Blogue fundado em 22 de Novembro de 2003 por Ana Gomes, Jorge Wemans, Luís Filipe Borges, Luís Nazaré, Luís Osório, Maria Manuel Leitão Marques, Vicente Jorge Silva e Vital Moreira
terça-feira, 10 de maio de 2016
Leviandade
Mas já não era tema nem questão política quando ele insensatamente resolveu suscitar publicamente o assunto!
O sumário recuo de MRS mostra que ele tem de resistir a colocar em debate público enquanto Presidente da República as suas próprias opiniões pessoais. O país perde tempo e ele nada ganha em credibilidade.
Desfaçatez
É preciso desfaçatez!
Adenda
Passos Coelho diz que «o Estado gasta o mesmo com ou sem contratos de associação [com os colégios privados]». O que é que explica um disparate destes, se não o ressentimento ou o cinismo político? Então não é evidente que ao pagar aos colégios privados enquanto mantém as escolas públicas subocupadas e os seus professores sem horário, o Estado e os contribuintes pagam duas vezes!? E não é incontestável que a obrigação constitucional do Estado é financiar as escolas públicas e não as privadas!?
Um pouco mais de escrúpulos republicanos, sff
Hipocrisia europeia na Cimeira Mundial Humanitária
"Apesar de a UE ser o principal doador de Ajuda Humanitária, apresenta-se nesta Cimeira Mundial -ironicamente organizada na Turquia - com a imagem desgraçada pela forma como NÃO tem sabido responder à maior crise humanitária desde a II Guerra Mundial, que resulta da guerra e do terrorismo na sua vizinhança, em particular na Síria, Iraque e Líbia, e da opressão e miséria noutros países da Ásia e de África.
O negócio UE-Turquia, em violação da Convenção das Nações Unidas sobre os Refugiados, e portanto em violação dos Tratados Europeus e dos mais elementares princípios humanitários, é vergonhoso. À conta dele, hoje na Europa, nos "hotspots" na Grécia há refugiados detidos e atacados, incluindo mulheres e crianças, muitas menores não acompanhados. E há a "sin city" em Idomeni.
A actuação europeia na Cimeira será mais um exercício de hipocrisia se a UE prosseguir com políticas de austeridade que projectam desemprego e pobreza em toda a Região Mediterrânica e além dela. E se continuar bloqueada e incapaz de agir para prevenir e resolver conflitos e para ajudar outros povos a acabar com regimes cleptocráticos e opressores".
(Minha intervenção esta tarde, em plenário do PE, sobre a Cimeira Mundial Humanitária)
domingo, 8 de maio de 2016
Jornalismo serviçal
Decididamente, há jornais que decidiram colocar-se ostensivamente ao serviço da campanha "stop ttip", liderada pela esquerda radical e pelas ONGs que ela influencia. Os factos são substituídos pela ficção, a informação pela opinião do jornalista e a objetividade pelo sectarismo militante.
sábado, 7 de maio de 2016
Abuso de poder
Resta, porém, o maior atentado ao due process penal num Estado de direito constitucional, que é o prolongamento indefinido do processo sem decisão sobre a acusação ou falta dela, vários anos decorridos desde o inicio da investigação e depois de meses e meses em prisão preventiva, enquanto a vitima continua a ser condenada diariamente na imprensa tablóide, mercê da cumplicidade ativa da acusação. Pelos vistos, o Ministério Público, incapaz de "arrumar" até agora uma acusação, prefere obter uma condenação sem apelo nem agravo à margem dos tribunais,
Se as pessoas têm um direito constitucional a serem julgadas em prazo razoável, maior direito têm a obterem uma decisão sobre a acusação em tempo razoável. No processo penal de um Estado de direito constitucional vale a presunção de inocência e as pessoas não podem ficar dependentes indefinidamente da decisão sobre a acusação, ou não, por livre alvedrio do Ministério Público.
sexta-feira, 6 de maio de 2016
Um pouco mais de rigor, sff
«O objetivo de reduzir os entraves regulatórios e a burocracia para potenciar ao máximo as trocas entre os EUA e a EU tem sido negociado [no TTIP] longe de qualquer olhar».1. É isto que o "Expresso curto" publica hoje (o destaque a negro está no original), entre outras considerações factuais infundadas, sobre as negociações de um acordo de comércio e investimento entre a UE e os Estados Unidos, conhecido por TTIP
2. Ora, essas negociações decorrem sob o escrutínio dos seguintes olhares:
- dos governos de todos os Estados-membros (incluindo o do Syriza), que recebem todas as informações, quer através do Conselho da União quer através do Comité de Política Comercial, especificamente previsto no Tratado de Funcionamento da UE, onde todos estão representados e que acompanha especificamente e ao pormenor a negociação de todos os acordos comerciais da União;
- os deputados ao Parlamento Europeu, tendo todos eles acesso aos documentos confidenciais da negociação (obviamente com o compromisso de não divulgação do seu teor);
- os deputados dos parlamentos nacionais, que têm acesso aos mesmo documentos, nas mesmas condições;
- os representantes dos stakeholders (empresários, sindicatos, consumidores, etc.) na comissão de acompanhamento criada pela Comissão Europeia, que são informados pela Comissão após cada ronda de negociações e que têm acesso também a informação confidencial;
- o público em geral, que tem acesso a todos os documentos com posições e propostas da União, que têm sido todos publicados.
3. O Expresso não tem nenhuma desculpa para desconhecer estes factos públicos e notórios. Basta ir ao site da Comissão Europeia sobre o TTIP. onde constam os documentos tornados públicos e a lista dos documentos confidenciais que estão acessíveis aos deputados europeus e nacionais. A lista dos documentos encontra-se aqui, com indicação dos chamados "textos consolidados" no final.
4. Importa dizer, sem margem para contestação, que não há no mundo negociações comerciais mais transparentes e mais escrutinadas do que as da UE e que nenhuma negociação comercial jamais foi tão transparente e tão escrutinada como a do TTIP.
quinta-feira, 5 de maio de 2016
Só para brincar
Acresce que, ao avançar sem prévia concertação com o PS - nesta altura excluída - com propostas cuja aprovação precisa de maioria de 2/3 e que, por isso, não têm à partida nenhuma chance de serem consideradas, o PSD só contribui para as "queimar", tornando mais difícil a sua adoção no futuro.
Decididamente, o PSD insiste em operações de pequena guerrilha política que em nada o credibilizam.
Ficção desmascarada
Lead do meu artigo de hoje no Diário Económico eletrónico, sobre os alegados "documentos secretos" do TTIP. Quando os factos desmentem a ficção.
Exemplar!
No caso do acordo ortográfico, inopinadamente reaberto por Marcelo Rebelo de Sousa, ASS limitou-se a dizer que o Acordo está em vigor entre nós e que Portugal aguarda tranquilamente a ratificação pelos dois países de língua portuguesa em falta. Ponto final.
No caso das negociações do tratado de comércio e investimento entre a UE e os EUA (TTIP), em resposta a uma pergunta do BE (que lidera o partido anti-TTIP entre nós), o MNE veio comunicar o explicito apoio do Governo português.
Sem margem para dúvidas nem especulações. Exemplar!
quarta-feira, 4 de maio de 2016
Falsificação (3)
Como é que um jornal decente pode escrever um disparate destes, sem ponta por onde se lhe pegue?
O que a UE propõe é a criação de uma plataforma de consultas mútuas no âmbito da preparação de iniciativas legislativas e regulamentares, sem nenhuma alteração dos procedimentos, muito menos da competência decisória, dos órgãos legislativos e regulamentares da União.
Decididamente, a imprensa de referência já não é o que era!
Gostaria de ter escrito isto
«Como a escolaridade é obrigatória e o nosso Estado é laico, é obrigação do Estado garantir que existe uma escola laica. Um Estado laico não pode obrigar uma família a inscrever as suas crianças em escolas de inspiração católica. A implicação lógica é simples: onde há escola pública, não se deve financiar escolas privadas. A não ser, claro, que o Estado deixe de ser laico, como grande parte da Direita gostaria.»Luís Aguiar-Conraria, Onde está a direita liberal em Portugal?
Bom senso
Ainda bem que o bom senso triunfou!
terça-feira, 3 de maio de 2016
Falsificação (2)
Ora, nenhuma destas acusações tem qualquer fundamento, nem fazem nenhum sentido, pois o princípio da precaução está garantido nos Tratados da UE e a referida derrogação às regras do comércio internacional para proteger a vida e a saúde de pessoas, animais e plantas é uma norma do GATT, pelo que nenhuma daquelas regras poderia ser afastada por qualquer acordo comercial bilateral.
Mas se um jornal de referência como o Público incorre em tanta falta de rigor e veicula acriticamente os argumentos do partido anti-TTIP, como nos podemos admirar do eco que eles conseguem na opinião pública?
Falsificação
Sem nenhuma razão, porém.
2. Primeiro, os tais documentos são tudo menos secretos. Todos estão acessíveis a todos os deputados europeus e todos governos e deputados dos Estados-membros, como se mostra aqui (a lista dos chamados "textos consolidados", agora revelados ao público, está no fim do documento). E no caso dos documentos da União todos são acessíveis ao público em geral por iniciativa da Comissão.
Segredo de polichinelo, como se vê.
3. A divulgação dos "textos consolidados", que permite conhecer publicamente as posições dos EUA (até agora de acesso reservado aos deputados e governos), não confirma nenhum dos argumentos dos opositores ao TTIP.
Pelo contrário, trata-se de um cabal desmentido das suas acusações, pois verifica-se que nas negociações com os Estados Unidos a Comissão Europeia:
- não se afastou em nada das suas posições publicamente assumidas;
- não fez nenhuma concessão, nem aceitou nenhuma proposta americana para baixar os padrões de segurança alimentar, de defesa do ambiente e dos direitos dos consumidores europeus;
- não aceitou nenhuma proposta que implicasse uma obrigação de modificação da legislação europeia.
Tiro pela culatra, portanto.
Consequências
Para já, são só previsões. Mas as da Comissão Europeia têm consequências, desde logo quanto à avaliação do referido Plano de Estabilidade em Bruxelas e, depois - se a execução orçamental confirmar as previsões da Comissão -, quanto à necessidade de implementar as "medidas adicionais" para corrigir o orçamento deste ano.
Adenda
Se se viessem a realizar as previsões da Comissão, elas também teriam obviamente um reflexo negativo na previsão da dívida pública e do emprego. Por isso, não podem ser encaradas de ânimo leve...
segunda-feira, 2 de maio de 2016
Estado laico
Não há "respeito institucional" que justifique o desrespeito inconstitucional da laicidade do Estado .
[revisto]
Adenda
Desde sempre considero a laicidade do Estado com um dos princípios identitários da CRP - desde logo como pressuposto e garante da liberdade religiosa e da igualdade das crenças - e também considero que o PS tem uma responsabilidade especial em respeitá-la, como mais lídimo representante do republicanismo laico em Portugal. Por isso, não tenho deixado passar sem discordância nenhum desvio notório a esse princípio por parte de dirigentes socialistas em cargos públicos, como se pode ver aqui (em relação ao Jorge Sampaio) e aqui (em relação a José Sócrates).
domingo, 1 de maio de 2016
Precipitação (3)
Ora, parece evidente que o patrocínio presidencial à revisão do Acordo Ortográfico - incluindo por referendo ! -, só pode ressuscitar uma questão que goza de um amplo consenso partidário e que, embora com alguma oposição remanescente, aliás decrescente, não suscita nenhuma divisão significativa na sociedade portuguesa.
Com esta inopinada iniciativa, MRS bem pode concitar o aplauso do aguerrido partido anti-AO - o qual, como todas as minorias ativistas, compensa com ruído e agitação o pequeno apoio que consegue colher -, mas arrisca-se a suscitar um desnecessário e oneroso conflito político entre nós e no seio da CPLP.
Um pouco mais de decência política, sff.
Deixando de lado a fácil profecia quanto à correção das atuais políticas governamentais, já não faz sentido a advertência quanto a uma possível fuga do Governo, "como em 2011".
Ora em 2011, apesar do cerco de Passos Coelho - que desde que assumira a liderança do PSD no verão de 2010 não fazia outra coisa senão preparar o derrube do Governo - e apesar do vendaval da crise financeira internacional - que ameaçava afundar os países mais vulneráveis -, o Governo do PS não só não fugiu como lutou denodadamente, com os limitados meios que tinha (sendo um governo minoritário), para enfrentar a crise e poupar o país ao destino da Grécia e da Irlanda. O Governo só saiu quando derrubado pela aliança do PSD e da extrema-esquerda parlamentar contra o PEC IV, sem o qual, como logo se mostrou, Portugal só poderia caminhar para o resgate externo.
Escamotear as responsabilidades próprias do PSD em 2011 e acusar o Governo do PS de ter fugido às responsabilidades - que pagou severamente nas eleições resultantes da crise política - não é apenas falsificar a história; também é politicamente pouco decente.
Precipitação (2)
Há aqui, porém, dois "pequenos" problemas:
- primeiro, o Presidente não tem poderes para convocar sozinho referendos sobre o que quer que seja e não vejo nenhum governo responsável (nem nenhuma maioria parlamentar) a avançar com a proposta de um referendo só para corresponder a um capricho de Belém;
- segundo, o AO decorre de um acordo internacional no âmbito da CPLP e a Constituição não permite referendos diretos sobre acordos internacionais (salvo os tratados da UE), nem para os aprovar nem muito menos para deixar de os cumprir.
Como muitas vezes acontece (abyssus abyssum), precipitações atraem precipitações...
sábado, 30 de abril de 2016
Precipitação
Decididamente, a ser verdade essa notícia (que não foi desmentida), é caso para dizer que o frenesim presidencial pode resultar em embaraçosas precipitações. Qual será a próxima?
Enriquecimento sem justa causa
Não é preciso ter estudado economia para saber que as restrições artificiais à entrada em atividades lucrativas só fazem aumentar especulativamente o preço do trespasse das respetivas licenças, tornadas bens escassos. O que se passa nos táxis é o que se passa nas farmácias há décadas, contra o interesse público e os interesses dos utentes.
Adenda
Não se compreende que o Estado invista tanto a defender a concorrência como princípio básico da economia de mercado e em punir as ações anticoncorrenciais (cartéis e abusos de poder de mercado) e depois seja o próprio Estado a estabelecer restrições oficiais à entrada e à concorrência em determinadas atividades. Uma óbvia incongruência!
Boa notícia
Adenda
Como já defendi anteriormente, o mais provável é que só lá para outubro é que poderá haver uma visão mais fundada sobre a situação económica e orçamental do País, incluindo quanto a saber se as preocupações novamente expostas pela DBRS foram tomadas na devida conta.
sexta-feira, 29 de abril de 2016
Perdedores
A perda de uma potência económica e política como o Reino Unido seria obviamente má para a União e para o pilar atlântico da integração europeia, em que Portugal se integra, acentuando a sua "continentalização". Seria má ainda porque animaria os movimentos soberanistas e nacionalistas antieuropeus e anti-imigração noutros países da União. Mas poderia ser pior para a própria Grã-Bretanha, não somente pelas perdas económicas mas também pelo risco de saída da Escócia do Reino Unido, que provavelmente se seguiria.
O taticismo nem sempre compensa
Anátema
«No debate político em Portugal ganhámos o mau hábito de achar que quem defende contas públicas equilibradas é de direita. Que quem defende que o Estado deve ter um défice controlado é um liberal e que quem acha que a despesa do Estado deve ser igual à receita é um perigoso neoliberal. E se alguém se atrever a sugerir que o país até deveria era ter um superavit orçamental para poder abater a dívida pública é imediatamente conotado como sendo quase fascista.»O jornalista tem razão quanto à visão vulgar da esquerda (com muitas exceções, felizmente) sobre as contas públicas e quanto ao anátema sobre quem tem uma perspetiva ortodoxa acerca da matéria.
(Sousa Carvalho, jornal Público de hoje).
Por mim - como sabem bem os que acompanham o que escrevo há muitos anos -, pertenço obviamente aos impenitentes ultraconservadores que pensam que disciplina orçamental e contas públicas sãs não são de direita nem de esquerda, mas sim boa e prudente gestão financeira, e que sustentam que o pior risco para a sustentabilidade financeira do Estado social é financiá-lo à custa da acumulação de dívida pública.
Contra as touradas
Aliás, já não era sem tempo. Se este meu post a denunciar a passividade do partido dos animais teve alguma influência, ainda bem!
Adenda
Espero agora que o PAN apresente também um pacote de medidas contra a eucaliptização do País, que denunciei no mesmo post!