segunda-feira, 8 de agosto de 2005

Subscrevo

«[Alberto Costa] é o primeiro ministro em 30 anos de democracia que não hesita perante o poder letal das corporações da justiça. Mesmo que perca, o País ficará a dever-lhe actos de coragem e de distinto serviço público.»
Luís Miguel Viana (Diário de Notícias, 07-08-05)

sábado, 6 de agosto de 2005

Lisboetês (4)

Locutora da RTP 1 relatando ontem os incêndios no distrito de Aveiro: ela pronuncia "Avâiro", tal como pronunciará "fâira" (em vez de feira), "Avâiras" (em vez de Aveiras), "desfâita" (em vez de desfeita), etc. Outro desvio da norma fonética típico do "lisboetês" dominante nos media nacionais.

Serviço público de emprego de 1ª classe

«Dezenas de filhos de governantes nos quadros da PT».

Hiroshima

Mesmo em tempo de guerra, os massacres maciços de populações civis não são formas de terrorismo?

Correio dos leitores: CGD

«(...) Na questão da CGD devo acreditar que o actual Ministro das Finanças tinha as suas razões e que elas seriam fortes para tomar a decisão que tomou. Parece-me que a questão das indemnizações será (ou já foi) modificada por este Governo, pois, como diz, se razões políticas podem entrar em linha de conta, então as indemnizações não fazem sentido. Penso também que esses cargos não são necessariamente políticos, mas razões de confiança política podem levar à sua exoneração. Na RTP não houve exoneração porque a administração é credível e tem uma política definida para a estação. Mas não está a salvo de exoneração por razões de ordem política. Penso que será uma especificidade legítima do exercício de admnistração de uma empresa pública. Quanto ao caso Celeste Cardona, também manifesto a mesma perplexidade (...).»
J.F.

Equívoco democrático

O presidente da câmara municipal do Porto e candidato à reeleição, Rui Rio, propôs um compromisso político, de acordo com o qual quem ganhasse as eleições municipais teria direito a implementar a sua solução para a questão do túnel de Ceuta, parado desde há meses por causa do embargo do IPPAR. É uma solução inaceitável. Por um lado, numa democracia representativa, as eleições não podem ser transformadas em plebiscito temático; segundo, não pode haver referendos locais sobre matérias que não são da competência municipal, mas sim do Estado, como é o caso. Para perversão das regras democráticas, já bastam as que existem.

Cegueira

Continuamos a não querer ver que sem alterar o perfil da floresta nacional -- baseada no pinheiro bravo e no eucalipto -- o Páis continuará a ser um braseiro todos os anos pelo Verão. Até quando é que os interesses dos produtores florestais, dos madeireiros e da celulose prevalecerão sobre os interesses gerais do País? Entretanto, o nosso "petróleo verde" -- como alguém designou, com rara propriedade e humor negro, a nossa floresta industrial -- continuará a cumprir a sua missão, que é ... servir de combustível!

sexta-feira, 5 de agosto de 2005

Lugares de encanto

Ilha Graciosa, Açores.

Correio dos leitores: Ota

«É difícil assistir de longe a esta discussão miserável, em que o PS (no qual votei) troca os pés todos os dias com uma falta de argumentos que provoca dó. Quem lê as entrevistas vácuas dos ministros e as esquivas declarações do blog "Causa Nossa" (...), só pode acrescentar que depois do CCB, da Expo, do Alqueva e do Euro, esse "desígnio nacional", os eleitores portugueses já mereciam que quem os governa tivesse um pingo de vergonha. Mas bem podemos ficar à espera.»
Luís Jorge

Comentário
O Causa Nossa não é porta-voz do PS e no que me diz respeito não existe nenhuma "declaração esquiva": desde há muito considero necessária a construção de um novo aeroporto (que, aliás, já esteve na agenda de um governo PSD-CDS...). De resto, se o leitor votou no PS, como afirma, deveria ter-se dado conta de que a construção do novo aeroporto constava do seu programa eleitoral...
(corrigido)

Correio dos leitores: Diferenciação fiscal dos camionistas

«Em relação ao comentário-resposta ao Luís Lavoura sobre a diferenciação fiscal para os camionistas, embora concordando com a sua afirmação sobre a origem/pressuposto da taxa mais moderada de ISP sobre o gasóleo, a situação actual é exactamente a que o Luís descreve: a taxação reduzida de ISP era justificada sempre como um incentivo à actividade económica. Como esse incentivo não bastava e o gasóleo não era suficientemente barato para acomodar os gastos da nossa agricultura, decidiu-se aplicar uma taxa especial ao gasóleo para utilização agrícola. A fraude e o abuso nos primeiros meses dessa utilização foi tal, que a administração viu-se compelida a "marcar" o gasóleo. Mesmo assim, é extremamente duvidoso que não haja (alguma) evasão fiscal por essa via. O incentivo de que o Luís fala é ainda mais pernicioso: ao contrário do que afirma, a taxa reduzida do gasóleo, associada a uma taxação mais baixa em IA para os automóveis de uso agrícola, no qual se integravam até há bem pouco tempo quase todos os automóveis "jeep" SUV, estilo Pajero ou Suzuki Vitara (utensílios de lavoura tão deslocados como uma carroça de bois como transporte público), levou à proliferação desse tipo de automóveis, com consumos de combustível absolutamente excessivos. Em paralelo, o gasóleo mais barato levou a que, mesmo para os outros automóveis menos passíveis de serem classificados como instrumentos de lavoura, como sejam os Mercedes ou BMW, os modelos Diesel sejam historicamente muito mais vendidos em Portugal do que o justifica. Por último, os recentes dados sobre a poluição em Lisboa (suspeita-se que outras cidades do país tenham situações idênticas) justificariam outros cuidados com a subsidiação da frota a diesel. Por todas estas razões, adicionar mais esta isenção/redução/benefício aos camionistas é, na minha modesta opinião, estúpido e irresponsável.(...)»
Pedro Martins Barata

quinta-feira, 4 de agosto de 2005

A questão presidencial

Já pode ser visto na Aba da Causa o meu artigo desta semana no Público sobre a questão presidencial (com correcção das gralhas da versão impressa). A questão é: a candidatura de Cavaco Silva traz consigo um projecto de presidencialização do regime?

Um passo em falso

Sobre a remodelação da administração da CGD tenho a dizer o seguinte:
1. Defendo desde há muito que as empresas públicas devem ser administradas por gestores profissionais, sujeitos, de acordo com a lei das empresas públicas, a orientações governamentais.
2. Por isso, entendo que as empresas públicas devem ficar fora do regime de "spoil system", não contando para os "despojos" do partido de governo.
3. As "convenções" políticas que devem ser observadas; ora, desde há muito que se considera que o Banco de Portugal e a CGD devem ficar fora do regime de confiança política de cada governo.
4. Se a justificação para a substituição da administração da CGD tem a ver com a confiança política, então o que é que justifica a permanência de Celeste Cardona, cuja nomeação o PS tanto críticou?
5. É de aplaudir a diminiuição do número de administradores (de 11 para 9). Mas não serão ainda demais?
6. Se se trata de lugares de confiança política, o que é que justifica as indemnizações pela exoneração?

Correio dos leitores: Escolas privadas

«Parece-me que Você centra demasiado as escolas privadas em escolas católicas. Ora, isso não é assim. Só aqui nas redondezas do Instituto Superior Técnico conheço três escolas privadas que fornecem educação pré-primária e primária. Todas elas são pertença de indivíduos singulares, e não são confessionais.
Ou seja, há no nosso país, aparentemente, muito ensino privado que nada tem a ver com o catolicismo. E esse ensino tem bastante sucesso - todas as escolas que referi têm uma ampla lista de espera à entrada.»

Luís Lavoura

Correio dos leitores: Energia nuclear

«(...)A energia nuclear causa um problema insolúvel, os resíduos. Ninguém sabe o que lhes fazer. O seu tempo de vida, i.e. o perigo que são para todos os seres vivos, alonga-se por milhares de anos... Vamos criar um problema às geracões futuras para o qual não temos solucão á vista? E o princípio da precaucão?
E se os terroristas atacam uma central nuclear? O combustível para as centrais nucleares está a acabar, o urânio é finito. A energia nuclear é a mais cara, se considerarmos as externalidades. Os países europeus mais avançados - Alemanha, Bélgica, Suécia estão a abandonar o nuclear.
Portugal tem as condicões óptimas para aproveitar a energia solar. Em Espanha constroem-se centrais solares, na Alemanha e na Áustria cobrem-se centenas de milhares de telhados com painéis fotovoltaicos.
Em Portugal desperdiça-se imensa energia. Cerca de 1/3 é puro desperdício. Quantos ares condicionados não funcionam com a porta aberta? - não funcionam, desperdiçam - é para isto que queremos uma central nuclear, para alimentar o desperdício?
Em termos de desperdício ninguém bate a EDP.
O futuro pertence ao sol. A descentralização do fornecimento da energia, a autonomia que permite - política também - e o seu carácter infinito tornam-na ideal.»

Joao Miguel Vaz, Eng. Mecânico

quarta-feira, 3 de agosto de 2005

O jornal fantasma

Tenho duas más notícias: a primeira é que A Capital teve a sua última edição no sábado passado; a segunda é que, precisamente em consequência disso, estou de volta à Causa.
Abaixo deste, estão publicados os meus dois últimos textos para o diário lisboeta. Inéditos. Escrevi-os de avanço, na esperança de que a péssima notícia, afinal, não se concretizasse. Um seria o meu texto de humor na segunda-feira, o outro a página de domingo. Deixo-os aqui.

Finalmente, escrevo este post da minha secretária no jornal. À minha volta, ninguém. As televisões desligadas, as mesas abandonadas e com os jornais de há vários dias atrás. Notam-se agora, muito melhor, as imperfeições todas: a humidade nas paredes, o vidro partido, as ventoinhas avariadas. Algumas secretárias foram esvaziadas das toneladas de papel, livros e lembretes pessoais dos seus ocupantes. Lá em baixo, na redacção, duas ou três pessoas limpam os discos dos seus computadores, disquete atrás de disquete.
Somos quase ninguém e os poucos que somos não têm vontade de conversar. De que se fala quando já não há um prazo diário a cumprir? De que se conversa num jornal quando já só existe o edifício?

ps: peço desculpa pela má edição dos textos abaixo mas o blogger diz-me que eles estão perfeitos na caixa de "Edit". Não sei que se passa - mas não é a primeira vez nem será a última.

ps2: o "Sit-Dowm Comedy", crónica de humor sobre a actualidade, que assinei diariamente durante mais de um ano n'A Capital, continuará no CN após uns dias de descanso.

10 mandamentos para as vésperas dos aniversários

1) acabarás de ler o Oscar Wilde todo. Aprenderás que todos viemos da sarjeta mas que alguns de nós olham para as estrelas. À noite, nas últimas horas do último dia antes do teu novo ano, procurarás estrelas cadentes no céu. Com os aforismos do senhor Wilde na cabeça, formularás desejos ? desejarás o básico, no género Miss Universo: a felicidade, a paz no mundo, o fim da fome em África. Depois, se houver estrelas suficientes a cair, pedirás o que realmente desejas, como bom humano egoísta que és: um aumento no trabalho, o reconhecimento público, as boas graças da secretária da tua empresa;

2) farás uma maratona cinematográfica por muitos dos clássicos do cinema que ainda não viste: Touro Enraivecido, do Scorcese, A Sombra do Caçador, do Charles Laughton, O Caçador, do Michael Cimino, Os Inadaptados, do John Huston, Nascido para Matar, do Kubrick. Terminada a prova, serás um homem mais culto e mais bem preparado para as vicissitudes da vida. Ok, pronto, serás um homem mais culto;

3) viajarás durante horas pela tua terra natal. Ao volante do carro, sozinho e com os teus cd?s preferidos no rádio. Não atenderás o telefone, não levarás ninguém nem oferecerás boleia. Se a tua terra for pequenina demais para uma viagem de horas, procurarás caminhos alternativos, de terra, estradas privadas, farás viagens circulares. Só estás autorizado a parar o carro em duas situações: nos sítios onde foste feliz ou nos locais que - incrivelmente - ainda não conhecias;

4) escreverás cartas. Sim, mesmo que odeies escrever cartas. Não são e-mails nem tampouco sms. Cartas mesmo ? o que implica uma ida matinal à papelaria para comprar papel de carta como deve ser. Voltarás então para casa ou passarás pela tua esplanada preferida e escreverás cartas, mesmo que não sejas obrigado a enviá-las. Já. Escolhe bem os destinatários. Aconselho pais, melhores amigos, amigos distantes, o amor da tua vida. Escreverás aquilo que nunca tiveste coragem de dizer. Relerás as cartas na véspera do teu próximo aniversário e farás emendas. E lembrar-te-ás que deves absolutamente enviá-las aos respectivos destinatários, enquanto é tempo;

5) Não comprarás nada para ti. Esperarás pelas surpresas dos teus amigos ? mesmo que não seja surpresa nenhuma e tu já saibas exactamente o que te vão oferecer. Visitarás os parentes chatos que suportas com dificuldade e que (felizmente) não podem ir à tua festa de anos. Receberás, com o mais notável dos sorrisos amarelos, os seus presentes horrorosos: as camisas de envergonhar um cantor pimba; as indispensáveis peúgas; os cheques mixurucas; e os conselhos patéticos. No fim de tudo isto, respirarás fundo;

6) Escreverás num bloco os teus projectos para o novo ano da tua vida: as viagens que planeias fazer; os trabalhos nos quais pretendes participar; os objectivos profissionais; um ou dois sonhos pessoais para realizar absolutamente antes de morrer; as pessoas distantes que tens mesmo de visitar; as pazes que deves fazer; as guerras que deves preparar; as idas ao ginásio; as compras para a casa; os discos que te faltam. Deves encher um bom número ímpar de páginas e sublinhar os itens mais importantes. Finalmente, deves dar-te por satisfeito se realizares 20% deles;

7) Manterás, na véspera do teu aniversário, uma conversa com Deus. Perguntarás o que é feito, por onde tem andado, contarás as novidades, dirás de tua justiça: em que pé está a tua fé, o que mudou neste último ano, o que deves agradecer e do que te arrependes. Se falar com Deus te fizer impressão, conduz então uma entrevista a ti próprio. Escolhe um local resguardado, onde não te possam ver e tomar por louco, e segue os parâmetros da conversa divina acima descrita. No fundo, faz um exame de penitência a ti próprio: onde falhaste, o que conquistaste, o que te falta (e por que te falta) para seres a pessoa que desejaste ser;

8) Terás pelo menos uma refeição na companhia dos teus pais. Deves-lhes tudo e sabes bem que nem tu nem eles estão a ficar mais novos. Tentarás não te irritar com as coisas que te irritavam na adolescência e que deixaram marcas tal como eles procurarão, de certeza, não se chatear demasiado com as tuas imperfeições. No final, pedirás a receita à tua mãe e um conselho ao teu pai. Partilharás a receita e cozinharás demais o conselho. É a vida;

9) Cantarás as canções da tua vida, um pouco por todo o lado, na véspera do teu aniversário. Mesmo que não te lembres bem da letra ? inventas. Cantarás sozinho e para as pessoas, no trânsito, na rua, em casa. Cantarás baixinho e muito alto, canções tristes ou alegres, consoante o estado de espírito. Escreverás um poema expressamente destinado a seduzir as mulheres da tua vida que ainda não se atravessaram no teu caminho. Não lhe colocarás data, naturalmente, embora seja véspera do teu aniversário e te sintas moralmente condenável pelo fim a que se destinam aqueles versos;

10) Passarás a noite acordado. Sentirás a intuição do tempo de que falavam os beatniks. Julgarás estar envelhecido e que não há mais tempo a perder. Não quererás desperdiçar um minuto sequer. Dançarás a noite toda, conhecerás pessoas novas, abraçarás as pessoas velhas, cometerás loucuras, violarás sinais de trânsito, beberás mais do que a tua conta, beijarás uma nova paixão que morrerá com o nascer do sol. Passarás o dia do teu aniversário com a maior ressaca da tua vida e jurarás para nunca mais. Guardarás estes mandamentos até para o ano.

Sit-Down Comedy 363 - Avulsas

1 ? Carrilho quis fazer campanha a bordo de um camião do lixo mas um responsável da Câmara não o autorizou. Parece que Carrilho estava tão perfumado que o lixo não aguentava. Além disso, o responsável em questão é assessor de Santana ? logo, de lixos percebe ele. 2 ? Foi oficializado o Clube do Stress, que conta entre os seus membros com o Presidente da República, Lazlo Boloni, Sócrates, Carmona ou Luís Filipe Vieira. Bem escolhidos, sim senhor. Estamos claramente na presença de experts. Espera-se agora a inauguração do Clube do Relax, com Tomás Taveira, Alexandre Frota, Zezé Camarinha, enfim... 3 ? Co Adriaanse não convocou o eterno capitão portista, Jorge Costa, para um torneio prestigiado na Holanda. Jorge Costa é conhecido como o ?Bicho?; Adriaanse arrisca-se a entrar para a história como o ?Mata-Bicho?. E é bom que o holandês não se esqueça da velha máxima da filosofia brasileira: ?Se correr, o bicho pega; se ficar, o bicho come?. 4 ? Pinto da Costa, entretanto, veio dizer que há muito tempo não via tanta disciplina no seio do plantel. Ao mesmo tempo, Jorge Costa fica em terra, jogadores acabados de comprar são dispensados e Léo Lima diz cobras e lagartos do novo técnico. Das duas uma, ou Pinto precisa de ir ao oftalmologista ou estava a referir-se ao plantel do hóquei em patins. 5 ? Paul McCartney anunciou ao mundo que compôs uma canção com a ajuda do falecido amigo George Harrison. Aproveito a boleia para dizer que estou a terminar um romance com a ajuda do meu falecido bisavô Jorge Luís Borges.

Correio dos leitores: Liberalização das farmácias

«Tem toda a razão [sobre a liberalização das farmácias]. Sob este ponto de vista, a pretensa liberalização do
mercado de alguns (muito poucos!) medicamentos nada adianta. É pena que Você tenha gastado tanta verve a defender essa "medida" do atual governo, quando ela passa perfeitamente ao lado da verdadeira necessidade de liberalização.
É mudar alguma coisa para que fique tudo na mesma.»

Luís Lavoura

Comentário
Ainda os nossos neófitos neoliberais não tinham nascido e já eu defendia a liberalização do estabelecimento de farmácias. A venda de medicamentos sem receita médica fora das farmácias não é uma alternativa à liberalização.

Correio dos leitores: Lisboetês

«(...) Vivi 5 anos em Lisboa, durante a universidade. Se, tendo até aí vivido no Porto, posso acusar muito portuense de não passar do discurso de paróquia, fortemente alicerçado no futebol (nós só queremos Lisboa a arder...), posso dizer que fiquei surpreendido pela atitude de desinteresse displicente que associo a muitos (como em tudo, não se pode generalizar) lisboetas: o resto do país nada tem para lhes oferecer, nada lhes interessa, com ele nada têm a aprender, um pouco como a China imperial do século XIV. A metrópole em si se encerra e basta, a modernidade e o chique estão "lá fora", e o Algarve, bom, o Algarve está bem para se passar uns fins-de-semana escarrapachados ao Sol, uma espécie de país do Norte de África aqui ao pé, que sempre sai mais em conta e até já há auto-estrada.
Por isso não surpreende que a televisão, epicentro da difusão de massas, sediada em Lisboa, emitida de Lisboa, e sobretudo para Lisboa (excepto uns incêndios e umas desgraças lá na terra para entreter a malta na silly season), seja o veículo por excelência da pronúncia entre o posh e o kitsch com que seremos, slowly but surely, colonizados.
Imagine o escândalo que seria ter um pivot a abrir o telejornal (da TVI...?) com a autêntica pronúncia Portuense. Já imaginou a onde de indignação?»

(Vasco P.)

Correio dos leitores: Fronteira


«Envio-lhe duas fotografias que recebi há bem pouco tempo e que ilustram bem a razão pela qual, e não independentemente do lugar onde, da forma e do conteúdo, há decisões de estado que esta geração tem que tomar com coragem e determinação, e falo óbviamente do Novo Aeroporto e do TGV, para que aqueles que nos seguirem não voltarem a tirar fotografias iguais a estas e por maioria de razão a insultarem-nos a memória que então já seremos.»
CB

Candidato anti-regime

«Cavaco e Soares são "candidatos do regime -- diz [A. J.] Jardim». Por que é que ele não se candidata? Seria uma excelente ocasião para testar o seu apoio...

Lugares de encanto

Ilha Graciosa, Açores, 2005

Dois pesos, duas medidas

É louvável a preocupação com os custos do metro do Porto, financiado essencialmente pelo orçamento do Estado. Mas por que é que não existe idêntico zelo em relação ao metro de Lisboa, cujo défice de exploração e endividamento atingem números preocupantes?

terça-feira, 2 de agosto de 2005

Por que se espera para liberalizar o estabelecimento de farmácias?

«Farmácias à venda por milhões de euros». (Via Blasfémias).

Lugares de encanto

Ilha Graciosa, Açores, 2005.

Contar

Nas últimas semanas, os meus artigos no Público suscitaram réplicas mais ou menos pertinentes de José Manuel Fernandes (sobre a autodisciplina jornalística), de Miguel Sousa Tavares (sobre os privilégios de Lisboa) e de Mário Pinto (sobre a escola pública). Nada melhor para um colunista do que a controvérsia que as suas opiniões suscitam. É sinal de que elas contam.

Resposta a Mário Pinto

O artigo de Mário Pinto, ontem no Público -- o segundo artigo que me dedica a propósito do meu artigo sobre a escola pública há umas semanas (não sei sobre que escreveria Mário Pinto se não fosse para entrar em polémica comigo!...) -- suscita algumas breves notas:
1. Para desqualificar a discussão, ele começa por me acusar de "parti pris" contra a Igreja Católica. Parafraseando-o, debalde o faz (ele escreve "de balde"...). Por mais que a Igreja Católica justifique preconceitos, eu não tenho nenhum. Limito-me a combater as tentativas da Igreja e dos seus representantes, como MP, para parasitar o Estado ou manter ou conquistar privilégios públicos ilegítimos.
2. Eu sei bem que MP é jurista. Mas nestas questões ele é acima de tudo um interessado, que quando muito é advogado em causa própria.
3. Não existe nenhum "monopólio da escola pública", como MP insiste em proclamar, contra toda a evidência. A prova são as muitas escolas católicas, incluindo a Universidade Católica.
4. Em matéria de ensino o Estado não concorre com as entidades privadas. O ensino não é uma actividade comercial sujeita ao mercado. O Estado limita-se a cumprir obrigações constitucionais. Falar em "concorrência desleal" é pelo menos despropositado.
5. A Constituição diz o que diz e não o que MP queria que ela dissesse.