Blogue fundado em 22 de Novembro de 2003 por Ana Gomes, Jorge Wemans, Luís Filipe Borges, Luís Nazaré, Luís Osório, Maria Manuel Leitão Marques, Vicente Jorge Silva e Vital Moreira
domingo, 4 de maio de 2008
Iniquidade fiscal
Se aos gerentes juntarmos a generalidades das profissões liberais e dos prestadores de outros serviços, incluindo pelo abuso da forma societária, teremos um quadro preocupante, que só admira que permaneça ao longo dos anos, e dos governos, sem antídotos assinaláveis por parte das leis e dos serviços fiscais.
Democracia
De facto, o estudo que serve de fonte à referida notícia utiliza uma noção muito abrangente e pouco comum de democracia -- a "democracia quotidiana" --, no qual a "democracia eleitoral e procedimental", ou seja, a democracia política, constitui somente um dos seis itens da grelha de análise. Ora, quanto à democracia politica, Portugal aparece bem colocado, justamente a meio da tabela, entre as antigas democracias europeias e as mais recentes. É nos demais critérios, relativos à democracia na sociedade e nas instituições, que Portugal fica sistematicamente abaixo da sua posição quanto à democracia política.
É evidente que, sobretudo de um ponto de vista de esquerda, a democracia não se esgota na "democracia eleitoral". Mas convém fazer as devidas distinções e não diluir a democracia política no meio de meia dúzia de outros critérios democráticos mais ou menos difusos.
PSD
No entanto, se os inquiridos representam o eleitorado em geral, e não especificamente os militantes do PSD, então é provável que o segundo possa ter melhores resultados do que os que a sondagem mostra, visto que a sua imagem no Partido pode ser melhor do que a que tem na opinião pública em geral. A ser assim, a vitória de Ferreira Leite, que muitos dão por certa, dada a quantidade e variedade dos seus apoios, pode não estar assegurada.
Prova de vida
quarta-feira, 23 de abril de 2008
Paulo Portas: a impunidade não pode continuar - 5
Bom, nem vale a pena falar do caso que não é de incúria, mas de despudorada violação criminosa, que levou Paulo Portas a sair do Ministério da Defesa com quase 62.000 fotocópias de documentos classificados como "confidencial", "NATO", "submarinos", "ONU" e "Iraque"; documentos que não são obviamente “pessoais”, como ele alegou, já que se fosse esse o caso, bastaria levar ....os originais.
Resumindo, já que Paulo Portas insiste na necessidade de pôr fim à impunidade no Estado e dos seus agentes, porque não apurar a extensão das suas próprias responsabilidades quando foi governante de Portugal?
A impunidade não dura para sempre. A de Paulo Portas não pode continuar.
Paulo Portas: a impunidade não pode continuar - 4
Também foi a incúria (no mínimo) de Paulo Portas à frente do Ministério da Defesa que explica como é que foi assinado um contrato de €450 milhões com a AgustaWestland para a aquisição de uma frota de 12 helicópteros EH-101... sem um contrato paralelo de manutenção e operação dos aparelhos, dos quais agora uns são canibalizados para pôr outros a funcionar. É verdade que a AgustaWestland também tem responsabilidades no cartório, no que toca à falta de peças e às falhas mecânicas que regularmente são referidas na imprensa, e que já causaram acidentes com feridos. Mas já em 2001, houve quem questionasse se não era disparate duplicar os encargos logísticos, adquirindo os NH-90 para o Exército e os EH-101 para a Força Aérea - helicópteros de dimensões e capacidades comparáveis, mas de empresas diferentes. Agora a resposta está aí nos aviões parados e avariados (mas avariadas não estarão provavelmente as continhas bancárias de alguns senhores envolvidos no negócio).
(...)
Paulo Portas: a impunidade não pode continuar - 3
Porque foi a incúria (no mínimo) de Paulo Portas pelo interesses do Estado que levou Portugal a enterrar uns faraónicos €1,07 mil milhões na aquisição de dois submarinos - que o país vai ficar a pagar por largos anos - de que o país precisa tanto como ... de um porta-aviões (bem sei, bem sei, que a Marinha invocava o periscópio da Espanha a controlar-nos os mares). Mas a lógica desse contrato começa a ser mais inteligível quando está sob investigação judicial um estranho pagamento na conta em Londres da empresa ESCOM (UK), ligada ao BES, (pelo menos 24 milhões) de onde aparentemente foram desviados fundos para, através de contribuições de militantes imaginários como o tal "Jacinto Leite Capelo Rego", rechear as contas do partido de Paulo Portas... (E não só, e não só!.... uma fonte militar que viveu por dentro o processo da aquisição dos submarinos disse-me recentemente que mal Paulo Portas se meteu a negociar o contrato e fez entrar a ESCOM ao barulho e naturalmente mais gente, de outros partidos na AR, o contrato passou a custar mais 35%! Ao Estado, ao nosso bolso colectivo, sim, sim!)
(...)
Paulo Portas: a impunidade não pode continuar - 2
Porque foi a incúria (no mínimo) de Paulo Portas pelos interesses do Estado que levou, em 2002, à saída de Portugal do consórcio europeu que estava a desenvolver o novo avião de transporte militar A400M.
A participação portuguesa no A400M incluía uma quota-parte no projecto industrial, de que ficariam responsáveis as OGMA, e que poderia beneficiar outras empresas portuguesas. Mas Portas preferiu desistir do consórcio industrial europeu para adquirir vários C-130J americanos - que afinal não adquiriu, porque como eu e muita gente avisou eram aviões com defeito, que ninguém comprava.
O A400M "custava muito dinheiro", disse na altura Paulo Portas, como uma das justificações para nos fazer desistir - em troca de nada - de um projecto em que Portugal já tinha investido muito dinheiro, incluindo na formação de técnicos e militares. Mas Paulo Portas não olhou a despesas no exemplo de incúria gritante que se segue.
(...)
Paulo Portas: a impunidade não pode continuar -1
Ao acusar o Estado de "fanatismo fiscal", Paulo Portas puxa pelo oportunismo populista, que é sua imagem de marca: tais acusações vêm de alguém que nunca se preocupou com a gangrena estrutural da fuga aos impostos que este Governo tenta - talvez de forma imperfeita - atacar.
Mas numa coisa Paulo Portas tem razão: "o erro tem de que ter uma sanção" e ninguém deve ser considerado imune contra processos disciplinares, ou judiciais, nem mesmo os que exerceram as mais altas responsabilidades no Estado.
A lei aplica-se de forma igual a todos.
E é por isso que esta cruzada de Paulo Portas contra a impunidade na Administração Pública pode - e deve - voltar-se contra si próprio.
Porquê?
(...)
A Europa não faz o que deve pela Birmânia
"Conheço a Birmânia e posso testemunhar a miséria e a opressão em que vive o seu povo povo.
A Europa não tem feito o suficiente para ajudar o povo birmanês, os seus bravos monges, prisioneiros políticos e a sua corajosa líder Aung San Suu Kyi a conseguirem a liberdade, livrando-se da Junta opressiva.
A Europa não tem feito o suficiente para mobilizar países vizinhos influentes, como a Tailândia, a Malásia, Singapura e, especialmente, a Indonésia, no sentido de intervirem em apoio daqueles que se batem pelos direitos humanos e pela democracia na Birmânia.
A Europa não tem feito o suficiente para pressionar a China e a Índia a porem fim ao apoio que, de uma forma ou de outra, têm dado ao regime opressor.
E a Europa não tem, também, feito o suficiente para prevenir e punir as companhias europeias (como a francesa TOTAL), que continuam a fazer negócios na Birmânia, ajudando assim a sustentar a máfia da droga e da repressão que forma a Junta no poder.
A Europa tem que agir agora e tem de recusar a farsa do referendo em preparação.
O Presidente Durão Barroso e os vários Comissários que com ele estão hoje a caminho de Pequim devem ali falar, de forma clara e firme, sobre o que se passa na Birmânia e as responsabilidades da China na triste situação em que vive o seu povo.
As Presidências da UE - presente e futura - têm que, de forma decisiva, fazer aplicar as sanções aprovadas e impulsionar o Conselho de Segurança da ONU a agir contra os opressores birmaneses."
USA 2008
Um pouco mais de rigor, sff
Quantos jornais é que não noticiaram que as ditas providências cautelares tinham sido deferidas pelos tribunais?
A China em África
terça-feira, 22 de abril de 2008
Código do Trabalho (4)
A noção de "justa causa" pode ser mais ou menos ampla. Mas admitir o despedimento individual por livre alvedrio do empregador, sem um motivo específico, razoável e verificável, seria sujeitar os trabalhadores a decisões arbitrárias ou persecutórias. Ora nem todos os interesses dos empregadores são dignos de protecção. Também há a liberdade e a dignidade dos trabalhadores.
Código do Trabalho (3)
Código do Trabalho (2)
Não é impossível favorecer simultaneamente as empresas e os trabalhadores..
Código do Trabalho (1)
Todas essas propostas seguem a via correcta de tornar mais oneroso para as empresas o trabalho precário, utilizando a linguagem que os empresários melhor entendem...
segunda-feira, 21 de abril de 2008
A Europa, a segurança e o espaço
IRC ou contribuição social?
Quando foi anunciada a pequena baixa do IVA, muitos defenderam a descida do IRC. Penso, porém, que mais vale pensar em reduzir a contribuição para a segurança social, se o superavit desta o permitir (o seu desempenho tem sido notável). Ao aliviar os custos de trabalho das empresas, especialmente as de trabalho intensivo, favorece-se directamente o emprego. Se se quisesse ser ainda mais "focado", poder-se-ia mesmo pensar em favorecer as que recorrem menos ao trabalho a prazo, de modo a contrariar a precariedade no emprego.
"Schadenfreude"
Primeiro, o Governo precisa de uma oposição credível e de uma perspectiva de alternativa política, sob pena de amolecimento. Segundo, os eleitores que desertam do PSD vão engrossar sobretudo a abstenção, criando um pouco salutar sentimento de frustração e orfandade política. Terceiro, se se tornar antecipadamente certa uma folgada vitória do PS em 2009, por incapacidade do PSD, quem vai ganhar com isso são os PCP e o BE, com eleitores de esquerda desobrigados de contribuir para a derrota da direita.
Plástica política
Só pode ser levada à conta de "boutade" política a surpreendente proposta de J. Miguel Júdice para uma fusão entre o PS e do PSD, ou uma parte deste, junto com a criação de um novo partido de grande direita com os "restos" do mesmo PSD e do CDS.
Primeiro, porque os dois maiores partidos nacionais são bem diferentes quanto à origem, fundamentos doutrinários e propostas políticas. Segundo, porque não é fácil miscegenar a direita liberal com a direita social. Terceiro, porque, caso tal plástica política fosse possível, daí nada de bom viria para o funcionamento do nosso sistema político, antes pelo contrário, pondo em causa a alternância governativa entre o centro-esquerda e o centro-direita que até agora tem prevalecido entre nós.
domingo, 20 de abril de 2008
Ah grande Zapatero!
Aqui está a prova de que basta vontade política para ir além do discurso politicamente correcto.
Por cá, mais do que a inércia, é o peso da misogenia que determina que a representação de mulheres no Governo continue pior que no tempo de... Durão Barroso.
Zapatero pôs a igualdade em prática, demonstrando a falsidade das balelas do costume sobre a falta de mulheres qualificadas e ambiciosas para alcançar o topo da carreira política.
E, como se não bastasse, pôs à frente do Ministério da Defesa uma mulher. Grávida. Ostensivamente grávida. O que não a impediu de imediatamente ir visitar as tropas espanholas ao Afeganistão.
É por estas e por outras que a Espanha avança.
Pão ou gasóleo?
No Parlamento Europeu e em todas as instâncias europeias e internacionais não se fala noutra coisa e reflecte-se sobre as causas e consequências do aumento dos preços dos cereais e outros alimentos. É geral a percepção de que se trata de uma crise que avança a passos rápidos à escala mundial, com implicações políticas e económicas muito mais graves do que a que resulta do aumento dos preços do petróleo.
Ao mais alto nível o PAM, a FAO, o Banco Mundial, o FMI, a OCDE e o próprio SG da ONU vieram nas últimas semanas lançar alertas lancinantes, sublinhando que a subida dos preços dos alimentos tem impactos gravíssimos nos países em vias de desenvolvimento.
Mas cá em Portugal, desde a presidência da UE, as instâncias governamentais parecem andar alheadas das preocupações do mundo. E em particular das consequências da “moda” dos bio-combustíveis para os 854 milhões de pessoas que, todos os dias, passam fome.
Confesso que pasmei com o que o Primeiro Ministro respondeu a Francisco Louçã em recente debate sobre o tema na AR.
Não há por aí nenhum ministro, assessor, consultor, ou um "marqueteiro" de serviço que “briefe” os “basics” do que vai pelo mundo a quem tem dar a cara pela governação socialista?
Direitos humanos em Angola
- acusações de tortura contra as testemunhas do jornalista angolano José Lelo, preso há meses;
- detenção na República Democrática do Congo de quatro pessoas originárias de Cabinda, com estatuto de refugiados, alegadamente no seguimento de pressões de Luanda;
- denúncia de um eventual plano de acção do MPLA para lançar uma onda propagandística destinada a denegrir a oposição.
Particularmente preocupante foi também o anúncio do próximo encerramento do escritório do Alto Comissariado dos Direitos Humanos das Nações Unidas em Luanda, por ordens do Governo angolano. Ainda por cima num momento em que Angola é Membro do Conselho dos Direitos Humanos da ONU e em que se preparam as eleições, há vários anos sucessivamente aguardadas e adiadas.
Interpelado sobre as alegações de tortura o Ministro do Interior angolano, em recente estadia em Portugal, fez-se desentendido e optou por sublinhar a falta de preocupação dos europeus pelas violações de direitos humanos na Europa e nos EUA, invocando Guantanamo.
Como é obvio, quem em Portugal enfia essa carapuça, nunca se preocupou nem se preocupará com os direitos humanos dos angolanos, nem de ninguém mais.
Não é obviamente o meu caso.
E por isso aqui deixo registado que considero totalmente inaceitável a reacção do Ministro Roberto Leal Monteiro. Uma reacção que se volta contra o seu Governo, pois só reforça a percepção geral de tem mesmo muito a encobrir na matéria.
sexta-feira, 18 de abril de 2008
PSD
A não ser que a demissão seja só uma operação para regressar. A afirmação de que "não está na corrida" é bastante menos enfática do que o desafio aos críticos para se apresentarem. Resistirá ele a deixar-lhes disputar as suas "bases" sem os defrontar?
quarta-feira, 16 de abril de 2008
Regulação financeira
«Tal como há muito se mostrou que a concorrência não é sustentável por si mesma, sem uma decidida acção pública contra a violação das suas regras, tampouco os sectores onde existem “falhas de mercado” endógenas, como sucede com os mercados financeiros, podem funcionar fluidamente sem uma forte regulação e supervisão pública. Quando a “endo-regulação” do mercado falha e a auto-regulação dos operadores não passa de uma figura de retórica, como em geral sucede no sector financeiro, só a regulação externa dos Estados ou das organizações internacionais pode prevenir e corrigir as suas consequências.»Do meu artigo de hoje no Diário Económico.
Antologia do nonsense político
Sendo certo que qualquer subida eleitoral do CDS-PP só pode ocorrer à custa do PSD, então é fácil ver que ela só poderia favorecer uma nova maioria absoluta do PS...
terça-feira, 15 de abril de 2008
Arre!
"A primeira grande derrota política...
J. Medeiros Ferreira tem inteira razão nesta análise. O Presidente da República não deveria ter aceito não ser recebido na assembleia representativa regional da Madeira, nem muito menos ter deixado de condenar o insulto do presidente do governo regional à oposição parlamentar madeirense. Se há algo que, no exercício do seu poder de supervisão institucional, o PR não pode abdicar é de assinalar os casos de grosseiro desrespeito das instituições e dos adversários pelos titulares de cargos políticos.
Se porventura um primeiro-ministro da República se referisse aos deputados nacionais da oposição como "bando de malucos" e a AR como lugar de má reputação, será que o PR consideraria isso tolerável? Então, porquê a excepção madeirense?