sexta-feira, 25 de junho de 2004

I'm Dan, from Manchester. I know nothing!

Certamente que muitos portugueses terão feito ontem o "pleno": vitória sobre a Inglaterra e bem sucedida estratégia de sedução de uma donzela britânica.
O melhor que consegui foi uma boa conversa com Dan, adepto inglês natural de Manchester, que me confundiu com um conterrâneo - graças à minha camisa vermelha. O Dan reconheceu sem problemas que fomos superiores e falou apaixonadamente dos seus 15 dias em Portugal. Que levas do nosso país, perguntei:

"Well, I've learned that in Coimbra, you go to study; Braga, you go to pray; Algarve, you go to fuck; Oporto, you go to drink; and Lisbon, you go to show-off!".

Um herói como nós?

Quando Ronald Koeman marcava livres directos no Barcelona, certos remates do holandês - medidos electronicamente - chegavam a atingir os 160 kms/hora. Tenho a certeza que alguns daqueles matagões ingleses chutam perto dessa velocidade. Que um guarda-redes tire as luvas antes de um tiro destes, bem, é digno de herói de banda desenhada.
Dizem que todos os homens são heróis potenciais mas que a maioria morre sem provar o momento em que deve decidir sê-lo ou não. Que outro grande número deles não é digno consigo próprio quando o minuto da verdade chega. Ontem, Ricardo não tinha de tirar as luvas, não tinha de ser ele a rematar a seguir, não tinha de correr nenhum desses riscos. Arriscou tudo e esse tudo não terá demorado um minuto a decidir e a executar. Calem-se com o Baía. Nem 500 exibições dele valem um momento épico como o que Ricardo, por sua conta e risco, protagonizou. Aconteça o que acontecer, o nosso nº1 marcou o seu encontro com a História e assinou o livro dos super-heróis do desporto com tinta permanente.

à atenção de Manuel Alegre

Nas grandes penalidades de ontem, havia pausas entre cada uma. Havia conversas para enervar o adversário. Olhares fixos na baliza, relva ajeitada e desajeitada com os pés, mãos nas ancas e silêncio e paradinhas antes do remate. Ricardo defendeu um, foi buscar a bola, pediu para marcar, correu, não hesitou, estoirou. Estava feito.

o comentário mais estúpido desde que começou o Euro

Num restaurante, uma tiazorra de meia-idade confessava na roda de amigos antes do Portugal-Inglaterra: "Apostei que Portugal perdia este jogo. E não quero ver a minha nota de 5 euros a voar!".

Adeus INE até mais ver

Como já se estava à espera, em nome de uma suposta eficiência, sacrificaram-se as delegações regionais do INE. Se os operadores públicos e privados regionais, económicos e outros, soubessem o valor da informação estatística na decisão e na definição das suas estratégias, esta reforma não passaria com tal passividade. Assim, quando descobrirem talvez já seja tarde ...!

Patriotismo futebolístico

Luís Nazaré discorre sobre esse tema na sua coluna desta semana no Jornal de Negócios, intitulada "Patriotismos" (também arquivada aqui no Aba da Causa). A sua posição resulta clara neste excerto:
«Pela minha parte, não entendo bem a oposição encarniçada à onda das bandeiras (à qual não aderi). A menos que assente num preconceito de rejeição de todo o tipo de símbolos, o raciocínio dos detractores parece inconsequente. O que deduzir? Que a bandeira nunca deveria ser exibida? Ou que deveria estar sempre em exibição? Ou, talvez, que só devesse ser exibida para exaltar outros feitos que não os futebolísticos?».

Bloganiversários

Completaram um ano os blogues O Descrédito e Terras do Nunca, ambos incluídos na nossa selecção de blogues.
Também celebra o primeiro aniversário o açorianíssimo Foguetabraze, que aproveita a ocasião para atribuir os seus prémios à blogosfera dos Açores: um bom guia dos melhores blogues ilhéus.
Um ano é muito tempo na blogosfera. Parabéns a todos.

Vítimas da guerra

«Los medios de comunicación jugaron un papel relevante en la preparación de la guerra [no Iraque] por parte de la Administración Bush. Todavía sobrevive en los medios el concepto de que EE UU está en guerra y que, por tanto, se debe ahorrar información que pueda afectar a la moral de las tropas en Irak. Un gran periódico norteamericano fue el primero que obtuvo las fotografías de Abu Ghraib, no la cadena de televisión CBS. Prefirió pues no asumir el liderazgo en la publicación de las fotos porque ello supondría, a su modo de ver, un golpe a la moral de los soldados norteamericanos y dar armas a los enemigos.»
(Scott Horton, da Comissão de Direitos Humanos da ordem dos advogados de Nova York, em entrevista ao El País de hoje)
Costuma dizer-se que a primeira vítima da guerra é a verdade. A segunda é o direito à informação. Aí está a guerra do Iraque a confirmá-lo.

As democracias de hoje são incompatíveis com a guerra?

José Pacheco Pereira terminou ontem no Público a sua série de artigos sobre a impossibilidade de as democracias contemporâneas fazerem e ganharem guerras. Tendo como tela de fundo a guerra do Iraque, de que ele foi um militante adepto, a tese de JPP não passa porém de uma elaborada tentativa de justificar o seu fiasco: ela falhou porque hoje as democracias não dispõem das condições de outrora para travar guerras.
Na verdade, porém, ela falhou porque foi ostensivamente ilegal e ilegítima, porque foi feita deliberadamente à revelia das Nações Unidas, porque foi uma guerra de agressão e de ocupação que encontrou muita oposição noutros países e na generalidade da opinião pública mundial, porque desencadeou uma forte reacção no País ocupado contra as forças ocupantes, porque se baseou em pretextos que, depois de revelados falsos -- a história da armas de destruição maciça e as ligação de Bagdad à Al-Qaeda --, a deslegitimaram face à opinião pública dos próprios Estados Unidos e seus aliados na guerra. Parece hoje evidente que se na altura se soubesse que os pretextos da guerra eram infundados, teria sido impossível obter o necessário apoio dos parlamentos e da opinião pública.
Mas o insucesso da guerra do Iraque nada prova sobre a capacidade das democracias para desencadearem e conduzirem guerras justas, ou seja, guerras de defesa contra a agressão ou ameaça de agressão alheia -- nos termos da Carta das Nações Unidas -- ou guerras motivadas por fortíssimas razões humanitárias (nomeadamente genocídios), ultimamente admitidas. Nada do que JPP diz sobre a suposta incapacidade das opiniões públicas dos países democráticos para suportarem guerras (tendo em conta a guerra do Iraque) valeria, pelo menos nos mesmos termos, para o caso de guerras legítimas e justificadas.
O que o fracasso da guerra do Iraque mostra é que nem a maior superpotência consegue triunfar na invasão e ocupação de outros países, sem motivos bastantes. Mas não existe nenhuma razão convincente para sustentar que as democracias de hoje não estariam em condições de travar e vencer uma II Guerra Mundial. Aí estava em causa uma guerra de legítima defesa contra a agressão nazi e nipónica na Europa e no Pacífico, com ocupação e opressão de numerosos países e povos. Nada indica que os povos dos países democráticos de hoje estejam menos preparados para defenderem o seu país da agressão ou ocupação estrangeira ou de ir em socorro dos aliados que sejam vítimas delas (como aliás sucedeu na primeira guerra do Golfo, contra o mesmo Iraque, motivada pela invasão do Kuwait e por isso apoiada praticamente por toda a comunidade internacional) com o mesmo "patriotismo" e o mesmo entusiasmo do passado. Por conseguinte, a guerra do Iraque não significa um requiem pela capacidade das democracias para fazerem toda e qualquer guerra, mas sim somente para fazerem as guerras que desde logo não devem ser desencadeadas, por serem ilegítimas e/ou desproporcionadas. As guerras ilegítimas não deixam de o ser só por serem desencadeadas por democracias.
Ainda bem que elas podem falhar!

Vital Moreira

quinta-feira, 24 de junho de 2004

A melhor frase da noite


A melhor frase da noite estava escrita na camisola de uma adepta portuguesa, em língua que inglês entende:
Como podem ganhar o Euro, se nem querem entrar para o euro?
Mesmo por pouco, desta vez a libra foi vencida!

Pacheco sem máscara

«Os profissionais da má-fé que lêem este artigo já estão a aguçar a pena, preparando-se para dizer que aquilo que mais me preocupa não são as torturas mas a sua divulgação, logo perdendo toda a «autoridade» para jamais vir a falar de direitos humanos, decretarão».
Esta é uma das tortuosas e torturadas frases de José Pacheco Pereira no antológico artigo que escreve no Público de hoje sobre a guerra no Iraque. Linhas atrás podia ler-se o seguinte:
«As fotografias e a sua divulgação representam um acto hostil, um acto que numa guerra significa objectivamente ajudar o inimigo e do qual resultaram e resultarão baixas para as tropas da coligação».
Eis apenas uma amostra para que os «profissionais da má-fé» porventura distraídos agucem a pena. Não é todos os dias que Pacheco deixa cair a máscara. Ele deve estar mesmo desesperado -- mais desesperado do que George W. Bush... -- para perder assim o decoro...e a boa-fé. Onde (e quando) já lemos e ouvimos coisas destas?!

Há sangue, não tarda

Como era de prever, já há espadas desembainhadas no seio da coligação governamental. Resta saber se a contenda se salda com poucas baixas ou se é o princípio do fim.

Uma vitória do TPI

Face à perspectiva de segura rejeição pelo Conselho de Segurança, os Estados Unidos abandonaram a proposta de renovação da imunidade dos seus nacionais que se encontrem no estrangeiro em missões de segurança da ONU face ao Tribunal Penal Internacional. Essa imunidade, que sempre contou com muita resistência, não podia renovar-se indefinidamente, criando uma situação de excepção para um País só por este ser contra o TPI.
Ainda bem. Salvaguarda-se assim a jurisdição do Tribunal, registando os Estados Unidos uma bem-merecida derrota, que devia poder mostrar-lhe que mesmo as superpotências têm limites.

Está aberto o debate sobre o referendo europeu

No seu artigo de hoje no Diário de Notícias Miguel Portas resume o que presumivelmente vai ser o guião do Bloco de Esquerda para a defesa do "não" à Constituição Europa no referendo já anunciado para o início do próximo ano. Independentemente das razões a favor e contra -- sobre as quais se trocarão muitos argumentos até ao referendo --, MP faz duas afirmações sobre questões adjacentes que carecem de precisão. Assim:
a) Não é correcta a afirmação de que a recente revisão da CRP já faz menção à Constituição europeia, ainda antes de ela existir; aliás, a regra constitucional que foi acrescentada à nossa Lei Fundamental, acerca da primazia do direito comunitário sobre o direito interno, é relevante independentemente de haver Constituição europeia ou não;
b) De facto, a CRP não consente referendos directos sobre a aprovação (ou não) de tratados internacionais; mas isso não constitui nenhuma regra especial, pois a CRP também não admite referendos directos sobre a aprovação (ou não) das leis, e pela mesma razão, ou seja, especificamente para não retirar aos órgãos representativos o exercício da função legislativa (e da aprovação de tratados). Mas a Constituição não impede referendos sobre as questões políticas essenciais que hajam de ser vertidas em leis ou tratados, podendo por isso impedir ou impor a aprovação das correspondentes leis ou tratados, pela AR ou pelo Governo, conforme os casos.
É evidente que, como quer que seja formulada a pergunta (ou perguntas) do referendo, o que vai estar politicamente em causa é sempre o "sim" ou o "não" ao "tratado constitucional". Mas a competência final para aprovar (ou não) a Constituição europeia continuará a caber à AR, a qual estará obviamente vinculada pelo resultado do referendo (se este tiver a participação de mais de metade dos eleitores).

quarta-feira, 23 de junho de 2004

Obrigado

Na impossibilidade de mencionar todos os blogues (de tantos que foram) que de qualquer modo se referiram à festa do Causa Nossa, antes e/ou depois da sua realização, manifestamos desta forma o nosso agradecimento a todos eles, e em especial àqueles, e muitos foram, cujos autores puderam campartilhá-la conosco. Fica-nos o ânimo para reeditar no futuro esta bem-sucedida experiência.

PS - Importa lembrar que o evento não estava sujeito a convite individual, estando todos os blogues (juntamente com os nossos leitores) convidados pelo "edital" atempadamente afixado aqui no CN, pelo que ninguém foi preterido.

Puxa agradecimento

De entre as saudações que recebemos pela nossa Festa do Solstício não quero deixar de agradecer especialmente ao Raimundo Narciso do Puxapalavra, pelas suas belas orquídeas! Fiquei sensibilizada! Espero que a Festa tenha correspondido.

Maria Manuel

Cábula para um prémio bizarro

Confesso que me vi em palpos de aranha para arquitectar uma explicação dos motivos que nos levaram a criar o prémio José Mourinho e dos critérios seguidos nas nomeações. Enquanto os meus companheiros de blog se sentiram confortáveis com as suas «trouvailles» mais ou menos poéticas, eu sofri com o dever de ser minimamente pedagógico na minha missão de oficiante do dito prémio, de forma a torná-lo menos esotérico do que parecia (ou seria). Para isso escrevi uma laboriosa cábula que só as gargalhadas dos bloguistas reunidos no Lux resgataram do ridículo. Eis o que reza a cábula (para eventual esclarecimento de quem não esteve na festa):

«Homenagem ao super-herói português da actualidade, prémio muito masculino, que visa distinguir figuras muito acima da mediania nacional, muito afirmativas, de barba rija, no sentido real ou metafórico, e que constituem exemplos do espírito empreendedor português tão caído no esquecimento ou nas ruas da amargura. Responsáveis por obras, iniciativas ou coisas prodigiosas cuja ousadia ultrapassa a imaginação ou a verosimilhança (num país onde a pequenez é de regra e os grandes gestos são raros) e se situam na fronteira entre o real e o virtual.

Os nomeados são, obvia e indiscutivelmente, José Mourinho, até por ser inspirador do prémio e dispensa, por isso, outras justificações.

Alberto João Jardim pela sua insuperável longevidade política, por ter criado um verdadeiro Estado dentro do Estado, ainda por cima insular, onde faz vingar há quase trinta anos uma concepção verdadeiramente singular das liberdades democráticas e do rigor financeiro. Rigor que não o impede, como ainda hoje foi noticiado, de anunciar 129 inaugurações -- 129, notem a precisão do número, não são 130 -- até às próximas eleições regionais.

E, finalmente, Pedro Santana Lopes, pelo seu frenético e imbatível talento para inventar surpresas e factos políticos e por ter criado na capital do país um exuberante clima festivo como nunca se viu, com uma prodigiosa capacidade de imaginar e realizar obras virtuais como o túnel do Marquês, o novo parque Mayer de Frank Ghery, o casino do Jardim do Tabaco, a feira popular ou o hipódromo em Monsanto, sem falar de outras coisas igualmente fabulosas e dignas de uma fantasia oriental. Tudo isto, sem esquecer, claro, a sua candidatura (não se sabe se real ou virtual) à presidência da República.»


(PS... Como já é conhecido, o vencedor foi Pedro Santana Lopes)

Vicente Jorge Silva

Mourinho, Santana... e Abramovich

Apesar da modéstia dos nossos propósitos, a festa do Causa Nossa, ontem à noite, assumiu a dimensão de verdadeiro acontecimento histórico: pela primeira vez, os bloguistas portugueses aceitaram descer do olimpo blogosférico e conviver uns com os outros num ambiente descontraído e bem-humorado (para o que contribuiu a divertidíssima performance do nosso Luís Filipe Borges e a distribuição dos nossos «Blogóscares»).

Para tornar o acontecimento definitivamente extravagante só faltou a comparência do oligarca russo Abramovich, cujos iates, saídos directamente de um filme de James Bond, estavam estacionados na doca junto ao Lux, onde decorreu a festa. Outra ausência notada foi a de Pedro Santana Lopes, que jantava ao lado, na Bica do Sapato, e foi o «winner» do prémio José Mourinho (que, quem sabe?, deveria também estar ali por perto, em frenéticas negociações de compra de jogadores com o patrão do Chelsea, e por isso não terá podido comparecer). Foram coincidências bizarras para mim, a quem coube por sorteio a honrosa missão de entregar o prémio José Mourinho...a Pedro Santana Lopes: uma embalagem Davidoff de gel para o cabelo.

Vicente Jorge Silva

Afinal, na sua maior parte, os iraquianos ...

... ainda estão vivos!
Paul Bremmer, o cônsul da administração de ocupação norte-americana do Iraque, é citado pelo satírico The Onion como tendo dito, ao fazer o balanço da ocupação antes do transferência de poder para a nova administração iraquiana, o seguinte :
"As anyone who's taken a minute and actually looked at the figures can tell you, the vast majority of Iraqis are still alive - as many as 99 percent. While 10,000 or so Iraqi civilians have been killed, pretty much everyone is not dead."
Uma excelente caricatura (si non è vero, è bene trovato...). Poderia aliás ter acrescentado na mesma veia: provavelmente "só" haverá umas dezenas de milhares de estropiados e concerteza "só" se contarão umas centenas de vítimas de maus tratos e sevícias nas prisões dos ocupantes. Em conclusão, uma ocupação assaz benigna!

[Corrigido]

Obviamente, sim!

O meu artigo de ontem no Público, intitulado "A refundação da UE" (também arquivado aqui na Aba da Causa), abordava entre outras coisas a questão do referendo ao "tratado constitucional" aprovado há dias no Conselho Europeu de Bruxelas. Defendendo a realização de um referendo nacional prévio à aprovação parlamentar e ratificação presidencial, propunha eu que ele tivesse lugar no final do corrente ano ou no princípio do próximo, ou seja, depois das eleições regionais e bem antes das eleições locais do ano que vem. Hoje tanto o PS como o Governo vieram defender a mesma solução, que de facto parece a mais conveniente. Partindo do princípio de que o Presidente da República -- a quem cabe convocar o referendo sob proposta da AR -- não obstaculará o consenso partidário sobre a matéria, mesmo sendo conhecida a sua prudência neste dossier, está portanto assente: teremos referendo.
Desde já declaro o que não é surpresa: sou a favor da Constituição europeia e vou lutar pela vitória do "sim". Importa lembrar que já em 1992 defendi o referendo sobre o Tratado da UE (tratado de Mastricht), explicitando a minha posição favorável. Tendo em conta a tradição dos referendos "não" em Portugal (despenalização do aborto, regionalização), é importante que desta vez não se corra esse risco. Há muito trabalho de esclarecimento e mobilização a realizar. É o futuro da UE e o de Portugal que estão em causa.

Os blogues na capital

Tomando como referência a festa de ontem do Causa Nossa, o jornal A Capital dedica três páginas da sua edição de hoje à blogosfera portuguesa, incluindo história, análises e entrevistas. Oportuno e imprescindível. Aliás o jornal revela uma assinalável atenção aos blogues, publicando diariamente uma secção chamada "Blogmania" com a reprodução de um post ou dois colhidos na blogosfera nacional. Infelizmente, o diário regional de Lisboa ainda não está on-line (Luís Osório, o director, diz que o website vai aparecer em 1 de Julho).

"Blóscares" Causa Nossa

Além da stand-up comedy do Luís Filipe Borges (um grande sucesso de humor), o programa da nosssa Festa do Solstício incluiu a atribuição dos prémios Causa Nossa, cujas categorias e cujos nomeados já tinham sido aqui divulgados. Os felizes laureados foram os seguintes:

a) Prémios à blogosfera :
(1) Prémios à carreira bloguística: António Granado (Ponto Média), J. Pacheco Pereira (Abrupto), Paulo Querido (O Vento lá Fora)
(2) Prémio à esquerda: Barnabé,
(3) Prémio à direita: Mar Salgado
(4) Prémio ao melhor blogger: Pedro Mexia

b) Prémios à sociedade:
(5) Prémio Força Portugal: Diogo Vaz Guedes
(6) Prémio José Mourinho: Pedro Santana Lopes
(7) Prémio Armas de Destruição Massiva: Luís Delgado
(8) Prémio 5ª Dimensão: José António Saraiva
Parabéns aos contemplados, vários dos quais estavam presentes, tendo recebido directamente o correspondente "blóscar".

Vemo-nos no Equinócio!

A festa foi bonita. 200 e tal pessoas, cerca de metade dos nomeados e vencedores presentes. Bom ambiente, copos, tertúlia. Daqui a nada, publicaremos aqui a lista dos premiados. Obrigado a todos os que compareceram, aos que avisaram da sua ausência, à amabilidade do Manuel Reis que ofereceu o seu espaço por uma noite inteira. Foi muito agradável. Mas não consigo escrever mais do que isto porque estou de ressaca. Ainda bem. É bom sinal.

ó tempo, volta p'ra trás

Houve uma época em que a blogosfera era um espaço quase revolucionário, aberto, belo e fraterno, onde se trocavam opiniões de forma saudável, havia empatia natural e os desconhecidos eram solidários e apoiavam-se uns aos outros. Foi uma época linda!
...Durou exactamente uma hora. Mais ou menos o tempo que a malta demorou a perceber como é que se metia o site meter.

O Meu Abrupto

Descobri a forma de tornar o Abrupto divertido, interessante e, sobretudo, legível. É só abordá-lo com o espírito de quem lê o Pipi. Faça assim, é simples: onde estiverem as palavras "EU", "JOSÉ MAGALHÃES" e "ESQUERDA"; leia antes "berlaitada", "sarapitola" e "rotos".

terça-feira, 22 de junho de 2004

O fado cruel de Guterres e Durão

Assim que se começou a falar em Guterres para presidente da Comissão Europeia a estrela do então primeiro-ministro entrou em queda. Percebia-se a atracção poderosa que o cargo exercia numa personalidade cujas características predestinavam para o seu exercício. Com efeito, chefiar o executivo europeu seria muito mais gratificante do que gerir a pequenez política doméstica. Mas Guterres tinha um compromisso nacional e entendeu que não podia rompê-lo. Até que, como é conhecido, acabou por sair do palco, sem glória, por causa de um desastre autárquico.

Ignora-se até que ponto a frustração por não ter ocupado a presidência da Comissão Europeia (e o sacrifício penoso de permanecer em Lisboa) terá influenciado o posterior abandono de Guterres. Nem o próprio saberá, porventura, dizê-lo. Mas a história repete-se como uma fatalidade e uma tentação cruel para o seu sucessor, Durão Barroso, dado agora como favorito para o cargo.

Depois do cataclismo das europeias, o actual primeiro-ministro deveria sentir também um desejo fortíssimo de fugir aos horrores políticos e às ingratidões eleitorais domésticas e voar para um grande destino internacional. Mas, tal como Guterres, Durão parece igualmente prisioneiro do fado (e fardo) político que o retém em Lisboa. Quem ousou apostar que seriam, um dia, irmãos-siameses neste infortúnio?

Depois de tanto ter criticado Guterres por fuga às responsabilidades quando este se demitiu na sequência das autárquicas, com que cara Durão Barroso faria as malas a caminho de Bruxelas após ter sofrido o estrondoso revés de 13 de Junho? E quem ocuparia o seu lugar? Santana Lopes? Ferreira Leite? Marques Mendes? Arnaut? Morais Sarmento? Entramos no domínio do mais improvável surrealismo político.

Os tão desejados primeiros-ministros portugueses parecem assim alvo de uma maldição, um suplício que não se deseja nem aos piores inimigos, como se a Europa fosse uma promessa de prazeres sempre frustrados e inacessíveis. Mas são prazeres tão voluptuosos e tão gratificantes para o ego que Durão ainda não se atreveu a desmentir formalmente a sua entrega nos braços da tentadora vestal. Ah, fado cruel!

(PS Escrevo este post melancólico a poucas horas do início da nossa festa no Lux. Por favor, queridos bloguistas, não se deixem influenciar pelo tom fadista que aqui soa como em guitarra velha. Mais logo, a música é outra e vamos todos brindar alegremente. Eia! )

Vicente Jorge Silva

O paradoxo europeu

Se tivesse de dar o meu voto sobre a Constituição Europeia, responderia, com toda a clareza, sim. Porque acho que este tratado constitui um indiscutível avanço no sentido da integração política da Europa e porque sem ele mergulharíamos definitivamente no pântano da impotência e da irrelevância que há tanto tempo ameaça o projecto europeu. Mas, por outro lado, não posso escamotear os resultados das recentes eleições europeias e o seu significado essencial: abstenção, indiferença, cepticismo, distância, face a uma Europa abstracta e conduzida por uma vanguarda política que não consegue mobilizar o interesse dos cidadãos. A Constituição Europeia foi, de resto, a grande ausente do debate eleitoral, embora seja agora apresentada como um objecto de consenso quase miraculoso entre os 25 Estados da União (isto é, entre os seus governantes).

O paradoxo é flagrante e insustentável: quanto mais os cidadãos se afastam do projecto europeu, mais os políticos sentem a necessidade de puxá-lo para diante. Cava-se, assim, um vazio crescente entre a Europa política e a Europa real, entre uma Europa avançada e uma Europa recuada e não participada democraticamente. O Parlamento Europeu passará a ter poderes acrescidos com a Constituição agora aprovada, mas esse ganho de legitimidade democrática está muito longe de interagir com a consciência cívica e política dos povos europeus.

Finalmente, depois do grande gesto simbólico da refundação europeia, os responsáveis políticos da União mostram-se incapazes de ultrapassar os negócios de mercearia e adiam a escolha do novo presidente da Comissão. Aprova-se um excelente texto normativo mas fica por encontrar um rosto para o poder executivo. Tudo isto soa terrivelmente a falso, ou não? A verdade é que quanto mais me sinto europeu, mais me sinto frustrado com a Europa que vamos tendo.

PS ? Espero que estas reflexões desencantadas não afectem o ambiente de festa que desejamos celebrar hoje. Nada de confusões. Pois ânimo, alegria e excelente espírito de confraternização bloguística logo à noite no Lux, para comemorar os 6 meses de vida do Causa-Nossa!

Vicente Jorge Silva

E, agora, até logo...

... que temos de ir para a festa (ver penúltimo post, abaixo). Lá os esperamos!

Maldita fotografia!

Relata o Público de hoje: "Durão Barroso reúne as condições necessárias [para ser presidente da Comissão Europeia], mas a cimeira dos Açores pesa contra si", reconheceu um diplomata europeu. "É a fotografia que estraga tudo" , reconheceu.
E não se pode fazer "delete"?

PS - A pergunta é óbvia: caso o alinhamento com Washington na guerra do Iraque não prejudicasse à partida a hipótese da presidência da Comissão, estaria Durão Barroso disponível para fugir de Lisboa para Bruxelas, depois da contundente derrota nas eleições europeias e no meio das dificuldades que a coligação governamental atravessa?

Festa do solstício (III)

É mesmo hoje, 3ª feira, a anunciada festa do Causa Nossa, anunciada há vários dias, aqui e aqui. Esperamos amigos, leitores do nosso blogue e outros bloggers. Estão todos convidados. A entrada é livre. Venham daí para umas bebidas, dois dedos de conversa (ou mais), "stand-up comedy" pelo nosso Luís Filipe Borges, a entrega dos prémios já divulgados.

PS - Para a Ana Sá Lopes: nós aqui no Causa Nossa somos o que parecemos. Está-nos na cara! Mas mesmo sem mistério esperamos não decepcionar. Contamos cumprimentar a equipa do Glória Fácil logo à noite!