segunda-feira, 19 de julho de 2004

O «croupier» de Perelada

 Um pequeno grupo de portugueses que participou há dez dias, na Catalunha, num colóquio sobre relações peninsulares, pôde testemunhar um fenómeno assaz estranho de premonição política. Sábado, 10 de Julho, à noite, Telmo Correia cumpria zelosamente as suas funções de «croupier» no casino de Perelada. Ficámos atónitos com o misterioso desdobramento de papeis do então líder parlamentar do CDS. Mas na sexta-feira seguinte o enigma seria esclarecido: Telmo Correia é nomeado ministro do Turismo do Governo de Santana Lopes. Contrariando a convicção generalizada, ele está mesmo familiarizado com alguns segredos do sector que vai tutelar. Querem melhor prova? Pelo menos por uma noite ele foi «croupier» em Perelada.
 
Evidentemente, quem vimos em Perelada não foi Telmo Correia, mas um seu duplo quase perfeito. Só que nessa altura nem nós, nem o próprio Telmo sabíamos que lhe estaria reservada a pasta em que se exercitava através do seu sósia num casino catalão. A coincidência é digna de um episódio dos Ficheiros Secretos. Aliás, a última revista do Público dedicava o tema de capa aos fanáticos portugueses das aparições extra-terrestres, na mesma edição em que publicava uma biografia de Santana Lopes. Não acham coincidências a mais?
 
Não viremos um dia a saber que este Governo foi formado por insondáveis influências telepáticas e mediúnicas? Imaginemos, por exemplo, que no mesmo dia em que Telmo Correia, através do seu duplo «croupier», ensaiava os seus dotes turísticos em Perelada, um duplo de Nobre Guedes, militante da «Greenpeace», manifestava-se em Houston contra o efeito de estufa e a insensibilidade ecológica da Administração Bush. Imaginemos ainda que Paulo Portas e Santana Lopes tiveram, nesse dia, a visão extraordinária que os conduziu até às escolhas mais surpreendentes deste Governo. Mas imaginemos finalmente que, tal como num episódio dos Ficheiros Secretos, quem hoje ocupa os lugares de ministros do Turismo e do Ambiente não são os verdadeiros Telmo Correia e Nobre Guedes mas os seus duplos ou clones: ou seja, o «croupier» de Perelada e o militante da «Greenpeace». Inverosímil? Talvez não tanto como o próprio Governo que agora temos.
 
(Asseguro que a história de Perelada é verídica e pode ser testemunhada por fontes absolutamente credíveis).

Vicente Jorge Silva.

Latitudes

Esqueci-me de prevenir que ia de ferias por duas semanas. Aqui vai o aviso tardio e sem caracteres portugueses, fruto das latitudes onde me encontro. Se conseguir resolver este pequeno problema e me dispuser a vencer a preguica, pode muito bem ser que contribua com um ou dois posts durante o defeso. Saudacoes estivais.
 
Luis Nazare

Quase Famosos

O Francisco Mendes da Silva, o Nuno Costa Santos, o Pedro Adão e Silva e o Cristovão Gomes juntaram-se numa casinha aqui ao lado. A casa é elegante na sua simplicidade e caracteriza-se por ter discos espalhados por todo o lado. Ainda nem tiveram tempo para convidar os amigos a passar por lá, de tão enlevados que estão na audição das músicas das suas vidas. Mas o bom da blogoesfera é que os penetras jamais serão castigados. E o blog destes 4 melómanos é dos melhores prazeres que podemos encontrar por aqui. Eles têm, creio bem, o que Miguel Esteves Cardoso tinha na sua "Escrítica Pop": não é só o conhecimento enciclopédico, a escrita de rasgo, a cultura - não é só isso - têm ainda o afecto, uma ternura enorme por aquilo ou aqueles de quem escrevem. O que nos leva a devorar os posts e a pedir mais. Ainda por cima, apresentam uma estreia absoluta nas lides virtuais, o Cristovão Gomes (não percam tempo em descobri-lo!). Finalmente, recomendo vivamente este blog por um motivo bem mais prosaico: invejo-os de morte. Nunca poderia fazer parte da sua equipa-maravilha.

a melhor esplanada do país

Poesia, imagens, Marlon Brando, humor, política e conselhos infalíveis para deixar de fumar - de tudo isto e muito mais se conversa, com brilhantismo, no blog do momento. Com que então a blogosfera estava falida?

domingo, 18 de julho de 2004

Na ausência do Vital, o nosso post diário sobre a situação política

O governo de Santana/Portas lá tomou posse e o que penso disto é que, enfim, mais do mesmo ou talvez não, quer dizer, se calhar o Sampaio errou, mas afinal sabe Deus, não é? Que isto da política tem que se lhe diga... E depois o Santana até fala bem, pois fala, o Portas com aquele fato às riscas parece um, quer dizer, não sei se parece - as opiniões são como os... não sei se posso escrever isto. Quem ficou foi o Pacheco porque quer ter liberdade para falar, falar é bom, é fixe, é a falar que a gente se entende. Acho bem, se falar muito talvez escreva menos, quer dizer, o Luís Delgado também escreve e é o que se vê e depois o José Manuel Fernandes com aqueles editoriais, valha-nos nossa senhora, enfim, isto é tudo muito complicado, o Ferro vai fazer uma travessia do deserto, ou talvez não, seja como for o Portas deu uma valente gaffe, o Sampaio não chorou, as mortes sucedem-se e já não se sabe o que dizer da retoma. Esclarecidos?

Enchidos ao domingo

Ontem à noite, no Incógnito, sou abordado na pista por um tipo com a seguinte urgência: "Tu, pá... Tu és aquele gajo do... aquele blog... sim, és tu, pá! És daquele blog, pois és, muita bom, que já não existe, és tu, daquele blog que agora não m'alembra o nome... Não interessa... parabéns!". Reconhecer um tipo por causa de um blog?! Cada vez tenho menos pachorra para bêbados.

sábado, 17 de julho de 2004

Finalmente, a prova.

As fontes eram muitas e fidedignas. Mas ontem, finalmente, conheci o indivíduo - comum mortal, como nós - que dormiu na mesma noite com duas conhecidas modelos e apresentadoras de TV da nossa praça. Ficam assim esclarecidas todas as dúvidas. Deus existe.

sexta-feira, 16 de julho de 2004

Santana, o imparável

No seu afã de nos surpreender a todos, ao ritmo de um facto político por minuto, Santana Lopes já deve ter deixado cair o propósito de colocar ministérios e secretarias de Estado fora de Lisboa. Imagine-se só que o novo Ministro de Estado e dos Assuntos Económicos iria trocar a Lapa pela Boavista! (Quem sabe, aliás, se uma das razões da promoção estatal do ministério não foi mesmo para justificar a sua permanência na capital?).

Em contrapartida, a nomeação anunciada de Nobre Guedes para o Ambiente (falara-se dele para a Justiça, mas, pelos vistos, as duas pastas são claramente intermutáveis) é uma demonstração de génio imaginativo na relação de forças dentro da coligação. Já agora, porque não recuperar Celeste Cardona para a Cultura ou até Figueiredo Lopes para a Inovação, em vez de remetê-los para o desemprego político?

O único problema é que a sugestão já não vai a tempo (embora Santana tenha demonstrado uma humildade assinalável na aceitação de todas as sugestões, nomeadamente as da comunicação social, conforme declarou). Lançado no seu afã de voluntarismo político e de primeiro-ministro mais veloz do que a própria sombra, Santana já terá antecipado a tomada de posse do Governo para este fim-de-semana, precedendo assim o glorioso 19 de Julho de todos os aniversários que se propunha comemorar. Será que, afinal, não quis ser confrontado com o fantasma de Sá Carneiro e decidiu surpreendê-lo pela antecipação?

Vicente Jorge Silva

Milagre socrático

Segui pela SIC-Notícias o discurso de candidatura de José Sócrates a secretário-geral do PS. Foi um discurso arguto e abrangente, tão abrangente que eu não teria qualquer dificuldade de subscrever na maioria dos pontos. Especialmente aqueles que se referiam à necessidade imperiosa de renovação do PS, de abertura à sociedade e de regresso ao espírito dos Estados Gerais (pontos onde Ferro, muito por culpa própria, fracassou).

Durante o discurso, essas passagens foram sublinhadas por aplausos muito vivos de uma plateia que a câmara (imóvel) da SIC não mostrava. Só no fim se quebrou o suspense e nos foram revelados rostos entusiastas da renovação prometida. Estava lá a fina flor do aparelho do PS, nomeadamente das federações distritais que tão bem conhecemos e cuja paixão pelas propostas renovadoras se tornou célebre. E pairava no ar aquele clima unanimista e inconfundível da velha corte pressurosa em prestar vassalagem ao novo príncipe.

Espero para ver como Sócrates irá ultrapassar a quadratura do círculo. Sobretudo depois dos meses a fio que ele levou a recrutar apoios para a sua candidatura entre o que o PS tem de mais velho, mais gasto, mais clientelista e menos renovável. Construir o novo com o velho releva do milagre. Mas Sócrates chama-se Sócrates. Quem sabe se esta coincidência auspiciosa não nos reserva um prodigioso milagre?

Vicente Jorge Silva

Rui Cardoso Martins

Portugal parece um país de humoristas. Um país de gente refém das gargalhadas e de um sentido não real da existência. Não é, de todo, algo de muito surpreendente. As pessoas tomam comprimidos para rir e para chorar, a vida é cada vez mais um exercício complexo, cada dia um exercício onde o curto prazo vence qualquer dimensão mais profunda.
Com o nascimento das Produções Fictícias, que começaram por aproveitar a oportunidade de Herman José, o universo do humor tornou-se mais interessante. Mas, ao mesmo tempo, inquietante. Há gente que, manifestamente, começou a sobrevalorizar-se doentiamente. Formataram-se na construção de piadas e, julgando poder deixar uma qualquer marca na história, estão condenados ao esquecimento.
Voltarei ao assunto. Mas não posso deixar em claro o texto publicado no excelente Inimigo Público por Rui Cardoso Martins. É que agora posso dizer que já fui motivo de cinco minutos da atenção daquele que é, na minha opinião claro, o mais talentoso e brilhante escritor de humor em Portugal. Aquele que é responsável, creio, pelo melhor programa dos últimos anos na RTP e por uma extraordinária crónica semanal no Público.
Por um lado, faz o seu caminho e continua a dar lições aos mais jovens. Mas, por outro, tenho um pouco a ideia que está a perder tempo numa estrutura que privilegia o anonimato e lhe trava as ambições. Mas isto sou eu a pensar. E pode ser que nada disto faça sentido para o Rui, que nem sequer conheço pessoalmente. 
Luís Osório

O Estadão dos Assuntos Económicos

Depois de dois pesos pesados (pesadíssimos) dos «lobbies» económicos, Dias Loureiro e Angelo Correia, terem apadrinhado Santana Lopes nas suas diligências para a formação do Governo, a designação de Álvaro Barreto para o ministério da Economia confirma que a confederação informal dos interesses empresariais vai estar representada ao mais alto nível no próximo Executivo. Aliás, Barreto não será simplesmente ministro da Economia, mas ministro de Estado e dos Assuntos Económicos.

Álvaro Barreto é um velho senhor educadíssimo e simpatiquíssimo (digo-o sem qualquer sombra de ironia, ele é mesmo assim) que passou por inúmeros conselhos de administração e foi assessor de outros tantos. A sua carteira como agente de representações do poder económico é tão volumosa que chega a intimidar. Além disso, Barreto é uma bela figura, com um perfil de patrício romano, no esplendor dos seus quase setenta anos de idade.

Ministro da Economia, «tout court», era um papel escasso para tal personagem. A Economia foi assim promovida, assaz justamente, a Assuntos Económicos (pois é deles que se trata, não de mera e abstracta Economia). Só acho que ministro de Estado é um título que sabe a pouco, tendo em conta o volume e infinita diversidade dos ditos Assuntos de que Álvaro Barreto é familiar. Estadão seria mais adequado e soaria melhor. De facto, os Assuntos Económicos não são apenas matéria de Estado, mas de Estadão.

Vicente Jorge Silva

Entro de baixa...

... ao blogue por motivo de férias, por umas duas semanas. Vantagem dos blogues colectivos, sempre fica quem se encarregará de alimentar o Causa Nossa

Receita para o êxtase

Veneza, Mahler (em versão jazz pelo Uri Ensemble Caine)  e um poema que fala em «perder (...) / a última carreira do vaporetto». Eis uma receita simples para o êxtase.
Obrigado Ademar!

Comércio electrónico & confiança

Mantidas em "low profile" durante os primeiros anos, as compras "on line" disparam agora a ritmos relativamente acelerados. Mais de um terço dos internautas franceses (8,3 milhões), de todas as idades, compram em linha com regularidade. À frente continuam os discos e os livros, mas o mercado das viagens e do turismo é o que mais progride. Roupa, produtos de fotografia e informáticos, jogos de vídeo, bilhetes de espectáculos, perfumes e flores (mesmo a sério e não apenas virtuais como as que recebi no dia da festa do Causa Nossa) ocupam os lugares seguintes. Os produtos alimentares são os que mais resistem, provavelmente devido à densidade do comércio de proximidade neste sector.
Tal como entre nós, em estudos feitos há alguns anos, o principal obstáculo continua, no entanto, a ser a segurança das formas de pagamento em linha. Em boa verdade, talvez não seja tanto um problema de insegurança informática propriamente dita, mas muito mais um problema de falta de confiança no sistema aquilo que afasta tantos consumidores de escrever o número do seu cartão de crédito num écran de computador.


«O mundo é imperfeito»

«(...) O gesto [de Pacheco Pereira] é bonito e nobre (é um bom exemplo de postura pública e dignidade pessoal). Mas parece-me que se baseia num erro de apreciação do contexto, contudo.
Continuo a defender, à semelhança do que escrevi várias vezes em
http://taf.net/opiniao/ , que devemos adoptar uma posição mais institucional. Parece-me mal que decisões destas sejam tomadas em função da pessoa concreta que irá estar nas funções de Primeiro-Ministro. O que está em causa não pode depender de fulano A ou de fulano B. É de Portugal que estamos a falar, não é de PSL ou PP.
Mais: quer se queira quer não, PSL foi _eleito_, mesmo que indirectamente. Pode-se argumentar (provavelmente bem) que não era isso que o povo queria, mas as regras que nos regulam são essas e chegou-se aqui sem violar objectivamente a Lei.
O mundo é imperfeito, aceitemo-lo assim e façamos o melhor que sabemos nestas condições. Isso não é quebrar princípios nem amolecer com inércia. A única razão válida para uma "demissão" nestas circunstâncias seria considerar que o simbolismo desse acto tem o valor de um exemplo de alerta. Respeito-o por isso.»


(Tiago Azevedo Fernandes)

quinta-feira, 15 de julho de 2004

Pacheco Pereira renuncia...

... ao cargo de representante na UNESCO, para que tinha sido nomeado há pouco tempo pelo Governo cessante. É evidente a ligação desse gesto com a sua posição fortemente crítica em relação ao novo primeiro-ministro, Santana Lopes.
A dignidade pessoal e a coerência nos princípios não têm preço. Ainda bem!

Seguindo o rasto

De palavra quase desconhecida na língua portuguesa até há pouco (salvo na área médica), a rastreabilidade tornou-se, em poucos anos, um instrumento de enorme importância para garantia da segurança das pessoas, da informação ou das mercadorias. Seguir o rasto ou o percurso desde a origem é hoje uma tarefa central, quase obsessiva, em muitos domínios, que vão desde a genética aos alimentos. Foi este o tema que desenvolvi no artigo do Diário Económico de hoje, também disponível na Aba da Causa.

Aplauso para Luís Osório

Pleno acordo com o Rui Branco, no Adufe, no elogio da atitude de Luís Osório, como director de A Capital, face à não confirmação da convocação de eleições, que o jornal tinha dado como certa com base em "fontes absolutamente fidedignas".
Ver também as declarações do próprio LO ao Diário de Notícias.
Vale a pena transcrever uma passagem do seu editorial sobre o assunto no jornal que dirige:
«O meu lugar
(...) Um director de jornal deve saber assumir e honrar compromissos, em primeiro lugar consigo próprio e com a sua equipa e, obviamente, selar um acordo de confiança com os seus leitores. Não vejo outra forma, apesar de no nosso país esta verdade ser muitas vezes uma realidade meramente teórica.
No auge da chamada crise política, dois dias antes da decisão de Jorge Sampaio,
A Capital, sob minha responsabilidade, noticiou em manchete que o Presidente já se decidira por eleições. Considerei as fontes insuspeitas. Achei que devia avançar porque, na passada quarta-feira à noite, tive a certeza de que as eleições antecipadas eram absolutamente certas. Nunca direi as fontes que tinha, mas a verdade é que não me questionei da veracidade da informação. Só que, dois dias depois, Jorge Sampaio não dissolveu o Parlamento. E, até ao fim, apesar de muita gente me garantir que, afinal, a decisão era contrária ao esperado, acreditei nas minhas fontes de informação.
No dia a seguir, num editorial assinado por mim e por Rogério Rodrigues, pedimos desculpa e garantimos que as consequências desse erro grosseiro seriam avaliadas internamente. É nesse processo que estamos. Coloquei o meu lugar à disposição da administração e da redacção.
Pelo compromisso que assumi consigo quando aceitei a direcção do jornal, quero partilhar tudo o que for verdadeiramente importante na vida de A Capital. E esta é uma altura fundamental na história deste jornal. É crucial assumir riscos, mas, nesse percurso tantas vezes sinuoso, não podemos perder pelo caminho o essencial do que julgamos ser por dentro. Não podemos perder o respeito pelo leitor, esse é o limite de tudo e o princípio de tudo o que deve nortear um órgão de comunicação. E não devemos perder o respeito por nós próprios. (...)»
.
Exemplar, sem dúvida.

Outros muros

Ó Nuno Guerreiro, este post nem parece seu. A diferença essencial entre o muro israelita na Palestina e os outros muros que refere é que estes estão construídos na fronteira dos respectivos territórios, enquanto o muro israelita está construído na sua maior parte em território alheio, isto é, em território palestiniano ocupado, ainda por cima causando o isolamento de numerosas povoações palestinianas, a separação destas em relação às suas terras de cultivo, etc., ou seja, com violação caracterizada do direito internacional humanitário e das obrigações dos ocupantes. Ora, o Tribunal Internacional de Justiça reconhece a Israel o pleno direito de construir o muro na sua fronteira com a Palestina, tendo declarado ilegal o muro na parte em que ele anexa território palestiniano (que é a grande parte dele).
Não confundamos o que não tem comparação!

"Abnóxio"

O Ademar Ferreira dos Santos ("Ademar" somente para os amigos), que trocou o curso de direito em Coimbra pelo ofício de poeta e de professor inovador e dedicado do ensino secundário no seu Minho natal -- quem não ouviu falar na experiência da Escola da Ponte? (*) --, acaba de entrar na blogolândia.
Eis a sua carta de anúncio:
Amigos, Confidentes, Cúmplices e Companhia
Pois, era inevitável!!!!
Desempregado de governo e divorciado de presidente, resolvi associar-me ao movimento bloguista, fundando o ABNOXIO (sem acento, por estúpidas embirrações tecnológicas que jamais entenderei). Quando quiserdes espreitar-me (sem que eu vos veja), sabereis agora como fazê-lo.
Não prometo muito: só poesia (própria e alheia) e algumas intimidades (a propósito ou despropósito). Ah! o endereço da fechadura é o seguinte: www.abnoxio.blogs.sapo.pt.
Não aceito sócios, nem colaboradores: quero masturbar-me sozinho.
Saudações calorosas do

Ademar
Com efeito, era inevitável. E não acreditem no nome do blogue. Ao contrário do que ele insinua, nas mãos do Ademar tudo, até um simples blogue, se torna perigoso.
Felicidades, Ademar!

(*) "Blogue não oficial" da Escola da Ponte aqui.

«A quota de Belém»

Observação malévola ouvida à mesa do jantar:
«Nos primeiros nomes do governo da nova coligação alargada, Bagão Félix, nas Finanças, pertence naturalmente à quota do CDS-PP, reforçada. E o embaixador António Monteiro, na pasta dos Negócios Estrangeiros, pertencerá porventura à quota de Belém?».
"Honni soit..."

quarta-feira, 14 de julho de 2004

Antes fossem mentiras...

«Fracas desculpas [as dos defensores da invasão do Iraque]. Se os serviços de informação funcionaram mal (como já havia acontecido no 11 de Setembro), a responsabilidade política cabe ao Presidente. Pior, ainda, se foram pressionados a dizer o que convinha aos entusiastas da invasão. É irresponsável fazer uma guerra com base em informações tão débeis. Não é irrelevante a ausência de ligações de Saddam à Al-Qaeda (que o vice-presidente Cheney garantia serem de longa data), pois foi esta organização - e não outros terroristas - que declarou guerra ao Ocidente. E qualquer pessoa medianamente informada sabia não ser fácil forjar uma democracia onde ainda não existe um verdadeiro país.
Há quem fale em mentiras, não em enganos. Mas acreditemos na boa fé de Bush: fiquemos pelos enganos. Não serão erros demais para o Presidente da única superpotência? Seria, até, menos inquietante se fossem deliberadas mentiras.»

(Francisco Sarsfield Cabral, Diário de Notícias, 14 de Julho)

Quem diria, hein!?

Numa das audições de Durão Barroso com os grupos políticos do Parlamento Europeu (em vista da sua confirmação como presidente da Comissão Europeia), depois de defender o seu apoio à invasão do Iraque em nome da solidariedade com o aliado norte-americano, acrescentou, porém, tentando ganhar simpatias, que detestava «a arrogância e o unilateralismo» de Washington.
O que vão pensar e dizer desta oportunista manifestação de "antiamericanismo primário" -- quem diria, hein?! -- os costumeiros epígonos lusitanos do Pentágono e de Bush? Um "renegado" em perpectiva?

«Hipocrisia»

«Se os deputados socialistas no Parlamento Europeu votarem contra a nomeação de Durão Barroso para o cargo de Presidente da União Europeia e os deputados do PS português se abstiverem ou votarem a favor estaremos perante um gesto de cobardia e, mais do que isso, da mais pura hipocrisia» --, lê-se no Jumento.
Corrosivo e fundamentado. Leia o resto do post.

Madre televisão

Vale a pena ler este naco de prosa do inefável Luís Delgado, o conhecido comissário "santanalopista" na Lusa (que usualmente anda travestido de comentador político):
«Se vier a confirmar-se [a candidatura de José Socrates à liderança do PS], e a ganhar contra outras hipóteses, o destino tem algumas ironias: Sócrates e Santana fizeram uma dupla de sucesso na RTP, como comentadores, e agora poderão ver-se, não no mundo da Comunicação, mas na realidade, como os dois opositores políticos directos: um como líder da oposição, e o outro como primeiro-ministro.»
Abençoada televisão, prodigiosa parideira de líderes políticos de sucesso! Doravante um tirocínio televisivo deveria ser requisito obrigatório de candidatura a cargos políticos de maior responsabilidade.

Passaculpas

Como antecipavam os mais cínicos, o relatório Butler não culpa ninguém em especial -- nem o Governo britânico nem os responsáveis pelos serviços secretos -- pelos grosseiros erros que levaram Blair a alinhar com Bush na invasão e ocupação do Iraque, a pretexto de armas de destruição massiva (que afinal não existiam) e de ligação entre Bagdad e a rede terrorista da AlQaeda (que também não tinham fundamento). O relatório britânico é por isso ainda mais passaculpas do que o relatório do Congresso dos Estados Unidos, o qual, embora poupando Bush, responsabilizou fortemente a CIA. Em Londres, segundo o referido relatório, a culpa é "colectiva", o que quer dizer que ninguém tem de pagar por ela.
E assim se desculpa uma guerra ilegal e ilegítima, que humilhou as Nações Unidas, dividiu a comunidade internacional, retirou autoridade e meios à luta antiterrorista, deu pasto à hostilidade das massas árabes contra o Ocidente, custou muitos milhares de vidas (sobretudo de inocentes civis iraquianos) e destruiu um País.
"Accountability democrática", dizem eles!?

Parecer

Tenho sido mencionado em vários órgãos de comunicação social nos últimos dias como tendo dado um parecer ao ainda Ministro Carmona Rodrigues sobre a debatida questão da licitude do seu regresso à Câmara Municipal de Lisboa após o termo da incompatibilidade derivada das suas funções governativas.
Na verdade não emiti nem me foi pedida nenhuma opinião jurídica sobre esse caso. Trata-se de errada referência a um estudo que fiz há mais de uma ano para a Associação Nacional dos Municípios sobre a questão, em geral, da suspensão do mandato executivo municipal por efeito do desempenho de funções governativas. A minha conclusão é a de que tal suspensão, que decorre directamente da lei, não tem limite de tempo e que ela não se confunde com as suspensões voluntárias por outros motivos, só estas tendo um limite máximo cumulativo de 365 dias durante o mandato de 4 anos, sob pena de o perda do cargo.
Embora sem ter em conta nenhuma situação concreta, é evidente que essas conclusões valem para o caso de Carmona Rodrigues, o qual pode assim ir ocupar o cargo de Presidente do CM de Lisboa, em substituição de Santana Lopes. Tal é, juridicamente, o meu parecer (salvo melhor evidentemente...).

Palmas comprometedoras

José António Saraiva bate palmas a Sampaio. Se fosse ele, preocupava-me!

Inesperado

António Vitorino "borregou", recusando a liderança do PS. A sua justificação (fora as «razões pessoais«, que são insindicáveis) é pouco convincente. Como entender que Vitorino, um típico "animal político", tenha enjeitado a forte possibilidade de vir a ser primeiro-ministro em 2006 (se não fosse antes)? Não cessam as surpresas na política!

terça-feira, 13 de julho de 2004

Santana sob tutela de Sampaio?

Tal é o tema do meu artigo de hoje no Público, também arquivado aqui na Aba da Causa.