O anterior bastonário da Ordem dos Advogados, José Miguel Júdice, declarou na posse do seu sucessor que o sistema judicial está «muito pior» do que há três anos. Mas na verdade que sectores é que não ficaram pior nestes (quase) três anos de Governos PSD/CDS?
Blogue fundado em 22 de Novembro de 2003 por Ana Gomes, Jorge Wemans, Luís Filipe Borges, Luís Nazaré, Luís Osório, Maria Manuel Leitão Marques, Vicente Jorge Silva e Vital Moreira
sábado, 8 de janeiro de 2005
sexta-feira, 7 de janeiro de 2005
Condomínio (4) - "No children are allowed"
Publicado por
Vital Moreira
«A discussão sobre o regulamento insano no condomínio americano fez-me lembrar uma música do Stevie Wonder, nos tempos em que este era um compositor inspirado e usava a sua voz para denunciar o estado das coisas nos USA.
Trata-se da música Cash in Your Face (1980) e como se percebe trata-se de um diálogo entre o pretendente a inquilino e o agente imobiliário do condomínio (ou algo semelhante). Aqui vai o trecho que no contexto da discussão me parece mais a propósito:
Trata-se da música Cash in Your Face (1980) e como se percebe trata-se de um diálogo entre o pretendente a inquilino e o agente imobiliário do condomínio (ou algo semelhante). Aqui vai o trecho que no contexto da discussão me parece mais a propósito:
Our first child is due here any day(Sachondel Gouveia)
That's why we're desperate for a place to stay
The location is so perfect too
So please try to do what you can do
Well in this apartment complex no children are allowed
And if you told me that I could have saved you a lot of time
Well I thought the Bill was passed that said you could not discriminate
But I know some excuse you'll find
(...)»
Pessimismo excessivo?
Publicado por
Vital Moreira
«O próximo parlamento deverá ser, por isso, um dos mais pobres, cinzentos e desqualificados de todos os que conhecemos desde o 25 de Abril. Ora, era precisamente agora, porventura mais do que nunca, que se impunha responder à apatia e desencanto dos cidadãos com sinais fortes de reabilitação e aggiornamento da vida política.» Vicente Jorge Silva
Pior, só a peste
Publicado por
Vital Moreira
«Eu, católico, monárquico e português, votarei, em nome de uma pátria livre que amo, com um «não» veemente à famigerada Constituição da famigerada UE, arredada das raízes cristãs e mais próxima do pedofilismo grego.»
Carlos Azeredo.
Carlos Azeredo.
Diário eleitoral (6) - A ficção orçamental
Publicado por
Vital Moreira
Como já se tinha aqui afirmado em várias ocasiões, e o relatório do Banco de Portugal hoje veio comprovar de forma gritante, o orçamento para 2005 assenta em pressupostos fictícios quanto ao crescimento da economia -- em vez dos imaginários 2,4% será apenas um medíocre 1,6%, ou menos, novamente abaixo da média comunitária --, o que arrasa a previsão do défice orçamental, que deverá superar a fasquia dos 5% (cálculo aliás conservador, parece-me...), tornando necessário um orçamento rectificativo com medidas adicionais, quer do lado do corte nas despesas quer do lado do aumento das receitas. Bela herança recebe o próximo Governo!
A prometida consolidação orçamental continua portanto uma miragem. Ora a falta de credibilidade dos números orçamentais foi a seu tempo devidamente denunciada pela oposição. Por isso, o Orçamento, agora fatalmente desacreditado, bem como o bizarro anúncio do "fim da austeridade" e a arenga da descida de impostos não passaram de grosseira irresponsabilidade, bem à medida deste (des)governo. Nestas condições, qualquer promessa eleitoral de redução de impostos (como já insinuou outra vez o PSD) devia dar direito a uma pesada punição eleitoral por escandalosa trafulhice política.
A prometida consolidação orçamental continua portanto uma miragem. Ora a falta de credibilidade dos números orçamentais foi a seu tempo devidamente denunciada pela oposição. Por isso, o Orçamento, agora fatalmente desacreditado, bem como o bizarro anúncio do "fim da austeridade" e a arenga da descida de impostos não passaram de grosseira irresponsabilidade, bem à medida deste (des)governo. Nestas condições, qualquer promessa eleitoral de redução de impostos (como já insinuou outra vez o PSD) devia dar direito a uma pesada punição eleitoral por escandalosa trafulhice política.
quinta-feira, 6 de janeiro de 2005
Maremoto = tsunami (2)
Publicado por
Vital Moreira
Um leitor objecta que as fontes por mim indicadas no post anterior sobre o assunto em epígrafe eram todas em Espanhol e pergunta-me se existem fontes em Português no mesmo sentido. A resposta é: há muitas. Um exemplo, num jornal científico brasileiro:
Adenda
Uma explicação elucidativa também pode encontrar-se neste site especializado português.
Terremoto, maremoto ou tsunami?Por conseguinte, nada justifica entre nós o uso da palavra japonesa em vez do termo português equivalente, que sempre foi usado para designar o mesmo fenómeno. A RTP e a RDP em especial não só não deveriam incorrer nessa prática como deveriam fazer alguma pedagogia quanto ao uso da língua portuguesa.
(...) O maremoto ou tsunami - as palavras significam a mesma coisa - é o efeito causado por esse tremor [de terra] na água do mar, que leva à formação de ondas gigantes na superfície.
(...) Os maremotos ou tsunamis (palavra japonesa) ocorrem quando há um terremoto no leito marinho envolvendo movimento vertical de uma das placas.
(...) O que matou a grande maioria das pessoas no domingo, portanto, foi um maremoto, ocasionado por um terremoto.
Adenda
Uma explicação elucidativa também pode encontrar-se neste site especializado português.
"Manifesto anti-Lopes"...
Publicado por
Vital Moreira
... de um "ácrata derretido", ou Paulo Querido no seu melhor!
Uma Universidade em cada vale
Publicado por
Vital Moreira
O ainda primeiro-ministro anunciou "in loco", como convinha à finalidade eleitoralista do evento, a criação da Universidade do Vale do Sousa (por transformação de um instituto de ciências da saúde privado). O facto de tal decisão não caber na competência de um "governo de gestão" é obviamente uma objecção que só pode ser levantada por mesquinhos espíritos legalistas, que não querem ver o alto desígnio do governo da Nação.
É aliás uma decisão justíssima. Parece que este Governo ainda não tinha criado nenhuma universidade. Era uma lacuna imperdoável. Em Portugal nenhum Governo digno desse nome poderá ficar na história sem ter criado pelo menos uma nova universidade (e uma nova ordem profissional, pois claro). Se Durão Barroso criou a Universidade de Viseu, Santana cria a do Vale do Sousa, que não tem direito a menos. Ainda por cima, trata-se de uma Universidade privada, que nem sequer custa milhões ao orçamento público, como a de Durão.
Doravante aliás fica aberto o caminho para mais "universidades fluviais". Assim, os próximos anos deverão assistir à criação das universidades do vale do Minho (com sede em Monção), do vale do Lima (Ponde de Lima), do vale do Homem (Terras de Bouro) e assim por diante, até à Universidade do vale do Guadiana (Alcoutim). Desse modo, Portugal ficará à frente num critério decisivo para a classificação do "desenvolvimento humano" dos países, a saber, o número de universidades per capita.
A velha aspiração da democratização da universidade ficará definitivamente realizada entre nós. Honra ao Governo que assim eleva bem alto a bandeira da disseminação universal da formação superior em Portugal!
É aliás uma decisão justíssima. Parece que este Governo ainda não tinha criado nenhuma universidade. Era uma lacuna imperdoável. Em Portugal nenhum Governo digno desse nome poderá ficar na história sem ter criado pelo menos uma nova universidade (e uma nova ordem profissional, pois claro). Se Durão Barroso criou a Universidade de Viseu, Santana cria a do Vale do Sousa, que não tem direito a menos. Ainda por cima, trata-se de uma Universidade privada, que nem sequer custa milhões ao orçamento público, como a de Durão.
Doravante aliás fica aberto o caminho para mais "universidades fluviais". Assim, os próximos anos deverão assistir à criação das universidades do vale do Minho (com sede em Monção), do vale do Lima (Ponde de Lima), do vale do Homem (Terras de Bouro) e assim por diante, até à Universidade do vale do Guadiana (Alcoutim). Desse modo, Portugal ficará à frente num critério decisivo para a classificação do "desenvolvimento humano" dos países, a saber, o número de universidades per capita.
A velha aspiração da democratização da universidade ficará definitivamente realizada entre nós. Honra ao Governo que assim eleva bem alto a bandeira da disseminação universal da formação superior em Portugal!
Comentário a "Uma história pouco edificante"
Publicado por
AG
Ele há diplomatas (embaixadores ou ainda não) que mais valia não estivessem nos postos! Nunca.
Condomínio (3)
Publicado por
Anónimo
«A história do condomínio em Houston. recordou-me que, na África do Sul, durante o apartheid, à entrada do jardim central de Joanesburgo, existia uma placa onde se explicava que era proibida a entrada a cães, chineses, indianos e pretos...»
Frederico Campos
PS - A associação ocorre, embora deva dizer-se que as situações são efectivamente diferentes na sua natureza. O Jardim Central é um espaço público e um condomínio um espaço privado. Uma vez, em criança, numa viagem para Moçambique, onde então vivia, vi uma placa semelhante à que refere numa praia de Durban (África do Sul). Recordo ainda o modo como o meu Pai aproveitou para nos explicar o que era o apartheid, incluindo a história que contou de um colega indiano, mas de pele bastante clara, que num hotel em Joanesburgo tinha atestado que o amigo com quem estava a fazer o registo de entrada, de raça branca mas muito moreno e com o cabelo encaracolado, era efectivamente branco e portanto podia alojar-se nesse hotel (igualmente interdito a não brancos).
Frederico Campos
PS - A associação ocorre, embora deva dizer-se que as situações são efectivamente diferentes na sua natureza. O Jardim Central é um espaço público e um condomínio um espaço privado. Uma vez, em criança, numa viagem para Moçambique, onde então vivia, vi uma placa semelhante à que refere numa praia de Durban (África do Sul). Recordo ainda o modo como o meu Pai aproveitou para nos explicar o que era o apartheid, incluindo a história que contou de um colega indiano, mas de pele bastante clara, que num hotel em Joanesburgo tinha atestado que o amigo com quem estava a fazer o registo de entrada, de raça branca mas muito moreno e com o cabelo encaracolado, era efectivamente branco e portanto podia alojar-se nesse hotel (igualmente interdito a não brancos).
Uma história pouco edificante
Publicado por
Anónimo
Ainda sobre o comportamento da Embaixada de Portugal na Tailândia, nos dias imediatos que se seguiram à tragédia do maremoto que atingiu esse País, leia-se esta história pouco edificante relatada por Isabel de Castro, num jornal de Macau. E para que não haja acusações de uma visão parcial, podem ler-se igualmente as explicações dadas pelo Embaixador à mesma jornalista, a quem agradeço o envio destes documentos.
Sobre a mesma questão, é ainda de salientar o apoio dado pelo Governo de Macau aos cidadãos portugueses residentes em Macau envolvidos na tragédia.
Sobre a mesma questão, é ainda de salientar o apoio dado pelo Governo de Macau aos cidadãos portugueses residentes em Macau envolvidos na tragédia.
quarta-feira, 5 de janeiro de 2005
tsunami = maremoto
Publicado por
Vital Moreira
Num post abaixo Luís Nazaré defende que maremoto (pronuncia-se ma-re-mó-to) e tsunami (palavra japonesa) são uma e a mesma coisa. Tem razão. Tecnicamente, maremoto é o mesmo que tsunami, designando uma grande agitação do mar (manifestando-se em ondas devastadoras nas costas) provocada normalmente por sismos submarinos, mas podendo ser causada também por erupções vulcânicas, avalanches ou deslisamentos de terrenos ou glaciares sobre o mar, ou até por meteoritos. A palavra existe também em Espanhol e Italiano, com o mesmo significado.
Por isso não têm razão os que, invocando definições erróneas de alguns dicionários ou manuais escolares descuidados, distinguem entre maremoto e tsunami, pretendendo que o primeiro é um sismo no mar e o segundo a sua consequência sobre o mar. Os sismos sob o mar não deixam de ser terramotos. O mar não cria maremotos por si mesmo.
Existem na Internet inúmeras fontes que esclarecem este ponto, confirmando a equivalência entre as duas palavras. De entre as que podem revestir autoridade citem-se as seguintes:
Por isso não têm razão os que, invocando definições erróneas de alguns dicionários ou manuais escolares descuidados, distinguem entre maremoto e tsunami, pretendendo que o primeiro é um sismo no mar e o segundo a sua consequência sobre o mar. Os sismos sob o mar não deixam de ser terramotos. O mar não cria maremotos por si mesmo.
Existem na Internet inúmeras fontes que esclarecem este ponto, confirmando a equivalência entre as duas palavras. De entre as que podem revestir autoridade citem-se as seguintes:
«La palabra "maremoto" es utilizada para denominar a una agitación violenta de las olas marinas que a veces se propaga hasta las costas dando lugar a inundaciones. También se los conoce como "tsunamis", un término acuñado en Japón (tsu significa puerto o bahía y nami, ola), un país en donde ocurren con relativa frecuencia.»Por conseguinte não existe nenhum motivo para a confusão estabelecida a este respeito nos meios de comunicação social entre nós, a propósito do trágico maremoto no Sudoeste asiático.
«Para los científicos, tsunami (término japonés que significa literalmente -ola de puerto-) y maremoto significan lo mismo. Un tsunami es una ola gigantesca generada por un terremoto que se produce en un área de la Tierra cubierta por el océano. O, dicho en otras palabras, un terremoto con epicentro en algún lugar del fondo del mar.»
«Un tsunami o maremoto, (...) es una serie de olas enormes creadas por un disturbio bajo el agua tal como un terremoto. (...) El movimiento del piso del océano inducido por terremotos muy a menudo generan los tsunamis. Los derrumbes de tierra, erupciones volcánicas e incluso meteoritos también pueden generar tsunamis». (Versão espanhola da página oficial da agência federal de catástrofes naturais norte-americana).
Sumatra ou Samatra?
Publicado por
AG
Sumatra! Do indonésio actual "Sumatera", que os locais lêem e pronunciam "Sumatra". Tal qual os nossos navegadores ouviram há quinhentos anos (como Marco Polo e outros antes) e escreveram nos primeiros mapas que desenharam das ilhas que compõem a actual Indonésia, é ver os de Francisco Rodrigues (1512). Até que os "bifes" lhes puseram as mãos em cima (aos mapas e às rotas maritimas) e leram "Samatra" onde estava escrito Sumatra. E vá dos "portugas" importarem Samatra, sem cuidados...
A ilha de Engano, a oeste de Sumatra, pelos nossos baptizada, ganhou em muitos mapas internacionais (e indonésios também) um "g" a mais (Enggano). Vá lá que ao menos o nosso Flores para a ilha perto de Timor, continua a ser Flores para todos...
O que nunca consegui concluir nada, interrogando muitos especialistas portugueses e indonésios, foi sobre a origem da designação Maluku (o arquipélago - Pulau Maluku em indonésio)- se é importação do português, ou se pelo contrário fomos nós que importamos de lá "maluco/a" (como importamos "biombo" ou "banzé" do Japão).
Ana Gomes
A ilha de Engano, a oeste de Sumatra, pelos nossos baptizada, ganhou em muitos mapas internacionais (e indonésios também) um "g" a mais (Enggano). Vá lá que ao menos o nosso Flores para a ilha perto de Timor, continua a ser Flores para todos...
O que nunca consegui concluir nada, interrogando muitos especialistas portugueses e indonésios, foi sobre a origem da designação Maluku (o arquipélago - Pulau Maluku em indonésio)- se é importação do português, ou se pelo contrário fomos nós que importamos de lá "maluco/a" (como importamos "biombo" ou "banzé" do Japão).
Ana Gomes
Um português a dirigir a ajuda humanitária da UE
Publicado por
AG
Por acaso é português o actual Director-Geral da ECHO, o departamento da ajuda humanitária da Comissão da UE, o Eng. António Cavaco. Mal aterrou no cargo, caiu-lhe esta catástrofe asiática/catástrofe global, de dimensão sem precedentes, em cima....
Ele e os seus serviços já estão a destacar-se pela competência e rapidissima intervenção: Ainda muitos líderes se encontravam em férias natalícias..., foi graças ao financiamento anunciado pela ECHO no dia seguinte ao maremoto que a Cruz Vermelha Internacional e as agências da ONU, como a OCHA, conseguiram avançar imediatamente para os terrenos nos países afectados.
António Cavaco não deve o actual cargo a empenhos do actual Governo português (nem de anteriores...) - retornou apenas à estrutura da sua carreira profissional como alto funcionário da Comissão (já fora Director-Geral das Pescas), depois de exercer o cargo de Chefe de Gabinete do Comissário António Vitorino. Mas é bom ter um português num lugar tão decisivo e a exercê-lo tão seriamente.
Ana Gomes
Ele e os seus serviços já estão a destacar-se pela competência e rapidissima intervenção: Ainda muitos líderes se encontravam em férias natalícias..., foi graças ao financiamento anunciado pela ECHO no dia seguinte ao maremoto que a Cruz Vermelha Internacional e as agências da ONU, como a OCHA, conseguiram avançar imediatamente para os terrenos nos países afectados.
António Cavaco não deve o actual cargo a empenhos do actual Governo português (nem de anteriores...) - retornou apenas à estrutura da sua carreira profissional como alto funcionário da Comissão (já fora Director-Geral das Pescas), depois de exercer o cargo de Chefe de Gabinete do Comissário António Vitorino. Mas é bom ter um português num lugar tão decisivo e a exercê-lo tão seriamente.
Ana Gomes
Sumatra, tsunamis e incontactáveis
Publicado por
Anónimo
Tenho recebido diversas mensagens acerca do meu post Ondas mediáticas (ver abaixo). Não transcrevo pela sua extensão, mas destaco os textos e os argumentos de Adeodato Pinto, Carlos Cristino, José Mendes Pires, Rui Tavares Guedes e O Ateu Católico. Todos defendem a primazia, em bom português, de "Samatra" sobre "Sumatra" e a diferença conceptual entre maremoto e tsunami. Dizem-me ainda que os manuais escolares terão consagrado a acepção de abalo sísmico submarino para a palavra maremoto e que só o termo tsunami define com exactidão a causa directa da tragédia. Suspeito que esta é uma daquelas discussões onde nunca se chegará a uma conclusão, tal a disparidade de registos e interpretações, quer históricas quer linguísticas. Aqui vão, porém, os meus argumentos:
a) O nome original da ilha de Sumatra é Swarna Dwipa, o que, em sânscrito, significa "ilha do ouro" (devido à exploração de minas auríferas). Entre as diferentes comunidades de origem hindu e budista que se estabeleceram na ilha, a da cidade portuária de Samudra ("oceano" em sânscrito), acabou por dominar a ponta noroeste (a região de Aceh) entre os séculos XI e XIV e viu o seu nome generalizar-se a toda a ilha. É a partir daqui que as opiniões se dividem sobre a autoria e as razões do regresso à antiga fonia "su". Segundo algumas fontes, terá sido Marco Pólo, por volta de 1292, o primeiro ocidental a grafar "Sumatra" nas suas notas de viagem. Segundo outras, foi o viajante marroquino Ibn Battuta, em meados do século XIV, o autor da mudança. Tudo isto ocorreu, como é bom de ver, muito antes da chegada dos portugueses à Indonésia. Por mais que possa custar ao nosso orgulho, nenhuma fonte histórica credível atribui a origem da actual designação da ilha aos nossos navegantes nem a troca do "sa" pelo "su" (ou vice-versa) a uma eventual corruptela do português para o inglês. Certo é que o primeiro nome da ilha em alfabeto latino foi Sumatra. Posto isto, fico como a Enciclopédia Verbo - ambas as grafias são admissíveis;
b) Sobre o maremoto, descontada a minha ignorância acerca dos conteúdos dos manuais escolares pós-modernos, cito as definições dos meus dois dicionários preferidos: no de Cândido de Figueiredo, da Bertrand, maremoto significa simplesmente "tremor do mar"; para o dicionário da língua portuguesa da Academia das Ciências é uma "alteração violenta das águas do mar causada por oscilações sísmicas do solo submarino". Se isto não é um tsunami (que, em japonês, significa simplesmente "onda de praia"), que diabo é um tsunami?
c) Para Rui Tavares Guedes, a distinção entre desaparecidos e incontactáveis é perfeitamente justificável: "os incontactáveis não são necessariamente desaparecidos, embora todos os desaparecidos estejam incontactáveis". Continuo sem perceber, mas admito que o defeito seja só meu.
a) O nome original da ilha de Sumatra é Swarna Dwipa, o que, em sânscrito, significa "ilha do ouro" (devido à exploração de minas auríferas). Entre as diferentes comunidades de origem hindu e budista que se estabeleceram na ilha, a da cidade portuária de Samudra ("oceano" em sânscrito), acabou por dominar a ponta noroeste (a região de Aceh) entre os séculos XI e XIV e viu o seu nome generalizar-se a toda a ilha. É a partir daqui que as opiniões se dividem sobre a autoria e as razões do regresso à antiga fonia "su". Segundo algumas fontes, terá sido Marco Pólo, por volta de 1292, o primeiro ocidental a grafar "Sumatra" nas suas notas de viagem. Segundo outras, foi o viajante marroquino Ibn Battuta, em meados do século XIV, o autor da mudança. Tudo isto ocorreu, como é bom de ver, muito antes da chegada dos portugueses à Indonésia. Por mais que possa custar ao nosso orgulho, nenhuma fonte histórica credível atribui a origem da actual designação da ilha aos nossos navegantes nem a troca do "sa" pelo "su" (ou vice-versa) a uma eventual corruptela do português para o inglês. Certo é que o primeiro nome da ilha em alfabeto latino foi Sumatra. Posto isto, fico como a Enciclopédia Verbo - ambas as grafias são admissíveis;
b) Sobre o maremoto, descontada a minha ignorância acerca dos conteúdos dos manuais escolares pós-modernos, cito as definições dos meus dois dicionários preferidos: no de Cândido de Figueiredo, da Bertrand, maremoto significa simplesmente "tremor do mar"; para o dicionário da língua portuguesa da Academia das Ciências é uma "alteração violenta das águas do mar causada por oscilações sísmicas do solo submarino". Se isto não é um tsunami (que, em japonês, significa simplesmente "onda de praia"), que diabo é um tsunami?
c) Para Rui Tavares Guedes, a distinção entre desaparecidos e incontactáveis é perfeitamente justificável: "os incontactáveis não são necessariamente desaparecidos, embora todos os desaparecidos estejam incontactáveis". Continuo sem perceber, mas admito que o defeito seja só meu.
ONGs portuguesas dispensadas pelo Governo de ajudar o Aceh ?
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AG
Não quero acreditar! Dizem-me que as ONGs portuguesas que se voluntariaram para ir prestar ajuda de emergência ao Aceh mal o Governo português indicou estar a organizar uma missão (o avião que ontem partiu), foram afinal dispensadas, deixadas em terra! Aparentemente porque o IPAD (MNE) organizou o voo, mas o Ministério da Saúde era quem pagava a missão, logo era quem "mandava" - e preferiu enviar pessoal médico e enfermeiro dos seus quadros, em vez de financiar a deslocação de médicos e enfermeiros voluntariados por ONGs portuguesas. (É evidente que a equipa que partiu também é composta por voluntários e são de louvar a sua imediata disponibilização e a dedicação e competência de que certamente vão deixar provas na Indonésia.)
Mas em todos os países europeus, a ajuda de emergência, a reabilitação na fase seguinte e a ajuda para o desenvolvimento, a longo prazo, fazem-se sobretudo com ONGs e através de ONGs no terreno. Os IPADs de outros países existem para estimular as ONGs, organizar as ONGs, optimizar as ONGs, financiar as ONGs, direccionar tanto quanto possível as ONGs. E controlar as ONGs, também (designadamente sobre como gastam o dinheiro e a eficácia e utilidade política dos respectivos projectos).
Se Portugal quiser algum dia ter uma Política de Cooperação a sério, se quiser inclusivé aproveitar devidamente os financiamentos europeus para o efeito, se quiser ter mais portugueses a intervir em ONGs e agências internacionais que coordenam a intervenção em ajuda de emergência e também na ajuda ao desenvolvimento (designadamente no âmbito da ONU), precisa de apoiar e financiar as ONGs portuguesas, precisa de ajudar a estimular os voluntários que elas organizam e formam.
Em Portugal, em 2005, sob a desgovernação PSD/PP voltou a ser dominante o principal entrave a uma verdadeira política de cooperação do Estado português, já há muitos anos diagnosticado e combatido pela governação PS (graças a Luís Amado, sobretudo): continua a vigorar o espírito das capelinhas, cada Ministério com dinheiro decide das "suas" acções de cooperação, a coordenação política - que deve evidentemente caber ao MNE/IPAD - reduz-se a organizar a logística das deslocações, quando muito tolerando-se que o MNE poise para a fotografia no aeroporto....
Também grave, neste caso, é que na Indonésia não se trata apenas de uma intervenção que se resolva num mês (tempo previsto para a missão da equipa do M. Saúde). Trata-se do Aceh - um território que esteve trinta anos praticamente vedado à presença internacional, por causa do conflito político. No momento em que o Governo indonésio o abre ao exterior, não está apenas em causa o alívio imediato dos sofrimentos da população que sobreviveu - importa contribuir para usar a oportunidade criada pela tragédia para ajudar a resolver o conflito. O que implica presença internacional sustentada, por longo tempo. Através de ONGs, evidentemente. A presença de voluntários de ONGS portuguesas deveria, assim, ser uma prioridade.
Ana Gomes
Mas em todos os países europeus, a ajuda de emergência, a reabilitação na fase seguinte e a ajuda para o desenvolvimento, a longo prazo, fazem-se sobretudo com ONGs e através de ONGs no terreno. Os IPADs de outros países existem para estimular as ONGs, organizar as ONGs, optimizar as ONGs, financiar as ONGs, direccionar tanto quanto possível as ONGs. E controlar as ONGs, também (designadamente sobre como gastam o dinheiro e a eficácia e utilidade política dos respectivos projectos).
Se Portugal quiser algum dia ter uma Política de Cooperação a sério, se quiser inclusivé aproveitar devidamente os financiamentos europeus para o efeito, se quiser ter mais portugueses a intervir em ONGs e agências internacionais que coordenam a intervenção em ajuda de emergência e também na ajuda ao desenvolvimento (designadamente no âmbito da ONU), precisa de apoiar e financiar as ONGs portuguesas, precisa de ajudar a estimular os voluntários que elas organizam e formam.
Em Portugal, em 2005, sob a desgovernação PSD/PP voltou a ser dominante o principal entrave a uma verdadeira política de cooperação do Estado português, já há muitos anos diagnosticado e combatido pela governação PS (graças a Luís Amado, sobretudo): continua a vigorar o espírito das capelinhas, cada Ministério com dinheiro decide das "suas" acções de cooperação, a coordenação política - que deve evidentemente caber ao MNE/IPAD - reduz-se a organizar a logística das deslocações, quando muito tolerando-se que o MNE poise para a fotografia no aeroporto....
Também grave, neste caso, é que na Indonésia não se trata apenas de uma intervenção que se resolva num mês (tempo previsto para a missão da equipa do M. Saúde). Trata-se do Aceh - um território que esteve trinta anos praticamente vedado à presença internacional, por causa do conflito político. No momento em que o Governo indonésio o abre ao exterior, não está apenas em causa o alívio imediato dos sofrimentos da população que sobreviveu - importa contribuir para usar a oportunidade criada pela tragédia para ajudar a resolver o conflito. O que implica presença internacional sustentada, por longo tempo. Através de ONGs, evidentemente. A presença de voluntários de ONGS portuguesas deveria, assim, ser uma prioridade.
Ana Gomes
"O PPM do PS" - Uma resposta
Publicado por
Vital Moreira
«Li o seu post da passada segunda-feira, intitulado "O PPM do PS", e não resisti à tentação de lhe responder.
(...) Continuo a achar que o crescimento eleitoral do PS à esquerda é marginal, e que disputar o que sobra do eleitorado comunista com o Bloco de Esquerda, para além de indesejável do ponto de vista das políticas que isso implica defender, é absolutamente ineficiente do ponto de vista eleitoral. As eleições disputam-se e ganham-se ao Centro. Creio, aliás, que as eleições internas para a liderança do PS e o Congresso que se lhe seguiu foram clarificadores a respeito dessa questão estratégica.
(...) Não creio que tenha razões para afirmar que o MHD mantém divergências profundas com o PS. É curioso, aliás, que reduza a questão do regime a mero "folclore" do PPM e eleja como divergência de fundo a questão do aborto. Sendo obviamente uma questão importante - quanto mais não seja por implicar uma discussão sobre valores, cada vez menos presentes no debate político - concordará que não é uma questão essencial à governação do país.
Além de que, sendo maioritária, a "posição" do PS e do seu eleitorado nesta matéria não é unanimemente diferente da nossa, como revelaram as votações na Assembleia da República e no Referendo, Eu diria até que a história da nossa participação no Grupo Parlamentar do PS revela que, em geral, as nossas divergências com o direcção política do PS são bem menores do que as de alguns sectores minoritários do próprio PS.
É obvio que mantemos algumas divergências com o PS. Se as não tivéssemos, aliás, nada acrescentaríamos que justificasse a nossa integração nas listas como independentes. Seria absurdo que apenas pudéssemos integrar as listas do PS se nos transformássemos num partido oficialmente estabelecido e sem quaisquer divergências de fundo. Nesse caso seria mais fácil - e lógico - dissolvermos o MHD e nos filiarmos todos no PS.
(...) Não lhe sei dizer se acrescentamos votos ao PS, para além dos nossos próprios. E não creio que esse seja o critério determinante para avaliar a utilidade do nosso acordo. Ao contrário do PSD e dos seus parceiros, que fazem acordos de conjuntura porque precisam de criar factos políticos novos para merecer o favor dos eleitores, nós temos dez anos de relacionamento político estável e leal com o PS, tanto no governo, como na oposição.(...)»
(Cláudio Monteiro)
(...) Continuo a achar que o crescimento eleitoral do PS à esquerda é marginal, e que disputar o que sobra do eleitorado comunista com o Bloco de Esquerda, para além de indesejável do ponto de vista das políticas que isso implica defender, é absolutamente ineficiente do ponto de vista eleitoral. As eleições disputam-se e ganham-se ao Centro. Creio, aliás, que as eleições internas para a liderança do PS e o Congresso que se lhe seguiu foram clarificadores a respeito dessa questão estratégica.
(...) Não creio que tenha razões para afirmar que o MHD mantém divergências profundas com o PS. É curioso, aliás, que reduza a questão do regime a mero "folclore" do PPM e eleja como divergência de fundo a questão do aborto. Sendo obviamente uma questão importante - quanto mais não seja por implicar uma discussão sobre valores, cada vez menos presentes no debate político - concordará que não é uma questão essencial à governação do país.
Além de que, sendo maioritária, a "posição" do PS e do seu eleitorado nesta matéria não é unanimemente diferente da nossa, como revelaram as votações na Assembleia da República e no Referendo, Eu diria até que a história da nossa participação no Grupo Parlamentar do PS revela que, em geral, as nossas divergências com o direcção política do PS são bem menores do que as de alguns sectores minoritários do próprio PS.
É obvio que mantemos algumas divergências com o PS. Se as não tivéssemos, aliás, nada acrescentaríamos que justificasse a nossa integração nas listas como independentes. Seria absurdo que apenas pudéssemos integrar as listas do PS se nos transformássemos num partido oficialmente estabelecido e sem quaisquer divergências de fundo. Nesse caso seria mais fácil - e lógico - dissolvermos o MHD e nos filiarmos todos no PS.
(...) Não lhe sei dizer se acrescentamos votos ao PS, para além dos nossos próprios. E não creio que esse seja o critério determinante para avaliar a utilidade do nosso acordo. Ao contrário do PSD e dos seus parceiros, que fazem acordos de conjuntura porque precisam de criar factos políticos novos para merecer o favor dos eleitores, nós temos dez anos de relacionamento político estável e leal com o PS, tanto no governo, como na oposição.(...)»
(Cláudio Monteiro)
Condomínios (2)
Publicado por
Vital Moreira
A argumentação do leitor no post anterior não é procedente. O tal regulamento restringe pelo menos os seguintes direitos dos condóminos: a sua liberdade de ter (ou adoptar) filhos (sob pena de terem de mudar de residência), o seu direito de propriedade (forçando-os a alienar ou a deixar de fruir a sua habitação se tiverem filhos) e a liberdade de escolha de residência (impedindo-os de viver onde querem com os filhos). Isto para não falar dos direitos das próprias crianças.
Na verdade, nem sequer seria necessário invocar o argumento constitucional da aplicação directa dos direitos fundamentais nas relações entre os particulares. O próprio Direito Civil sempre admitiu limitações à liberdade negocial, nomeadamente em nome dos princíos da boa-fé, da proibição do abuso de direito e do respeito pelos "bons costumes". Essas limitações podem e devem ser "densificadas" pelos direitos fundamentais estabelecidos na Constituição e demais princípios constitucionais, designadamente o princípio da dignidade humana.
Dizer que quem não concorda pode livremente mudar-se é uma falácia, pois isso implica sempre sacrificar alguns desses direitos. Não é lícito inverter as prioridades. Pelo contrário, quem não quer viver com crianças por perto é que deve desistir de viver em condomínios. Por definição estes implicam assumir a convivência externa, nos espaços comuns, com outras pessoas, sem discriminações. Por isso estou convicto de que um tal regulamento seria ilícito entre nós (e na cultura jurídica europeia, em geral).
De resto, tais regulamentos não relevam da liberdade contratual, pois não são propriamente um contrato, mas sim da auto-regulação privada. Seja como for, a liberdade negocial e a autonomia privada nunca foram ilimitadas.
Por outro lado, os que invocam a este propósito a liberdade de associação misturam alhos com bugalhos, o que é uma forma pouco séria de argumentar. Um condomínio não é expressão de liberdade de associação, onde as pesoas se agregam voluntariamente (aí, sim, há um contrato) para a prossecução de interesses comuns, podendo sair livremente. As pessoas pertencem a uma condomínio automaticamente, ao tornaram proprietárias de uma habitação sujeita ao regime de condomínio (designadamente, propriedade horizontal), independentemente da aceitação ou da vontade dos outros condóminos. Também é irrelevante a invocação do caso das discriminações dentro das confisões religiosas, porque quem delas é praticante aceita voluntariamente as respectivas regras internas (que mesmo assim também têm limites...); o que não podem é impor estas a toda a gente como norma de conduta externa.
PS - Para uma contribuição pertinente sobre o assunto ver também este post.
Na verdade, nem sequer seria necessário invocar o argumento constitucional da aplicação directa dos direitos fundamentais nas relações entre os particulares. O próprio Direito Civil sempre admitiu limitações à liberdade negocial, nomeadamente em nome dos princíos da boa-fé, da proibição do abuso de direito e do respeito pelos "bons costumes". Essas limitações podem e devem ser "densificadas" pelos direitos fundamentais estabelecidos na Constituição e demais princípios constitucionais, designadamente o princípio da dignidade humana.
Dizer que quem não concorda pode livremente mudar-se é uma falácia, pois isso implica sempre sacrificar alguns desses direitos. Não é lícito inverter as prioridades. Pelo contrário, quem não quer viver com crianças por perto é que deve desistir de viver em condomínios. Por definição estes implicam assumir a convivência externa, nos espaços comuns, com outras pessoas, sem discriminações. Por isso estou convicto de que um tal regulamento seria ilícito entre nós (e na cultura jurídica europeia, em geral).
De resto, tais regulamentos não relevam da liberdade contratual, pois não são propriamente um contrato, mas sim da auto-regulação privada. Seja como for, a liberdade negocial e a autonomia privada nunca foram ilimitadas.
Por outro lado, os que invocam a este propósito a liberdade de associação misturam alhos com bugalhos, o que é uma forma pouco séria de argumentar. Um condomínio não é expressão de liberdade de associação, onde as pesoas se agregam voluntariamente (aí, sim, há um contrato) para a prossecução de interesses comuns, podendo sair livremente. As pessoas pertencem a uma condomínio automaticamente, ao tornaram proprietárias de uma habitação sujeita ao regime de condomínio (designadamente, propriedade horizontal), independentemente da aceitação ou da vontade dos outros condóminos. Também é irrelevante a invocação do caso das discriminações dentro das confisões religiosas, porque quem delas é praticante aceita voluntariamente as respectivas regras internas (que mesmo assim também têm limites...); o que não podem é impor estas a toda a gente como norma de conduta externa.
PS - Para uma contribuição pertinente sobre o assunto ver também este post.
Condomínios (1)
Publicado por
Vital Moreira
«Também não vejo grande problema no regulamento de condomínio que proíbe crianças (desde que aprovado pela totalidade dos condóminos). A liberdade contratual é uma boa liberdade.
Os exemplos de Vital Moreira são, a meu ver, pouco correctos. É que há uma diferença decisiva entre a proibição de crianças e a proibição de negros ou homossexuais.
Digamo-lo assim: à partida, devia ser livre a proibição de quaisquer pessoas, negras, brancas ou azuis, homossexuais ou heterossexuais. Contudo, esta proibição não é admissível (é «contrária à lei» ou «à ordem pública», para usar expressões tradicionais entre nós), porque, num regulamento de condomínio, viria inserir-se num sistema, num processo social de discriminação material e simbólica que tem de ser combatido. Tal como a proibição de certas religiões viria inserir-se num processo de inimizade religiosa. Ou seja: aqui, há razões de «necessidade social» (ou de «interesse público») que prejudicam (comprimem) um princípio como a autonomia privada (é o jogo normal dos princípios).
Mas note-se que o problema não é só estar em causa um «direito fundamental». A «eficácia horizontal» dos direitos fundamentais não é «automática», como as entradas no vosso blogue parecem supor. Por outras palavras (que não me agradam muito, mas agradam a alguns), a autonomia privada é tão princípio como os outros. Como disse Canaris já há uns tempos, os princípios jurídicos não se relacionam hierarquicamente. Ou, como diz Alexy, é da essência dos princípios a ponderação. (...)
Seria ilegal um «regulamento de condomínio» (ou figura parecida) que recusasse condóminos que fossem ou tivessem sido ministros, presidentes da república ou líderes partidários? Parecer-me-ia um «regulamento» razoável, dados os inconvenientes que estas figuras públicas podem trazer. Ou, para dizê-lo melhor, este regulamento não parece razoável, mas também não parece ofender ninguém nem nenhum «interesse público» significativo e, por isso, não há motivo para invalidá-lo, à luz da autonomia privada. Apesar dos direitos fundamentais de participação política... (...)»
(AC)
Os exemplos de Vital Moreira são, a meu ver, pouco correctos. É que há uma diferença decisiva entre a proibição de crianças e a proibição de negros ou homossexuais.
Digamo-lo assim: à partida, devia ser livre a proibição de quaisquer pessoas, negras, brancas ou azuis, homossexuais ou heterossexuais. Contudo, esta proibição não é admissível (é «contrária à lei» ou «à ordem pública», para usar expressões tradicionais entre nós), porque, num regulamento de condomínio, viria inserir-se num sistema, num processo social de discriminação material e simbólica que tem de ser combatido. Tal como a proibição de certas religiões viria inserir-se num processo de inimizade religiosa. Ou seja: aqui, há razões de «necessidade social» (ou de «interesse público») que prejudicam (comprimem) um princípio como a autonomia privada (é o jogo normal dos princípios).
Mas note-se que o problema não é só estar em causa um «direito fundamental». A «eficácia horizontal» dos direitos fundamentais não é «automática», como as entradas no vosso blogue parecem supor. Por outras palavras (que não me agradam muito, mas agradam a alguns), a autonomia privada é tão princípio como os outros. Como disse Canaris já há uns tempos, os princípios jurídicos não se relacionam hierarquicamente. Ou, como diz Alexy, é da essência dos princípios a ponderação. (...)
Seria ilegal um «regulamento de condomínio» (ou figura parecida) que recusasse condóminos que fossem ou tivessem sido ministros, presidentes da república ou líderes partidários? Parecer-me-ia um «regulamento» razoável, dados os inconvenientes que estas figuras públicas podem trazer. Ou, para dizê-lo melhor, este regulamento não parece razoável, mas também não parece ofender ninguém nem nenhum «interesse público» significativo e, por isso, não há motivo para invalidá-lo, à luz da autonomia privada. Apesar dos direitos fundamentais de participação política... (...)»
(AC)
Justificação ridícula
Publicado por
Anónimo
Cavaco Silva pode gostar muito, pouco ou nada de aparecer nos cartazes da campanha de Santana Lopes. Pode achar deselegante que a sua fotografia aí tenha sido colocada sem que para tal tenha dado autorização e, por isso, solicitar que o polémico cartaz não seja divulgado. Pode até invocar, para justificar a sua exigência, que não está na vida política activa, mesmo que isso seja muito discutível. (Eu acho que está e é mesmo por estar que exige que o cartaz seja retirado). Mas apresentar como motivo principal que a inclusão da sua fotografia prejudica a sua carreira académica, depois de ter sido primeiro-ministro, líder partidário e candidato a PR, é profundamente ridículo!
Rosa azul
Publicado por
Vital Moreira
O "Fórum Novas Fronteiras", que visa organizar a participação de cidadãos independentes na elaboração do programa eleitoral do PS, tem finalmente um website, com o elenco do conselho coordenador, o calendário das próximas iniciativas e diversos contributos individuais sobre diferentes temas. De assinalar: abertura de um fórum de discussão para todos os interessados.
Ultraliberalismo
Publicado por
Vital Moreira
Quem acha perfeitamente normal um regulamento de um condomínio nos Estados Unidos que exclui crianças até aos 16 anos e que obriga as mulheres que tenham filhos a abandonar o condomínio no prazo de um ano, também deverá achar obviamente que nada haveria de anormal se um regulamento excluísse condóminos ou inquilinos negros ou judeus, ou gays ou divorciados, ou deficientes, etc.
Total liberdade contratual, não é mesmo? Total prevalência do direito de propriedade, por que não? Que importam os direitos fundamentais estabelecidos na Constituição e a sua "eficácia horizontal" nas relações entre privados, com as inerentes limitações à liberdade negocial e ao direito de propriedade?
Os adeptos do ultraliberalismo ainda não se deram conta de que os Estados Unidos e a Europa constituem duas civilizações distintas no que respeita ao respeito dos direitos humanos nas relações entre privados e à proibição de discriminações arbitrárias ou contrárias aos direitos fundamentais ou à dignidade humana. Um tal regulamento seria intolerável do lado de cá do Atlântico.
Total liberdade contratual, não é mesmo? Total prevalência do direito de propriedade, por que não? Que importam os direitos fundamentais estabelecidos na Constituição e a sua "eficácia horizontal" nas relações entre privados, com as inerentes limitações à liberdade negocial e ao direito de propriedade?
Os adeptos do ultraliberalismo ainda não se deram conta de que os Estados Unidos e a Europa constituem duas civilizações distintas no que respeita ao respeito dos direitos humanos nas relações entre privados e à proibição de discriminações arbitrárias ou contrárias aos direitos fundamentais ou à dignidade humana. Um tal regulamento seria intolerável do lado de cá do Atlântico.
"Colonialismo"
Publicado por
Vital Moreira
Invocando a luta contra o «colonialismo do Continente», A. João Jardim propõe-se desalojar o Representante da República na Região Autómoma da Madeira do actual palácio onde ele tem a sua residência e sede oficial, bem como a desgraduação da sua posição no protocolo das cerimónias oficiais na Região. Pelos vistos, na sua luta "anticolonialista", o dirigente madeirense só não rejeita os milhões de euros enviados do Continente.
É caso para perguntar que atitude vão tomar, por um lado, o PSD nacional e, por outro lado, o Presidente da República, a quem compete nomear e exonerar aquele representante. Até onde vai a pusilanimidade e complacência, face às sucessivas provocações do caudilho madeirense? Até onde se cederá, antes de dizer "Basta"!
É caso para perguntar que atitude vão tomar, por um lado, o PSD nacional e, por outro lado, o Presidente da República, a quem compete nomear e exonerar aquele representante. Até onde vai a pusilanimidade e complacência, face às sucessivas provocações do caudilho madeirense? Até onde se cederá, antes de dizer "Basta"!
Falta de originalidade
Publicado por
Vital Moreira
No meio de uma patética sessão em directo para as televisões a partir da sua própria casa, Pôncio Monteiro, primeiramente convidado e depois desconvidado para integrar a lista do Porto pelo PSD, diz-se «traído» por Santana Lopes. Nada de original: o ex-ministro Chaves já o tinha acusado de grave «deslealdade», rompendo com ele e precipitando a queda do Governo.
Quando os amigos o dizem, é difícil duvidar, não é?! Que mal fizemos aos deuses para nos calhar em azar uma tal personagem como primeiro-ministro?
Quando os amigos o dizem, é difícil duvidar, não é?! Que mal fizemos aos deuses para nos calhar em azar uma tal personagem como primeiro-ministro?
terça-feira, 4 de janeiro de 2005
Aritmética Pós-eleitoral
Publicado por
Vital Moreira
As diferentes hipóteses sobre a contabilidade eleitoral de 20 de Fevereiro podem encontrar-se aqui (e também, como habitualmente, no Aba da Causa).
As listas
Publicado por
Vital Moreira
No nosso sistema eleitoral e na nossa cultura política, a composição das listas de candidatos não é decisiva para os resultados eleitorais. Mas não é completamente indiferente. Pelo que já se conhece delas, as listas de candidatos do PS podem colocar dois problemas: (i) saber se, além de abrirem suficientemente ao centro (o que parece claro), mantêm porém o necessário apelo à esquerda, para disputar esse eleitorado com o PCP e sobretudo com o BE; (ii) saber se, em caso de provável vitória e de formação de um governo PS, com a consequente emigração de muitos deputados para outros cargos, as listas têm reservas suficientes para assegurar um grupo parlamentar de qualidade e combativo.
Sabendo-se que nestas eleições cada deputado a mais ou a menos pode contar e que a rectagurda parlamentar pode ser essencial à sustentabilidade do futuro Governo (sobretudo se não houver maioria absoluta), essas duas questões são tudo menos irrelevantes.
Sabendo-se que nestas eleições cada deputado a mais ou a menos pode contar e que a rectagurda parlamentar pode ser essencial à sustentabilidade do futuro Governo (sobretudo se não houver maioria absoluta), essas duas questões são tudo menos irrelevantes.
Companhia embaraçosa
Publicado por
Vital Moreira
Segundo notícias de hoje Cavaco Silva recusou aparecer num cartaz de propaganda eleitoral do PSD -- que já estava a ser afixado e por isso teve de ser precipitadamente retirado -- onde aparecia ao lado dos demais líderes do partido, incluindo Santana Lopes, e colocado no mesmo plano que ele, sob o lema "ninguém fez mais por Portugal do que eles" (o que, aplicado a Santana, só pode soar como piada de mau gosto...).
De facto, ser mostrado em tal companhia já era embaraçoso; servir para promover personagens menores, ainda mais. Chega-se a uma idade e a uma condição em que já não dá para ser instrumentalizado, ainda por cima para uma derrota quase certa. E se Cavaco alimenta projectos de vir a candidatar-se a Presidente da República este cartaz bem poderia contar como propaganda negativa. Há companhias, e equiparações, que comprometem.
Referências
Publicado por
Vital Moreira
1. Opiniões
"A esclerose institucional", por Paulo Trigo Pereira
Como os grupos de interesse se apropriam de posições de vantagem económica e social.
"Anatomia de uma capitulação", por Manuel "Grande Loja"
Sobre a promiscuidade entre o futebol e as eleições, ou a cedência do PSD-Porto ao F.C Porto, ou ainda a derrota de Rui Rio.
2. Entre aspas
«Como há perda de reputação para os que infringem o défice, mas não para os que falham a dívida, os Governos [dos Estados da zona euro] são incentivados a desorçamentar, isto é, a excluir despesas do orçamento e a levá-las directamente à dívida para esconder os défices reais e apresentar valores dentro dos parâmetros exigidos pelo PEC.»
Suplemento de Economia do jornal Público.
"A esclerose institucional", por Paulo Trigo Pereira
Como os grupos de interesse se apropriam de posições de vantagem económica e social.
"Anatomia de uma capitulação", por Manuel "Grande Loja"
Sobre a promiscuidade entre o futebol e as eleições, ou a cedência do PSD-Porto ao F.C Porto, ou ainda a derrota de Rui Rio.
2. Entre aspas
«Como há perda de reputação para os que infringem o défice, mas não para os que falham a dívida, os Governos [dos Estados da zona euro] são incentivados a desorçamentar, isto é, a excluir despesas do orçamento e a levá-las directamente à dívida para esconder os défices reais e apresentar valores dentro dos parâmetros exigidos pelo PEC.»
Suplemento de Economia do jornal Público.
segunda-feira, 3 de janeiro de 2005
Cão sim, Criança não
Publicado por
Anónimo
Para aqueles que cultivam a ideia que tudo o que vem dos EUA é bom por natureza ou definição, que essa é sempre a pátria das verdadeiras liberdades, sem as limitações próprias das "impuras" constituições europeias, aqui fica este exemplo do que entre nós seria seguramente intolerável!
(Prevenindo as acusações habituais de "anti-americanismo primário", desde já me declaro admiradora de muitos aspectos da sociedade americana, do seu pragmatismo, da facilidade com se acede à informação, da funcionalidade de alguns serviços das suas universidades, para citar aqueles que mais experimentei).
Mas vejam esta. É um artigo de 11 apertadas páginas do regulamento de um condomínio em Houston, no Texas. (Pedi cópia do original a dois condóminos, tal era a minha incredulidade).
- «Children under the age of sixteen years are not permitted to reside at the Cambridge Glen Condominium on a full time basis. (...). Any owner who subsequent to purchase of a condominium unit has a child born to her, must vacate her condominium prior to the child's second birthday» (art. VII, n. 8. al. p).
E para tornar a regra mais insólita, no mesmo artigo estabelece-se que:
- «Two small dogs, cats or other usual small household pets may be kept in any unit» (art. VII, n. 8. al. e).
Em resumo, se a tua cadela tiver um filho, podes ficar com ele em tua casa. Mas se fores tu, querida Joana, acaba a tese, vende a casa e faz as malas, antes que te as ponham à porta! E despacha-te. Dois anos passam depressa.
(Prevenindo as acusações habituais de "anti-americanismo primário", desde já me declaro admiradora de muitos aspectos da sociedade americana, do seu pragmatismo, da facilidade com se acede à informação, da funcionalidade de alguns serviços das suas universidades, para citar aqueles que mais experimentei).
Mas vejam esta. É um artigo de 11 apertadas páginas do regulamento de um condomínio em Houston, no Texas. (Pedi cópia do original a dois condóminos, tal era a minha incredulidade).
- «Children under the age of sixteen years are not permitted to reside at the Cambridge Glen Condominium on a full time basis. (...). Any owner who subsequent to purchase of a condominium unit has a child born to her, must vacate her condominium prior to the child's second birthday» (art. VII, n. 8. al. p).
E para tornar a regra mais insólita, no mesmo artigo estabelece-se que:
- «Two small dogs, cats or other usual small household pets may be kept in any unit» (art. VII, n. 8. al. e).
Em resumo, se a tua cadela tiver um filho, podes ficar com ele em tua casa. Mas se fores tu, querida Joana, acaba a tese, vende a casa e faz as malas, antes que te as ponham à porta! E despacha-te. Dois anos passam depressa.
Hipocrisia
Publicado por
Vital Moreira
No Funchal, todos, incluindo o PSD local, apareceram a repudir as declarações de Manuel Monteiro sobre a independência da Madeira. Mas o que é a "autonomia total", de que hoje falam conspícuos representantes do poder regional, se não um eufemismo hipócrita para independência? E não é verdade que o PSD regional enquadra conhecidos e assumidos independentistas? E não é indesmentível que o seu separatismo só não é mais loquaz enquanto se mantiver o maná das transferências financeiras da República, apesar de a Madeira ser hoje a segunda região mais rica do País, o que torna essas transferências um caso de manifesta injustiça territorial contra as regiões mais pobres, que pagam as vantagens daquela? E não é incontestável que o próprio Presidente do Governo regional se ocupa pessoalmente de achincalhar impunemente todas as autoridades da República com cargos na Região, que ousem entravar o seu arbitrário autoritarismo, como se de autoridades de ocupação se tratasse?
De vez em quando, tal como na fábula da criança e do rei nu, quando todos os responsáveis se calam, cabe a "inocentes" como Monteiro dizer o óbvio.
De vez em quando, tal como na fábula da criança e do rei nu, quando todos os responsáveis se calam, cabe a "inocentes" como Monteiro dizer o óbvio.
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