sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Voltar ao mesmo (14)


1. Os últimos dados do Banco de Portugal confirmam o disparo do crédito à habitação e ao consumo, enquanto prevalece uma redução do crédito às empresas.
Apesar do aumento do poder de compra trazido pela aceleração da retoma económica e pelo aumento de emprego, muitos portugueses voltaram a gastar mais do que ganham, mercê do recurso ao crédito, aproveitando os juros baixos e o novo ambiente de confiança económica. O aumento do endividamento dos particulares reduz a taxa de poupança (num país que tem uma enorme falta de capital) e faz aumentar as importações de bens de consumo (automóveis, eletrodomésticos, etc.), agravando o défice da balança comercial de mercadorias.

2. Na entrevista ao Diário de Notícias no fim de semana passado, o Primeiro-Ministro voltou a censurar as opções de crédito da banca. Mas os bancos optam racionalmente pelo crédito à habitação, por causa da garantia hipotecária, e pelo crédito ao consumo, por causa dos seus juros mais elevados do que o crédito às empresas.
Já o Governo tem meios de restringir o recurso ao crédito, que, porém, não usa obviamente para não perturbar o clima de "fim da austeridade" e para não dificultar a vida aos bancos, ainda a braços com as consequências da crise.
Resta saber se este empolamento do crédito ao consumo é sustentável no médio prazo.

Adenda
Sem surpresa, fica a saber-se que a poupança baixou para níveis de há 18 anos!