segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Défice

«Portugal pode passar limite de 3% para o défice» -- declara Durão Barroso.
Eu penso que, a não ser que a situação económica se agrave dramaticamente, o Governo não deve aproveitar essa liberalidade da Comissão, devendo observar o limite dos 3%. O pouco que se ganharia em maior margem financeira para combater a crise não compensaria os danos decorrentes do agravamento da já elevada dívida pública e da perda simbólica da autoridade política conseguida na disciplina das finanças públicas.
Uma coisa é aproveitar a folga conseguida desde 2005 na redução do défice orçamental abaixo dos 3%, outra coisa é voltar a deixar disparar o défice. Depois de ter feito da disciplina financeira uma prioridade política e um motivo de orgulho, o Governo não pode acabar o seu mandato com um regresso ao défice excessivo.

Revés

Não vejo como é que a extrema-esquerda parlamentar pode festejar como grande vitória a a decisão do Presidente da República de suscitar a fiscalização preventiva da constitucionalidade do Código Trabalho, porquanto das numerosas normas que o PCP e o BE consideraram inconstitucionais Cavaco Silva só encontrou dúvidas sérias em relação a uma delas (a relativa à ampliação da duração do período experimental).
Todavia, a iniciativa presidencial constitui um revés para o PS, pois ela atrasará a entrada em vigor do Código. E o desaire será ainda maior, se o Tribunal Constitucional considerar a norma efectivamente inconstitucional (o que, aliás, não é improvável), obrigando à correcção da referida norma.

sábado, 13 de dezembro de 2008

Resposta à crise

Após o sucesso da cimeira europeia de ontem, o Governo anunciou para hoje mesmo a aprovação de um plano integrado de resposta à crise económica. Depois de assegurar a estabilidade do sistema financeiro, importa agora atacar os factores da crise económica (ou seja, a queda no investimento) e as suas principais consequências (ou seja, o desemprego).
Na falta de investimento privado, a resposta é a dinamização e antecipação de projectos públicos e as parcerias público-privadas, sobretudo em investimentos de mão-de-obra intensiva e de efeito multiplicador (nomeadamente as obras públicas). A resposta à inevitável subida do desemprego é o reforço dos programas de formação profissional e aumento dos apoios públicos às pessoas socialmente mais vulneráveis.
Além do decréscimo das receitas públicas, pela diminuição da cobrança fiscal, a crise traz consigo o aumento da despesa pública, pelo aumento do investimento público e das despesas sociais. Mas a consequente subida do défice orçamental não pode secundarizar a importância da disciplina orçamental. O País não pode permitir-se um regresso ao ciclo infernal dos défices excessivos e do aumento incontrolado do endividamento público!

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

E todavia avança

Apesar das concessões feitas no "dossier clima", a última cimeira da presidência francesa da UE não defraudou as expectativas, com a aprovação dos três decisivos projectos em agenda, nomeadamente a questão do novo referendo irlandês sobre o Tratado de Lisboa, o programa energético "3x20%" e o plano de recuperação económica.
Termina assim em grande a presidência francesa, que também é um triunfo pessoal do presidente Sarkozy. Apesar do impasse institucional e de todas as dificuldades presentes, a UE "dá conta do recado". Como disse Sarkozy na conferência de imprensa, é necessário ter ambições fortes.

Questão encerrada

O Governo deu por finalmente encerrada a questão da avaliação de professores. Já não era sem tempo, sendo evidente desde o início que os sindicatos não queriam avaliação nenhuma, estando de má-fé desde que assinaram o "memorando de entendimento" na Primavera passada com a reserva mental de o não respeitarem (a sua proposta de auto-avaliação seria ridícula e considerada não séria em qualquer parte do mundo).
O Governo deve aprovar imediatamente as medidas de simplificação já anunciadas pelo ministério da Educação e avançar com o processo com toda a determinação e sem mais complacência com os opositores. O direito à avaliação dos professores que a desejam não pode continuar refém dos que não querem ser avaliados.

Professores

Além de não quererem avaliação nenhuma, os sindicatos de professores também não querem a estruturação da carreira em dois níveis profissionais, como estabelece o novo estatuto da carreira docente, que eles querem ver revogado.
Mas eu penso que até devia haver mais de dois níveis (como sucede em quase todas as carreiras profissionais, incluindo a do ensino superior), e que o acesso ao nível superior deveria ser feito por "exame de agregação", com provas públicas. A selecção pelo mérito é o único incentivo eficaz para melhorar as competências e o desempenho, sem o que é ilusório esperar melhorias significativas da escola pública.
Nada pior para uma organização do que as "carreiras planas", onde toda a gente pode chegar ao topo da escala remuneratória, sem nenhuma selecção em função da competência, do mérito e do empenho profissional.

Uma aposta crucial

A UE acerta quando se propõe liderar a luta contra o aquecimento global através de uma "economia de baixo carbono". Por isso, é crucial o plano dos "três 20%", que se discute na cimeira europeia de Bruxelas (menos 20% de emissões de CO2, pelo menos 20% de energias renováveis, 20% de ganhos de eficiência energética no horizonte de 2020).
Mas o sucesso deste meritório plano perante a opinião pública depende de duas coisas essenciais, em especial numa época de crise económica: (i) que a aposta numa economia de baixo carbono não é um custo mas sim um investimento, capaz de gerar crescimento e emprego no futuro; (ii) que a UE fará desta questão um ponto essencial da sua estratégia política, pressionando um acordo à escala mundial (incluindo os Estados Unidos, a China e a Índia), de modo a estabelecer objectivos e esforços comuns na luta pela sustentabilidade do planeta.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

PSD-MFL e Guantanamo: ó pra ela...

Diz a LUSA que "a líder do PSD, Manuela Ferreira Leite, lamentou hoje que o Governo não tenha consultado os partidos da oposição sobre o acolhimento de prisioneiros de Guantanamo, afirmando que em política externa é desejável "um consenso entre governo e oposições".
Alguém fará o favor de recordar à líder do PSD que o tal consenso em matéria de política externa entre governo e oposições foi ostensivamente mandado às urtigas pelo Executivo que a Dra. Manuela Ferreira Leite integrou e que o Dr. Durão Barroso chefiou, quando decidiu apoiar a invasão do Iraque, contra as oposições e a esmagadora maioria do povo português?
Alguém fará o favor de fazer notar à líder do PSD que o tal consensozinho em matéria de política externa foi mandado às urtigas pelo Governo que ela integrou, e que o Dr. Durão Barroso chefiou, quando decidiu dar luz verde à passagem e aterragem em Portugal de aviões fretados pela CIA e de aviões militares americanos carregadinhos de prisioneiros, destinados a Guantanamo e às prisões secretas para onde o Presidente Bush decidiu "deslocalizar" a tortura? Em 2003 e 2004 eu mesma exerci o cargo de Secretária para as Relações Internacionais do PS e garanto que nunca, mas nunca, durante esses anos, o Governo Durão Barroso notificou sequer o maior partido da oposição dos servicinhos que disponibilizava à Administração Bush.

Portugal poderá receber presos de Guantanamo

Abaixo transcrevo a tradução de uma comunicação que esta manhã dirigi a todos os Membros do Parlamento Europeu:

«Caros Colegas,
Informo que o Ministro dos Negócios Estrangeiros português, Luís Amado, comunicou ontem à imprensa ter enviado uma carta a Javier Solana e a todos os ministros dos Negócios Estrangeiros da União Europeia, comunicando-lhes que Portugal se disponibiliza a receber prisioneiros de Guantánamo, no contexto de um esforço da UE para ajudar a Administração Obama a fechar os campos de detenção.
Portugal é o primeiro Estado Membro da UE a tomar esta iniciativa e espera que outros países europeus sigam o seu exemplo
.
Segundo a imprensa portuguesa, a actual Administração dos EUA pediu recentemente aos países europeus que recebessem alguns dos prisioneiros de Guantánamo, pedido encaminhado através de Gilles de Kerchove, o Coordenador contra o Terrorismo da UE. Anteriores pedidos no mesmo sentido tinham antes sido dirigidos a Estados Membros individualmente, dizendo respeito a prisioneiros já ilibados de suspeitas, mas que os EUA não podiam repatriar para os respectivos países de origem.
Espero que apreciem o alcance desta iniciativa por parte de Portugal e que instem os vossos governos a tomarem passos semelhantes, a fim de encerrar este capítulo vergonhoso das relações transatlânticas e de começar a assumir as responsabilidades europeias pela cooperação estendida à Administração americana cessante no quadro do chamado "programa das rendições extraordinárias".

Cordiais cumprimentos,
Ana Gomes, MPE»

Debate sobre Guantánamo adiado no PE

Já estão disponíveis em português na Aba da Causa as duas perguntas orais a pedir debate no plenário do Parlamento Europeu, apresentadas em nome dos grupos políticos ALDE (Liberais), GUE (Esquerda) e Verdes, assim como por mim e outros/as eurodeputados/as socialistas.
A primeira pergunta foi endereçada à Comissão Europeia e coloca questões ligadas aos últimos desenvolvimentos na Polónia, em Espanha e Portugal, sobre o transporte e detenção ilegais de prisioneiros pela CIA.
A segunda questão, enviada ao Conselho Europeu, é sobre o acolhimento pelos Estados Membros de prisioneiros de Guantánamo ilibados de suspeitas pelas Comissões Militares americanas e que os EUA querem libertar, mas não podem retornar aos países de origem por correrem o risco de serem perseguidos ou torturados.
A Conferência dos Presidentes do PE reuniu hoje e decidiu não incluir o debate na agenda da próxima sessão plenária do Parlamento, em Estrasburgo. Poderá ficar para Fevereiro.
Claudio Fava (PSE), relator da ex-Comissão Temporária do Parlamento Europeu sobre os voos da CIA e Sarah Ludford (ALDE), vice-presidente da mesma Comissão, já deploraram publicamente esta decisão.

Ali Alatas

A noticia chega-me a meio da noite, de Dili: morreu Ali Alatas.

Pensem o que pensem: procurou compensar o mal feito. Foi ele que fez a Indonésia e os indonésios "dar a volta" relativamente à "perda" de Timor.

Tinha um apurado sentido da História: admirava Portugal e a herança portuguesa no seu país.

A Indonésia presta tributo a um extraordinário diplomata. E eu também a um Amigo.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

A ASAE OGMizou-se?

Fiquei estupefacta e preocupada ao ler este comunicado de imprensa da Plataforma Transgénicos Fora do Prato.
A ser verdade o que aqui é referido, temos uma raposa a tomar conta do galinheiro...

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Por um Mundo sem Armas Nucleares




















Há um ano dei a ideia de se organizar esta conferência ao PSE, acreditando que a mudança de Presidente nos EUA abriria novas oportunidades no domínio do desarmamento e da não-proliferação nucleares e justificaria um esforço de articulação entre a UE e os EUA.
Entretanto, a eleição de Barack Obama - que durante a campanha sustentou explicitamente a vontade de trabalhar para um mundo sem armas nucleares - confirma que, da periferia dos debates estratégicos, o desarmamento nuclear passou agora para o mainstream.
Este debate organizado hoje, em Bruxelas, pelo Partido Socialista Europeu demonstrou que as velhas doutrinas nucleares da NATO - elaboradas no contexto da Guerra Fria - são hoje obsoletas face à natureza assimétrica e atomizada das principais ameaças do século XXI.
Que contraste entre o representante da NATO, Guy Roberts, declarando fé inabalável na capacidade das armas nucleares de proteger os bons contra os maus, e Ellen Tauscher, Congressista Democrata americana, que enunciou as medidas a ser gizadas pela equipa de Obama para o reforço da AIEA e o fortalecimento do Tratado de Não-proliferação Nuclear e da restante arquitectura jurídica internacional nesta área!
Como observou o perito americano Joe Cirincione: "Há dois anos a eleição de Obama parecia impossível. Da mesma maneira, um mundo liberto de armas nucleares já não é só utopia."

Gostaria de ter escrito isto

«Sra ministra, importa-se de esclarecer?»
Não foi por causa disto que o ministro da Saúde mudou, pois não!? (Ou foi?)

30 anos

Três décadas demorou a integração dos trabalhadores da banca no sistema geral de segurança social.
Quantas décadas mais serão necessárias para integrar os sectores que ainda continuam de fora?!

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

"Falta de motivação"

«PSD: Marco António Costa denuncia desmotivação no grupo parlamentar».
Mas como é que pode haver motivação no grupo parlamentar de um partido desesperançado, com uma liderança errática, que, entre outras coisas, alinha com a esquerda antiliberal no boicote a uma reforma essencial, como a avaliação do desempenho dos professores, que um partido de vocação governamental, como o PSD, não poderia deixar de apoiar, se o sentido de responsabilidade política não cedesse ao mais pedestre oportunismo eleitoralista?!

Prioridade ao investimento público (2)

O plano de recuperação económica anunciado por Barack Obama é acima de tudo um vasto programa de obras públicas (a começar por auto-estradas...).
Em Portugal, uma direita arcaica apoiada na teologia neoliberal continua a diabolizar o programa de obras públicas, em plena crise. Só pode ser para deixar que ela se agrave ainda mais...

Prioridade ao investimento público

Neste artigo, Paul Krugman, o Nobel da economia deste ano, explica por que é que o investimento público, designadamente em infra-estruturas, é essencial neste período de recessão.
A presidente do PSD e os seus economistas ganhariam em lê-lo...

Notícias da crise

Na Espanha há quem preveja que o desemprego possa chegar aos 17% no final do próximo ano.
É por isso que a prioridade da política de combate à crise tem de passar pela manutenção do emprego, a começar pelo investimento público.

sábado, 6 de dezembro de 2008

Responsabilidade

Penso que a líder do PSD fez bem em chamar à responsabilidade o grupo parlamentar por causa das ausência dos deputados numa votação que poderia ter colocado o Governo em cheque. Mas se o mesmo tivesse sucedido com deputados do PS, e Sócrates tivesse tomado idêntica posição, que coro público não se teria feito contra a "governamentalização do parlamento" e contra o "atentado à autonomia do grupo parlamentar"?!

"As contas são fáceis de fazer"

Tal como outros comentadores, José Manuel Fernandes, hoje no Público, deduz que, se todos os deputados da oposição estivessem presentes ontem à votação da recomendação sobre a suspensão da avaliação de professores, ela teria sido aprovada. Mas isso supõe que os deputados do PS dissidentes teriam votado ao lado da oposição mesmo se o PS estivesse em risco de ser derrotado. Quem conhece o funcionamento dos partidos e da AR sabe, porém, que isso não pode ser dado como adquirido.
[Corrigido]
Aditamento
Em todo o caso, sem desvalorizar a derrota política que o PS sofreria, importa notar que, ao contrário do que parecem supor alguns comentadores, só estava em causa uma recomendação política, que não vinculava o Governo.
Aditamento 2
Como era de esperar, também havia dissidentes do outro lado: «Segundo apurou o CM, alguns deputados [do PSD] não concordavam com o sentido de voto e faltaram por esse motivo.»

Confiança

Face às últimas notícias (e o mais que está para vir...) sobre os esconsos negócios e as equívocas ligações financeiras de Dias Loureiro, o Presidente da República mantém a confiança pessoal e política no seu conselheiro institucional (que tão precipitadamente avalizou em público)?
Para além das amizades e das fidelidades pessoais, há a dignidade das instituições...

PSD-MFL

Estonteante, a luxúria canibalesca.
Nem mesmo o PS na oposição, nos seus piores dias.
(Democracia, sofre!)

O Zé da CE

De apoio em apoio, até à retirada do tapete final!

"Obama must deliver" (2)

Encerrar Guantánamo e mandar investigar os casos de tortura.

Apoios precários

«Louçã admite apoiar candidatura de Helena Roseta à Câmara de Lisboa».
E depois quantos meses demoraria a retirar-lhe o tapete, como sucedeu a Sá Fernandes?!

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

O BE e o Zé

O Bloco de Esquerda colou-se a José Sá Fernandes.
Não lhe passava pela cabeça que ele tivesse a veleidade de espingardar como bem entendesse. E sobretudo de espingardar pelo que entende serem os interesses de Lisboa, concertado com o Presidente da Câmara socialista que os lisboetas elegeram.
Tenho pena do BE.
Não é por padecer de maleita sectarista, especialmente virulenta face ao que cheire a PS.
É pela ingenuidade de pensar que poderia controlar o Zé.

Os professores e o ME

De recuo em recuo, até à avaliação final!

O BPN e o Estado

Não é só um caso de polícia.
São muitos e tentaculares.
As revelações da imprensa dos últimos dias, incluindo as do "Público" de hoje sobre as ligações de Dias Loureiro a um traficante de armas e a empresas com rasto no narco-tráfico, são de alarmar qualquer um.
Mas aparentemente não alarmaram ainda o amigo de Dias Loureiro, Professor Cavaco Silva, que veio até entretanto afiançar publicamente não ter elementos para duvidar do personagem que nomeou Conselheiro deEstado.
É caso para perguntar - com amigos destes, para que precisa o Presidente de inimigos?
E ainda - com um Conselheiro desta craveira, por onde parará o Estado?

BPPices

Não percebo.
Não percebo mesmo porque corre o Estado a salvar o BPP - o fundo de especulação dos ricos. Ainda por cima, ricamente rendidos a um rendeiro de "suxexo"...