sábado, 2 de julho de 2016

Avisos...

Sim, ao singularizarem e atraírem o foco dos mercados financeiros sobre Portugal, os avisos de Schäuble e de Regling sobre os riscos que impendem sobre as finanças públicas nacionais geram em si mesmas "factos políticos" que criam nos mercados financeiros um "ruído" negativo para o país, pelo que deveriam ter sido mais cuidadas.
Mas as advertências só são realmente preocupantes porque são naturalmente associadas às projeções e previsões das instituições nacionais e internacionais - a última das quais do FMI -  que não são propriamente animadoras quanto a variáveis tão importantes como o crescimento do PIB, o investimento, as exportações e o emprego, ou o saldo orçamental e o nível da dívida pública. Fosse outro o quadro, e provavelmente nem os tais avisos existiriam nem eles justificariam a reação agastada que suscitaram, tão desproporcionada como eles.
Denunciar a suposta malevolência do mensageiro não faz desaparecer a má mensagem, se ela tiver fundamento. Importa é provar que não tem..,

E depois do Brexit


Lead da minha coluna desta semana no Diário Económico digital. Sobre as opções de relacionamento do Reino Unido com a UE depois do Brexit.

sexta-feira, 1 de julho de 2016

Na pior altura

Discordo desde o início da redução do tempo de trabalho nos serviços públicos e da redução do Iva nos restaurantes, desde logo, mas não só, pelo seu impacto orçamental.
Mas pôr em prática essas medidas numa altura em que já são evidentes as pressões negativas sobre o orçamento, não parece nem oportuno nem sensato.

segunda-feira, 27 de junho de 2016

A principal lição

A principal lição da magistratura presidencial de Ramalho Eanes, sobre cuja eleição passam hoje 40 anos, foi o lema da sua candidatura e da sua ação em Belém, ou seja, "um presidente para todos os portugueses".
É certo que era esse o entendimento da função presidencial que decorre da Constituição e que se impunha a um candidato saído das forças armadas. Mas a expressa adoção desse lema cortou à nascença as veleidades de apropriação partidária da eleição presidencial, copiando a noção francesa da "maioria presidencial" contraposta à maioria parlamentar. Tivesse essa tentativa vingado, a sorte do regime democrático entre nós poderia ter sido bem mais complicada, instável e conflitual do que foi ao longo destas quatro décadas.
Para além de ter presidido com prudência e equilíbrio à transição da revolução de 1974 para a ordem constitucional de 1976, devemos a Ramalho Eanes essa virtuosa formatação independente e apartidária do mandato presidencial, que abriu caminho à consolidação da democracia parlamentar em Portugal (e que nem o mal-avisado envolvimento na aventura do PRD no final do seu segundo mandato afetou).

Adenda
O discurso de Marcelo Rebelo de Sousa na homenagem a Ramalho Eanes, hoje na Fundação Calouste Gulbenkian, merece ser louvado, pelo conteúdo e pela eloquência.

União de conveniência

Para o bem e para o mal, a posição face à União Europeia - e o que lhe vem associado, em matéria de política económica, de disciplina orçamental e de política externa e de defesa - é entre nós o grande divisor da geografia partidária.
A posição dos partidos da protocoligação governamental face ao Brexit - com o PS a reiterar sem margem para dúvidas a sua fidelidade à UE, como lhe competia, e os partidos da extrema-esquerda a celebrarem a saída britânica e a defenderem expressa ou implicitamente igual solução para Portugal - vem lembrar aos esquecidos que a atual solução governativa é uma união de facto de conveniência, em que a extrema-esquerda parlamentar só tem um pé dentro e que só "engole" enquanto ela for pagante. Resta saber até quando pode durar uma aliança governamental baseada em tão notória inconsistência de fundamentos políticos e doutrinários.

Desimpasse

1. As eleições parlamentares espanholas ficaram marcadas pela derrota da aliança da extrema-esquerda Podemos/Esquerda Unida (pela qual o Bloco espanhol fagocitou o que restava do PCE), que desceu em relação às eleições de dezembro passado e perdeu a aposta em ultrapassar o PSOE.
Foi um enorme tiro pela culatra depois de o Podemos ter inviabilizado o Governo PSOE-Ciudadanos e ter provocado novas eleições, tanto mais que estas resultaram num reforço da votação do PP.

2. Tendo ficado de lado a hipótese com que a esquerda radical sonhava, de uma maioria de esquerda liderada pelo Podemos - que seria humilhante e intragável para o PSOE -, fica também fora da agenda a repetição de uma coligação PSOE-Ciudadanos, visto que ambos perderam posições em relação a há seis meses.
De acordo com as regras da democracia parlamentar, o PP deve ser chamado a formar governo, como partido mais votado, aliás com uma posição reforçada em relação às anteriores eleições. E o PSOE só poderia chumbar esse governo se pudesse formar uma maioria de governo alternativa, como sucedeu em Portugal, o que não é o caso em Espanha.
O mais provável, portanto, para superar o impasse governativo espanhol é um governo minoritário do PP, eventualmente em coligação com o Ciudadanos e algum partido autonomistaficando o PSOE a liderar a oposição.

sábado, 25 de junho de 2016

Governo da CGD

Este é o lead da minha coluna desta semana no Diário Económico digital. Sobre o novo sistema de governo empresarial da CGD.

Esperar para ver

O apuramento do défice orçamental do primeiro trimestre deste ano em 3,2% do PIB, dois pp abaixo do défice homólogo em 2015, deixou o Governo satisfeito. Oxalá tenha razão para isso!
Todavia, é de ter em conta que: (i) os números dizem respeito apenas ao primeiro trimestre, antes da entrada em vigor do orçamento para 2016; (ii) há indícios de abrandamento da retoma económica, o que pode afetar o crescimento das receitas públicas; (iii) uma das principais razões da descida do défice em relação ao ano anterior foi a abrupta queda do investimento público, o que não parece ser motivo de satisfação.
Em conclusão, creio que a meta de 2,2% para o saldo das contas públicas este ano (e de corte no défice estrutural) continua em dúvida e que só lá para Outubro é que se pode ter uma ideia mais clara sobre o assunto.

sexta-feira, 24 de junho de 2016

Dia triste para a UE

Como sucede por vezes nos referendos, a emoção levou a melhor sobre a razão.  A saída britânica não faz rejubilar somente as forças antieuropeias na extrema esquerda e na extrema direita, mas também outras paragens, como em Moscovo ou em Pequim, que beneficiam do enfraquecimento da UE
Agora é preciso cabeça fria em Bruxelas e demais capitais europeias e inteligência e determinação para retomar o caminho da União Europeia numa nova base, respondendo aos fatores que ajudaram ao desenlace britânico.
A integração europeia começou sem os britânicos. Nunca conseguiu fazer deles membros a 100%. Vai ter de prosseguir sem eles.

quinta-feira, 23 de junho de 2016

Against Brexit: "We have far more in common than which divides us!"



The threat of Brexit - I sincerely hope the British people do not let it materialise tomorrow - calls upon us to move forward in deepening European integration. We need to step up and fight against Europe's neo-liberal austerity that created insecurity by destroying jobs and aggravating inequalities, and to fight against Fortress Europe that cruelly closes borders to those who beg for protection. Isolationism, intolerance and exclusion will only feed radicalisation and escalation of terror in our societies and globally.

This referendum is far from being just about the UK in the EU and it is far from being just about the UK: it deeply affects Europe as a whole and will have repercussions worldwide. That is why I was in Norfalk this weekend, with my Labour MEP colleague Richard Howitt, to support the IN campaign: I believe that we need a more united, solidary and democratic Europe and for that we must have the UK’s contribution: a pro-European UK can be crucial to make the changes the EU so badly needs.

There are many British young people who do not conceive a future without the European Union. They went on Erasmus and volunteering programs abroad, they were not forced to go to war, they study and work with colleagues from different nationalities, they travel and feel first-hand the benefits of being part of a Union that brought peace to a Europe tormented by centuries of wars. The result of the referendum will depend, to a great extent, on these young people not staying at home today and showing in the polls a UK that does not give up on the EU, but instead pushes towards the reforms needed and helps making it stronger and more effective in the global regulation.

I am, on my own, very critical of the EU. Constructively critical: I strongly feel that the EU needs reforms in both its structure and policies, and push daily for more democracy, more transparency, more accountability, more coherence and more effectiveness.

It is important to recognise that, in several aspects, we are quite far from living up to our European project and values. We also need to acknowledge that the dissatisfaction and mistrust felt by many citizens will not come to an end tomorrow, whatever the result. We need to get rid of the neo-liberal deregulation policies which created unemployment, social exclusion, inequalities and injustices, and explain the political resentment and the feeling of insecurity felt today by large sectors of our societies. People who may be  instrumentalised ​​by xenophobic and intolerant populism and radicalism,  which are pushing many into violent extremism and even terrorism.

Disunity and distrust have been prevailing too often, because we failed in promoting solidarity and tolerance. Hatred and the extreme right propaganda have already made victims, as the brutal murder of MP Jo Cox tragically illustrates.

This referendum may be, above all, about the kind of society British people want to live in. Whatever the outcome, we need to use it as the decisive impulse for all of us, Europeans, to move ahead towards a more just society and a rules-based world we want to live in, in peace. For that we need to enforce the words Jo Cox was never afraid of using: “We have far more in common than which divides us”.


Ana Gomes, MEP

 

Contra o Brexit: fiquem e ajudem mudar a União!


A ameaça de Brexit - que eu espero que o povo britânico não deixe concretizar-se - convoca-nos para avançar no aprofundamento da integração europeia. Contra a Europa da austeridade neo-liberal que semeou insegurança ao destruir emprego e extremar desigualdades. Contra a Europa fortaleza que desumanamente fecha fronteiras a quem pede proteção. Isolacionismo, intolerância e exclusão só alimentam radicalização e conflito nas nossas sociedades e globalmente. 

O referendo de hoje está longe de ser apenas sobre a permanência do Reino Unido na União Europeia e, acima de tudo, de ser apenas sobre o Reino Unido: afecta toda a Europa e terá repercussões por todo o mundo. Por isso estive no passado fim-de-semana em Norfolk, a acompanhar o meu colega trabalhista Richard Howitt na campanha contra o "Brexit": acredito que o futuro da Europa  - uma Europa mais unida, mais solidária e mais democrática - precisa da contribuição do Reino Unido. E que um Reino Unido pró-europeu pode ser determinante para fazer na União Europeia as mudanças de que ela tanto precisa.

Muitos são os jovens britânicos que não concebem um futuro sem União Europeia. Fizeram Erasmus e voluntariado fora, não foram obrigados a partir para a guerra, estudam e trabalham com colegas de várias nacionalidades, viajam e sentem na pele as vantagens de fazer parte de uma União que trouxe a paz a uma Europa martirizada por séculos de guerras. O resultado do referendo dependerá, em grande medida, de estes jovens não ficarem hoje em casa e mostrarem nas urnas um Reino Unido que não abandona a União, antes deseja reformá-la, torná-la mais forte e eficaz na regulação global.

Sou a primeira a defender que a UE precisa de reforma na sua estrutura e nas suas políticas - e por isso sou construtivamente muito crítica e me bato diariamente por mais democracia, mais transparência, mais responsabilidade, mais coerência e mais eficácia. É importante reconhecer que a União se afastou perversamente do projecto e dos valores fundacionais em muitos aspectos. E que o descontentamento e a desconfiança que suscita hoje em muitos cidadãos não acabará amanhã, seja qual for o resultado na Grã-Bretanha. As políticas de desregulação neo-liberal criaram desemprego, exclusão, desigualdades e injustiças que explicam o ressentimento político e o sentimento de insegurança instalados em amplos sectores das nossas sociedades, contamináveis e instrumentalizáveis por discursos populistas xenófobos e intolerantes e por radicalismos que podem resvalar para o extremismo violento e até para o terrorismo. Deixámos instalar desunião e desconfiança, em vez de promovermos solidariedade e tolerância. E o ódio e a extrema direita fazem vítimas, como o brutal assassinato de Jo Cox tragicamente ilustra.

Este referendo será sobre a sociedade em que querem viver os britânicos. Importa fazer dele, qualquer que seja o resultado, impulso determinante do que queremos nós todos, europeus, sobre a sociedade e o mundo em que vamos viver. Importa fazer valer as palavras que Jo Cox não se amedrontava de usar: "Temos muito mais em comum do que aquilo que nos divide"!



Prevenção da radicalização

 "O Parlamento aprovou em Novembro um relatório sobre este tema, em que a par de confiança, cooperação, coordenação, partilha de informação entre forças de segurança, de inteligência e outras autoridades europeias, apontámos a urgência de medidas de prevenção da radicalização, nas prisões e nos ghettos, como Molenbeek, por essa Europa fora.

Mas em vez disso, acabámos com um PNR europeu - enganadoramente acenado aos cidadãos como bala mágica contra o terrorismo - esburacado quanto a voos charters e privados, ilustrando a inconsistência de políticas ditas securitárias que realmente não dão segurança nenhuma. E nem vou falar no financiamento do terrorismo que prossegue através dos nossos bancos e sistemas financeiros...

Acresce que continuamos a pagar o preço da falta de Europa e, portanto, de falta de coerência entre segurança interna e acção externa, com descoordenação, inacção e contradições face a conflitos na Síria, Iraque, Líbia, Turquia, Ucrânia e outros na nossa vizinhança.

A nossa segurança depende também de um combate ideológico e político dentro e fora das nossas fronteiras: mas não saberemos travá-lo se continuarmos a deixar espaço para que a extrema-direita fascista e nazi insufle os ventos da xenofobia e do ódio contra refugiados e migrantes. E se continuarmos em negação falando de "foreign fighters" quando são, na verdade, jovens europeus, nascidos e criados e empurrados para a pequena criminalidade e as prisões nos nossos Estados Membros, quem nos tem atacado, como atacam outros povos integrando as fileiras do Daesh, porque alimentam ressentimentos contra as sociedades em que cresceram, sentindo-se excluídos e discriminados.

Falta aos nossos governos no Conselho e à Comissão reconhecer que as políticas neo-liberais falharam miseravelmente e fomentaram insegurança e populismos na Europa ao criar desemprego, ghettos, exclusão, desigualdades e injustiça social. Criaram condições para o chamado "Estado Islâmico" ou grupos de hooligans nazi-fascistas transformarem jovens europeus em lobos assassinos. Foram estas mesmas políticas de austeridade que cortaram em capacidades e no treino das nossas forças de defesa e de segurança e nas capacidade de reabilitação nas nossas prisões, deixando que se transformassem em centros de radicalização. Sem nunca investirmos realmente em programas de prevenção da radicalização e de desradicalização.

A Comissão põe finalmente a tónica na prevenção da radicalização. Para isso precisamos de políticas sociais inteligentes que envolvam estruturas municipais e nacionais, escolas, clubes, organizações não-governamentais, sector privado, e que impliquem activamente as famílias e as comunidades religiosas, em especial as muçulmanas europeias, que sofrem a dobrar o efeito devastador de cada ataque e do recrutamento terrorista.

É crucial impedir reacções de vista curta, como as que sugerem a retirada de nacionalidade a suspeitos de terrorismo ou a criminalização do uso da Internet. Importa é usar a internet e outros meios em programas de contra-propaganda eficazes, que não instiguem obscurantistas como os que assassinaram Jo Cox ou massacraram em Orlando, Paris, Bruxelas, Alepo, Instambul ou Tripoli."


(Minha intervenção em debate no plenário do PE ontem sobre "Prevenção da radicalização que leva ao extremismo violento e ao terrorismo" - que não consegui ler até ao fim, apesar de estar farta de saber que 2,5 minutos de texto levam muito mais tempo a ler em português que em inglês...)

 

Voltar ao mesmo?

O Público informa que a ADSE admite vir a beneficiar de novo de financiamento orçamental.
Não é de aplaudir tal reversão quanto ao modelo de financiamento desse serviço, não havendo nenhuma razão para que os contribuintes, que já pagam o SNS universal, subsidiem também um serviço de saúde privativo dos funcionários públicos.

terça-feira, 21 de junho de 2016

Ir ao bolso da ADSE


Por esquecimento, só hoje registo aqui a minha coluna da semana passada no Diário Económico digital. Sobre como a Madeira se locupleta à custa da ADSE.

Alhos com bugalhos


Esta manchete da última edição portuguesa do Monde Diplomatique mostra em todo o seu esplendor a salgalhada ideológica de que é capaz a extrema-esquerda.
De facto, só eles são capazes de meter no mesmo saco os "contratos de associação", pelos quais os colégios privados assaltam o orçamento do Estado à custa das escolas públicas, e as universidades-fundação, que são somente uma alternativa facultativa de governo e gestão das universidades públicas, permitindo-lhes uma gestão financeira, contabilística e orçamental segundo as regras de direito privado (como acontece, aliás, há muito com os hospitais do SNS), mas que continuam a ser instituições públicas para todos os efeitos.
Considerar que as universidades-fundação públicas - que foram admitidas no RJIES de 2007 elaborado pelo Ministro J. Mariano Gago num Governo socialista e que o Governo PSD/CDS tentou extinguir logo a seguir - são um exercício de "neoliberalismo" não é apenas uma provocação conceptual, é também uma falsificação política e ideológica.

segunda-feira, 20 de junho de 2016

Gostaria de ter escrito isto

«É uma pena que a campanha pela permanência [do Reino Unido na UE] tenha perdido tanto tempo concentrada nos benefícios económicos da adesão à UE. A UE é, naturalmente, uma construção económica. Mas fazer parte da UE não tem fundamentalmente que ver com economia. Tem que ver com o nosso modo de vida.»
(Wolfgang Muenchau, "Os valores europeus são mais importantes do que os económicos", no Diário de Notícias de hoje)

Mais TTIP

Amanhã vou estar aqui, a intervir neste debate sobre o TTIP, promovido pela comissão concelhia do PS de Lisboa.


Voltar ao mesmo?


1. Este quadro, copiado do Diário Económico, mostra os níveis de consumo dos países da UE em paridade de poder de compra (PPC), em percentagem da média europeia. No canto inferior esquerdo estão os níveis comparados de PIB per capita em percentagem da média europeia. Números relativos a 2015.
Verificamos que Portugal, com um PIB de apenas 77% da média europeia, exibe 83% do consumo. Mesmo se aquém da diferença da Grécia (71% de PIB contra 81% de consumo!), Portugal compara mal com a Espanha (92% de PIB contra 88% de consumo) e fica a léguas da Irlanda (145% de PIB contra 95% de consumo).

2. Calcula-se que, embora esteja longe de recuperar o PIB de antes da crise, Portugal já recuperou os níveis de consumo anteriores.
O reverso da medalha está na taxas de crescimento. Embora Portugal esteja a crescer mais do que a Grécia, fica muito aquém da pujança da Espanha ou da Irlanda. Onde se consome demais, há poupança e investimento de menos. E a economia e o emprego é que pagam. 
Nisto não há milagres...

Conúbio

Lê-se na página oficial da Presidência da República que o PR participou na "peregrinação militar nacional a Fátima" e que «enquanto Comandante Supremo das Forças Armadas, Marcelo Rebelo de Sousa participou na Eucaristia, na Basílica da Santíssima Trindade».
É evidente que, enquanto cidadãos, os militares e o Presidente da República podem participar em qualquer peregrinação ou cerimónia religiosa, mas não na qualidade oficial de chefes militares, muito menos na qualidade constitucional de comandante supremo das Forças Armadas.
Mais de quatro décadas depois do fim da ditadura e entrada em vigor da Constituição de 1976, que estabeleceu enfaticamente a separação entre o Estado e a religião, prossegue alegremente o conúbio entre o poder político e a Igreja Católica, sob o alto patrocínio do próprio Presidente da República. Como se nada tivesse mudado desde 24 de abril de 1974. 
Lamentável!

domingo, 19 de junho de 2016

Autonomia e avaliação das universidades

Na próxima terça-feira vou falar nesta conferência:


Multidão

Não consigo compreender o aumento em quase um terço do número de administradores da CGD (de 14 para 19 membros). 
É certo que os bancos privados têm “boards” ainda maiores, mas aí a razão está na existência de vários acionistas de referência, que têm de estar representados no conselho; no caso da CGD só há um acionista. Também é verdade que o número de membros deve ser suficientemente amplo para que os administradores não executivos sejam mais do que os executivos, mas isso não exige um tão grande número global. Havendo atualmente sete membros executivos, bastaria que o conselho tivesse 15 membros para cumprir a regra da maioria de não executivos.
[revisto]

sexta-feira, 17 de junho de 2016

Inquérito

Não percebo a oposição ao inquérito parlamentar à gestão política e empresarial da CGD que levou à problemática situação atual do banco público.
Invocar a "instabilidade" que o inquérito criaria à instituição é pôr as coisas de pernas para o ar. O que causa nervosismo público e instabilidade na instituição é não se perceber como é que se chegou aqui e quem foram os responsáveis.

Adenda
Causa perplexidade ver entre os opositores ao inquérito dois antigos ministros das finanças, que tiveram a tutela da CGD. Pois não é evidente que deviam ser os primeiros a apoiar a ideia, até como prova de que não têm nada a temer!?

quinta-feira, 16 de junho de 2016

Hediondo

Tal como todos os crimes políticos, também é hediondo o assassínio da deputada trabalhista Jo Cox, em campanha pela permanência da Grã-Bretanha na UE. Ele mostra o ódio irracional que pode gerar a demagogia populista.  Que ao menos este estúpido crime sirva para abrir aos olhos aos britânicos iludidos pela retórica nacionalista anti-europeia.

Adenda
Sobre a deputada assassinada ver este tocante editorial do The Guardian.

quarta-feira, 15 de junho de 2016

TTIP

Hoje vou estar num debate promovido pelo grupo parlamentar do PS sobre o acordo comercial e de investimento em negociação entre a UE e os EUA (conhecido pela sigla TTIP).
Conhecida a atávica oposição da extrema-esquerda a qualquer acordo de comércio internacional da UE, para mais envolvendo os EUA, é importante conhecer a posição do PS em relação às negociações do TTIP, que aliás estão longe de chegar ao fim.

Irresponsabilidade básica incondicional

Continua a correr em Portugal e noutros países da UE uma petição para a criação de um rendimento básico incondicional (RBI), de âmbito universal. Ou seja, um rendimento mínimo garantido para toda a gente e sem exclusões nem condições.
Se o tal RBI tivesse o modesto valor de 5 000 euros por ano, o seu custo, multiplicado por mais de 10 milhões de portugueses, iria para cima de 50 000 milhões de euros por ano! Onde é que se iria buscar esse dinheiro, eis a pergunta de mil milhões
Parece que em Portugal o número de assinantes já vai em mais de 5 000. Como é que neste pais e neste momento há tantos cidadãos que assinam uma proposta política e financeiramente tão irresponsável, isso ultrapassa qualquer explicação racional.
Há pouco tempo, os suíços rejeitaram em referendo essa proposta. Desconfio que em Portugal, se tal referendo fosse possível (felizmente, não é!), ele seria aprovado!
[revisto]

Adenda
Pergunta um leitor porque é que não pode haver referendo sobre essa matéria em Portugal. A resposta é: porque a Constituição sensatamente exclui referendos sobre matérias de incidência orçamental, fiscal ou financeira. Ainda bem!

terça-feira, 14 de junho de 2016

Nada de bom

A afirmação de que o "Brexit assusta a Europa" descreve bem a situação criada pela crescente sensação de que o referendo sobre a saída britânica da UE pode vir a vencer.
Mas se os europeus em geral têm razões para estar preocupados com o resultado do referendo irresponsavelmente convocado pelo primeiro-ministro britânico, mais preocupados deveriam estar os próprios britânicos pelas consequências negativas da saída da União. Nenhuma análise séria augura algo de bom para o Reino Unido, a começar pela risco acrescido de independência da Escócia.

Empate

Esta previsão de apenas 1,2% para o crescimento económico no corrente ano é má, e vem na linha de outras até agora. Esta notícia sobre a aceleração da produção industrial é boa, e é uma surpresa.
Esperemos que a segunda leve a melhor sobre a primeira!

sábado, 11 de junho de 2016

Tiro no pé

Só por lapso é que o Primeiro-Ministro, falando em Paris, pode ter utilizado a noção de "coabitação" para caraterizar a situação política portuguesa no que respeita às relações do Governo com o Presidente da República.
Essa noção é típica do semipresidencialismo, caracterizado pelo sistema de governo "bicéfalo", em que a função governamental é compartilhada entre um PR governante e um primeiro-ministro responsável perante o parlamento. Não é esse o caso em Portugal, onde o PR não governa nem cogoverna e onde o governo chefiado pelo PM é o único responsável pela condução do governo do país, sendo exclusivamente responsável perante a AR. Em Portugal o PR não é chefe de uma "maioria presidencial" distinta da maioria parlamentar, mas sim o presidente de todos os portugueses.
Sempre contestei a leitura semipresidencialista do sistema de governo em Portugal, com bons argumentos constitucionais e políticos. Surpreende-me ver o próprio primeiro-ministro adotá-la. Um tiro no pé...

sexta-feira, 10 de junho de 2016

Sinais

1. Que a decisão sobre o modo de gestão dos transportes públicos urbanos de Lisboa e do Porto
seja tomada pela Assembleia da República
e não pelas assembleias municipais respetivas - e que seja um ministro a anunciar publicamente o traçado de uma linha de metro de Lisboa! - diz tudo sobre o défice de descentralização territorial em Portugal.
Do mesmo modo, que uma lei da República venha proibir a concessão dos transportes públicos de Lisboa e do Porto a empresas privadas (porque não de outras cidades?!) diz tudo sobre o peso político do PCP e da CGTP na atual solução governativa.

2. Nenhum desses sinais é positivo. Como defendo há décadas, os transportes públicos urbanos, incluindo os de Lisboa e do Porto, devem ser da competência das autoridades locais, que devem decidir livremente sobre o modo da sua gestão nos termos da lei geral (por serviço municipalizado, por empresa municipal, por empresa privada concessionada, etc.).
Claramente a herança da estatização dos transportes municipais de Lisboa e do Porto em 1975 está para lavar e durar! Quais princípios constitucionais da descentralização, da subsidiaridade e da autonomia do local, qual carapuça!

Reversão

A não ser que se se trate de uma evolução passageira, a notícia de que o rácio da dívida pública voltou a subir seria uma reversão assaz preocupante, não contribuindo para aliviar os custos da dívida nem muito menos para melhorar o atual rating das agências de notação.
A somar à degradação das mais recentes projeções (OCDE e BP) relativas ao crescimento, ao investimento, às exportações e ao défice orçamental, o mínimo que se pode dizer é que o horizonte das finanças públicas vai-se nublando. Demasiado!