecer o que se passou.
Mas, segundo Holbrooke, agora confrontados com a dura realidade do pântano iraquiano, os EUA redescobriram as virtudes da modéstia e do multilateralismo.
Bem-vindos! Mais vale tarde do que nunca!

Ao Juvenal de Xabregas

Mensagem retirada. Assunto esclarecido.

"Cuidado, camaradas"

Quando era militante do PCP, as ocasionais manifestações da minha vocação dissidente (só consumada em 1990) motivavam quase sempre uma advertência do género: «Cuidado, camarada! A prova evidente de que não tens razão é o facto de as tuas opiniões coincidirem com as da direita» (o que, aliás, na linguagem interna de então, tal como agora, incluía o PS...).
Ocorreu-me essa virtuosa moralidade ao dar-me conta de que recentemente o PCP tem compartilhado posições coincidentes com a direita (a verdadeira, à direita do PS) em vários assuntos de indiscutível relevância política, designadamente na questão da "paridade" eleitoral e na defesa de deduções fiscais cuja eliminação foi aventada por uma comissão técnica, mesmo quando elas favorecem a fuga dos serviços públicos para o sector privado. É caso para dizer: «Cuidado, camaradas!»

Correio dos leitores: "Público"

«Estou absolutamente de acordo consigo relativamente à linha editorial de O Público. Pouco a pouco, sem nunca deixar de o ler, certo é que perdi a assiduidade de leitor. Seria bom que regressasse ao seio da família, mas não creio. Aliás, falta um jornal desse jaez, não lhe parece?»
Agostinho P.