sexta-feira, 23 de abril de 2004

Paridade onde não se espera

Ontem, as equipes do FCP e do Dep. da Corunha entraram no campo acompanhadas de 22 crianças, como acontece com frequência. Dois pormenores marcaram, contudo, alguma diferença: eram 11 rapazes e 11 raparigas; e foram seleccionados os/as jovens escritores/as do Netescrita e os/as melhores alunos/as de língua portuguesa. Não se vão esquecer tão depressa da professora que organizou esta iniciativa. Só o jogo é que não foi à medida de tão importante companhia!

MMLM

quinta-feira, 22 de abril de 2004

Notas da Catalunha

Da Catalunha, onde me encontro e nunca me canso de estar, quatro breves notas:

1. Apesar do fortíssimo incremento no uso do catalão desde que a Espanha regressou à democracia, o Governo regional não está satisfeito com a prevalência do castelhano no mundo dos negócios. Além de um novo plano de normalização linguística, a Generalitat vai instruir os serviços oficiais no sentido de darem prioridade aos fornecedores que utilizem o catalão nos seus catálogos, embalagens e documentação comercial. Ao nível político, Pasqual Maragall vai solicitar formalmente ao Governo de Espanha que, à imagem do flamengo, o catalão passe a ser considerado uma língua oficial pelas instituições europeias. É um bom exemplo de apego ao idioma utilizado desde há séculos pela maioria da população catalã e de afirmação de independência face à propensão expansionista do verbo castelhano.

2. A questão do financiamento aos governos regionais de Espanha continua vibrante, como o havia sido durante a recente campanha eleitoral. Catalunha, Andaluzia e Galiza tomaram a dianteira de um processo negocial com Madrid tendente a ampliar as competências e os recursos atribuídos às regiões. O novo Governo central já se declarou disposto a encetar um “debate de princípios” sobre as pretensões autonómicas, embora remeta para a próxima legislatura a implementação de uma nova lei orgânica sobre a matéria. E se lhes procurássemos vender o extraordinário PREC (Processo de Regionalização Em Curso) lusitano?

3. A resposta ao peregrino editorial do Wall Street Journal, onde a decisão de retirar as tropas espanholas do Iraque era qualificada de “franquista”, não se fez esperar. Num artigo publicado hoje no el Periódico de Catalunya, a escritora Ana Maria Moix contra-ataca: “Decisão própria do general Franco foi a de Aznar ao aliar-se a W. Bush sem dar explicações, numa guerra que a sociedade rejeita”. Não fora a insignificância política de Portugal e os opositores à política americana no Iraque já teriam sido catalogados de salazaristas pela imprensa conservadora norte-americana.

4. Sou fã do Barça. No grande embate do próximo sábado ante o Real Madrid, no Santiago Bernabéu, espero que a equipa “blaugrana” bata os “merengues”. Demano disculpes a Queiroz i Figo.

Luís Nazaré

Vintage

Miguel Veiga, o já histórico militante do PSD, não deixa por mãos alheias os seus créditos de independência e orientação social-democrata (e há poucos como ele nesse partido de nome enganador). Depois de ter declarado há dias ao “Jornal de Notícias” que nas próximas eleições europeias vai anular o voto (por causa da aliança com o PP), ele subscreve hoje na “Visão” um esclarecido artigo sobre o que o que deve ser o perfil do presidente da República no regime democrático português, no qual, entre outras coisas, traça uma devastadora crítica do populismo e onde é fácil ver uma rejeição frontal de candidaturas como a de Santana Lopes.
Tratando-se de um homem do Porto, é caso para dizer que Miguel Veiga pertence a uma estirpe de democratas a que o tempo só reforça a firmeza e a convicção.

Demencial

O presidente dos EUA, George W. Bush, afirmou ontem que o mundo deve um ‘obrigado’ ao primeiro-ministro de Irsael, Ariel Sharon, pelos seus planos de pacificação para os territórios ocupados.
Com efeito, os cemitérios palestinianos (e israelitas) estão cheios de testemunhos do êxito desses "planos de pacificação". Bush quer tomar o mundo por parvo, ou ensandeceu?

quarta-feira, 21 de abril de 2004

Empatia

«Sculpture is an act of faith in life, in its continuity. We all do things like this; we have a stone that we keep in our pocket which is a guarantee of life's continuity, and it has to do with hoping that things will work out, that life will be okay.»

O escultor Antony Gormley nasceu em Londres em 1950 e está agora na Fundação Gulbenkian até ao dia 16 de Maio (Mass and Empathy). No andar de baixo, preparado para as suas pesadas esculturas (Critical Mass), sendo o corpo do escultor o único modelo, a sensação é de peso e arrepio. Ela vem dos corpos negros de chumbo pendurados no tecto e sobretudo do conjunto dos corpos contorcidos deitados no chão, lembrando os desastres de algumas guerras de África. Mas o andar de cima – Domain Field - (sugiro que seja visto depois) é o oposto: leve e deslumbrante. Cento e oitenta silhuetas feitas de pequenas peças metálicas, inspiradas nos habitantes de New-Castle-Gateshead. Estão lá todos: as mulheres e os homens; os magros e os gordos; os altos e os baixos; os novos e os velhos; os densos e os leves; os transparentes e os mais opacos; os direitos e os arqueados; os que se movimentam e os que estão parados; e ainda mais alguns que lá quisermos ver. Se olharmos a partir do fundo, com outros visitantes pelo meio, ainda sentiremos mais profundamente o intrigante encanto destas figuras.

Maria Manuel Leitão Marques

«A fraude da transferência de poderes no Iraque»

«1. Gostaria de chamar a atenção para o trabalho do professor Nathan Brown, da George Washington University, sobre o Iraque
Segundo ele, após a transferência de poderes em 30 de Junho, a Coalition Provisional Authority continuará a ter um papel muito importante no processo, nomeadamente em questões de segurança, na escolha de candidatos às eleições, e no poder judicial, que se regerá por leis criadas por este poder ocupante.
Pode-se ler aqui a sua tradução da Constituição Provisória Iraquiana, com comentários. Para facilitar o trabalho, sugiro uma busca de "Coalition Provisional Authority" no texto, para ver que poderes é que a coligação não vai passar aos iraquianos.
Como é possível que estas informações não sejam do conhecimento do público, como é possível que andemos todos enganados por essa data mítica que não passa de um embuste? Perante uma escândalo destes, quem se pode admirar que haja um levantamento geral contra os ocupantes?
Aliás, o que admira é que os iraquianos tenham sido tão pacientes.

2. Esta semana recebi notícias do Iraque. Quase nem acredito no que contam, embora parte dessa informação venha confirmada nas entrelinhas do Público.
Os iraquianos acusam o poder ocupante de os tratar como ralé, cuja vida não vale nada. Os americanos mataram centenas de mulheres e crianças em Fallujah como retaliação pelas cenas macabras do esquartejamento de 4 "seguranças" privados americanos, fecharam hospitais ou vedaram o respectivo acesso, dispararam sobre ambulâncias. Parte da população de Fallujah foi evacuada para o deserto, onde ficou encurralada porque não podia entrar em Bagdad e, ainda segundo o relato, foi bombardeada pelos americanos.
E depois, nos jornais ocidentais, ainda há quem tenha a hipocrisia de chamar "terrorismo" ao movimento de resistência iraquiano.»


(Helena Araújo, Alemanna)

Os submarinos e a NATO

«(...) O facto da NATO não apoiar financeiramente a compra de submarinos por Portugal quer apenas dizer que a presença de submarinos em Portugal não se enquadra na estratégia geral da NATO, e não que Portugal não precise de submarinos olhando e pensando a sua própria situação estratégica.
(...) Não me parece lógico que se argumente que não se deve sujeitar uma estratégia nacional aos desígnios da NATO e, logo a seguir, vir clamar contra uma medida nacional, invocando que a NATO não é dessa opinião.
Repare que a NATO concordou com submarinos e fragatas ASW enquanto durou a guerra fria. Agora tem outros planos. Mas Portugal deve ter uma estratégia própria, apesar da sua integração na Aliança Atlântica. Ou não será assim?...
O importante era mesmo ter discutido os submarinos, mas a participação foi pouca. É mais fácil ignorar e mandar bocas à medida do objectivo político do momento. Mas posso dizer-lhe que essa discussão até passou pela Universidade de Coimbra, estava devidamente anunciada e contou com a presença do Almirante Matias a falar aos alunos e professores que o quizeram ouvir, num anfiteatro da Faculdade de Letras, por alturas de Maio ou Junho de 2000, se não me falha a memória. Eu estive presente até ao fim e não foi lá ninguém dizer-lhe que isso era um capricho de almirante.»


(JSM)

Seis dígitos

Cem mil vistas ! É o que nos diz o contador da Bravenet que monitoriza a frequência do Causa Nossa desde o seu início, a 28 de Novembro do ano passado, há menos de cinco meses (o Sitemeter foi instalado mais tarde).
Só temos razões para satisfação.

Milhões ao fundo

«A NATO considerou um desperdício o investimento de centenas de milhões de euros na compra de submarinos novos para a Armada portuguesa, revelaram ao DN fontes aliadas. A posição da NATO acompanhou a recusa, em Novembro passado, de um pedido da Marinha portuguesa para que a organização aliada apoiasse e justificasse a existência daquele programa – que é assinado hoje e vai custar apenas 770 milhões de euros – com as suas necessidades operacionais, adiantaram as fontes. "Portugal tem pouco dinheiro e o pouco que tem será desperdiçado na compra de submarinos, tendo-nos pedido que justificássemos tal opção. Não o faremos", escreveu a NATO num dos documentos classificados acerca dessa matéria e citado pelas fontes.»

Esta notícia vem confirmar em toda a linha as fundadas críticas feitas oportunamente. São muitos milhões deitados ao fundo do mar, em homenagem ao capricho de alguns almirantes e à megalomania de um Ministro. O caso é demasiado grave para poder ficar em silêncio, ainda por cima na situação de dificuldades das finanças públicas em que se encontra o País.
Vai a oposição abdicar de accionar os mecanismos de efectivação da responsabilidade governamental de que dispõe?

Futebol & partidos políticos

O que fazem três conhecidos dirigentes partidários na direcção de um clube de futebol? Não vale adivinhar à primeira!
O que esperam os partidos para decretar a separação entre o poder político e o mundo do futebol, com as incompatibilidades apropriadas e as sanções adequadas?

Mistura letal

«Segundo informações recolhidas pelo EXPRESSO Online, os agentes da PJ retiraram da Câmara [Municipal], para posterior análise, uma grande quantidade de documentos relativos a subsídios atribuídos pelo executivo presidido por Ferreira Torres ao Futebol Clube do Marco.
A documentação recolhida abrange ainda as relações com as empresas de construção civil "Vieira & Esposa" e "Ferraz & Teixeira", cujos responsáveis, além de terem sido directores do FC do Marco, mantêm fortes conexões com a câmara marcoense.»
(no Expresso online )

Os parceiros do costume: câmara municipal, clube de futebol local, construtores civis. Só falta acrescentar o financiamento ilegal dos partidos para completar o quadro. Quando usados em conjunto, a combinação deles mata.

Arábia Saudita e EUA

«A questão da Arábia Saudita e as suas ligações, quer aos Estados Unidos, quer ao terrorismo, é muito complexa e tem uma história com cerca de 250 anos que levou a dinastia saudita ao poder numa ligação estreita com o wahhabismo. O wahhabismo não se explica em duas palavras, mas pode ver-se como uma espécie de fundamentação religiosa de uma família reinante na Arábia. O seu fundo religioso é sunina hambalita com uma interpretação muito restrita dos textos sagrados.
(...) A dinastia saudita teve as vicissitudes que são conhecidas, após a morte de Abdelaziz e a aliança americana obrigou a cedências a que não são estranhos os hábitos de luxo alimentado à custa do petróleo. A direcção religiosa continua a ser dos descendentes de Mohammed bin Abdelwahab (o que dá o nome ao wahhabismo), mas com grandes contorcionismos religiosos para justificar algumas dessas cedências (como foi a autorização da presença de tropas americanas durante a primeira guerra do golfo). Estes facvtos não têm aceitação plena numa sociedade que tem uma inspiração religiosa muito restrita e que tem a faca sempre na mão. Bin Laden é um dos contestatários wahhabitas do poder instituído e das cedências do rei e dos actuais ulemas, proclamando (como muitos outros) o argumento sublime de que foi o modelo de vida ocidental que corrompeu o espaço sagrado da Arábia e a dinastia que tem como missão a protecção dos lugares santos. É por causa desta dualidade que a Arábia Saudita surge como um aliado oficial dos Estados Unidos e uma fonte de financiamento do terrorismo. (...)


(JSM)

Amigos de peito, com cheiro a petróleo

«Woodward told 60 Minutes [CBS] that Saudi Prince Bandar has promised the president that Saudi Arabia will lower oil prices in the months before the election to ensure the U.S. economy is strong on election day.»

Esta revelação feita ao conhecido programa "60 Minutos" da CBS por Bob Woodward – o prestigiado e credível autor do livro “Plano de Ataque”, sobre como Bush foi para a guerra no Iraque –, acerca do compromisso do governo da Arábia Saudita para baixar o preço do petróleo antes das eleições presidenciais norte-americanas, de modo a favorecer a reeleição de Bush, é verdadeiramente comprometedora. De facto, a monarquia saudita é provavelmente a mais reaccionária ditadura árabe da região, onde prevalece uma versão militantemente fundamentalista do Islão e onde existem mais que provadas ligações ao financiamento da Al-Qaeda ao nível da própria família real.
Quando, para além das famosas “armas de destruição massiva”, Bush justificou a invasão do Iraque também em nome da luta contra o terrorismo (que se sabia nada ter a ver com o Iraque) e em nome da democratização do mundo islâmico (quando o Iraque era o mais secular dos países muçulmanos) e depois cultiva alianças e faz negociatas obscenas com a oligarquia saudita, consabidamente filoterrorista e superfundamentalista, só podemos espantar-nos com tamanho monumento de farisaísmo e hipocrisia.
De facto, o petróleo gera estranhas alianças...

Aditamento (com um agradecimento ao JHJ pela referência): Sobre as ligações perigosas entre a Casa Branca de Bush e a Casa real Saudita ver a notícia deste livro.

terça-feira, 20 de abril de 2004

Memórias de Abril

Uma oportuna reprodução das primeiras páginas dos jornais de Lisboa no dia 25 de Abril de 1974: um serviço público prestado pelo Memória Virtual nos últimos dias. A revolução também passou por ali. Excelentes memórias de Abril.

O roble de Guernica

A célebre “árvore de Guernica” morreu. Considerada o símbolo tradicional da identidade e da autonomia basca, foi debaixo dela que em 1936, com o reconhecimento da autonomia basca pela II República espanhola, o primeiro “lehendakari” (chefe do governo autónomo) tomou posse, tradição retomada com o novo estatuto da autonomia basca, de 1979 (“Estatuto de Guernica”), em consequência da transição democrática espanhola consubstanciada na Constituição de 1978.
Terceiro exemplar de uma série de robles centenários, desde o século XIV, a velha árvore, com quase 150 anos de didade, tinha escapado ao destruidor bombardeamento alemão da povoação biscaína em 1937, durante a guerra civil (a que Picasso dedicou a sua muito conhecida obra homónima), mas não resistiu agora a uma doença de vários anos. Já tinha sucessor designado, pronto a ocupar o seu lugar....

Democracia e desenvolvimento

No meu artigo de hoje no Público abordo alguns temas controversos sobre a revolução do 25 de Abril. Entre outros que merecem ser discutidos conta-se o da relação entre a instauração do regime democrático e o desenvolvimento económico-social. Existe uma ideia corrente de uma correlação positiva entre democracia e desenvolvimento, tal como antes se sustentava uma correspondência entre a ditadura e o atraso económico e social. Não era por acaso que a oposição sublinhava os dados da pobreza e do subdesenvolvimento durante o Estado Novo, imputando-os ao regime autoritário, tal como é natural que hoje se apontam as estatísticas do desenvolvimento económico e social desde 1974 como prova da superioridade da democracia.
Sem esquecer que a relação entre desenvolvimento e democracia – que tem afinidade com a relação entre democracia e economia de mercado, mas que não se confunde com ela – constitui um dos temas clássicos da ciência política e da teria da democratização, importa lembrar que no caso português o 25 de Abril surge em pleno surto de crescimento económico do País, que vinha desde os anos 60 e que porventura um dos fundamentos da revolução foi justamente a abertura social e as expectativas sociais que esse crescimento trouxe, às quais o regime do Estado Novo não estava em condições de corresponder. Por outro lado, é indesmentível que sem a instauração do regime democrático Portugal não poderia ter entrado na então CEE e não poderia ter beneficiado das ajudas e das condições favoráveis que dela resultaram e que explicam o grande salto de desenvolvimento posterior, o qual em muitos aspectos não tem paralelo com nenhum outro período da nossa história.

Vital Moreira

Sentimento antiparlamentar

Sobre o tema do sentimento antiparlamentar do PCP ver a nota de João Tunes em retrospectiva histórica no Bota Acima:

« (...) Mas, na concepção marxista-leninista, a Solução não passa por aí [pelo Parlamento]. Sabe-se onde está: na classe operária, nas Comissões de Trabalhadores, nos Sindicatos, nas greves, nas manifestações, na revolta, em todas as revoltas, que crescerão até chegarem à Revolução. A intervenção parlamentar é, apenas, uma “frente”, uma frente visível mas transitória e precária. A base de fé é sempre “isto não vai lá com votos”, mas e apenas até lá, quantos mais votos melhor. O brilho, quando excessivo, do trabalho parlamentar dos deputados comunistas sempre foi olhado internamente com desconfiança. (...)»

segunda-feira, 19 de abril de 2004

«A verdade não é anti-semita»

Se Tanya Reinhart, professora nas Universidades de Utrecht e de Telavive, autora do livro «Destruir a Palestina - A segunda metade da guerra de 1948» – que acaba de ser editado entre nós –, não fosse, como é, judia e israelita, o mínimo de que seria acusada pelos representantes ideológicos da direita israelita seria de “anti-semitismo”, que é o chavão com que eles pretendem inibir e silenciar toda a crítica da ocupação dos territórios e da opressão dos palestinianos. Sucede porém que, independentemente do juízo crítico da autora, há os factos, que não podem ser apagados, tão notórios eles são, mesmo se os falcões israelitas não hesitem negá-los (nisso imitando a tentativa negacionista pró-nazi em relação ao holocausto).
Como ela diz em entrevista ao Público: «Porque os judeus foram perseguidos, não só durante o século XX mas ao longo de toda a História, deveriam mais do que ninguém ser sensíveis ao sofrimento que é infligido a outros pelo seu próprio povo.» Infelizmente é este juízo moral que falta em tantas das manifestações de defesa da política palestinicida de Israel.

À procura da região Centro

Numa entrevista dada à nova revista regional Prime Negócios, o presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro (CCDRC), Paulo Pereira Coelho – um dirigente distrital do PSD, cuja escolha para esse cargo representou uma ruptura com a tradição de nomear para esse cargo personalidades altamente qualificadas pelo seu perfil universitário ou técnico (desde Manuel Porto a José Reis) – fez algumas declarações surpreendentes, desde a desvalorização do aeroporto da Ota para a região, bem como das paragens do futuro TGV, terminando por considerar também que a criação das novas entidades supramunicipais é irrelevante para a região, não implicando nenhuma alteração.
Diz o entrevistado que a região Centro «não existe politicamente de forma articulada», o que não é propriamente animador. Mas depois desta entrevista do seu presidente é de duvidar que ela possa adquirir identidade própria sem ao menos uma visão estratégica dos seus interesses específicos.

O outro exército de ocupação

Além das forças militares da coligação liderada pelos Estados Unidos existe uma outra importante força de ocupação no Iraque. São os profissionais e empresas privadas de segurança ao serviço não somente das empresas de reconstrução mas também da administração ocupante. A segurança do próprio "procônsul" americano Paul Bremmer está a cargo deste exército privado. Tais milícias privadas desempenham portanto típicas funções militares. A privatização de funções públicas “American style” estende-se agora às próprias tarefas militares.
Calcula-se que o seu número seja superior a 15 000 elementos, segundo o Repubblica (ou 20 000 segundo o New York Tymes), recrutados em todo o mundo por dezenas de empresas especializadas, principalmente entre antigos militares e polícias. Especialmente bem remunerados – até mil dólares por dia, segundo o Repubblica –, a factura da segurança pode atingir segundo o New York Times até 25% do custo dos projectos de reconstrução do Iraque. Apesar de especialmente bem armados, eles constituem um dos alvos principais da resistência iraquiana. Pertenciam a esse exército de mercenários os quatro norte-americanos massacrados em Faluja e os quatro italianos feitos reféns (um dos quais executado).
Quanto custa realmente manter a ocupação de um País?

Vim para ajudar o grupo.

Tenho o fascínio dos aeroportos. Melhor: de um aeroporto. Mas não é por causa dos aviões, das viagens, nem sequer pelas hospedeiras que o aeroporto de Lisboa sempre me encantou.
Nos meus 18 anos de ilha Terceira, havia sempre uma altura do ano em que sonhava com o aeroporto de Lisboa - no verão. Momento do ano ao qual, na gíria futebolística, se chama defeso.
É a época em que chegam os reforços aos grandes clubes. E eu, benfiquista doente, ficava a vê-los chegar e prometer sonhos pela televisão.
Mais ainda: desde que aterrei em Lisboa pela primeira vez, e sempre que chego ou parto com a Portela como escala, tenho o gozo enorme de colocar a minha mala no carrinho, pôr os óculos escuros e estilosos, e passar anónimo por corredores cheios de gente que espera alguém, enquanto respondo às perguntas imaginárias de repórteres invisíveis:

"Sim, vim para o Benfica. Estou muito feliz. Vou marcar muitos golos. Seremos campeões, com a graça dji Deus, né?".

A onda referendária

Parece adquirido que Blair vai anunciar a convocação de um referendo sobre a nova Constituição Europeia no Reino Unido. Pressionado pela direita e pelos liberais-democratas, o chefe do Governo britânico, que falhou o seu compromisso sobre um referendo acerca da adesão ao Euro e que até agora tinha negado a necessidade de qualquer consulta popular sobre a Constituição, efectua assim uma substancial mudança de posição, que poderá ter repercussão noutros países onde existe controvérsia sobre a questão.

«Cuidado com o teu telhado»

Este post do Pedro Caeiro no Mar Salgado merece aplauso e meditação.

(R)evolução

Uma das melhores "charges" sobre a tonteria ideológica do Governo de comemorar os 30 anos do 25 de Abril em nome da "Evolução" é seguramente a do José Mário Silva no Blogue de Esquerda.

(Uma nota pessoal: o link que aí se encontra para uma edição electrónica de "O Capital" de Marx remete para uma tradução publicada em 1973 em Coimbra, pela Centelha, numa edição preparada por mim próprio e pelo José Teixeira Martins, que um anónimo cibernauta resolveu digitalizar e disponibilizar na Internet...)

Devastador

... o comentário de Vasco Pulido Valente em relação à trapalhada das declarações governamentais sobre a presença de forças portuguesas no Iraque.

«Estado de letargia do PS»

«(...) No mesmo site [do Público] pude ler os comentários feitos pelo deputado Alberto Costa do PS, não sei se em representação do partido ou se a título pessoal, sobre este mesmo assunto [as declarações de Durão Barroso sobre a retirada das forças espanholas do Iraque]. O melhor que conseguiu articular foi que a posição era "indelicada" e "carente de sentido de Estado". É confrangedor e preocupante, para quem como eu tem esperança numa alternativa de esquerda ao actual governo, o estado de indigência ideológica e de mediocridade revelada na comunicação dos actuais dirigentes do PS.
O país está num estado depressivo como já não há memória. A maioria dos cidadãos comuns vive desalentada com a falta de perspectivas e de horizontes de esperança. O P.S. em vez de empreender um combate firme, sem cedências ao populismo e à demagogia, mantém-se num estado de letargia incompreensível parecendo que contagiado pela depressão geral. Parece desligado da realidade e pouco importado com a sorte dos seus eleitores e da sua tradicional base social de apoio.
Confesso-me decepcionado, tanto mais que esperava muito mais do Eduardo Ferro Rodrigues. Não reconheço nele a chama de outros tempos, a sua conhecida capacidade de enfrentar o “establishment”, pelo contrário vejo-o rendido ao aparelho e aos socialistas encartados que se comportam como “governantes-à-espera-da-vez-deles”. No plano ideológico quando se esperava um PS combativo a afirmar a validade do seu programa e a acentuar as diferenças para o governo, vemo-lo mais preocupado com a defesa das suas credenciais de gestores e “estadistas”. Depois queixam-se que o Bloco de Esquerda está a tomar um relevo desproporcionado ao seu peso eleitoral na comunicação social, pudera são, no plano ideológico, praticamente a única oposição de esquerda ao governo.»


(J.J.N.T.M, Matosinhos)

Euroenglish

Até aos anos 90 o Francês manteve um lugar paritário com o Inglês como língua de trabalho na UE, aliás com predominância na Comissão, ajudado pela envolvência francófona de Bruxelas. A entrada dos países escandinavos, onde a língua de Molière não é cultivada, representou um sério golpe para a sua importância na Comunidade, acentuado o crescente predomínio do Inglês. (Por exemplo, no mestrado europeu de direitos humanos em que participo deixou de ser possível fazer cumprir, em relação a esses países, o requisito de conhecimento de Francês que consta dos estatutos originários...). O alargamento para 25 países com os países do Leste vai traduzir-se numa segunda machadada nas pretensões do Francês, como reconhece o próprio Le Monde. A única língua veicular comum passa a ser definitivamente a língua de Shakespeare, embora numa versão Euroenglish, bem mais pobre e mais funcional.
A UE está em vias de possuir uma Constituição, que também define um hino e um dia oficial da União. Não consta dela a definição de uma língua da União. Mas não é preciso: na vida real ela é imparavelmente o Inglês.

domingo, 18 de abril de 2004

"Mons parturiens..."

Deus Pinheiro, cabeça-de-lista do PSD-PP às eleições europeias: foi para esta "surpresa" requentada que se fez tanta "caixinha" e tanto suspense? A coligação governamental está mesmo em maus lençóis!...

Repressão académica no Estado Novo

Uma das novidades da luta académica de 1969 em Coimbra em relação a movimentos anteriores (1962, 1965), como sublinhou Osvaldo Castro, foi o apoio de um considerável sector do corpo docente, incluindo entre os professores seniores. De facto, nomes como Orlando de Carvalho, Paulo Quintela, Teixeira Ribeiro, entre vários outros, constituíram uma importante arma na “legitimação” académica da mobilização estudantil. Esse apoio era naturalmente ainda mais amplo entre os assistentes, designadamente na Faculdade de Direito, onde havia uma notória maioria oposicionista, o que proporcionou a aprovação de uma moção de apoio aos estudantes logo no início do processo. Coube-me a proclamação pública dessa posição, feita da escadaria da "Via Latina" perante um numeroso ajuntamento de estudantes.
Foi, aliás, por essa e por outras acções menos públicas (o facto de ser também estudante de pós-graduação permitia-me participar ainda na vida estudantil) que no Outono desse ano, já terminada a luta académica, fui afastado do cargo – juntamente com o meu colega e amigo José Manuel Correia Pinto –, por decisão directa do então Ministro da Educação, José Hermano Saraiva, que vinha do último governo salazarista, numa decisão arbitrária, sem processo e sem direito de defesa, típica do regime. Tendo eu ficado por Coimbra a ultimar o mestrado, acabei por ser reintegrado (ou melhor, recontratado) no ano seguinte pelo Ministro subsequente, José Veiga Simão, por proposta, deve dizer-se, do próprio director da Faculdade, Afonso Queiró (já contei esta história noutra ocasião). Correia Pinto, que emigrou logo para Moçambique, por lá ficou até ao 25 de Abril 1974. Perdeu-se seguramente um excelente universitário, tendo sido um brilhante estudante e um “barra” no direito civil (faz hoje parte da direcção da APAD, a agência portuguesa para a ajuda ao desenvolvimento).
Um episódio tardio da repressão académica no Estado Novo...

Vital Moreira

O triunfo do 17 de Abril

Coimbra, ontem: sessão do 35º aniversário do 17 de Abril de 1969, que desencadeou a grande luta estudantil coimbrã desse ano, cinco anos antes do 25 de Abril de 1974. Inesperado foi ver na mesma mesa os principais dirigentes académicos de então (Alberto Martins, Osvaldo Castro, Celso Cruzeiro, etc.) juntamente com José Miguel Júdice, o actual bastonário da Ordem dos Advogados, que em 1969 pertencia à extrema-direita académica e tinha sido mesmo presidente da detestada comissão administrativa da AAC, nomeada pelo Governo, até às eleições do início desse ano que restauraram o autogoverno da Academia coimbrã, com a vitória esmagadora da direcção que haveria de conduzir a referida luta.
O facto deve-se à ousadia tanto da actual direcção da AAC, presidida por um estudante da Juventude Socialista, que organizou o evento comemorativo, como do próprio Júdice (entretanto afastado das posições políticas de então), que numa inteligente intervenção soube recordar os conflitos de outrora e prestar homenagem aos seus adversários de há 35 anos. Que melhor triunfo de um movimento político do que receber o reconhecimento dos seus próprios adversários da altura?