quarta-feira, 20 de julho de 2016

Acordos parlamentares

Uma das caraterísticas da nossa democracia constitucional é o conjunto de mecanismos destinados  a conter a "omnipotência das maiorias", nomeadamente através de poderes de veto do PR e da exigência de maiorias qualificadas para a aprovação de certas leis ou para a eleição parlamentar de certos cargos públicos.
Nestes casos, torna-se indispensável a negociação de acordos parlamentares entre os dois principais partidos a fim de obter essas maiorias. É fácil de compreender que a quebra desses gentlemen's agreements parlamentares - como sucedeu hoje na frustrada eleição do novo presidente do Conselho Económico e Social - abala a confiança institucional sem a qual nenhuma democracia parlamentar pode funcionar.
Há mais numa democracia parlamentar do que o cumprimento da Constituição e do regimento da AR...

Chapeau!

1. Antes de ter ultrapassado o PCP nas urnas, o Bloco de Esquerda já o tinha vencido há muito no terreno do debate político e da luta ideológica, mercê da sua presença dominante nos meios jornalístico e universitário.
Já disse uma vez, sem grande exagero, que se tivesse os votos correspondentes à sua influência nos média, o Bloco ganharia as eleições. O PCP bem pode ter maior número de militantes, mais o controlo da CGTP, o que lhe dá um incomparável poder de mobilização e de protesto social, mas que tem cada vez menor poder multiplicador nas eleições; o Bloco não compete em nenhum desse fatores mas tornou-se uma assinalável máquina de luta política e eleitoral.

2. A constituição da "geringonça" governamental veio aumentar a assimetria entre o poder ideológico dos neocomunistas do Bloco e o dos velhos comunistas do PCP.
Enquanto os primeiros não perderam tempo nem têm escrúpulos em cooptar em seu proveito as medidas do Governo, como se este fosse seu, enchendo o país com cartazes a celebrar as suas conquistas e inundando as televisões com porta-vozes seus a celebrarem o triunfo da narrativa "anti-austeritária" e antieuropeísta, o PCP não consegue esconder o seu constrangimento com a sua integração na maioria governamental, e os seus poucos militantes com acesso às televisões mostram-se incapazes de descolar da linguagem tradicional, cada vez menos convincente.
Tirando partido com mestria das oportunidades que a nova situação política (e o PS) lhe proporcionam no Parlamento, nas tribunas públicas, nas televisões e nas instituições, o Bloco é o grande triunfador político da "geringonça", mercê da falta de contestação da banda do PS (cortesia da aliança parlamentar) e do crescente acantonamento político do PCP.
Independentemente de saber se é um triunfo duradouro, há que reconhecê-lo. Chapeau!

terça-feira, 19 de julho de 2016

Táxis

A Autoridade da Concorrência pôs em consulta pública um estudo onde propõe a liberalização dos táxis, incluindo a liberdade de entrada na atividade, a concorrência nos preços e a possibilidade de diversificação da oferta quanto ao binómio qualidade-preço.
Tendo sido porventura a primeira pessoa a defender publicamente a liberalização da atividade, só tenho que saudar a posição da AdC e esperar, sem excessiva expetativa, que o Governo lhe dê seguimento (ao contrário do que sucedeu com idêntica recomendação da AdC quanto à liberalização das farmácias, que ficou na gaveta, até agora...).

Caso encerrado, salvo factos supervenientes

A solene garantia dada pelo Governo português a Bruxelas, com números e projeções em riste, de que apesar do preocupante abrandamento da economia, a execução orçamental corre de acordo com o previsto e de que as metas orçamentais deste ano vão ser alcançadas, mercê das "almofadas" incluídas no próprio orçamento, retira à Comissão e ao Conselho qualquer margem para exigir neste momento quaisquer "medidas adicionais", por mais fundadas que sejam as suas dúvidas quanto às garantias de Lisboa. Agora, o ónus de prova pertence a Bruxelas.
Caso arrumado, portanto, pelo menos até outubro, quando o quadro da execução orçamental estiver a 3/4 do ano financeiro.

Sem precedente

O montante orçamental em causa é seguramente pouco significativo, mas isso não diminui o potencial político inovador do primeiro "orçamento participativo" a nível nacional, pelo qual os cidadãos vão ser consultados e depois chamados a votar os projetos a financiar com as verbas reservadas para o efeito nas suas regiões.
Atá agora com considerável expressão no poder local, em dezenas de municípios, o chamado orçamento participativo é um instrumento privilegiado para chamar os cidadãos a intervir na esfera pública e a decidir diretamente o financiamento de certas políticas públicas. O nome é enganador, pois não se trata de participar na decisão orçamental do Governo e do Parlamento, mas sim de a exercer diretamente, sendo por isso uma espécie de referendo informal atípico.
Seja como for, há que saudar esta iniciativa, que de resto cumpre um compromisso do programa eleitoral do PS e do programa do Governo. Oxalá seja bem sucedida como têm sido a experiência ao nível municipal,  e venha para ficar, servindo também para ajudar a generalizar este mecanicismo de intervenção popular aos orçamentos das regiões autónomas e de todos os municípios do País.

segunda-feira, 18 de julho de 2016

O homem errado no lugar errado

Na agreste luta pela liderança do Labour britânico, tudo indica que Corbin, apesar de detestado pelos deputados do Partido e da sua gritante inépcia como líder, vai ganhar de novo, mercê da mesma aliança da base sindicalista e do esquerdismo intelectual que já no ano passado o tinha eleito.
Os Tories vão rejubilar com a recondução do líder trabalhista, cujo esquerdismo e cuja falta de apelo eleitoral manterão o Labour na oposição por muitos e maus anos. De partido de governo o Partido Trabalhista torna-se um mero partido de protesto. Triste destino...

domingo, 17 de julho de 2016

Deriva antidemocrática

Demissão sumária de centenas de juízes e possível reposição da pena de morte, eis a lamentável "fuga para a frente" da Turquia, depois do golpe de Estado, contra os mais elementares princípios do Estado de direito e os direitos fundamentais, tais como defendidos pela UE.
Na sua sanha de depuração dos "inimigos internos", a Turquia afasta-se provocatoriamente do consenso do Estado de direito democrático europeu. A UE e os aliados da Turquia na NATO, incluindo Portugal, vão fechar os olhos a esta repressiva deriva antidemocrática?!
Ou será que só vemos derivas antidemocráticas quando elas ocorrem em Moscovo, em Caracas ou em Luanda?!

Adenda (18/7)
Esta segunda-feira, a União Europeia diz que vai enviar uma mensagem forte à Turquia sobre a defesa do Estado de direito. Esperemos que seja bem forte e que seja devidamente convincente.

Só não via quem não queria

Há três semanas publiquei na minha coluna do Diário Económico digital uma análise ao modelo de governo escolhido para a nova administração da CGD, criticando explicitamente o número excessivo de administradores e a eliminação da separação de poderes entre o chairman e o administrador executivo, concentrando todo o poder numa mesma pessoa.
Vejo agora que o BCE tinha exposto as mesmas objeções numa carta até agora não conhecida. Jurando que desconhecia na altura a posição do BCE, limito-me a comentar que aquelas objeções eram, e são, tão evidentes, que só não via quem não queria.

Aqui ao lado

1. Apesar de um bom desempenho económico, a situação orçamental espanhola é bem mais complicada do que portuguesa.
Com um défice superior a 5% em 2015, ainda sem orçamento aprovado este ano, sem governo nem perspetivas de vir a ter um governo com maioria parlamentar, a eventual amenização da sanção da União Europeia por incumprimento da disciplina orçamental no ano passado pode vir acompanhada de pesadas condições quanto às metas orçamentais no corrente ano e no próximo.
Rajoy apressou-se a anunciar um aumento das receitas fiscais, no valor de 7500 milhões de euros. Mas parece que a Comissão Europeia exige bastante mais. Citando fontes europeias, o El País fala numa correção orçamental de 10 000 milhões de euros!

2. O facto de a situação espanhola ser mais preocupante pode ajudar Portugal a receber uma sentença mais leve no procedimento de défice excessivo (PDE) em vias de conclusão.
Mas ilude-se quem pensa que ela virá sem condições quanto ao desempenho orçamental deste ano e do ano que vem, a não ser que o Governo convença a Comissão de que, apesar dos fatores em contrário, desde logo o sensível abrandamento da economia, o País não está está em risco de derrapagem orçamental, .
A 27 de julho se saberá...

Adenda (18/7)
O Governo espanhol argumenta que não precisa de medidas adicionais porque o forte crescimento económico (mais de 3%) vai fazer baixar naturalmente o défice orçamental (aumento das receitas fiscais e diminuição das despesas sociais). Mas este argumento contraria toda a racionalidade orçamental da UE: é justamente porque em Espanha o ciclo económico está em alta, que o saldo orçamental nominal deveria ser zero ou mesmo positivo, a fim de respeitar a norma sobre o equilíbrio do saldo estrutural (que é o saldo orçamental nominal descontado dos efeitos do ciclo económico).

sábado, 16 de julho de 2016

Mais um problema

O golpe de Estado militar e o seu sangrento esmagamento confirmam que a Turquia não possui uma democracia consolidada. O possível reforço do poder musculado de Erdohan e a impiedosa depuração das forças armadas e do aparelho de Estado não vão alterar esse dado, pelo contrário.
Uma das consequências do golpe de Estado vai ser o congelamento por tempo indeterminado do projeto de adesão à UE, cujas perspetivas aliás nunca foram boas; outra vai ser a complicação das relações entre a Turquia e a UE, se o autoritarismo ou a instabilidade política se instalarem Ancara.
Mais um problema sério à beira da União, como se já não tivesse muitos...

sexta-feira, 15 de julho de 2016

Invenção

Na sua patética cruzada demagógica contra o Tratado Orçamental, o Bloco de Esquerda alcunha-o de "tratado das sanções", como se fosse ao abrigo dele que Portugal e Espanha estão agora sujeitos a um procedimento sancionatório da União. Mas isto é pura invenção bloquista.
Na verdade, o Tratado Orçamental limita-se a apertar os requisitos da disciplina orçamental da zona euro, sem estabelecer nenhumas novas sanções para os casos de défice excessivo. Efetivamente, as sanções por défice excessivo estão diretamente previstas no próprio Tratado de Funcionamento da União (art. 126º), segundo procedimento regulado em legislação ordinária da União. O Tratado Orçamental só deu mais protagonismo decisório à Comissão no procedimento sancionatório, à custa do Conselho.
Desse modo, para acabar com as sanções por incumprimento da disciplina orçamental da União, não bastaria descartar o vilipendiado Tratado Orçamental; seria preciso sair da União -, que é obviamente o objetivo não confessado do Bloco.

quinta-feira, 14 de julho de 2016

"Liberalismo ordenado"

1. Afirmar que o "ordoliberalismo" alemão tem "marcas de autoritarismo" não tem nenhum fundamento histórico nem doutrinal. E o mesmo se passa quando se mistura aquele conceito com o mais tardio "neoliberalismo" da Escola de Chicago.
Nascido contra o autoritarismo económico de Estado do nazismo, o ordoliberalismo apresentou-se também desde o início como um "novo liberalismo", por afastar o regresso ao liberalismo clássico e ao abstencionismo económico do Estado, na medida em que preconizava a defesa ativa da concorrência contra os cartéis e a concentração do poder económico. "Liberalismo com regras"contra "liberalismo laissez faire".
Por isso, o ordoliberalismo esteve na base da economia de mercado regulada, normalmente associada ao chamado "capitalismo renano", uma da modalidades menos "neoliberais" do capitalismo contemporâneo.

2. Não é menos infundada a associação do ordoliberalismo com o neoliberalismo no campo social. Pelo contrário, a noção de "economia social de mercado", que tem origem no ordoliberalismo (e que o neoliberalismo propriamente dito rejeita), resulta justamente do "casamento" entre a economia de mercado regulada e o Estado social (direitos dos trabalhadores, direitos sociais, direitos dos consumidores, etc.), que goza de consagração constitucional na Alemanha.

3. Desde o Tratado de Lisboa, a noção de economia social de mercado está na base da "constituição económica" da UE (TUE, art. 3º-3).
Os adversários da economia de mercado e os ultraliberais têm todo o direito de não gostar. Mas a qualificação social da economia de mercado caracteriza bem o modelo económico e social europeu, conjugando a liberdade económica individual, que a economia de mercado (regulada) proporciona, e o bem-estar social, que o Estado social e os direito sociais asseguram.
[revisto]

Labirinto espanhol

Mantém-se a incógnita sobre a solução governativa em Madrid, depois de o PP ter ganho as eleições de novo com maioria relativa e sem que haja uma maioria alternativa à esquerda.
É evidente que o PSOE não pode apoiar um Governo do PP. Mas, não havendo condições para uma maioria de esquerda (como em Portugal), a posição responsável do PSOE não pode consistir em impedir a formação do Governo e lançar o País em novas eleições (em que nada ganharia), mas sim a a de, se necessário, deixar passar o Governo do PP com a sua abstenção.
Não podendo ser uma birra, a insistência do PSOE no voto contra só pode entender-se como uma manobra de pressão sobre o PP destinada a influenciar o programa do Governo da direita.

quarta-feira, 13 de julho de 2016

Voltar ao mesmo?

Descontadas as importações e exportações de produtos petrolíferos, dada a volatilidade do respetivo volume e preços, os dados do comércio externo de mercadorias do INE referentes a maio mostram um crescimento bem maior das importações (+ 6,8%) do que das exportações (+2,2%), agravando o tradicional défice da balança comercial de mercadorias relativamente ao período homólogo de 2015.
Sem surpresa, dado o aumento do rendimento disponível e do recurso ao crédito, entre os itens que pesam especialmente no crescimento das importações estão os automóveis e os bens de consumo, sem menção dos bens de equipamentos e de matérias primas, o que só pode ser explicado por uma quebra no investimento, que os números conhecidos relativos à atividade económica indiciam.
Não se trata de boas notícias.

terça-feira, 12 de julho de 2016

Contrariar os indícios


Em tempo: eis a minha coluna no Diário Económico digital da semana passada. Ou: menor crescimento económico, mais pressão orçamental. Salvo prova em contrário.

Felizmente, inverosímil

A justificada euforia nacional pelo triunfo no futebol europeu deve fazer passar despercebida esta previsão do Barclays sobre o crescimento económico e o défice orçamental no ano corrente e no ano que vem.
Ainda bem, porque os números são os mais dececionantes entre todos os conhecidos até agora (por exemplo, apenas 0,7% de crescimento este ano e défice orçamental acima dos 4%!), tão insatisfatórios que só podem ser inverosímeis.
Seja como for, duas coisas coincidem em relação a todas as projeções: (i) rever em baixa as previsões oficiais e (ii) considerar necessárias medidas adicionais para atingir a meta do défice estabelecida no orçamento de 2016 (2,2%). Conviria começar a admitir que não podem estar todas erradas...

Adenda (13/7)
Afinal há mais uma previsão com crescimento abaixo de 1% e défice acima dos 3%, o que as torna menos inverosímeis. As coisas complicam-se para o País...

sexta-feira, 8 de julho de 2016

Escrúpulos (2)

É evidente que um ex-governante tem direito a ingressar nos negócios privados. Mas há limites, pelo menos políticos e morais.
A entrada de Durão Barroso para chairman do Goldmann-Sachs não deixa de surpreender negativamente. Primeiro, não tem precedente na história dos presidentes do executivo da UE; segundo, o GS encontra-se sob jurisdição das agências de regulação financeira da UE e da Comissão Europeia, a que Durão Barroso presidiu; terceiro, o GS é talvez o maior símbolo do mais agressivo capitalismo financeiro global, sem grandes escrúpulos quanto ao respeito pela regulação financeira internacional ou pelos interesses dos países onde tem negócios, como mostrou na assistência às manigâncias orçamentais dos governos gregos antes da crise; por último, o Goldmann Sachs está em litigância agressiva contra o Banco de Portugal e contra o Novo Banco, no valor de centenas de milhões de euros, por causa da resolução do BES.
Dificilmente poderia ser pior em matéria de conflito de fidelidades e de interesses.

Escrúpulos

Depois de ter presenteado os colégios privados com uma pipa de dinheiro dos contribuintes o anterior ministro da Educação, Nuno Crato, vai agora servir de testemunha dos mesmos contra o Estado, assim mostrando que não passou de um agente dos mesmos no Governo!
Já se sabe que escrúpulos políticos ou morais não é matéria em que a direita seja forte. Mas este caso é um despautério!

quinta-feira, 7 de julho de 2016

Shame on you!

A desatinada intervenção militar dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha no Iraque em 2003, com o falso pretexto das "armas de destruição maciça" de Saddam Hussein, prestimosamente apoiada pelo Governo português da altura (Durão Barroso) e pelos sicofantas domésticos do "neoconservadorismo" e outros adeptos da exportação da democracia pela força das armas, não foi somente o início da destruição dos Estados e dos equilíbrios geo-estratégicos no Médio Oriente, que culminaram com a guerra civil síria e a criação do Estado islâmico; significou também a ruína de Tony Blair como líder da modernização do Labour e da social-democracia europeia.
Regista-se o seu tardio arrependimento, mas continua a constituir um mistério como é que um líder de esquerda europeia pôde embarcar na insânia de Bush. Tendo eu denunciado e combatido a injustificada e irresponsável intervenção militar, apraz-me ver a verdade histórica reposta. mas continuo sem perceber como é que dois governos de países democráticos puderam embarcar em tal loucura, cujos devastadores efeitos duradouros ainda estamos hoje a pagar no Iraque, na Síria, na Líbia, etc..

quarta-feira, 6 de julho de 2016

Promover Direitos Humanos quando os estamos a violar?

"Outras colegas falaram da alegria de termos hoje connosco os activistas azerbaijanis Yunus. Eu também poderia falar da utilidade da resolução aprovada pelo PE para expressar solidariedade e pressionar a libertação dos jovens "revús" em Angola, finalmente ocorrida na semana passada.
Mas apesar da nossa acção aqui no PE e dos instrumentos políticos aprovados pelo Conselho, como o Plano de Acção para os Direitos Humanos e Democracia renovado em 2015, passamos na UE a um nível intolerável de contradição e cinismo, a pretexto de responder ao afluxo de refugiados e migrantes.
A desastrosa política de acordos de parceria com países terceiros empreendida pelo Conselho para supostamente responder aos fluxos migratórios pretende utilizar os instrumentos de Desenvolvimento para pagar a regimes corruptos e opressivos fabricantes de refugiados e migrantes. Como me perguntavam recentemente em Africa: "Vão pagar aos tiranos para dispararem sobre nós, para nos impedir de fugir à tirania?"
É já suficientemente trágico ver a Europa pedir a países mais pobres que mantenham as portas abertas a refugiados, enquanto Estados Membros recusam, atacam e prendem refugiados - como acontece hoje na Hungria e nos "hotspots" na Grécia.
Teremos cara - Sra. Mogherini, Sr. Lambrinidis, eu própria, nós aqui no PE, os nossos governos - para promover os direitos humanos, enquanto prosseguirmos nesta linha de violação dos direitos humanos dos refugiados e migrantes? Tão mau como destruirmos a UE, é que descredibilizamos o próprio combate pelos Direitos Humanos".

Intervenção que fiz esta tarde no plenário do PE no debate sobre o Relatório Anual sobre Direitos Humanos e Democracia 

Processo de Paz Médio Oriente moribundo e cada vez mais mortal...

"As long as we are in Government, there wont be a Palestinian state, settlements wont be evacuated and no territory will be turn over to the enemy". 
These words, uttered last May by a young Israeli woman who happens to be Justice Minister, show she knows what is needed to make peace but chooses war.
This desperate denial of the existential danger Israel faces for letting die the Peace Process, the cry of despair that President Abbas let out here at the European Parliament last month, the cries of despair we hear in the open air prison that is Gaza or in occupied West Bank, the cries of despair heard every time Palestinian kids stab Israeli kids, all tell us how the status quo is untenable - you, Ms Mogherini, just said there is not even a "status quo" and that darker terrors loom.
Palestinians, Israelis, the region, the EU, the world, cannot afford further escalation.
But just issuing this dead Quartet late report is not enough, no matter how  relevant are its conclusions. The French Conference recommended reviving the Arab Peace Initiative. Please consider mobilizing this Parliament to engage in a meaningful Initiative through which you can make the difference, to overcome  any opposition or discord  you may face from EU Governments.
The time has come for you, Ms. Mogherini, to be bold and make a difference. Make the difference, please, Ms. Mogherini!"


(Minha intervenção no debate sobre Processo de Paz do Médio Oriente, no Plenário do PE, esta tarde)

UE - o "soft power" não chega

"A Estratégia Global apresentada pela Alta Representante Mogherini procura dar resposta aos desafios humanitários, económicos, políticos e de segurança que a UE enfrenta. 

Num mundo globalizado em que ameaças e desafios extravasam fronteiras, os cidadãos reconhecem - todos os eurobarómetros o confirmam - que só com mais e melhor União poderemos garantir a segurança colectiva. O problema é que os governos, na deriva intergovernamental que vem afectando a União, tardam em reconhecê-lo.

O "soft power" não chega, sublinhou aqui a Alta Representante. Pois não. Por isso a União tem mesmo de reforçar a autonomia estratégica em capacidades de defesa e segurança, articulando recursos e políticas para assegurar resiliência civil e militar, com meios de resposta rápida e coordenada às crises - da em curso na Líbia, aqui ao lado, a uma possível crise no Mar da China, com impacto desestabilizador global.

Defender os cidadãos, princípios e interesses europeus só com direcção política corajosa, que reconheça o interesse comum, coordene e dê coerência a políticas internas e acções externas e atue globalmente para promover segurança humana e por regras de governação global ancoradas no direito internacional, nos direitos humanos e no Estado de direito."

Intervenção que fiz (tosquiada para caber num minuto) no debate plenário do PE sobre a Estratégia Global da UE, esta tarde

Presidência eslovaca não augura liderança europeísta


"Nos próximos meses trabalharemos na revisão do Regulamento de Dublin e no reforço da EASO, entre outros desafios como os decorrente do Brexit. Mas as suas posições nestas matérias, Presidente Fico, não auguram liderança europeista. O Senhor afirmou, por exemplo:

- “O Islão não tem lugar na Eslováquia, os migrantes mudam a identidade do nosso país”.

- "Não iremos nunca trazer um único muçulmano para a Eslováquia (...) eles representam um grave risco para a nossa segurança”.

E que dizer dos ataques aos refugiados nas fronteiras com a Hungria e a Áustria, sob o seu governo? 

E ter-se associado com outros do Grupo de Visegrado para violar o Acordo de Schengen, fechando fronteiras aos refugiados e asfixiando a Grécia?

Lamento, Sr. Fico, mas o senhor de europeista não parece ter nada e de social-democrata ainda menos. 

Sem por em causa a qualidade e empenho dos funcionários eslovacos, temo que a sua presidência da UE só venha agravar os problemas com que nos confrontamos.

Tem seis meses para demonstrar que estou enganada."


(Minha intervenção esta manhã em plenário do PE sobre o Programa da presidência eslovaca da UE)


 


terça-feira, 5 de julho de 2016

Guardar costas e controlar fronteiras europeias...

"O mandato para uma Agência Europeia de Guarda Costeira e Controlo de Fronteiras evoluiu muito, felizmente, em  relação à versão original, o que prova a utilidade deste Parlamento ser ouvido e escrutinar mandato e funcionamento da nova Agência, em especial no teste de vulnerabilidade. Incluir operações de busca e salvamento no mandato é crucial para cumprir responsabilidade legais e morais  europeias.
Mas controlar fronteiras e organizar operações de retorno é, por definição, reagir na fase final do problema.
A prioridade devia ser abrirmos vias legais e seguras para migrantes e refugiados não terem de se entregar em mãos criminosas, impedindo rotas cada dia mais perigosas, mas mais lucrativas para os traficantes! E investir na articulação do Frontex ou da nova Agência com uma EASO e uma EUROPOL reforçadas. Assim como mudar o discurso, deixando de ir a reboque da extrema direita xenófoba, dizendo a verdade aos nossos cidadãos: se refugiados e migrantes precisam da Europa, também a Europa precisa deles!"

Minha intervenção no debate em plenário do PE sobre a nova Agência Europeia de Guarda Costeira e Controlo de Fronteiras

O arauto

Penso que não faz nenhum sentido, político ou constitucional, que seja o PR a anunciar publicamente medidas que são do foro do Governo.
Por mais generosa que seja a leitura constitucional dos poderes do PR, entre eles não cabe seguramente a função de arauto do Governo.

Descaramento

O PSD veio declarar que só haverá sanções da UE a Portugal se o Governo for "incompetente". Ora, a haver sanções, elas só existirão porque houve incumprimento das obrigações orçamentais no ano passado, sob responsabilidade do PSD. Sem isso não haveria sequer pressuposto para nenhuma sanção.
Mesmo em política há limites para o descaramento!

Contra a selva fiscal na Europa

"Saúdo os co-relatores Jeppe Kofod e Michael Theurer por este relatório de seguimento da Comissão TAXE-2, que mostra que o Parlamento Europeu agiu face ao escândalo "Luxleaks" e segue na linha da frente do combate à fraude, evasão e ilisão fiscais. 

Queremos justiça e transparência para reverter o desastroso consenso de desregulação financeira e concorrência fiscal entre Estados-Membros nos últimos 20 anos, que acentuou a divergência  entre Estados Membros  e insuportáveis distorções económicas e sociais. Acossados pela austeridade ultra-liberal, os cidadãos e pequenas e médias empresas são os mais castigados pela opaca selva fiscal vigente na Europa, suportando desproporcionadamente a carga fiscal. 

Não nos conformamos com um Mercado Interno que não pode assegurar concorrência leal sem um mínimo de harmonização fiscal. E  que não pode continuar a tolerar "patent boxes" e outras  "ajudas de Estado" dadas às multinacionais em esquemas para evitarem pagar impostos.

Comissão e Conselho não podem demorar passar á prática as nossas recomendações, dos relatórios públicos país por país, a uma base comum consolidada de imposição, à protecção dos denunciantes e a sanções para quaisquer facilitadores de esquemas de "dumping" fiscal, incluindo o confisco de proventos. 

É preciso parar de atacar o projeto europeu com políticas que acentuam  injustiça e desigualdades, e que, portanto, desencadeiam compreensível revolta nos cidadãos. Como bem sublinhou o Comissário Moscovici - que saúdo pela sua interacção com o Comité TAXE - esta é uma questão essencial da democracia nos nossos Estados Membros e na Europa".


Minha intervenção esta tarde no debate plenário do PE sobre "Acordos Fiscais e outras medidas semelhantes" (Comissão TAXE 2  sobre o escândalo "Luxleaks")


Um Conselho Europeu em negação...

"Confrontados com o "Brexit" e outras provas do afastamento dos cidadãos do projecto europeu, exige-se um sobressalto, abandono da austeridade ultra-liberal, um caminho refundador para a União.
Em vez disso, o Conselho mostra-se em negação da realidade: parece que já não há deveres de asilo,nem direitos humanos, nem sequer refugiados - evaporaram-se graças à negociata com a Turquia, replicada com regimes opressores africanos. O foco nas Conclusões deste Conselho está em retorno de migrantes e controlo de fronteiras.
O Conselho deixa, assim, a extrema-direita xenófoba fazer-lhe a agenda, tal como deixa o Dr. Schäuble forçar a deriva inter-governamental, agora instigando injustas e imorais sanções contra Portugal e Espanha. Um Dr. Schäuble Strangelove que pode acabar por dar cabo da União, se Conselho e Comissão não acordarem e rapidamente arrepiarem caminho!"

Minha intervenção em debate no plenário do PE sobre as conclusões do Conselho Europeu de 28/29 de Junho

segunda-feira, 4 de julho de 2016

A escolha do diabo

1. A ser confirmada esta notícia na reunião de hoje da Comissão Europeia, Portugal e Espanha não vão ser punidos pelo incumprimento das metas da consolidação orçamental no ano passado, desde que tomem desde já medidas efetivas para assegurar o cumprimento das do ano corrente.
Ou seja, como entende que tanto Lisboa como Madrid se encaminham para novo incumprimento, a Comissão só perdoa as faltas passadas se os dois países tomarem medidas imediatas para não haver reincidência na violação dos compromissos de consolidação orçamental em 2016.

2. Este ultimato da CE para a apresentação e concretização do famoso "plano B" que o Governo nunca definiu, por o achar desnecessário, pode antecipar para as próximas semanas o debate sobre a evolução da economia e das finanças públicas que se esperava somente para depois das férias do verão.
Se tal for o caso, então é provável uma subida de temperatura política, com a extrema-esquerda a rejeitar ruidosamente a iniciativa de Bruxelas e a pressionar o Governo para lhe resistir, enquanto este vai tentar evitar um choque frontal com as instituições da União, que poderia ser fatal para a confiança dos mercados financeiros no País...

3. Seja como for, o Governo fica colocado entre a espada e a parede: ou cede ao ultimato da União, apresentando as medidas requeridas, e contradiz a sua rejeição de mais austeridade; ou não cede, e assume o ónus de ver aplicadas sanções financeiras ao País. 
É fácil dizer que entre ambas, venha o diabo e escolha. Mas é evidente que a segunda opção pode ter efeitos muito nocivos para o País.

domingo, 3 de julho de 2016

Tóxico

1. Provando que não se tratou de um "impulso do Congresso", como alguns benevolamente quiseram acreditar, o BE veio insistir na sua proposta de referendo sobre o Tratado Orçamental.
Embora tal referendo seja constitucionalmente impossível, por não serem admitidos referendos sobre matérias orçamentais, a sua simples proposta revela uma enorme irresponsabilidade política, pois uma eventual desvinculação em relação a esse Tratado privaria o País do acesso ao Mecanismo Europeu de Estabilidade em caso de necessidade. Sem essa "rede de segurança", o custo da dúvida pública nacional rapidamente aumentaria.

2. Este episódio revela o aventureirismo político do Bloco em todo o seu esplendor.
É evidente que o PS nunca poderia embarcar em tal provocação política, mas não é menos certo que em Bruxelas e nas capitais nacionais da UE não pode deixar de causar perplexidade o facto de um dos aliados parlamentares do Governo defender a desvinculação das obrigações de disciplina orçamental do País.
Se havia dúvidas, é agora evidente que o BE constitui um ativo tóxico da protocoligação governamental. Há alianças que comprometem.