O presidente do CDS tem razão quando assinala que, salvo percalço inesperado, este será o primeiro governo de coligação a completar uma legislatura (aliás mais prolongada do que o normal) desde o inicío da era constitucional em 1976. Todos os anteriores governos de coligação, em diversas combinações (PS-CDS, PSD-CDS, PS-PSD) ficaram pelo caminho.
Mas Portas deveria ser último a celebrar antecipadamente o feito, pois, se isso se verificar, o mérito não é seu, antes pelo contrário, pois por vontade sua o Governo teria caído antes do verão do ano passado, quanto tomou a decisão "irrevogável" de se demitir. Não fica bem a ninguém ufanar-se daquilo que só aconteceu apesar dos seus caprichos políticos
Blogue fundado em 22 de Novembro de 2003 por Ana Gomes, Jorge Wemans, Luís Filipe Borges, Luís Nazaré, Luís Osório, Maria Manuel Leitão Marques, Vicente Jorge Silva e Vital Moreira
sábado, 18 de janeiro de 2014
sexta-feira, 17 de janeiro de 2014
Alvo errado
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Vital Moreira
Há quem insista em fazer da troika o responsável pelas medidas de austeridade e pelos seus efeitos económicos e sociais. Passsos Coelho e Paulo Portas agradecem: enquanto se ataca a troika, o Goveno folga...
Referendos
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Vital Moreira
Partidário da democracia representativa e parlamentar por princípio, não tenho simpatia pelo referendo (que entre nós é sempre um plebiscito, tecnicamente falando), justamente por ele ser uma derrogação daquela, embora não o exclua de todo em todo, em circunstâncias especiais.
O que não me parece muito curial é que, tratando-se de substituir a democracia representativa pela democracia directa (abdicando o parlamento do seu poder legislativo), um partido imponha disciplina de voto na necessária decisão parlamentar de recurso ao referendo. Se a disciplina de voto é em princípio justificável, e mesmo necessária, num regime parlamentar assente em partidos, como o nosso (como condição da responsabilidade política dos partidos e da estabilidade governamental), já me parece que os deputados -- que por definição representam todos os cidadãos -- não deveriam ser "forçados" a auto-expropriarem-se do poder de legislar que lhes foi conferido pelos eleitores nas eleições parlamentares, aliás sem reservas (salvo as que decorrem da Constituição).
O que não me parece muito curial é que, tratando-se de substituir a democracia representativa pela democracia directa (abdicando o parlamento do seu poder legislativo), um partido imponha disciplina de voto na necessária decisão parlamentar de recurso ao referendo. Se a disciplina de voto é em princípio justificável, e mesmo necessária, num regime parlamentar assente em partidos, como o nosso (como condição da responsabilidade política dos partidos e da estabilidade governamental), já me parece que os deputados -- que por definição representam todos os cidadãos -- não deveriam ser "forçados" a auto-expropriarem-se do poder de legislar que lhes foi conferido pelos eleitores nas eleições parlamentares, aliás sem reservas (salvo as que decorrem da Constituição).
Social-democracia em França!
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Vital Moreira
Para surpresa de muitos, o Presidente Hollande veio declarar-se "social-democrata", o que na esquerda francesa soa como heresia. Resta saber com que convicção e com que resultados.
Já não é há pouco tempo que venho manifestando as minhas preocupações com a França: perda de dinamismo económico e de competitividade externa, finanças públicas desequilibradas, crescimento da direita radical, perda de influência na União Europeia, etc.
A reorientação estratégica era necessária e as primeiras medidas anunciadas pelo Presidente vão no bom sentido. Temos de esperar para saber se vão ser efectivamente aplicadas e se não chegam demasiado tarde.
Já não é há pouco tempo que venho manifestando as minhas preocupações com a França: perda de dinamismo económico e de competitividade externa, finanças públicas desequilibradas, crescimento da direita radical, perda de influência na União Europeia, etc.
A reorientação estratégica era necessária e as primeiras medidas anunciadas pelo Presidente vão no bom sentido. Temos de esperar para saber se vão ser efectivamente aplicadas e se não chegam demasiado tarde.
segunda-feira, 13 de janeiro de 2014
Não é bem assim (2)
Publicado por
Vital Moreira
A propósito de uma troca de impressões pública entre o eurodeputado Paulo Rangel e eu próprio no sábado passado em Coimbra, o Jornal de Notícias afirma que o primeiro defendeu a "voto preferencial" (em que cada eleitor tem a possiblidade de indicar a sua preferência no boletim de voto quanto aos candidatos do partido em que vota) e que eu teria concordado.
Não é bem assim, porém. Depois de levantar várias objeções a esse sistema (a principal das quais é que uma tal solução geraria uma campanha paralela entre os candidatos de cada partido, lutando entre si pela preferência dos eleitores), o máximo que concedi foi admitir um ensaio experimental a título de teste.
Continuo sem estar convencido sobre se os méritos dessa soluação superan os seus riscos...
Não é bem assim, porém. Depois de levantar várias objeções a esse sistema (a principal das quais é que uma tal solução geraria uma campanha paralela entre os candidatos de cada partido, lutando entre si pela preferência dos eleitores), o máximo que concedi foi admitir um ensaio experimental a título de teste.
Continuo sem estar convencido sobre se os méritos dessa soluação superan os seus riscos...
Não é bem assim
Publicado por
Vital Moreira
O semanário Sol decidiu titular a minha entrevista da semana passada com uma afirmação minha, segundo a qual "a fase aguda da crise já passou", deixando entender que a frase se referia ao caso nacional. Mas quem ler a entrevista, verá que o comentário foi feito a propósito da União Europeia em geral e não a propósito da situação em Portugal -- o que não é a mesma coisa.
A liberdade editorial na escolha do título das entrevistas não autoriza nenhuma distorção do sentido do que foi dito.
A liberdade editorial na escolha do título das entrevistas não autoriza nenhuma distorção do sentido do que foi dito.
Falsificação
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Vital Moreira
A afirmação de Paulo Portas no Congresso do CDS segundo a qual as próximas eleições europeias «são escolha entre quem lançou país no resgate e quem trabalhou para sair dele» não passa de um exercício de falsificação histórica e política.
Quem provocou deliberadamente o pedido de resgate foram o PSD e o CDS, com a prestimosa colaboração da esquerda radical, ao chumbarem o chamado "PEC IV" e ao derrubarem o Governo, sabendo que, nas circunstâncias europeias da época, a consequência inevitável era o pedido de resgate. Como sucedeu pouco depois.
Quem provocou deliberadamente o pedido de resgate foram o PSD e o CDS, com a prestimosa colaboração da esquerda radical, ao chumbarem o chamado "PEC IV" e ao derrubarem o Governo, sabendo que, nas circunstâncias europeias da época, a consequência inevitável era o pedido de resgate. Como sucedeu pouco depois.
"Espiral"
Publicado por
Vital Moreira
Na primeira fase da crise, quando os efeitos recessionistas da austeridade (queda do consumo, do investimento e do emprego) se revelaram muito mais fundos do que o que se tinha antecipado, lançou-se apressadamente a ideia de uma catastrófica "espiral recessiva".
Agora que parece começar a registar-se uma inversão do fenómeno, apesar de a austeridade não ter aliviado, pelo contrário, o que é que os precipitados analistas de ontem vão dizer se os arautos do Governo começarem a falar numa "espiral expansiva", ainda em plena austeridade orçamental!?
Agora que parece começar a registar-se uma inversão do fenómeno, apesar de a austeridade não ter aliviado, pelo contrário, o que é que os precipitados analistas de ontem vão dizer se os arautos do Governo começarem a falar numa "espiral expansiva", ainda em plena austeridade orçamental!?
sábado, 11 de janeiro de 2014
Comportamento bipolar
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Vital Moreira
Nesta crise os portugueses revelam um comportamento bipolar quanto ao consumo.
Antes dela, gastavam o que tinham e o que não tinham, com abundante recurso ao crédito para casa, automóvel, viagens, etc. Quando a crise se manifestou, travaram a fundo no consumo e desataram a poupar, apesar da redução que tiveram do rendimento, ampliando os efeitos da austeridade e contribuindo assim para agravar a recessão. Ultimamente, porventura cansados da "dieta" auto-imposta, voltaram às lojas e às compras, apesar de a austeridade continuar e mesmo se agravar (que o digam os pensionistas e os funcionários públicos), ajudando agora a relançar a economia.
Antes dela, gastavam o que tinham e o que não tinham, com abundante recurso ao crédito para casa, automóvel, viagens, etc. Quando a crise se manifestou, travaram a fundo no consumo e desataram a poupar, apesar da redução que tiveram do rendimento, ampliando os efeitos da austeridade e contribuindo assim para agravar a recessão. Ultimamente, porventura cansados da "dieta" auto-imposta, voltaram às lojas e às compras, apesar de a austeridade continuar e mesmo se agravar (que o digam os pensionistas e os funcionários públicos), ajudando agora a relançar a economia.
Imunidade
Publicado por
Vital Moreira
O crime de violação do segredo de justiça não é praticado somente por quem tem acesso aos processos e transmite a informação mas também por quem a publica, ou seja, os jornalistas e os jornais. E havendo crime, não se vê nenhuma razão para excluir a utilização dos meios de investigação proporcionados pela lei, com as devidas garantias.
Não se vê razão para nenhuma imunidade dos jornalistas nem dos jornais. A sua reacção desproporcionada é comprometedora.
Não se vê razão para nenhuma imunidade dos jornalistas nem dos jornais. A sua reacção desproporcionada é comprometedora.
sexta-feira, 10 de janeiro de 2014
Era o que faltava!
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Vital Moreira
Tenho recebido alguns e-mails a acusarem-me de falta de solidariedade política com o PS pelo facto de não acompanhar a posição do partido quanto à inconstitucionalidade de algumas medidas governamentais.
Mas há aqui dois evidentes equívocos: primeiro, o facto de não as considerar inconstitucionais não quer dizer que as aplauda politicamente, sucedendo porém que nem tudo o que é mau politicamente tenha de ser necessariamente inconstitucional (distinção esta que sempre tenho sublinhado); segundo, e mais importante, não pode obviamente haver nem dogmas nem disciplina partidária em matéria de interpretação da Constituição, que releva da liberdade intelectual e académica, não da esfera partidária.
Os meus críticos deveriam saber que, ao contrário dos partidos radicais (que têm posição oficial vinculativa sobre tudo), o PS é um partido internamente aberto e pluralista, onde a liberdade de opinião individual é respeitada, mesmo no foro político. Era o que faltava haver obrigação de alinhamento partidário quanto a questões de constitucionalidade!...
Mas há aqui dois evidentes equívocos: primeiro, o facto de não as considerar inconstitucionais não quer dizer que as aplauda politicamente, sucedendo porém que nem tudo o que é mau politicamente tenha de ser necessariamente inconstitucional (distinção esta que sempre tenho sublinhado); segundo, e mais importante, não pode obviamente haver nem dogmas nem disciplina partidária em matéria de interpretação da Constituição, que releva da liberdade intelectual e académica, não da esfera partidária.
Os meus críticos deveriam saber que, ao contrário dos partidos radicais (que têm posição oficial vinculativa sobre tudo), o PS é um partido internamente aberto e pluralista, onde a liberdade de opinião individual é respeitada, mesmo no foro político. Era o que faltava haver obrigação de alinhamento partidário quanto a questões de constitucionalidade!...
quinta-feira, 9 de janeiro de 2014
"Novo rumo"
Publicado por
Vital Moreira
Quando estão fora do Governo, os partidos de governo não podem limitar-se a fazer oposição, por melhor que o façam. Devem preparar a sua alternativa de governação.
Com as eleições legislativas de 2015 já no horizonte, o PS lançou a sua habitual (desde as "Novas Fronteiras", há duas décadas) plataforma de debate e participação política aberta ao exterior, desta vez chamada "Novo Rumo".
Que ela tenha o mesmo sucesso das anteriores, com Guterres e Sócrates!
Com as eleições legislativas de 2015 já no horizonte, o PS lançou a sua habitual (desde as "Novas Fronteiras", há duas décadas) plataforma de debate e participação política aberta ao exterior, desta vez chamada "Novo Rumo".
Que ela tenha o mesmo sucesso das anteriores, com Guterres e Sócrates!
Assim não vale!
Publicado por
Vital Moreira
Depois de ter entrado no capital da EDP e da REN, a China toma posição importante no sector segurador em Portugal. Sempre em processos de privatizações.
Nada tenho contra o investimento estrangeiro em Portugal, pelo contrário. Todavia, no caso chinês o que se passa é que não existe reciprocidade. A China entra em sectores estratégicos em alguns países europeus, como a energia e os seguros em Portugal, prevalecendo-se da grande abertura da UE ao investimento estrangeiro, mas a China não abre assim a energia nem os serviços financeiros ao investimento estrangeiro.
Assim não vale!
Nada tenho contra o investimento estrangeiro em Portugal, pelo contrário. Todavia, no caso chinês o que se passa é que não existe reciprocidade. A China entra em sectores estratégicos em alguns países europeus, como a energia e os seguros em Portugal, prevalecendo-se da grande abertura da UE ao investimento estrangeiro, mas a China não abre assim a energia nem os serviços financeiros ao investimento estrangeiro.
Assim não vale!
sexta-feira, 3 de janeiro de 2014
Iniquidade
Publicado por
Vital Moreira
Como era de temer, o Governo resolveu compensar com nova receita pública as centenas de milhões de euros que deixou de poupar na despesa com as actuais pensões da CGD, cuja redução foi impedida pelo TC. Mas, em vez de aumentar o IVA, como se esperava, resolveu recuperar e ampliar a "contribuição especial de solidariedade" (CES) dos pensionistas e aumentar (ainda mais do que o que já estava previsto) a contribuição de todos os trabalhadores e pensionistas do sector público para a ADSE.
Portanto, mais um corte selectivo dos rendimentos de todos os pensionistas e dos funcionários públicos, desta vez para "pagar" a manutenção das regalias das actuais pensões da CGA. A solução é especialmente gravosa em relação aos pensionistas do regime geral, cujas pensões são em regra comparativamente mais baixas do que as da CGA, e ainda mais para os trabalhadores da função pública que se aposentem a partir de agora, os quais vão logo sofrer à cabeça uma redução de 10% no valor da sua pensão por causa da convergência do regime de pensões (que só foi declarada inconstitucional para as pensões já em pagamento). Uns e outros vão também suportar a CES -- que pode ir até aos 10% --, para "compensar" a manutenção das pensões da CGA, bem superiores às suas. No caso dos segundos, acresce ainda o aumento da contribuição para a ADSE, portanto uma dupla penalização, a acrescentar ao corte no valor das suas pensões!
Com a sua infeliz decisão, o Tribunal Constitucional tinha coonestado a desigualdade entre as actuais pensões da CGD e as do regime geral e tinha gerado a nova desigualdade entre essas pensões e as novas pensões da CGD a partir de agora. Mas com a sua "emenda" (bem pior do que o "soneto"), o Governo transformou ambas as desigualdades em grosseira iniquidade.
Adenda
Os funcionários públicos no activo, que vão ter este ano mais um corte nos seus salários ,que pode ir até 12% (sem que o princípio da "proteção da confiança" os tenha protegido ...), também vão sofrer um agravamento adicional da contribuição para a ADSE (acima da que já estava prevista) para "ajudar" a manter as actuais pensões da CGA, que não sofreram nenhuma redução (cortesia do TC...). Iniquidade bis!
Portanto, mais um corte selectivo dos rendimentos de todos os pensionistas e dos funcionários públicos, desta vez para "pagar" a manutenção das regalias das actuais pensões da CGA. A solução é especialmente gravosa em relação aos pensionistas do regime geral, cujas pensões são em regra comparativamente mais baixas do que as da CGA, e ainda mais para os trabalhadores da função pública que se aposentem a partir de agora, os quais vão logo sofrer à cabeça uma redução de 10% no valor da sua pensão por causa da convergência do regime de pensões (que só foi declarada inconstitucional para as pensões já em pagamento). Uns e outros vão também suportar a CES -- que pode ir até aos 10% --, para "compensar" a manutenção das pensões da CGA, bem superiores às suas. No caso dos segundos, acresce ainda o aumento da contribuição para a ADSE, portanto uma dupla penalização, a acrescentar ao corte no valor das suas pensões!
Com a sua infeliz decisão, o Tribunal Constitucional tinha coonestado a desigualdade entre as actuais pensões da CGD e as do regime geral e tinha gerado a nova desigualdade entre essas pensões e as novas pensões da CGD a partir de agora. Mas com a sua "emenda" (bem pior do que o "soneto"), o Governo transformou ambas as desigualdades em grosseira iniquidade.
Adenda
Os funcionários públicos no activo, que vão ter este ano mais um corte nos seus salários ,que pode ir até 12% (sem que o princípio da "proteção da confiança" os tenha protegido ...), também vão sofrer um agravamento adicional da contribuição para a ADSE (acima da que já estava prevista) para "ajudar" a manter as actuais pensões da CGA, que não sofreram nenhuma redução (cortesia do TC...). Iniquidade bis!
Os ENVC e os croquetes da diplomacia...
Publicado por
AG
A embaixada estava então bem posicionada para facilitar os necessários contactos - tinha até o luxo de um Adido de Defesa, que me trouxera a informação... Restava haver o engenho e a arte para interessar politicamente a Indonésia a comprar português - e para isso lá estavamos eu e a embaixada!
MNE e MDN mostraram interesse, a administração dos ENVC também... Mas mais nada!!!
Nunca sequer teve seguimento a sugestão, em que insistimos repetidamente, de que o governo português convidasse um ou dois responsáveis da Marinha indonésia a vir visitar os ENVC e ver os modelos de patrulhões que estavam a ser desenvolvidos.
Todas as nossas diligências caíram em saco roto, apesar de já então o PM Barroso teorizar sobre o "upgrade" da diplomacia "do croquete" em "económica"! O MDN Portas, por seu lado, ainda não tinha descoberto o talento de "caixeiro viajante" e andaria decerto demasiado embrenhado no negócio da compra dos submarinos e respectivas contrapartidas, para quê perder tempo com encomendas do outro lado do mundo para os ENCV - que as contrapartidas dos submarinos iam salvar, como tanto apregoaria???
Este foi o meu primeiro contacto com os ENCV. Mas não foi o último. Como demonstra a queixa que apresentei à PGR e à Comissão Europeia no passado dia 20 de Dezembro de 2013 - a documentação pode ser consultada no meu site www.anagomes.eu
Na ABA DA CAUSA acabo de publicar textos de intervenções sobre "o estranho caso dos ENCV"que fiz no mês passado no "Conselho Superior" na ANTENA 1.
quinta-feira, 26 de dezembro de 2013
Se a esquerda...
Publicado por
Vital Moreira
... se empenhasse na defesa da escola pública, do SNS e do subsídio de desemprego com a mesma paixão e convicção com que defende as prerrogativas dos pensionistas do Estado, a liberdade com que o Governo tem minado aqueles pilares do Estado social seria seguramente menos ampla do que tem sido.
A. J. Jardim também é de "esquerda"!
Publicado por
Vital Moreira
«Jardim diz que TC "chumbou e bem" o regime de convergência».
Se por compreensíveis razões políticas a esquerda toda (com algumas excepções...) aplaude a inconstitucionalidade da convergência das pensões do Estado com as do regime geral, é óbvio que ela tem inesperados aliados nesta circunstância, como A. J. Jardim, Bagão Félix, Manuela F. Leite e tutti quanti. O que têm eles de comum: são todos pensionistas do Estado!
Como dizem nos Estados Unidos: "where you sit is where you stand" (numa tradução livre: "as posições ditam as opiniões").
Se por compreensíveis razões políticas a esquerda toda (com algumas excepções...) aplaude a inconstitucionalidade da convergência das pensões do Estado com as do regime geral, é óbvio que ela tem inesperados aliados nesta circunstância, como A. J. Jardim, Bagão Félix, Manuela F. Leite e tutti quanti. O que têm eles de comum: são todos pensionistas do Estado!
Como dizem nos Estados Unidos: "where you sit is where you stand" (numa tradução livre: "as posições ditam as opiniões").
Austeridade
Publicado por
Vital Moreira
Três "minas" alimentaram durante décadas o excesso de despesa pública em relação às receitas ordinárias do Estado, a saber: os fundos europeus, a receita das privatizações e o endividamento público. Se somarmos essas receitas extraordinárias ao longo do último quarto de século, chegaremos a somas astronómicas, uma cornucópia que financiou os enormes progressos do País em infraestruturas, em serviços públicos (educação e saúde) e em prestações sociais (mas não só...).
Doravante, porém, só a primeira permanecerá, mesmo assim com tendência par a redução, dada a diminuição das receitas da União e o alargamento a novos países. Quanto às privatizações, já não há muitas empresas públicas rentáveis para privatizar (CGD, ADP e pouco mais). E quanto ao endividamento, o cumprimento do Pacto orçamental da UE quanto ao défice orçamental e a necessidade de redução da dívida pública não vão permitir endividamento líquido adicional durante muitos anos, pelo contrário.
A partir de agora, o Estado vai portanto ter de viver essencialmente com os seus próprios recursos (ou seja, impostos, contribuições e taxas). Mas o próprio crescimento destes está limitado pelo débil crescimento económico. O principal desafio político para a esquerda vai ser a sustentabilidade financeira do Estado social, incluindo o sistema de pensões.
Quem julga que, passada a crise, tudo vai ser como antes dela quanto ao financiamento do Estado e da despesa pública -- engana-se e engana os outros. Nada voltará a ser como antes; o eldorado orçamental de antes da crise acabou, definitivamente. A austeridade -- no sentido de gestão austera das finanças públicas -- veio para ficar.
Doravante, porém, só a primeira permanecerá, mesmo assim com tendência par a redução, dada a diminuição das receitas da União e o alargamento a novos países. Quanto às privatizações, já não há muitas empresas públicas rentáveis para privatizar (CGD, ADP e pouco mais). E quanto ao endividamento, o cumprimento do Pacto orçamental da UE quanto ao défice orçamental e a necessidade de redução da dívida pública não vão permitir endividamento líquido adicional durante muitos anos, pelo contrário.
A partir de agora, o Estado vai portanto ter de viver essencialmente com os seus próprios recursos (ou seja, impostos, contribuições e taxas). Mas o próprio crescimento destes está limitado pelo débil crescimento económico. O principal desafio político para a esquerda vai ser a sustentabilidade financeira do Estado social, incluindo o sistema de pensões.
Quem julga que, passada a crise, tudo vai ser como antes dela quanto ao financiamento do Estado e da despesa pública -- engana-se e engana os outros. Nada voltará a ser como antes; o eldorado orçamental de antes da crise acabou, definitivamente. A austeridade -- no sentido de gestão austera das finanças públicas -- veio para ficar.
Peço meças (2)
Publicado por
Vital Moreira
Desde há muito anos me habituei, muitas vezes contra a corrente à esquerda, a combater os privilégios de grupo ou os interesses instalados no Estado à custa do interesse (e do erário) público.
Sem preocupações de fazer uma lista completa, recordo os casos da criação de novos municípios, das propinas no ensino superior, da liberalização das farmácias, dos privilégios da Universidade Católica, do serviço de saúde oficial dos jornalistas, da deriva corporativa das ordens profissionais, das SCUT rodoviárias, do encerramento de pseudo-maternidades e de pseudo-centros de saúde, da eliminação de escolas básicas sem alunos e sem condições, da unificação do sistema de segurança social, da extinção da ADSE, da eliminação dos privilégios corporativos no sector público, da redução das freguesias, etc. etc.
A principal missão da esquerda democrática é a luta contra os privilégios e pela igualdade de tratamento do Estado. Não há maior perigo para a saúde da democracia e para o desempenho do Estado social -- causas prioritárias da esquerda social-democrata -- do que a captura do Estado por grupos de interesse ou por visões corporativistas, incluindo os que operam ou se manifestam no seio do próprio Estado.
Sem preocupações de fazer uma lista completa, recordo os casos da criação de novos municípios, das propinas no ensino superior, da liberalização das farmácias, dos privilégios da Universidade Católica, do serviço de saúde oficial dos jornalistas, da deriva corporativa das ordens profissionais, das SCUT rodoviárias, do encerramento de pseudo-maternidades e de pseudo-centros de saúde, da eliminação de escolas básicas sem alunos e sem condições, da unificação do sistema de segurança social, da extinção da ADSE, da eliminação dos privilégios corporativos no sector público, da redução das freguesias, etc. etc.
A principal missão da esquerda democrática é a luta contra os privilégios e pela igualdade de tratamento do Estado. Não há maior perigo para a saúde da democracia e para o desempenho do Estado social -- causas prioritárias da esquerda social-democrata -- do que a captura do Estado por grupos de interesse ou por visões corporativistas, incluindo os que operam ou se manifestam no seio do próprio Estado.
segunda-feira, 23 de dezembro de 2013
Peço meças
Publicado por
Vital Moreira
Parece que há uns novos guardiões da ortodoxia de esquerda que acham que neste momento o teste entre a esquerda e a direita passou a ser, respetivamente, o apoio ou a crítica à decisão do TC sobre a convergência do valor das pensões da CGA com as do regime geral.
Deixando de lado a questão de saber quando é que a interpretação constitucional é de esquerda ou de direita, permito-me contestar a fiabilidade e a pertinência do referido teste. Primeiro, como é notório, não há nenhum pensionista do sector público na área da direita que não aplauda a decisão do TC (sem cuidar aqui de saber se é por convicção constitucional ou por interesse próprio), o que deixa o referido teste em maus lençóis (afinal a direita também aplaude a decisão do TC...); segundo, e sobretudo, tenho a profunda convicção de que nesta matéria o verdadeiro teste da esquerda é, em geral, o principio da igualdade e o combate à desiguadade de tratamento e, em especial, a salvagurda da sustentabilidade do sistema de pensões, conquista maior do Estado social.
Peço, portanto, meças em matéria de convicções de esquerda aos que por interesse próprio ou oportunismo político descobriram uma nova causa de esquerda, a saber, manter a discriminação entre o sector público e o sector privado em matéria de pensões (aliás inconstitucional, como mostrei abaixo).
Adenda
Desnecessário é dizer que, se me movesse somente pelo meu interesse próprio, também eu deveria estar a defender as prerrogativas pensionísticas do sector público e aplaudir a decisão do TC...
Deixando de lado a questão de saber quando é que a interpretação constitucional é de esquerda ou de direita, permito-me contestar a fiabilidade e a pertinência do referido teste. Primeiro, como é notório, não há nenhum pensionista do sector público na área da direita que não aplauda a decisão do TC (sem cuidar aqui de saber se é por convicção constitucional ou por interesse próprio), o que deixa o referido teste em maus lençóis (afinal a direita também aplaude a decisão do TC...); segundo, e sobretudo, tenho a profunda convicção de que nesta matéria o verdadeiro teste da esquerda é, em geral, o principio da igualdade e o combate à desiguadade de tratamento e, em especial, a salvagurda da sustentabilidade do sistema de pensões, conquista maior do Estado social.
Peço, portanto, meças em matéria de convicções de esquerda aos que por interesse próprio ou oportunismo político descobriram uma nova causa de esquerda, a saber, manter a discriminação entre o sector público e o sector privado em matéria de pensões (aliás inconstitucional, como mostrei abaixo).
Adenda
Desnecessário é dizer que, se me movesse somente pelo meu interesse próprio, também eu deveria estar a defender as prerrogativas pensionísticas do sector público e aplaudir a decisão do TC...
"Dois carrinhos"
Publicado por
Vital Moreira
Não se sabe ainda por que alternativa vai o Governo optar para compensar o impacto orçamental da decisão do Tribunal Constitucional sobre as pensões da CGA (se quiser manter a meta do défice para o ano que vem).
É certo que, embora rejeitando a solução proposta, o TC não fechou inteiramente a porta a um corte das pensões já em pagamento (contra os talibans da "protecção da confiança"), sem porém deixar claro até onde se poderia ir. Algumas passagens crípticas do acórdão permitem entender que o Tribunal poderia aceitar um corte mais discriminado (e não 10% a todas as pensões acima de 600 euros) e mais espaçado no tempo (2 ou 3 anos de transição?).
O Governo pode ser tentado a ir por aí, se pensar que mais vale haver convergência mais "branda" do que não haver nenhuma. Mas, para além do processo legislativo demorado e do resultado incerto no TC, isso já não lhe resolveria o problema orçamental do próximo ano. Por isso, o Governo poderá optar, como já alguém sugeriu, por "jogar em dois carrinhos" ao mesmo tempo: aumento imediato do IVA para compensar a despesa que deixou de poupar (0,5% de aumento pode chegar) e tentativa de reformulação da lei da convergência das pensões. Se e quando esta passasse, poderia então dar-se ao luxo de anunciar uma "descida de impostos" (ainda que limitada à reposição da actual taxa do IVA).
Eis como, ironicamente, o Governo ainda pode virar a seu favor a decisão do TC...
É certo que, embora rejeitando a solução proposta, o TC não fechou inteiramente a porta a um corte das pensões já em pagamento (contra os talibans da "protecção da confiança"), sem porém deixar claro até onde se poderia ir. Algumas passagens crípticas do acórdão permitem entender que o Tribunal poderia aceitar um corte mais discriminado (e não 10% a todas as pensões acima de 600 euros) e mais espaçado no tempo (2 ou 3 anos de transição?).
O Governo pode ser tentado a ir por aí, se pensar que mais vale haver convergência mais "branda" do que não haver nenhuma. Mas, para além do processo legislativo demorado e do resultado incerto no TC, isso já não lhe resolveria o problema orçamental do próximo ano. Por isso, o Governo poderá optar, como já alguém sugeriu, por "jogar em dois carrinhos" ao mesmo tempo: aumento imediato do IVA para compensar a despesa que deixou de poupar (0,5% de aumento pode chegar) e tentativa de reformulação da lei da convergência das pensões. Se e quando esta passasse, poderia então dar-se ao luxo de anunciar uma "descida de impostos" (ainda que limitada à reposição da actual taxa do IVA).
Eis como, ironicamente, o Governo ainda pode virar a seu favor a decisão do TC...
Aleivosia
Publicado por
Vital Moreira
Recebi um alerta amigo acerca de um boato segundo o qual eu seria beneficiário de "duas pensões extraordinarias", uma como ex-titular de cargos políticos e outra como antigo juiz do Tribunal Constitucional, pensões essas que, apesar de pagas pela CGA, seriam poupadas à "convergência das pensões" proposta pelo Governo.
Seja quem for que tenha fabricado esta história e sendo óbvia a intenção malévola, importa dizer que ela é inteiramente FALSA. Não recebo nenhuma das referidas "pensões".
A primeira delas, que aliás não se chama "pensão", deixei de a receber quando passei a ser deputado ao Parlamento Europeu, vai para cinco anos, pois ela sempre foi incompatível com o exercício de cargos políticos. Além disso, o Governo decidiu recentemente que ela cessaria doravante para todos os que tenham outros rendimentos, o que abrange virtualmente todos os titulares (sem que, aliás, ninguém tenha invocado violação do princípio da confiança...). Portanto, já não tenho direito a tal "pensão" nem voltarei a ter.
Quanto à segunda alegada pensão (a do Tribunal Constitucional), nunca beneficiei dela, porque nunca a requeri, tendo por isso prescindido de receber uns milhares de euros por mês ao longo de quase vinte anos. Os meus anos no TC contam, portanto, como anos normais para a formação da minha pensão de funcionário público, como qualquer outro (e, como as demais, também sujeita à "convergência").
Contra a aleivosia anónima, aqui fica a verdadeira história das minhas inexistentes "pensões".
Seja quem for que tenha fabricado esta história e sendo óbvia a intenção malévola, importa dizer que ela é inteiramente FALSA. Não recebo nenhuma das referidas "pensões".
A primeira delas, que aliás não se chama "pensão", deixei de a receber quando passei a ser deputado ao Parlamento Europeu, vai para cinco anos, pois ela sempre foi incompatível com o exercício de cargos políticos. Além disso, o Governo decidiu recentemente que ela cessaria doravante para todos os que tenham outros rendimentos, o que abrange virtualmente todos os titulares (sem que, aliás, ninguém tenha invocado violação do princípio da confiança...). Portanto, já não tenho direito a tal "pensão" nem voltarei a ter.
Quanto à segunda alegada pensão (a do Tribunal Constitucional), nunca beneficiei dela, porque nunca a requeri, tendo por isso prescindido de receber uns milhares de euros por mês ao longo de quase vinte anos. Os meus anos no TC contam, portanto, como anos normais para a formação da minha pensão de funcionário público, como qualquer outro (e, como as demais, também sujeita à "convergência").
Contra a aleivosia anónima, aqui fica a verdadeira história das minhas inexistentes "pensões".
domingo, 22 de dezembro de 2013
As coisas são o que são
Publicado por
Vital Moreira
Perguntam-se por que não digo nada sobre o novo partido, o "Livre".
A resposta é simples: porque não acho o tema interessante. Primeiro, penso que numa democracia madura não há lugar para partidos "personalizados" (ou seja, centrados numa pessoa, por mais meritória que seja). Segundo, julgo que o "Livre" vai ser tão efémero, que não vale a pena gastar tempo com ele.
Agora, falando sério: o "Livre" parte de um duplo equívoco: primeiro, a ideia de que há um espaço político vazio, algures "no meio da esquerda" (onde quer que isso fique); segundo, que basta uma "alcoviteira" benévola para meter na mesma cama político-governativa o PS, o BE e o PCP.
Quanto ao primeiro, tenho para mim que, tirando uma pequena fracção da elite urbana -- que acha que tem de ter um partido com cujas ideias concorde a 100% --, ninguém mais sente a necessidade de um novo partido de esquerda, quando já há três com representação parlamentar (quatro, se considerarmos que os Verdes são um partido...).
Quanto ao segundo equívoco, as diferenças entre o PS, por um lado, e o BE e PCP, por outro lado, são demasiado fundas e estruturais, ideológica e politicamente, para poderem ser intermediadas por interposto (micro)partido. Basta pensar na integração europeia e na disciplina orçamental. Não há suficientes "commonalities" políticas entre um partido de governo, como o PS, e partidos de protesto, como o BE e o PCP. Pelo menos, enquanto estes se limitarem a ser partidos "do contra" e de causas sectoriais.
A resposta é simples: porque não acho o tema interessante. Primeiro, penso que numa democracia madura não há lugar para partidos "personalizados" (ou seja, centrados numa pessoa, por mais meritória que seja). Segundo, julgo que o "Livre" vai ser tão efémero, que não vale a pena gastar tempo com ele.
Agora, falando sério: o "Livre" parte de um duplo equívoco: primeiro, a ideia de que há um espaço político vazio, algures "no meio da esquerda" (onde quer que isso fique); segundo, que basta uma "alcoviteira" benévola para meter na mesma cama político-governativa o PS, o BE e o PCP.
Quanto ao primeiro, tenho para mim que, tirando uma pequena fracção da elite urbana -- que acha que tem de ter um partido com cujas ideias concorde a 100% --, ninguém mais sente a necessidade de um novo partido de esquerda, quando já há três com representação parlamentar (quatro, se considerarmos que os Verdes são um partido...).
Quanto ao segundo equívoco, as diferenças entre o PS, por um lado, e o BE e PCP, por outro lado, são demasiado fundas e estruturais, ideológica e politicamente, para poderem ser intermediadas por interposto (micro)partido. Basta pensar na integração europeia e na disciplina orçamental. Não há suficientes "commonalities" políticas entre um partido de governo, como o PS, e partidos de protesto, como o BE e o PCP. Pelo menos, enquanto estes se limitarem a ser partidos "do contra" e de causas sectoriais.
Proteção da confiança
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Vital Moreira
«Entre 100 a 120 mil portugueses emigraram este ano, diz Governo».
A este portugueses, tal como às centenas de milhares de desempregados, ninguém protegeu a sua confiança no País, nem os seus "planos de vida"...
A este portugueses, tal como às centenas de milhares de desempregados, ninguém protegeu a sua confiança no País, nem os seus "planos de vida"...
Reforma inacabada
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Vital Moreira
No meio das apaixonadas discussões sobre a convergência dos dois sistemas de pensões existentes entre nós, ninguém se parece aperceber de que a raiz do problema está no tradicional dualismo do sistema de segurança social -- que integra as pensões --, um regime para o sector público, outro para o sector privado.
Ora, a Constituição é clara, logo desde 1976, em exigir um sistema de segurança social unificado (art. 63º-1 da CRP), o que aliás é uma exigência do princípio da igualdade. Todavia, durante muito tempo nenhum Governo teve a coragem de fazer convergir os dois sistemas de pensões (e não só) -- o que implicaria a perda das vantagens do sector público (idade de aposentação e fórmula de cálculo das pensões) --, sem que ninguém tivesse a coragem de impugnar a situação junto do Tribunal Constitucional. E quando a convergência foi finalmente encetada, só o foi com prolongados períodos de transição quanto ao cálculo do valor das pensões no sector público e sem nunca tocar no valor das pensões já atribuídas (em geral mais elevadas no sector público), mantendo-se portanto a desigualdade de tratamento para situações idênticas.
Sob pressão da situação de emergência orçamental, o actual Governo decidiu apressar a convergência da idade de aposentação e da fórmula de cálculo das pensões. Mas quando pretendeu fazer convergir também o valor das pensões em pagamento, afectando situações juridicamente consolidadas (em princípio protegidas), esbarrou com o Tribunal Constitucional.
Como é bom de ver, essa dimensão do dualismo do sistema de pensões só persiste hoje porque durante décadas se preferiu ignorar a Constituição. Quase quatro décadas depois, a unificação do sistema de pensões continua inacabada. Até agora, por falta de vontade política; agora, com uma pequena ajuda do Tribunal Constitucional...
Ora, a Constituição é clara, logo desde 1976, em exigir um sistema de segurança social unificado (art. 63º-1 da CRP), o que aliás é uma exigência do princípio da igualdade. Todavia, durante muito tempo nenhum Governo teve a coragem de fazer convergir os dois sistemas de pensões (e não só) -- o que implicaria a perda das vantagens do sector público (idade de aposentação e fórmula de cálculo das pensões) --, sem que ninguém tivesse a coragem de impugnar a situação junto do Tribunal Constitucional. E quando a convergência foi finalmente encetada, só o foi com prolongados períodos de transição quanto ao cálculo do valor das pensões no sector público e sem nunca tocar no valor das pensões já atribuídas (em geral mais elevadas no sector público), mantendo-se portanto a desigualdade de tratamento para situações idênticas.
Sob pressão da situação de emergência orçamental, o actual Governo decidiu apressar a convergência da idade de aposentação e da fórmula de cálculo das pensões. Mas quando pretendeu fazer convergir também o valor das pensões em pagamento, afectando situações juridicamente consolidadas (em princípio protegidas), esbarrou com o Tribunal Constitucional.
Como é bom de ver, essa dimensão do dualismo do sistema de pensões só persiste hoje porque durante décadas se preferiu ignorar a Constituição. Quase quatro décadas depois, a unificação do sistema de pensões continua inacabada. Até agora, por falta de vontade política; agora, com uma pequena ajuda do Tribunal Constitucional...
sábado, 21 de dezembro de 2013
Constitucionalização da política
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Vital Moreira
Na questão da "convergência das pensões", os partidos políticos dedicaram mais tempo -- se não o tempo todo -- à discussão sobre a (in)constitucionalidade da medida do que à discussão do seu (de)mérito politico, como revelam os elaborados argumentários que alguns elaboraram para defender o seu ponto de vista na matéria constitucionbal. Valha a verdade dizer que os meios de infromação não fizeram melhor.
Mas a constitucionalização da política, que tantas vezes aqui tenho assinalado, corre o risco de degenerar também na politização da justiça constitucional, com as claques partidárias a vitoriar ou a vituperar o Tribunal Constitucional, conforme os casos.
Ainda haveremos de lastimar esta confusão de águas.
Mas a constitucionalização da política, que tantas vezes aqui tenho assinalado, corre o risco de degenerar também na politização da justiça constitucional, com as claques partidárias a vitoriar ou a vituperar o Tribunal Constitucional, conforme os casos.
Ainda haveremos de lastimar esta confusão de águas.
Endereço errado
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Vital Moreira
A propósito da decisão do TC sobre a convergência das pensões, a dirigente de uma associação de aposentados da função pública saudou o facto de Portugal ter «uma Constituição que defende os Portugueses».
Sem dúvida. Mas neste caso, a saudação deveria ser endereçada ao Tribunal Constitucional, que fez uma aplicação estrita do princípio da "protecção da confiança". A verdade é que houve redução de pensões do sector público em outros países sob emergência orçamental, nomeadamente na Grécia, sem que o referido princípio -- que vale em todo e qualquer Estado de direito constitucional -- o pudesse ter evitado. A diferença, portanto, não está na Constituição, mas sim na sua leitura e aplicação pelo Tribunal Constitucional.
Sem dúvida. Mas neste caso, a saudação deveria ser endereçada ao Tribunal Constitucional, que fez uma aplicação estrita do princípio da "protecção da confiança". A verdade é que houve redução de pensões do sector público em outros países sob emergência orçamental, nomeadamente na Grécia, sem que o referido princípio -- que vale em todo e qualquer Estado de direito constitucional -- o pudesse ter evitado. A diferença, portanto, não está na Constituição, mas sim na sua leitura e aplicação pelo Tribunal Constitucional.
sexta-feira, 20 de dezembro de 2013
Não é bem assim
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Vital Moreira
No Público de ontem, Isabel Arriaga e Cunha, num artigo acerca das candidaturas a presidente da Comissão Europeia em vista das eleiçoes europeias do próximo ano, afirma que "segundo o Tratado de Lisboa, o presidente da Comissão Europeia (...) é escolhido pelos líderes da UE, tendo em conta o resultado das eleições [para o Parlamento Europeu]" e que "o sucessor de Barroso deve ser escolhido na cimeira de líderes de Junho de 2014, devendo entrar em funções em Novembro, depois de obter a confirmação do Parlamento Europeu".
As coisas, porém, não são bem assim, nem constitucional nem politicamente. Depois do Tratado de Lisboa, o presidente da Comissão é eleito (e não propriamente "confirmado") pelo Parlamento Europeu, sob proposta (e não depois da "escolha") do Conselho Europeu. Este limita-se a apresentar um candidato ao cargo (e não uma escolha ou nomeação já feita). É certo que o PE não pode eleger senão um candidato proposto pelo Conselho Europeu, mas pode rejeitar o(s) candidato(s) proposto(s), até que algum obtenha maioria (e a nomeação) no Parlamento.
O normal será o Conselho começar por propor o candidato a presidente da Comissão que tenha sido apresentado pelo partido europeu mais votado nas eleições para o PE; caso ele não seja eleito, terá de ser proposto o candidato indicado por outro partido, que possa reunir essa maioria.
Por conseguinte, o Conselho Europeu "escolhe" ainda menos o presidente da Comissão Europeia do que entre nós o Presidente da República "escolhe" o primeiro-ministro. No primeiro caso, o acto decisivo da nomeação do chefe do "governo" europeu é a sua eleição pelo Parlamento Europeu, sob proposta do Conselho Europeu; no caso do primeiro-ministro em Portugal, o acto decisivo é a sua nomeação pelo Presidente da República, que prevalece salvo se AR o rejeitar por maioria absoluta (não havendo nenhuma eleição parlamentar). No primeiro caso só há presidente da Comissão depois da sua eleição pelo PE; no segundo caso, há primeiro-ministro logo depois da sua nomeação pelo PR, embora com poderes limitados até à "confirmação" parlamentar.
Neste aspecto, o sistema de governo da União é mais caracterizadamente parlamentar do que o sistema de governo parlamentar imperfeito da CRP.
As coisas, porém, não são bem assim, nem constitucional nem politicamente. Depois do Tratado de Lisboa, o presidente da Comissão é eleito (e não propriamente "confirmado") pelo Parlamento Europeu, sob proposta (e não depois da "escolha") do Conselho Europeu. Este limita-se a apresentar um candidato ao cargo (e não uma escolha ou nomeação já feita). É certo que o PE não pode eleger senão um candidato proposto pelo Conselho Europeu, mas pode rejeitar o(s) candidato(s) proposto(s), até que algum obtenha maioria (e a nomeação) no Parlamento.
O normal será o Conselho começar por propor o candidato a presidente da Comissão que tenha sido apresentado pelo partido europeu mais votado nas eleições para o PE; caso ele não seja eleito, terá de ser proposto o candidato indicado por outro partido, que possa reunir essa maioria.
Por conseguinte, o Conselho Europeu "escolhe" ainda menos o presidente da Comissão Europeia do que entre nós o Presidente da República "escolhe" o primeiro-ministro. No primeiro caso, o acto decisivo da nomeação do chefe do "governo" europeu é a sua eleição pelo Parlamento Europeu, sob proposta do Conselho Europeu; no caso do primeiro-ministro em Portugal, o acto decisivo é a sua nomeação pelo Presidente da República, que prevalece salvo se AR o rejeitar por maioria absoluta (não havendo nenhuma eleição parlamentar). No primeiro caso só há presidente da Comissão depois da sua eleição pelo PE; no segundo caso, há primeiro-ministro logo depois da sua nomeação pelo PR, embora com poderes limitados até à "confirmação" parlamentar.
Neste aspecto, o sistema de governo da União é mais caracterizadamente parlamentar do que o sistema de governo parlamentar imperfeito da CRP.
Socializar os custos
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Vital Moreira
É fácil garantir prerrogativas sectoriais quando elas são suportadas por todos os demais...
Proporcionalidade
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Vital Moreira
A ideia de que a redução de 10% de uma pensão pode afectar gravemente os "planos de vida" de uma pessoa, mesmo que se trate de valores elevados (no sector público há muitas pensões acima de 5000 euros) e mesmo que o titular tenha outros rendimentos (o Tribunal Constitucional não fez excepções nem qualificações), é uma tese pelo menos desproporcionada.
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