Num comício do PP espanhol, em que participou em Madrid, Durão Barroso é citado como tendo dito: «O PSD e Portugal estarão ao lado de Mariano Rajoy [o candidato da direita à chefia de governo nas próximas eleições] e do próximo Governo de Espanha».
Ora, a que título é que Barroso pôde invocar o nome do País na sua solidariedade partidária? Quem lhe passou procuração? De duas uma: ou ele falava na sua qualidade de primeiro-ministro num comício partidário (e nessa qualidade é referido pelo repórter do "Público"), o que seria um inaceitável abuso de funções; ou ele falou naturalmente como líder partidário, e então só podia comprometer o PSD. A invocação de Portugal constitui um lamentável “acto falhado”, do mesmo tipo que há dias o levou a acusar o PS de, ao votar contra uma proposta governamental, ter “votado contra o País”, o que provocou a justa ira de Ferro Rodrigues, que o acusou de um tique autoritário.
De facto, Durão Barroso devia abster-se de invocar o nome do Portugal em vão, sobretudo no estrangeiro. Ele não é o País. Como primeiro-ministro ele só representa o Governo do País (a representação institucional deste cabe ao Presidente da República); como chefe partidário, só representa os seus militantes e porventura os seus votantes.
Há lapsos que desqualificam. Que diria Durão Barroso se o líder do PS fosse também a Madrid anunciar ao líder do PSOE o “apoio de Portugal”?
Vital Moreira