domingo, 6 de novembro de 2011

Eleições na Nicarágua 6

Ciudad Sandino, colégio Costa Rica. 11 da manhã. Nervosismo nos responsáveis ao ver-nos chegar. Uma "fiscale" do PLI não quer responder à minha pergunta sobre quando recebeu a credencial... Curioso.







Eleições na Nicarágua 5

Ciudad Sandino, arredores de Manágua





Colégio Bella Cruz, 11 mesas de voto. Arejadas, bem organizadas. Tudo a funcionar.
Talvez demasiado bem: um jovem vem soprar me que os fiscales sao todos da Frente Sandinista, embora exibam cartas de identificação dos outros partidos.
Meto conversa com vários fiscales: estão todos pouco a vontade, curiosamente. Pergunto a uma do PLI quando recebeu a credencial- ontem, na sede da Frente!!!
A questão não é secundaria: o que vai fazer fé para a agregação dos votos sao as actas de cada mesa eleitoral, de que os fiscales ficam com cópia...





Eleições na Nicarágua 4







Quando saímos da escola San Sebastian, a fila engrossava.




Eleições na Nicarágua 3

Na mesa de voto 10.11 na escola publica primaria de San Sebastian, as 6.00 h da manhã, constitui-se a mesa, cantando - se o hino nacional. Depois a presidente da mesa diz uma oração.
O processo foi lento e complicado. Estavam "fiscales" das 5 alianças partidárias que apresentam candidatos a presidência da Republica. Depois de votarem todos os membros da mesa e fiscales, foi a vez dos policias. O primeiro cidadão comum só começou a votar as 7.45. Alejandro, o nosso motorista, que se pôs na fila as 5.45 h só votou às 8.15 h. Mas já tudo seguia a bom ritmo.





Eleições na Nicarágua 2

Seguimos? E mudando para melhor?


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Eleições na Nicarágua 1







Manágua- Saída às 5.30 da manhã da minha equipa de observação eleitoral.


Nicarágua







Manágua, antiga catedral arruinada pelo terramoto de 1972



sábado, 5 de novembro de 2011

UE: ajudar a Grécia ou ver-se grega


Papandreou recuou no referendo, mas já ganhou, independentemente do que venha a acontecer - "Não me interessa se não for re-eleito", sublinhou ele ontem diante do Parlamento grego.
Ganhou contra a direita hipócrita que o atacava por ter de aplicar as medidas draconianas que a UE, dominada pelo directório merkozy, impõe à Grécia.
Ganhou ele e ganhou a Grécia, porque da direita sem credibilidade que enterrou o país na espiral de fraude, corrupção e endividamento que levou ao programa de austeridade troikista, só há a esperar o pior, quer na capacidade de negociação, quer na aplicação de quaisquer políticas.
Mas co-responsabilizar politicamente essa direita na tragédia da recuperação nacional era, é, crucial: Papandreou tem agora condições para o conseguir, fique ele próprio, ou não, num governo de salvação nacional que deverá procurar formar. Ela, a direita, é que não vai mais poder fingir que a amarga e dura receita não é nada... com ela.
A UE também podia vir a ganhar, se alguns dos seus membros soubessem ao menos tirar lições deste dramático e arriscado episódio:
1. - da desmistificação do G20, mais uma vez evidenciando não passar de fórum para conversa informal e inconsequente: nem uma tão premente tensão, pondo em risco a economia mundial e as economias de cada um, focalizou aquel vintena de governantes nas reformas de fundo que a regulação global exige (patético o esforço de "spinning" a que se entregam agora alguns, em especial o tosquiado anfitrião Sarkozy);
2 - da demonstração de que estamos todos, verdadeiramente, no mesmo barco na zona euro: os juros a disparar e as acções a descer em todo o mundo por causa da ameaça de referendo na Grécia não abalaram só os abaláveis do costume ( os PIIGS), alarmaram profundamente Merkel e Sarkozy, mostrando como são inadequadas e incontroláveis as suas receitas punitivas, podendo voltar o feitiço contra o feiticeiro (o esticar da corda para Paris não pressagia nada de bom para Berlim...)
3 - da evidência de que a crise não é sobre a Grécia, ou sobre Portugal ou a Irlanda, mas sobre a governação política e económica na UE e os fundamentos da sustentabilidade do Euro, que continuam por assegurar. O torniquete em torno da Itália, que até a Sra. Lagarde veio ontem ajudar a apertar, aí está a metê-lo pelos olhos dentro...
4 - a confirmação do deprimente, contraproducente e ineficaz passo de ir pedir aos chineses que invistam no FEEF, quando os mais fortes e capazes membros e beneficiários do euro continuam a recusar entrar com o deles.
5 - a conclusão de que é preciso ajudar a Grécia a ajudar-se a si própria, com investimento para relançar o crescimento e o emprego e com racionalidade e justiça social na austeridade.
Enfim, era bom que a UE começasse a ajudar realmente a Grécia para deixar... de se ver grega.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

A Grécia e a UE: quanto pior, melhor


Estou em Miami, a caminho da Nicarágua (missão europeia de observação eleitoral), a ver Zbignew Brezynski comentar na MSNBC a crise sobre a crise que caiu no colo do G20, aparentemente resultante da decisão grega de avançar para um referendo.
Brezynski explica: a crise sobre a crise já lá estava, só foi destapada pela iniciativa grega. E a razão dela é a UE não ser uma verdadeira União federal, apenas uma confederação, sem políticas para sustentar solidariamente e devidamente o euro.
Brezynski comenta: a iniciativa do referendo grego tem o mérito de deixar a nu o problema e focar os lideres europeus no que importa. Porque se os gregos decidirem rejeitar o que a UE lhes impõe, sabendo que a alternativa é a bancarrota e a saída do euro, os outros europeus não ficarão aliviados: a saída da Grécia será a derrocada do euro e o esboroamento da UE. "The worst the better, then".


O grito do "Ipiiggrego"

"Chazinho de camomila a rodos, recomenda-se.
Tanto mais que, se caminharmos para a bancarrota, não iremos sozinhos - o Euro vai connosco. Antes tremerão os maninhos bancos espanhóis, alemães, franceses, britânicos e todos os que cá investiram, empurrando-nos para o endividamento fácil mas suicida. Talvez então Merkeles e seus amestrados no Conselho Europeu se assustem, acordem e façam o que há a fazer. Para salvar Portugal, mas sobretudo para salvar a Europa. No fundo, para se salvarem a si próprios e de si próprios."


Isto escrevi eu aqui no Causa Nossa nos idos de Abril de 2011, sobre a pressão brutal que a banca portuguesa e os parceiros europeus exerciam então sobre o governo de Sócrates para que recorresse ao resgate troikista.
Sócrates, ele mesmo amestrado, acabou por sucumbir. E a ter de entregar o poder à direita neo-liberal que se quer mais troikista do que a troika a fazer os portugueses que não tiveram culpa da crise pagar por ela e com palmatória. Com a ajuda do PCP e do BE, sublinho, pressurosas parteiras a ajudar ao parto da tripla Coelho/Relvas/Portas.
Recordo o que escrevi em Abril porque tudo se volta a aplicar agora, sete meses volvidos, neste turbulento inicio de Novembro.
Na primavera Portugal foi salvo da bancarrota "in extremis", pelo menos temporariamente, o euro lá foi continuando a mancar e os piigs a amargar as punitivas rações merkozys.
Mas agora a doença congénita do Euro chega a Itália, a Espanha, a Bélgica e até ao coração do Directório merkozy, a França! Os piigs estão a contaminar o curral e, não tarda, os bancos e a economia teutónica vāo sentir o contágio!!!
O PM Papandreou pensou melhor, vendo-se bem grego com as castigadoras raçōes "merkozys" servidas nas duas ultimas Cimeiras Europeias - a divida publica grega estará em 120% do PIB em 2020, apesar do "haircut" de 50% aplicado aos credores privados, o desemprego vai subir dos 20% (16,5 % oficialmente) a que já chega hoje, o PIB vai continuar a contrair-se alem dos 7,3 negativos a que hoje se reduz, exigiam-lhe mais cortes nas reformas dos pensionistas e despedimento de 150.000 funcionários públicos em troca de uma mão cheia de bolotas podres...
E, vai daí, sem mais nem ontem, decidiu assumir as suas responsabilidades face ao povo grego que já está draconianamente a pagar a crise e devolver-lhe a escolha, em vez de entregar, em eleições, o poder à direita sem vergonha que precipitara a crise e queria voltar a chafurdar nela. No fim de contas, o pacote de ajustamento europeu inclui gravíssimas alterações ou violações da Constituição, alem da efectiva e ostensiva transferência de soberania que a Troika permanente que lhe foi imposta comporta: nada de mais adequado para referendar pelo povo. Sendo que a escolha será dramática: ou isto ou sair do euro, nada menos.
Enfim, o piig helénico desistiu de se comportar como amestrado e convocou um referendo, sem sequer avisar ninguém. Abriu a caixa de Pandora! Que já estava entreaberta, pois a falência do Fundo MF Global, na véspera e alem atlântico, já deixava ver que a ultima Cimeira europeia parira mais uma ratazana...
O piig Papandreou assusta e abala assim os outros piigs, mai-los Merkozys que julgam ser donos e donas dos piigs e capazes de os amarrar ao empobrecimento forçado. Expõe lhes a estultícia, o embuste, a incompetência, a tacanhez.
E mais, eles vão rapidamente perceber o que hoje ainda se obstinam em não ver: que a possível bancarrota da Grécia arrasta a deles, a dos Merkozys, que se candidatam a ficar na História por afundarem o euro e o projecto europeu.
Pode não parecer, mas um inestimável serviço pode estar, afinal, a ser prestado à Europa pelo corajoso piig ateniense, por meio do iconoclasta grito do Ipiiggrego que anuncia o referendo.






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Os credores dependem dos devedores

Explica Martin Wolf no FT de hoje.
Explicações que a dona Merkel e sus conselheiros económicos teutónicos precisam urgentemente de receber.
Inclusive para desistirem dessa perigosa ideia de por a Europa a pedinchar aos chineses para reforçar o FEEF:
"A eurozona parece ter decidido que precisa da ajuda chinesa. Por que é que os seus membros assim pensam é incompreensível. Há dinheiro disponível na zona euro. O que falta é a vontade de aceitar os riscos de perda. Mas, como o economista chinês Yu Yongding escreveu no FT, a China não assumirá esse risco".
(...)
Seria de bom senso admitir que tem havido demasiado endividamento pelos gastadores porque houve muito emprestanço pelos supostamente prudentes. Uma vez que se entenda que ambos erraram, ambos devem ajustar-se. Impor um ajustamento unilateral a grandes endividados não funcionará. Como a Grécia parece estar a demonstrá-lo, os devedores podem infligir muito dano a toda a gente - como os EUA descobriram na Grande Depressão.
(...)
Os credores não vendem a Marte. Estamos todos no mesmo planeta. Ponham se de acordo em corrigir os erros, já".

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Apear os ídolos da alta finança

Não, não é radicalismo meu a invectivar nada.
É o que propõe num artigo do Financial Times de hoje o insuspeito Arcebispo de Cantuária.
Que endossa o apoio do Vaticano à proposta de um imposto sobre transações financeiras.
Para investirmos na economia real em vez de continuarmos a estimular a especulação gananciosa da finança que amestra políticos e governantes para gerir a economia "financeirizada". Que destrói riqueza e emprego e nos precipitou nesta crise de que não vemos ainda o fim.


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quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Diferença

«OE: BE apela ao PS para acabar com hesitações e votar contra».
A diferença entre o Bloco de Esquerda e o PS é que o primeiro vota sempre contra o orçamento, mesmo antes de conhecer a versão final, enquanto o segundo não decide o voto antes de saber se há margem de negociação e de melhoria do orçamento.
É uma questão de responsabilidade e de credibilidade política. O BE continua a ser um partido de protesto, sempre "do contra". O PS é um partido de governo, mesmo quando na oposição.

Até dói

«Governo terá dificuldade em vender a Águas de Portugal».
Depende do preço! Como o Governo já anunciou que precisa de vender, qualquer preço serve. Pensar que uma das "jóias da coroa" do sector empresarial do Estado pode ser vendido "ao preço da uva mijona" até dói!

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Ensandeceram

A decisão do Governo grego de submeter a referendo o plano de ajuda à Grécia decidido na última cimeira do Conselho Europeu não é somente um desafio arriscado quanto ao resultado (apesar de os gregos não terem alternativa). Vem também relançar a insegurança na zona euro quanto à capacidade de sair da crise, até à realização do referendo, para mais ainda sem data marcada.Depois queixem-se do "nervosismo" dos mercados financeiros...

Avanço

A entrada da Palestina na Unesco, apesar da oposição encarniçada de Israel e dos Estados Unidos (vegonha para Obama!), é um grande passo em frente no reconhecimento da Palestina como Estado.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

E faz bem

"Governo quer acabar com tolerância de ponto na Função Pública".
A "tolerância de ponto" tem sido um meio de os governos tentarem ganhar as simpatias dos funcionários públicos, aumentando discricionariamente as suas férias, já de si maiores do que as do sector privado. Se os funcionários públicos não querem ser estigmatizados com penalizações especiais (como o corte do 13° e do 14° mês previsto no orçamento do próximo ano) devem aceitar perder os privilégios indevidos de que gozam face aos trabalhadores do sector privado, a começar pelos que nem sequer têm base legal.

"Passo" diz Passos, a ver a finança passar...

Para amaciar banqueiros resistentes a que lhes seja imposta a recapitalização dos bancos por terem de levar cortes nos activos à conta da reestruturação da dívida grega, o Primeiro Ministro disse que não tinham de se preocupar pois o Estado não os quereria nacionalizar e se limitaria a ser "accionista silencioso" e "passivo".
Ora os nossos bancos, ou melhor os banqueiros, financeiros e gestores bancários ou são tolinhos (e não são), ou foram agentes conscientes da engenharia defraudante para o Estado que sustentou o despesismo nas PPPs, as empreitadas de obras, bens e serviços a preços inflaccionados, com falsas contrapartidas ou subornos, como a dos submarinos e de muitos outras aquisições publicas, desde equipamento para a Defesa ao fornecimento de consultadorias diversas. Além da conivência, pelo menos pelo silêncio, dos casos de polícia que foram, e são, o BPN e o BPP. Além de terem sido promotores, patrocinadores e instigadores da espiral de endividamento que agora dramaticamente estrangula as famílias portuguesas. E além de serem veículos centrais de esquemas de cartelização e de desvio de recursos financeiros gerados em Portugal para "off shores" e outras paragens ajudando empresas e indivíduos a fugirem ao fisco ou a arrecadarem proveitos de criminalidade diversa.
Isto é, se estamos na crise em que estamos, os bancos têm indesmentíveis responsabilidades. Não só os americanos e os europeus: os portugueses também.
Por isso é escandaloso que o governo entregue aos bancos e aos accionistas dos bancos dinheiro que é de todos nós, como são os 12 mil milhões que estão reservados para a recapitalizacão da banca portuguesa no empréstimo de 78 mil milhões de euros que o Estado contraiu junto da Troika BCE/CE/FMI. E que o faça sem cuidar da utilização que lhes será dada e sem garantir que banqueiros, bancários e quejandos passam a ser devidamente regulados, fiscalizados e disciplinados, designadamente para cumprirem o papel para que os bancos estão licenciados, que deve ser o de financiar a economia real e não o de promover a especulação.
Depois dos cerca de 5 mil milhões de euros já enterrados pelo governo de Sócrates no BPN e no BPP, Passos Coelho prepara-se para passar agora à banca mais 12 mil milhões de euros que todos nós, os contribuintes portugueses, pagaremos com língua de palmo.
É por isso intolerável que o governo diga que se limitará a ser "accionista silencioso e passivo", continuando a deixar os bancos enterrar-se - e enterrar-nos - em comportamentos económica e moralmente questionáveis, quando não ilegais, desde a distribuição de bónus e dividendos desproporcionados à cooperação encobridora com a criminalidade organizada que drena a riqueza produzida em Portugal.
É intolerável que um Primeiro Ministro que está a impor tão drásticos, injustos e iníquos sacrifícios aos portugueses, que não têm culpa da crise, tenha a desfaçatez de mandar a bancos e banqueiros - co-responsáveis pela economia de casino que nos pôs à beira da bancarrota - uma mensagem de aviltante submissão e de grotesca demissão.


Cimeira europeia: estamos na "merkozy"

No Conselho Superior da Antena Um de ontem (http://www0.rtp.pt/noticias/?t=Ana-Gomes-afirma-que-decisao-anunciada-da-cimeira-desta-quarta-feira-vai-ser-toxica.rtp&headline=46&visual=9&article=492225&tm=7) comentei os resultados das eleições na Tunísia; disse-me escandalizada com a demissão de Passos Coelho de controlar/regular a nossa banca apesar de lá enterrar o nosso dinheiro; e antecipei a "merkozy" que a Cimeira Europeia de hoje poderá acabar por nos deixar.
Oxalá esteja enganada em tudo de sombrio que antecipo.



terça-feira, 25 de outubro de 2011

Cortesia

«"Só vamos sair desta situação empobrecendo", diz Passos».O problema é que, enquanto quase todos empobrecem, uns tantos há que continuam a enriquecer, primeiro por que mal são afectados pela crise, segundo por que conseguem furtar-se a contribuir para os sacrifícios colectivos. Cortesia de Governo amigo...

Demagogia galopante

Uns após outros os membros do Governo vindos de fora de Lisboa vão renunciando ao subsídio justamente criado para compensar as despesas extra de alojamento.
Sem dificuldade se admite que os membros do actual Governo são suficientemente abastados para não necessitarem da importância em causa. Todavia, nem toda a gente é assim tão rica e todos devem poder aceitar funções governativas sem terem de suportar os encargos adicionais pela instalação em Lisboa. Trata-se de uma garantia da igualdade de acesso aos cargos políticos independentemente do lugar onde se vive. De outro modo, só quem é de Lisboa pode permitir-se ser governante (ou de deputado, etc.).
De cedência em cedência ainda havemos de ver os ministros aceitarem exercer funções sem remuneração. Os políticos que cedem à demagogia contra os políticos só alimentam essa mesma demagogia.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Sem ponta de pensamento

Depois de o actual Governo ter extinto os govenos civis, que eram a última expressão dos distritos, eis que a Ministra da Justiça, sem qualquer estudo ou justificação, anuncia a sua intenção de abandonar o plano de reordenamento judicial do anterior Governo, baseado nas comunidades intermunicipais (CIM), por uma nova organização judiciária, baseada... nos distritos!
Decididamente, este Governo é um perigo: não tem ponta de pensamentro sobre o território.

E por que não ?

«Reformados com pensões altas perdem direito ao passe social».
E por que é que tais pensões haviam de ter direito ao passe social? Por que é que uma pensão elevada havia de ter regalias (passe social, menos IRS, isenção de taxas moderadoras, etc.) que uma remuneração elevada não tem, aliás justamente?

Eleições na Tunisia 18




Notas finais (por ontem, porque já passa da meia noite do dia 23):

- A afluência às urnas foi altíssima, pacifica e ordeira em Tunis. E tudo indica que o mesmo se passou no resto do país. Os tunisinos e as tunisinas mostraram extraordinário civismo, querer a democracia e estar mais do que preparados para ela.

- Demonstraram também um grau de activismo que só pode ser prometedor para a aprendizagem democrática que se segue a quaisquer primeiras eleições genuínas. Mais de 13.000 observadores nacionais (e 700 internacionais) mobilizaram-se para assegurar o controle do processo eleitoral. A maioria dos observadores nacionais foram mulheres jovens. Os representantes dos partidos nas mesas de voto, em contrapartida, eram sobretudo homens.

- A fragmentação do espectro político que muitos previam não deverá afinal ocorrer. Há muito partido - ou aspirante a partido - que será varrido. A concentração de votos em 5 ou 6 partidos tornará muito mais geríveis administrativamente as próximas eleições. E politicamente vai com certeza gerar coligações, para governar ou fazer oposição. Tudo depende da largura da fatia eleitoral que couber aos islamistas do Ennahdha. E de os partidos seculares se aliarem com eles ou contra eles.

- As mulheres vão certamente estar muito melhor representadas na Assembleia Constituinte do que muitos previam: a concentração de votos nalguns partidos vai fazê-las entrar em força, graças à lei da paridade a 50/50. A Tunisia muçulmana vai assim dar um grande bigode aos bigodudos tacanhos do mundo inteiro, incluindo na secular UE.

- A via democrática vai entregar o poder a forcas anti-democráticas, amargurarão muitos, na Tunisia e por esse mundo fora. Não sei. Veremos. Está por demonstrar que os islamistas não joguem o jogo democrático. Mas se forem empurrados para fora do ringue da democracia - como há 36 anos alguns se propunham fazer aos comunistas em Portugal - então é que, de certeza, não jogam.
O mais inteligente - além de respeitador das regras democráticas- é não lhes dar pretextos. E antes dar lhes combate efectivo a toda e qualquer veleidade reaccionária que possam ensaiar.
O que supõe, para muitos defensores de valores liberais e seculares, esquecer os egos, forjar alianças e tirar os rabos dos sofás e os olhos dos computadores. Para descer para o meio do povo, lá onde os islamistas hoje, indubitavelmente, nadam como peixes na àgua.

domingo, 23 de outubro de 2011

Eleições na Tunisia 17


Azar dos Tavoras! Caímos numa mesa de voto que pelo andar da carruagem nem à meia noite estará despachada da contagem.
Primeiro andou tudo lentamente até se apurar a altíssima taxa de participação: em 894 eleitores inscritos, votaram 762. Ou seja 85,2%!!!
Depois ocorreu uma altercação entre jornalistas presentes, que queriam tirar imagens da abertura da urna. A barulheira foi intensa, amplificada pelas paredes altas da sala de aula. O presidente da Mesa estava cansado, proibiu imagens, valendo se do regulamento ( que lhe dava o poder de decidir) . Os representantes dos partidos políticos concordaram. Os jornalistas, tunisinos e estrangeiros saíram, lixados.
As portas fecharam, a sala acalmou, a abertura dos boletins de voto começou, a pisar ovos. Estão todos cansados. A representante do Polo Modernista (a quem eu soprara a sugestão ao ouvido) sugere que vão todos ajudar a mesa a abrir os setecentos e tal votos. E assim sucede, a menina com ar parisiense do Polo ao lado do rapaz do Ennahdha, que veste um polo com a inscrição FCBarcelona nas costas...
Chegamos finalmente a decifração dos votos, um a um. Estão 6 representantes partidários, 3 funcionários da Mesa de voto e 2 observadores internacionais carolas (o Presidente Toledo e eu) na sala. A noite ainda é uma criança...
O Ennahdha vai largamente a frente, seguido pelo Ettakatol, e com o CPR atrás. O resto parece ser... paisagem...



A fotografável mesa de voto ao lado, já com a contagem avançada, cerca das 22.30 h

Eleições na Tunisia 16

Rue de Marseille, centro de Tunis, escola primaria no 29, sala 3. Sao sete horas da tarde e há ainda 6 pessoas para votar. Em 894 eleitores inscritos nesta mesa, votaram mais de 750, dizem me os observadores nacionais que estiveram nesta mesa durante todo o dia.
Vai começar a contagem.



Eleições na Tunisia 15







Kabaria1, escola secundaria, mesas de votos para eleitores não registados. Dezenas de homens e mulheres fazem fila para votar. O sistema de saber por SMS onde votar funcionou muito bem, asseguram me varias mulheres que escolheram vir votar de tarde por calcularem que estaria menos gente. E já terem arrumado tudo em casa...





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Eleições na Tunisia 14

Kabaria 1. Bairro popular a Sul de Tunis.
Uma mesa de voto com 350 inscritos, dos quais mais de 200 já votaram as 16.30h.
Outra mesa, ainda com grossa fila à porta, com 884 eleitores registados, mais de 600 já tendo votado.



Um desiquilibrio na distribuição de eleitores por mesa de voto. Um padrão encontrado noutras zonas da capital. Uma ineficiência devida à inexperiência, a notar e a corrigir em futuras eleições. Nada de grave e que faça perder estribeiras aos pacientes votantes.



Felizmente que o clima é clemente nesta época do ano na Tunisia.


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Eleições na Tunisia 13

Bairro de Izdihar, Tunis. Um bairro de classe média pelos padrões tunisinos. Esperaram muito? Pergunto a duas mulheres, com ar de mãe e filha, que saiem da escola: "Esperámos 23 anos!" exclama a mais nova. A que parece mãe explica que vieram na hora do almoço para ser mais rápido, na fila só esperaram meia hora.
No pátio da escola, as filas serpenteiam.
Na primeira mesa de voto em que entramos, a urna transparente está quase cheia: às 15 horas já tinham votado mais de metade dos eleitores inscritos (500 em cerca de 900).
Como noutras mesas de voto, a linha dos observadores domésticos está bem representada. Os internacionais sao calorosamente acolhidos. Quando percebem que entre nós está o Presidente Toledo, um "frisson" agita a sala. Todos pedem para tirar fotografias com ele.


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Eleições na Tunisia 12

Vejo quase tantas mulheres como homens a votar em Tunis. Mas, aparentemente, as mulheres estão a votar menos que os homens, em percentagem, em todo o país.
Interessante é que as jovens estão a votar mais do que os jovens. Não admira: está muito mais em jogo para elas do que para eles, com a perspectiva de poder ter um partido islâmico a obter a maioria dos votos em eleições democráticas - embora se trate de um partido que se afirma moderado e respeitador dos direitos adquiridos pelas mulheres.
A Tunisia muçulmana dá um único e extraordinário exemplo ao mundo, ao impor nas suas primeiras eleições democráticas listas paritárias, 50/50, entre homens e mulheres.
Mas só 7% das listas de candidatos à Assembleia Constituinte (111 partidos politicos registados, 88 com listas apresentados, cerca de 1500 listas concorrendo em todo o país, incluindo as apresentadas por independentes) têm mulheres a encabeça-las.
O que pode significar que muito poucas mulheres sejam eleitas, afinal.


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