quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Mais iguais do que outros

Alberto João Jardim, que concedeu tolerância de ponto na Madeira no dia da sua tomada de posse (!...), declarou que os madeirenses tem o mesmo direito que os demais portugueses a serem ajudados a resolver o problema da dívida pública regional.
Pois bem, também deveriam ter os mesmos deveres, incluindo o de contribuir para as despesas gerais da República, de que estão isentos, deixando esses encargos somente para os contribuintes do Continente.

Antologia do anedotário político

A defesa de uma tomada de poder pelos militares, feita por Otelo Saraiva de Carvalho, para impedir a perda de direitos dos militares, só pode ser encarada como anedota política de mau gosto.
Todavia, o episódio revela a idiossincrasia do autor, que, depois de ter sido um dos heróis do 25 de Abril, tem perdido poucas oportunidades ao longo do tempo para revelar a sua irresponsabilidade e leviandade política.
Mesmo assim, há limites para tudo...

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Eleições na Nicarágua 12


Durante as penosas horas em que estive fechada naquela mal iluminada e suja sala de aula da escola primária de San Sebastian, onde voltei ontem ao fim da tarde para assistir à contagem dos votos, consolei-me a devolver imaginariamente aquele achincalhante "turismo eleitoral" ao gordalhunfo, e com requintes de malvadez: via-o ali, como eu encarcerado e abafado pelo calor e os odores pestilentos dos restos de comida abandonados, mas a destilar sebo por todos os poros e assim desviando de mim os insectos que se entretinham a morder-me canelas, pulsos e pescoço. E tornando-se pasto de todas as osgas que faziam carreiras pelas paredes e dos gekos que cacarejavam nos interstícios do telhado de zinco e madeira.
O pessoal da mesa de voto nem queria acreditar quando me viu entrar, perto das seis da tarde (de facto, já noite cerrada), dez minutos antes da hora de fecharem as urnas; e de abrirem a caixa de papelão que fazia de urna; e dos dois "policias eleitorais" aferrolharem a lamentável sala de aula. "Quer mesmo observar, até ao fim?".
Os quatro membros da mesa e os cinco "fiscales" das candidaturas concorrentes estavam já espapaçados pelo longo dia, desde que ali nos tínhamos encontrado para a abertura antes das seis da manhã.
Mas a pior parte estava para vir: mais quatro horas e meia de procedimentos que ninguém conhecia muito bem e de quatro contagens sucessivas (uma para uma das quatro eleições diferentes que o único boletim contemplava) dos 265 votos depositados na urna (o que quer dizer que naquela zona de Managua, tradicionalmente sandinista, muita gente não se deu ao trabalho de vir votar - alem dos 400 registados no caderno eleitoral, havia os votantes extra que se admitiram a votar, como os " fiscales", policias, militares etc...).
O que vale é que valia tudo e facilmente consensualizavam o que fazer, mesmo o que não se devia fazer: "este está em branco? Ok, anula-se...". Na contagem das eleições para deputados nacionais obteve-se um voto a mais: "ok, tira-se à Frente, que já nem precisa...".
Era verdade: a Frente Sandinista tinha ganho sempre à roda dos 187 votos obtidos por Ortega, contra 51 para o Fabio Gadea, o octogenário candidato do único partido de real oposição, o PLI. O PLC, do criminoso Alemán com quem Ortega tem um pacto para arrasar opositores, só sacara 11; a ALN, 1 voto (não é certo que fosse da própria "fiscale" na contagem, pois de manhã a rapariga tinha-se-nos identificado como representante da Frente Sandinista ...). E a APRE, outra coligação fabricada pelo partido no poder para dividir e reinar sobre quem se lhe oponha, nem sequer o voto do seu próprio "fiscale"...
Catherine Grèze, a azougada colega Verde com quem muito gostei de trabalhar em equipa, contou-me que na sala ao lado, onde ela também abafara a observar a contagem, a jovem "fiscale" do PLI estava exultante no final com a vitória de Ortega, apesar do partido que representava ter averbado ali uma pesada derrota. Em santa ingenuidade, a jovem confidenciara-lhe: era sandinista de alma e coração, estava ali trabalhar para o seu partido fazendo o papel de "fiscale" do PLI...
Pobre Nicarágua, a gerar um novo somozismo! Explico amanhã, depois da conferência de imprensa da Missão de Observação da UE.

Eleições na Nicarágua 11

"Turismo eleitoral" deixou cair desdenhosamente o inchado caudillo do Consejo Supremo Electoral, quando nos reunimos com ele e "sus muchachos" na véspera das eleições.
Roberto Rivas, de sua balofa graça. Sim, o mesmo que os nicaraguenses dizem à boca pequena ser filho do Cardeal Obando - o tal que antes era da banda dos Contras e hoje diz missas, televisionadas repetidamente na véspera das eleições, pedindo a continuação no poder do "cristianíssimo" casal Ortega.
O desdenho de Rivas vinha a propósito do que traria parlamentares europeus a mostrar tanto interesse nas eleições na Nicarágua
E em reacção à nossa insistente preocupação com o facto de só nesse mesmo dia estarem a ser entregues aos partidos da oposição cartões de acreditação para os seus "fiscales" nas mesas de voto e por não terem sido acreditados observadores das ONGS nacionais mais reputadas e experientes em observação eleitoral por toda a América Latina, como " Ética e Transparência", "Hagamos Democracia" ou IPADE.
Irritou-o que tivéssemos contestado a sua explicação de que essas ONG "eram muito críticas, estavam já a desqualificar o processo eleitoral".
Como se fosse ultrapassável em poder desqualificador a circunstância da candidatura de Daniel Ortega ser inconstitucional e do Consejo ser ostensivamente partidário.



segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Surpresas

Uma visita oficial ao Canadá na semana passada permitiu-me aperceber-me de algumas coisas que constituíram uma surpresa para mim.
Primeiro, tal como o Reino Unido, o Canadá não respeita inteiramente as regras da democracia representativa, visto que o Senado é composto por membros nomeados pelo Governo, o que é tanto mais estranho quanto o Canadá, sendo uma federação, não tem uma câmara representativa das unidades federais, como é regra nas federações.
Segundo, o Canadá é uma das federações mais descentralizadas, onde as unidades federadas mais competências têm. Por isso, o Canadá é uma economia menos intergrada do que a União Europeia!
Terceiro, o Canadá deixa muito a desejar como economia de mercado, havendo no sector agrícola alguns monopólios públicos de comercialização (trigo, por exemplo) e vários outros sectores protegidos contra a concorrência (lacticínios, por exemplo).

domingo, 6 de novembro de 2011

Viagens na Minha Terra (3)









Niágara, Canadá
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Viagens na Minha Terra (2)





Toronto, Canadá.
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Viagens na Minha Terra





Toronto, Ontário, Canadá.
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Nicarágua

Leon, Catedral


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Nicarágua

Leon, igreja da Recollection


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Eleições na Nicarágua 10

Perguntamos direcções em Leon.
Duas mulheres, em dois lugares distintos, concluem a conversa com semelhantes pedidos:
"0bserven bien, bien, porque se nos las quieren robar."



Eleições na Nicarágua 9

Léon, UNAN, Faculdade de Direito. Edifício antigo, pátio acolhedor.
Na primeira sala de aula em que entro a mesa está a descansar, sao 14.30, o sol está forte, as familias estão em casa, a procurar o fresco, depois de almoço.
Chega um casal de votantes. A "fiscal" da FSLN apressar-se a descarregar os nomes no caderno eleitoral. Ninguém parece achar estranho que a fiscal se arme em elemento da mesa...
Na segunda sala de aula, o "policia eleitoral" à porta não quer saber da minha acreditação. "Não entra!". Insisto que vá perguntar à chefe da mesa. Ele vai e ela acena negativamente. "Não pode entrar" repete-me. Insisto, "Seria a primeira vez que nos impedem de entrar", quero falar com a chefe. Acerca-se um bigogudo, fiscal: " qual é o problema? ". " claro que pode entrar", conclui. Agradeço ao fiscal, que desautorizou a chefe da mesa de voto e o policia eleitoral. Era o fiscal da FSLN, pois claro!






Eleições na Nicarágua 8

Léon, a 95 km de Manágua, a primeira capital da Nicarágua.
Cidade com carácter, ruas de casas antigas de traça colonial, com pátios verdejantes e frescos a maior parte.
Colégio Ruben Dário, a melhor e mais limpa escola primária que visitamos até agora. Vê-se que é classe média (padrão local) que está a votar. Já mais de metade dos inscritos votou, dizem-nos nas sete mesas de voto, às duas da tarde.
Encontramos uns poucos observadores nacionais: da CNU, claramente ao serviço do partido no poder. E outros que tais, envergando uns coletes com a bandeira europeia. Um deles fica feliz por ficar pró retrato.






Eleições na Nicarágua 7







Vemos uma enorme fila de gente ao sol. Não era a escola que procurávamos mas decidimos parar. Escola de los Brasiles, Palmares, Matiare, já fora de Manágua.
Quatro mesas de voto, debaixo de tendas. 3 sem fila. Uma com umas cem pessoas, a destilar e a protestar "estamos aqui desde as sete da manha!!!". Sao 11.30h.
A chefe nao gosta de nos ver. Dá ordem para ninguém responder a nada.
Um fiscal do PLC chama nos de lado: faltaram 11 fiscales, a Frente comprou-os ou dissuadiu-os de vir. Os que tem a braçadeira sao todos da Frente, a fingir que sao dos outros., diz nos.
Pergunto a uma rapariga com acreditação de fiscal do PLI quando a recebeu. "por favor nao me faca perguntas pessoais!...". Estamos conversadas.
Notamos que o pessoal da bicha está todo a ser registado extra cadernos eleitorais. Sao todos novos votantes na zona, resmunga as minhas perguntas a mal encarada chefa.
Todos do Bairro Rosário Murillo. O bairro das casas novas distribuídas pela fundação da Primeira Dama e com o nome dela. Interessante!!!



Eleições na Nicarágua 6

Ciudad Sandino, colégio Costa Rica. 11 da manhã. Nervosismo nos responsáveis ao ver-nos chegar. Uma "fiscale" do PLI não quer responder à minha pergunta sobre quando recebeu a credencial... Curioso.







Eleições na Nicarágua 5

Ciudad Sandino, arredores de Manágua





Colégio Bella Cruz, 11 mesas de voto. Arejadas, bem organizadas. Tudo a funcionar.
Talvez demasiado bem: um jovem vem soprar me que os fiscales sao todos da Frente Sandinista, embora exibam cartas de identificação dos outros partidos.
Meto conversa com vários fiscales: estão todos pouco a vontade, curiosamente. Pergunto a uma do PLI quando recebeu a credencial- ontem, na sede da Frente!!!
A questão não é secundaria: o que vai fazer fé para a agregação dos votos sao as actas de cada mesa eleitoral, de que os fiscales ficam com cópia...





Eleições na Nicarágua 4







Quando saímos da escola San Sebastian, a fila engrossava.




Eleições na Nicarágua 3

Na mesa de voto 10.11 na escola publica primaria de San Sebastian, as 6.00 h da manhã, constitui-se a mesa, cantando - se o hino nacional. Depois a presidente da mesa diz uma oração.
O processo foi lento e complicado. Estavam "fiscales" das 5 alianças partidárias que apresentam candidatos a presidência da Republica. Depois de votarem todos os membros da mesa e fiscales, foi a vez dos policias. O primeiro cidadão comum só começou a votar as 7.45. Alejandro, o nosso motorista, que se pôs na fila as 5.45 h só votou às 8.15 h. Mas já tudo seguia a bom ritmo.





Eleições na Nicarágua 2

Seguimos? E mudando para melhor?


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Eleições na Nicarágua 1







Manágua- Saída às 5.30 da manhã da minha equipa de observação eleitoral.


Nicarágua







Manágua, antiga catedral arruinada pelo terramoto de 1972



sábado, 5 de novembro de 2011

UE: ajudar a Grécia ou ver-se grega


Papandreou recuou no referendo, mas já ganhou, independentemente do que venha a acontecer - "Não me interessa se não for re-eleito", sublinhou ele ontem diante do Parlamento grego.
Ganhou contra a direita hipócrita que o atacava por ter de aplicar as medidas draconianas que a UE, dominada pelo directório merkozy, impõe à Grécia.
Ganhou ele e ganhou a Grécia, porque da direita sem credibilidade que enterrou o país na espiral de fraude, corrupção e endividamento que levou ao programa de austeridade troikista, só há a esperar o pior, quer na capacidade de negociação, quer na aplicação de quaisquer políticas.
Mas co-responsabilizar politicamente essa direita na tragédia da recuperação nacional era, é, crucial: Papandreou tem agora condições para o conseguir, fique ele próprio, ou não, num governo de salvação nacional que deverá procurar formar. Ela, a direita, é que não vai mais poder fingir que a amarga e dura receita não é nada... com ela.
A UE também podia vir a ganhar, se alguns dos seus membros soubessem ao menos tirar lições deste dramático e arriscado episódio:
1. - da desmistificação do G20, mais uma vez evidenciando não passar de fórum para conversa informal e inconsequente: nem uma tão premente tensão, pondo em risco a economia mundial e as economias de cada um, focalizou aquel vintena de governantes nas reformas de fundo que a regulação global exige (patético o esforço de "spinning" a que se entregam agora alguns, em especial o tosquiado anfitrião Sarkozy);
2 - da demonstração de que estamos todos, verdadeiramente, no mesmo barco na zona euro: os juros a disparar e as acções a descer em todo o mundo por causa da ameaça de referendo na Grécia não abalaram só os abaláveis do costume ( os PIIGS), alarmaram profundamente Merkel e Sarkozy, mostrando como são inadequadas e incontroláveis as suas receitas punitivas, podendo voltar o feitiço contra o feiticeiro (o esticar da corda para Paris não pressagia nada de bom para Berlim...)
3 - da evidência de que a crise não é sobre a Grécia, ou sobre Portugal ou a Irlanda, mas sobre a governação política e económica na UE e os fundamentos da sustentabilidade do Euro, que continuam por assegurar. O torniquete em torno da Itália, que até a Sra. Lagarde veio ontem ajudar a apertar, aí está a metê-lo pelos olhos dentro...
4 - a confirmação do deprimente, contraproducente e ineficaz passo de ir pedir aos chineses que invistam no FEEF, quando os mais fortes e capazes membros e beneficiários do euro continuam a recusar entrar com o deles.
5 - a conclusão de que é preciso ajudar a Grécia a ajudar-se a si própria, com investimento para relançar o crescimento e o emprego e com racionalidade e justiça social na austeridade.
Enfim, era bom que a UE começasse a ajudar realmente a Grécia para deixar... de se ver grega.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

A Grécia e a UE: quanto pior, melhor


Estou em Miami, a caminho da Nicarágua (missão europeia de observação eleitoral), a ver Zbignew Brezynski comentar na MSNBC a crise sobre a crise que caiu no colo do G20, aparentemente resultante da decisão grega de avançar para um referendo.
Brezynski explica: a crise sobre a crise já lá estava, só foi destapada pela iniciativa grega. E a razão dela é a UE não ser uma verdadeira União federal, apenas uma confederação, sem políticas para sustentar solidariamente e devidamente o euro.
Brezynski comenta: a iniciativa do referendo grego tem o mérito de deixar a nu o problema e focar os lideres europeus no que importa. Porque se os gregos decidirem rejeitar o que a UE lhes impõe, sabendo que a alternativa é a bancarrota e a saída do euro, os outros europeus não ficarão aliviados: a saída da Grécia será a derrocada do euro e o esboroamento da UE. "The worst the better, then".


O grito do "Ipiiggrego"

"Chazinho de camomila a rodos, recomenda-se.
Tanto mais que, se caminharmos para a bancarrota, não iremos sozinhos - o Euro vai connosco. Antes tremerão os maninhos bancos espanhóis, alemães, franceses, britânicos e todos os que cá investiram, empurrando-nos para o endividamento fácil mas suicida. Talvez então Merkeles e seus amestrados no Conselho Europeu se assustem, acordem e façam o que há a fazer. Para salvar Portugal, mas sobretudo para salvar a Europa. No fundo, para se salvarem a si próprios e de si próprios."


Isto escrevi eu aqui no Causa Nossa nos idos de Abril de 2011, sobre a pressão brutal que a banca portuguesa e os parceiros europeus exerciam então sobre o governo de Sócrates para que recorresse ao resgate troikista.
Sócrates, ele mesmo amestrado, acabou por sucumbir. E a ter de entregar o poder à direita neo-liberal que se quer mais troikista do que a troika a fazer os portugueses que não tiveram culpa da crise pagar por ela e com palmatória. Com a ajuda do PCP e do BE, sublinho, pressurosas parteiras a ajudar ao parto da tripla Coelho/Relvas/Portas.
Recordo o que escrevi em Abril porque tudo se volta a aplicar agora, sete meses volvidos, neste turbulento inicio de Novembro.
Na primavera Portugal foi salvo da bancarrota "in extremis", pelo menos temporariamente, o euro lá foi continuando a mancar e os piigs a amargar as punitivas rações merkozys.
Mas agora a doença congénita do Euro chega a Itália, a Espanha, a Bélgica e até ao coração do Directório merkozy, a França! Os piigs estão a contaminar o curral e, não tarda, os bancos e a economia teutónica vāo sentir o contágio!!!
O PM Papandreou pensou melhor, vendo-se bem grego com as castigadoras raçōes "merkozys" servidas nas duas ultimas Cimeiras Europeias - a divida publica grega estará em 120% do PIB em 2020, apesar do "haircut" de 50% aplicado aos credores privados, o desemprego vai subir dos 20% (16,5 % oficialmente) a que já chega hoje, o PIB vai continuar a contrair-se alem dos 7,3 negativos a que hoje se reduz, exigiam-lhe mais cortes nas reformas dos pensionistas e despedimento de 150.000 funcionários públicos em troca de uma mão cheia de bolotas podres...
E, vai daí, sem mais nem ontem, decidiu assumir as suas responsabilidades face ao povo grego que já está draconianamente a pagar a crise e devolver-lhe a escolha, em vez de entregar, em eleições, o poder à direita sem vergonha que precipitara a crise e queria voltar a chafurdar nela. No fim de contas, o pacote de ajustamento europeu inclui gravíssimas alterações ou violações da Constituição, alem da efectiva e ostensiva transferência de soberania que a Troika permanente que lhe foi imposta comporta: nada de mais adequado para referendar pelo povo. Sendo que a escolha será dramática: ou isto ou sair do euro, nada menos.
Enfim, o piig helénico desistiu de se comportar como amestrado e convocou um referendo, sem sequer avisar ninguém. Abriu a caixa de Pandora! Que já estava entreaberta, pois a falência do Fundo MF Global, na véspera e alem atlântico, já deixava ver que a ultima Cimeira europeia parira mais uma ratazana...
O piig Papandreou assusta e abala assim os outros piigs, mai-los Merkozys que julgam ser donos e donas dos piigs e capazes de os amarrar ao empobrecimento forçado. Expõe lhes a estultícia, o embuste, a incompetência, a tacanhez.
E mais, eles vão rapidamente perceber o que hoje ainda se obstinam em não ver: que a possível bancarrota da Grécia arrasta a deles, a dos Merkozys, que se candidatam a ficar na História por afundarem o euro e o projecto europeu.
Pode não parecer, mas um inestimável serviço pode estar, afinal, a ser prestado à Europa pelo corajoso piig ateniense, por meio do iconoclasta grito do Ipiiggrego que anuncia o referendo.






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Os credores dependem dos devedores

Explica Martin Wolf no FT de hoje.
Explicações que a dona Merkel e sus conselheiros económicos teutónicos precisam urgentemente de receber.
Inclusive para desistirem dessa perigosa ideia de por a Europa a pedinchar aos chineses para reforçar o FEEF:
"A eurozona parece ter decidido que precisa da ajuda chinesa. Por que é que os seus membros assim pensam é incompreensível. Há dinheiro disponível na zona euro. O que falta é a vontade de aceitar os riscos de perda. Mas, como o economista chinês Yu Yongding escreveu no FT, a China não assumirá esse risco".
(...)
Seria de bom senso admitir que tem havido demasiado endividamento pelos gastadores porque houve muito emprestanço pelos supostamente prudentes. Uma vez que se entenda que ambos erraram, ambos devem ajustar-se. Impor um ajustamento unilateral a grandes endividados não funcionará. Como a Grécia parece estar a demonstrá-lo, os devedores podem infligir muito dano a toda a gente - como os EUA descobriram na Grande Depressão.
(...)
Os credores não vendem a Marte. Estamos todos no mesmo planeta. Ponham se de acordo em corrigir os erros, já".

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Apear os ídolos da alta finança

Não, não é radicalismo meu a invectivar nada.
É o que propõe num artigo do Financial Times de hoje o insuspeito Arcebispo de Cantuária.
Que endossa o apoio do Vaticano à proposta de um imposto sobre transações financeiras.
Para investirmos na economia real em vez de continuarmos a estimular a especulação gananciosa da finança que amestra políticos e governantes para gerir a economia "financeirizada". Que destrói riqueza e emprego e nos precipitou nesta crise de que não vemos ainda o fim.


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quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Diferença

«OE: BE apela ao PS para acabar com hesitações e votar contra».
A diferença entre o Bloco de Esquerda e o PS é que o primeiro vota sempre contra o orçamento, mesmo antes de conhecer a versão final, enquanto o segundo não decide o voto antes de saber se há margem de negociação e de melhoria do orçamento.
É uma questão de responsabilidade e de credibilidade política. O BE continua a ser um partido de protesto, sempre "do contra". O PS é um partido de governo, mesmo quando na oposição.

Até dói

«Governo terá dificuldade em vender a Águas de Portugal».
Depende do preço! Como o Governo já anunciou que precisa de vender, qualquer preço serve. Pensar que uma das "jóias da coroa" do sector empresarial do Estado pode ser vendido "ao preço da uva mijona" até dói!

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Ensandeceram

A decisão do Governo grego de submeter a referendo o plano de ajuda à Grécia decidido na última cimeira do Conselho Europeu não é somente um desafio arriscado quanto ao resultado (apesar de os gregos não terem alternativa). Vem também relançar a insegurança na zona euro quanto à capacidade de sair da crise, até à realização do referendo, para mais ainda sem data marcada.Depois queixem-se do "nervosismo" dos mercados financeiros...

Avanço

A entrada da Palestina na Unesco, apesar da oposição encarniçada de Israel e dos Estados Unidos (vegonha para Obama!), é um grande passo em frente no reconhecimento da Palestina como Estado.