sábado, 24 de julho de 2004

sexta-feira, 23 de julho de 2004

Para onde vai a esquerda do PS?

Confesso que não percebi a intenção de Manuel Alegre ao apresentar-se como candidato a líder do PS, numa sala de reuniões do Parlamento, acompanhado apenas pela gentil Maria de Belém. Será porque João Soares apresentava formalmente, no mesmo dia, a sua candidatura àquele posto (e Alegre entendeu dever marcar o terreno na esquerda do PS)? Em todo o caso, a conferência de imprensa de Alegre pareceu-me improvisada e tosca demais para transmitir uma convicção mobilizadora aos socialistas que não se reconhecem na candidatura aparelhística de José Sócrates nem na candidatura tribal de Soares.

O registo de propriedade da «alma da esquerda» como argumento de combate político contra Sócrates só serve para este apresentar-se como arauto da modernidade contra o arcaísmo partidário. Não é batendo no peito, erguendo o punho e gritando slogans do género «a verdadeira esquerda sou eu» (slogans destituídos de conteúdo e vazios de reflexão sobre os caminhos de uma esquerda actuante e moderna) ou exibindo galões de resistência anti-fascista que se apresentará uma alternativa ao guterrismo-blairismo recauchutado e plastificado de Sócrates. (A propósito, que faz Sérgio Sousa Pinto nesta galera? Como explica ele a sua aliança com o que o PS tem de mais bafiento e clientelista? Move-o apenas o apetite insaciável do poder?).

Será a esquerda socialista capaz de gerar um projecto de futuro ou está condenada a viver das saudades do passado e das glórias do antifascismo, num combate de retaguarda? Como articular o património de convicções e valores da esquerda democrática com uma resposta ousada e consistente aos desafios da modernidade?  Esta é uma questão decisiva.

Todos se lembram do que aconteceu quando João Soares, em desespero de causa, quis transformar a sua campanha autárquica lisboeta contra Santana Lopes numa cruzada anti-fascista. O feitiço voltou-se contra o feiticeiro. Mas, pelos vistos, há feiticeiros incorrigíveis.

Vicente Jorge Silva  

Governo de «Teguis»

Pobre Teresa Caeiro! Esteve para ser ministra da Cultura, passou para «ajudante» de Paulo Portas nos Antigos Combatentes e acabou, finalmente, nas Artes e Espectáculos. Este frenético saltitar da irrequieta (mas afinal dócil) «Tegui» surge como mais um episódio na vertiginosa disputa política que, mal o Governo havia tomado posse, vem opondo Santana Lopes a Paulo Portas.

Confirma-se o que muitos haviam previsto: este Governo está infectado, desde a origem, por um vírus escorpiónico que ameaça fazê-lo implodir a qualquer momento. Junte-se a traquicine congénita de Santana e Portas, a sua irresistível necessidade de afirmação pessoal, e temos duelo aprazado mais cedo do que seria de esperar. Jorge Sampaio aproveitará então para lavar as mãos do desastre (e da sua decisão anterior) e convocar eleições antecipadas. Assim vai a estabilidade política num país que se confunde cada vez mais com uma república das bananas ou um ninho de cucos.

Perante a insistência dos jornalistas após a sua tomada de posse, Teresa Caeiro repetiu por várias vezes que não tinha explicações a dar. Coitada! Pelos vistos não consegue sequer dá-las a si própria, olhando-se ao espelho, sem corar de vergonha pelas cenas a que se prestou. Como é que alguém com um mínimo de respeito por si mesmo se sujeita a ser joguete nas mãos de dois traquinas compulsivos? Isso é que não deveria ter explicação. Mas tem. Na  Defesa ou na Cultura, tanto faz, «Tegui» busca apenas um palco onde possa representar um qualquer e irrelevantíssimo papel na comédia do poder. Ela tornou-se um verdadeiro símbolo deste Governo de «Teguis».

Vicente Jorge Silva

quinta-feira, 22 de julho de 2004

Barroso, o Presidente da Comissão Europeia

O candidato do Conselho Europeu, o português José Manuel Barroso, foi hoje aprovado para futuro Presidente da Comissão Europeia pelo Parlamento Europeu.
Como foi indicado por António Costa, os deputados socialistas portugueses organizaram-se para não inviabilizar a sua eleição. "Não inviabilizar" não é o mesmo que "viabilizar", sublinho.
Como deputada ao PE, votei em consciência e em coerência com o que penso e publicamente tenho dito e escrito sobre José Manuel Durão Barroso, o homem e a sua política como Primeiro-Ministro.
Depois de anunciados os resultados da votação, fui cumprimentar o novo Presidente da Comissão Europeia e disse-lhe: "Espero que sejas melhor para a Europa do que foste para Portugal".

Ana Gomes

Novo MNE e Iraque

Dando primeiros passos, tímidos, no sentido de ensaiar uma retirada do Iraque, mas no incómodo que sempre lhe suscitaram debates parlamentares sobre esta matéria - logo, sem dar cavaco a ninguém - decidiu o Governo da direita (ainda o de Durão Barroso) enviar para o Afeganistão um C-130 e adicionais três militares, que partirão já na próxima semana.
Mesmo sem ser instigado por Santana Lopes, o novo MNE deve estar já a congeminar como se livra da batata quente do contigente da GNR no Iraque em Novembro. Seria bom que clarificasse com urgência se Portugal manterá o mesmo tipo de participação ou se, pelo contrário, optará por apoiar as instituições democráticas, através da formação de quadros no âmbito da iniciativa que o Banco Mundial se prepara para lançar no Outono na Jordânia.
Do ponto de vista do interesse nacional e da nossa imagem no mundo, o pior que poderia acontecer ao Governo - e a Portugal - era ser confrontado com um cenário "limite" e ter de decidir sob pressão (à la filipina...). Ajudar à reconstrução do Iraque optando em tempo pelo apoio ao "institution building" seria decerto solução mais consensual e inteligente. É também a que corresponde ao código genético do diplomata nato que é o nosso novo MNE, António Monteiro (pese embora que em tão melindroso dossier a posição que há-de prevalecer é a do Governo no seu conjunto e, principalmente, a do Primeiro Ministro).
Sei do que falo. Passamos juntos dois anos intensamente imersos no Iraque, em 1997-98, no Conselho de Segurança da ONU, onde ele exercia a presidência do Comité de Sanções e me entregou a coordenação de todo o dossier Iraque. Incluindo o programa "oil for food", cuja aplicação se iniciou connosco e durante dois anos obrigou António Monteiro à chatice (dele, mas também dos seus colaboradores que antes tinham de passar tudo a pente fino...) de assinar, diariamente, centenas de contratos de todo o tipo de aquisições que Saddam comprava, legalmente, a todo o mundo (excepto às empresas portuguesas que olimpicamente ignoraram aquele Programa).
Interrogo-me, de resto, porque será que os "bushistas" que lançaram um encarniçado ataque-inquérito contra a ONU a pretexto deste Programa, não dão sinal de interesse em nos ouvir? É que a gente até tem muito que contar! Ou é exactamente por isso?

Ana Gomes

Za


Os colegas chamam-lhe ZZ Top ou Zerovic, porque já não corre. Mas Zlatko Zahovic não se importa. Foi campeão nacional de xadrez quando tinha 16 anos e é o melhor jogador esloveno de sempre. Capitão da sua selecção aos 33 anos, Za gosta de levar livros para os estágios do Benfica e fica a ler no bar, onde pede para desligarem a televisão. É um 10 e a um 10, já se sabe, perdoa-se quase tudo. Joga quando lhe apetece e perde a cabeça, em média, duas a três vezes por ano. Sempre em grande estilo como se exige aos Cantonas e aos Maradonas. Agora, ouviu dizer que o Rui Costa vem aí e resolveu "abrir o livro" - para utilizar o melhor dos chavões da gíria desportiva. Este homem é um senhor.

A avózinha do hip-hop

Num café com televisão passava um vídeo de hip-hop chunga, cheio de grandes carros e grandes mulheres onde o MC discursava pedagogicamente sobre como as "bitches" podem proporcionar prazer oral a um indivíduo. Concentrada, e só na sua mesa, uma septuagenária visionava o clip. Pediu um "cházinho de limão frio" que o empregado traduziu para Ice Tea com gelo, e voltou à "canção". Não havia no seu olhar nenhum vestígio de condenação moral ou qualquer outra. Olhava apenas. E cirurgicamente acertada com o ritmo do hip-hop, batia com os dedos no tampo da mesa. E sorria. E se isto não é um post, não sei o que seja. Talvez um conto, mas não tenho tempo.

quarta-feira, 21 de julho de 2004

200.000

Foi o número de visitas registado ontem pelo nosso contador desde o dia original do CN. Como o Vital, a Maria Manuel e o Luís Nazaré estão de férias, cabe-me registar o momento e agradecer a todos aqueles que nos visitam e partilham connosco este prazer diário. Obrigado pela vossa atenção, pelo vosso correio e pela assiduidade. A causa está para durar.

Entusiasmos empresariais

Quando um naipe representativo dos empresários nacionais vem declarar, no «Jornal de Negócios», o seu «entusiasmo» («entusiasmo», notem bem, é Sérgio Figueiredo, o director do diário, quem o assinala) com a equipa económica de Santana, que conclusão devemos extrair?
Que basta Bagão Félix ter transitado para as Finanças e Álvaro Barreto garantir o poder da sua recheada carteira de representação dos interesses económicos para se assistir a tal deslumbramento e euforia?
Afinal eram tão escassas as expectativas empresariais, depois de se ter falado em tantos nomes rutilantes para o prometido «dream team» de Santana?
Ou será que os nossos tão reivindicativos empresários e a jovem nata do «Compromisso Portugal» se contentam em ter simbolicamente António Mexia no Governo?
Não apetece concordar por uma vez com Vasco Pulido Valente e subscrever o seu diagnóstico sobre a estupidez atávica dos patrões portugueses?
VJS

terça-feira, 20 de julho de 2004

Navegações à vista, que só vistas...

Viu-se na TV: Paulo Portas mostrou-se surpreendido por tomar posse do cargo de "ministro de Estado, da Defesa Nacional e dos Assuntos do Mar", apesar de muito ter suado para alargar a sua linha de Tordesilhas. A surpresa estava, afinal, apenas no título; não havia razão para tanto espanto. D. Manuel I tinha um muito maior, em que além de Portugal, Algarves e Guiné, incluía o senhorio do comércio, da descoberta e da navegação da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia; mesmo em regime republicano e depois das descolonizações, o título do líder do CDS/PP só peca por ser curto, convenhamos.
O sobressalto de Portas deu umas tantas gargalhadas à Pátria estável, por assim ficar evidenciada a trapalhada da formação do presente Governo. A estabilidade venerada por muitos tem peripécias assim. E veremos o mais que se seguirá na continuidade deste episódio, que só não é digno de antologia porque Eça de Queiroz o omitiu no manuscrito de " O Conde de Abranhos".
Ficamos, pois, com o mar na banheira do Ministério da Defesa; com as pescas continuando a cavalo na Agricultura; a administracao portuária, sabe-se lá onde...; a investigação científica dos recursos marinhos algures, se existir; a protecção ambiental das nossas costas entregue à Virgem do "Prestige"; a defesa internacional dos nossos direitos marítimos diafanamente ancorada nas Necessidades; a marinha mercante afundada; e a nossa ZEE a saque, entregue à velocidade dos submersíveis que o Ministro Portas encomendou...
Esta fragmentação santano-portista da coisa marítima, de resto, contradiz o que o Governo de Durão Barroso defendeu e disse querer pôr em prática, com a criação da Comissão Estratégica dos Oceanos - a reflexão transversal e a gestão integrada e coordenada de todas as vertentes de actividade ligadas ao mar (zelos fiscalizadores da continuidade barrosista podiam já aqui ser accionados...).
Apesar do pouco que veio a público sobre os trabalhos daquela Comissão, percebeu-se que ela se inscrevia na linha preconizada pelo Relatório da Comissão Mundial Independente dos Oceanos, que foi presidida por Mário Soares e advogou a governação integrada, a nível nacional e internacional, de todos os sectores e recursos envolvendo o mar. Nada mais retrógrado e incoerente com a evolução do conhecimento e estruturação internacional do que Portugal apresentar-se agora na ONU com o Ministro da Defesa a tutelar o mar! Nada mais contrário aos interesses estratégicos de Portugal, que dependem de nos sabermos organizar para controlar e aproveitar a nossa fabulosa ZEE, que nos torna, neste domínio, o maior país da UE! Nada mais adverso ao imperativo nacional de rentabilizar os nossos recursos atlânticos - que tantos auto-proclamados "atlantistas" ignoram e desbaratam!
Mas voltemos à súbita vocação marítima do ministério do Restelo: um conhecido meu, que verseja nas horas vagas, ficou tão impressionado que decidiu cometer uma epopeia sobre o caminho submarino para as ilhas Caimão. Entre as discotecas de Alcântara e o Restelo, no dia da posse na Ajuda, sentiu-se subitamente tocado pela inspiração das Tágides... Confia agora que, com a deslocalização de ministérios prometida pelo PM, e um tudo-nadinha de sorte, o subsídio para o empreendimento será rapidamente aprovado pelo XVI Governo Constitucional, reunido por teleconferência. A promulgação será feita a caminho, no Funchal, está bem de ver.

Ana Gomes

Mistérios da «silly season»

O meu lado supersticioso faz-me suspeitar das coincidências. O facto de a posse do novo Governo ter coincidido com a abertura da «silly season» será puramente fortuito ou, como muita gente desconfia, constitui a prova de que se trata de um Governo completamente «silly»?  Indício suplementar: o novo primeiro-ministro não foi já, durante sucessivas temporadas, o campeão absoluto das performances «silly» da época estival?
 
A verdade é que os acontecimentos se sucedem a um ritmo vertiginoso, sem que a imprensa de referência se interrogue sobre as razões de tantos mistérios. Aliás, os jornais perderam a atenção e a saudável curiosidade de saber o que se esconde por detrás dos factos e parecem achar tudo burocraticamente normal. Estará a imprensa «silly»?
 
Porque é que Paulo Portas só soube na hora, em directo do palácio da Ajuda, frente às câmaras de televisão, que iria ser também ministro dos Assuntos do Mar? Porque é que Santana Lopes terá «andado aos papéis» durante o discurso da sua tomada de posse? Como se compreende tanta atrapalhação?
 
Mas os mistérios não se resumem ao Governo. Quem explica a extraordinária aliança entre o «fracturante» Sérgio Sousa Pinto e o «blairiano» José Sócrates, já consagrado secretário-geral do PS? E quem diria que Sérgio (co-autor recente de um livro de diálogos com Mário Soares) seria o «maître-à-penser» do candidato favorito de José Lello e tantas figuras relevantes do PS profundo? O meu espanto não tem fim. Só o dos jornais é que parece ter-se esgotado. Sinais dos tempos (ou da «silly season»)?
  
 Vicente Jorge Silva

Chicotada psicológica

O Ministério das Finanças parece-se cada vez mais com uma SAD de um clube da Primeira Liga em dificuldades.
Os resultados da cobrança fiscal são cada vez piores. Que fazer? A resposta é futebolística: chicotada psicológica! Muda-se o treinador [leia-se director-geral] e pr'á frente que a bola é redonda! Tal como no futebol, as chicotadas psicológicas sucedem-se, mas os resultados, esses, não melhoram. Pelo contrário, sobem a evasão e a fuga ao fisco!
Herdado dos governos socialistas - acusados de ter posto o país de tanga, mas que conseguiram aumentar a receita fiscal - Nunes dos Reis pede a demissão por ter visto a ministra em início de mandato criticar o facto de ele ter em tempos recebido como caução da dívida SLB acções do dito (cá está de novo o futebol). Embora tal caução não fosse a caução, mas sim e apenas o primeiro valor a accionar, a ministra finge que o despede em pleno debate parlamentar. Na verdade, o homem já tinha apresentado a sua demissão. Pormenores!
Vai-se buscar, com pompa e circunstância, Armindo Sousa Ribeiro. Mas, em menos de nada, o homem perde a confiança do seu superior hierárquico [que título daríamos a este: administrador da SAD?] e pronto: nova chicotada psicológica! A contratação é de peso: Paulo Moita Macedo, o salário mais alto de toda a Função Pública, é o novo treinador, perdão, o novo director-geral de Contribuições e Impostos.
Bagão Félix, certamente recordando o seu longo trajecto de membro de vários corpos sociais do SLB, não hesita, ainda nem tinha aquecido a cadeira das Finanças. Nova chicotada psicológica: fora com o actual treinador, venha outro.
Concluindo: em pouco mais de dois anos, quatro directores-gerais.
Resultado: Evasão 7 - Cobranças 0.
A maior tareia fiscal de que há memória! 
Jorge Wemans



segunda-feira, 19 de julho de 2004

O «croupier» de Perelada

 Um pequeno grupo de portugueses que participou há dez dias, na Catalunha, num colóquio sobre relações peninsulares, pôde testemunhar um fenómeno assaz estranho de premonição política. Sábado, 10 de Julho, à noite, Telmo Correia cumpria zelosamente as suas funções de «croupier» no casino de Perelada. Ficámos atónitos com o misterioso desdobramento de papeis do então líder parlamentar do CDS. Mas na sexta-feira seguinte o enigma seria esclarecido: Telmo Correia é nomeado ministro do Turismo do Governo de Santana Lopes. Contrariando a convicção generalizada, ele está mesmo familiarizado com alguns segredos do sector que vai tutelar. Querem melhor prova? Pelo menos por uma noite ele foi «croupier» em Perelada.
 
Evidentemente, quem vimos em Perelada não foi Telmo Correia, mas um seu duplo quase perfeito. Só que nessa altura nem nós, nem o próprio Telmo sabíamos que lhe estaria reservada a pasta em que se exercitava através do seu sósia num casino catalão. A coincidência é digna de um episódio dos Ficheiros Secretos. Aliás, a última revista do Público dedicava o tema de capa aos fanáticos portugueses das aparições extra-terrestres, na mesma edição em que publicava uma biografia de Santana Lopes. Não acham coincidências a mais?
 
Não viremos um dia a saber que este Governo foi formado por insondáveis influências telepáticas e mediúnicas? Imaginemos, por exemplo, que no mesmo dia em que Telmo Correia, através do seu duplo «croupier», ensaiava os seus dotes turísticos em Perelada, um duplo de Nobre Guedes, militante da «Greenpeace», manifestava-se em Houston contra o efeito de estufa e a insensibilidade ecológica da Administração Bush. Imaginemos ainda que Paulo Portas e Santana Lopes tiveram, nesse dia, a visão extraordinária que os conduziu até às escolhas mais surpreendentes deste Governo. Mas imaginemos finalmente que, tal como num episódio dos Ficheiros Secretos, quem hoje ocupa os lugares de ministros do Turismo e do Ambiente não são os verdadeiros Telmo Correia e Nobre Guedes mas os seus duplos ou clones: ou seja, o «croupier» de Perelada e o militante da «Greenpeace». Inverosímil? Talvez não tanto como o próprio Governo que agora temos.
 
(Asseguro que a história de Perelada é verídica e pode ser testemunhada por fontes absolutamente credíveis).

Vicente Jorge Silva.

Latitudes

Esqueci-me de prevenir que ia de ferias por duas semanas. Aqui vai o aviso tardio e sem caracteres portugueses, fruto das latitudes onde me encontro. Se conseguir resolver este pequeno problema e me dispuser a vencer a preguica, pode muito bem ser que contribua com um ou dois posts durante o defeso. Saudacoes estivais.
 
Luis Nazare

Quase Famosos

O Francisco Mendes da Silva, o Nuno Costa Santos, o Pedro Adão e Silva e o Cristovão Gomes juntaram-se numa casinha aqui ao lado. A casa é elegante na sua simplicidade e caracteriza-se por ter discos espalhados por todo o lado. Ainda nem tiveram tempo para convidar os amigos a passar por lá, de tão enlevados que estão na audição das músicas das suas vidas. Mas o bom da blogoesfera é que os penetras jamais serão castigados. E o blog destes 4 melómanos é dos melhores prazeres que podemos encontrar por aqui. Eles têm, creio bem, o que Miguel Esteves Cardoso tinha na sua "Escrítica Pop": não é só o conhecimento enciclopédico, a escrita de rasgo, a cultura - não é só isso - têm ainda o afecto, uma ternura enorme por aquilo ou aqueles de quem escrevem. O que nos leva a devorar os posts e a pedir mais. Ainda por cima, apresentam uma estreia absoluta nas lides virtuais, o Cristovão Gomes (não percam tempo em descobri-lo!). Finalmente, recomendo vivamente este blog por um motivo bem mais prosaico: invejo-os de morte. Nunca poderia fazer parte da sua equipa-maravilha.

a melhor esplanada do país

Poesia, imagens, Marlon Brando, humor, política e conselhos infalíveis para deixar de fumar - de tudo isto e muito mais se conversa, com brilhantismo, no blog do momento. Com que então a blogosfera estava falida?

domingo, 18 de julho de 2004

Na ausência do Vital, o nosso post diário sobre a situação política

O governo de Santana/Portas lá tomou posse e o que penso disto é que, enfim, mais do mesmo ou talvez não, quer dizer, se calhar o Sampaio errou, mas afinal sabe Deus, não é? Que isto da política tem que se lhe diga... E depois o Santana até fala bem, pois fala, o Portas com aquele fato às riscas parece um, quer dizer, não sei se parece - as opiniões são como os... não sei se posso escrever isto. Quem ficou foi o Pacheco porque quer ter liberdade para falar, falar é bom, é fixe, é a falar que a gente se entende. Acho bem, se falar muito talvez escreva menos, quer dizer, o Luís Delgado também escreve e é o que se vê e depois o José Manuel Fernandes com aqueles editoriais, valha-nos nossa senhora, enfim, isto é tudo muito complicado, o Ferro vai fazer uma travessia do deserto, ou talvez não, seja como for o Portas deu uma valente gaffe, o Sampaio não chorou, as mortes sucedem-se e já não se sabe o que dizer da retoma. Esclarecidos?

Enchidos ao domingo

Ontem à noite, no Incógnito, sou abordado na pista por um tipo com a seguinte urgência: "Tu, pá... Tu és aquele gajo do... aquele blog... sim, és tu, pá! És daquele blog, pois és, muita bom, que já não existe, és tu, daquele blog que agora não m'alembra o nome... Não interessa... parabéns!". Reconhecer um tipo por causa de um blog?! Cada vez tenho menos pachorra para bêbados.

sábado, 17 de julho de 2004

Finalmente, a prova.

As fontes eram muitas e fidedignas. Mas ontem, finalmente, conheci o indivíduo - comum mortal, como nós - que dormiu na mesma noite com duas conhecidas modelos e apresentadoras de TV da nossa praça. Ficam assim esclarecidas todas as dúvidas. Deus existe.

sexta-feira, 16 de julho de 2004

Santana, o imparável

No seu afã de nos surpreender a todos, ao ritmo de um facto político por minuto, Santana Lopes já deve ter deixado cair o propósito de colocar ministérios e secretarias de Estado fora de Lisboa. Imagine-se só que o novo Ministro de Estado e dos Assuntos Económicos iria trocar a Lapa pela Boavista! (Quem sabe, aliás, se uma das razões da promoção estatal do ministério não foi mesmo para justificar a sua permanência na capital?).

Em contrapartida, a nomeação anunciada de Nobre Guedes para o Ambiente (falara-se dele para a Justiça, mas, pelos vistos, as duas pastas são claramente intermutáveis) é uma demonstração de génio imaginativo na relação de forças dentro da coligação. Já agora, porque não recuperar Celeste Cardona para a Cultura ou até Figueiredo Lopes para a Inovação, em vez de remetê-los para o desemprego político?

O único problema é que a sugestão já não vai a tempo (embora Santana tenha demonstrado uma humildade assinalável na aceitação de todas as sugestões, nomeadamente as da comunicação social, conforme declarou). Lançado no seu afã de voluntarismo político e de primeiro-ministro mais veloz do que a própria sombra, Santana já terá antecipado a tomada de posse do Governo para este fim-de-semana, precedendo assim o glorioso 19 de Julho de todos os aniversários que se propunha comemorar. Será que, afinal, não quis ser confrontado com o fantasma de Sá Carneiro e decidiu surpreendê-lo pela antecipação?

Vicente Jorge Silva

Milagre socrático

Segui pela SIC-Notícias o discurso de candidatura de José Sócrates a secretário-geral do PS. Foi um discurso arguto e abrangente, tão abrangente que eu não teria qualquer dificuldade de subscrever na maioria dos pontos. Especialmente aqueles que se referiam à necessidade imperiosa de renovação do PS, de abertura à sociedade e de regresso ao espírito dos Estados Gerais (pontos onde Ferro, muito por culpa própria, fracassou).

Durante o discurso, essas passagens foram sublinhadas por aplausos muito vivos de uma plateia que a câmara (imóvel) da SIC não mostrava. Só no fim se quebrou o suspense e nos foram revelados rostos entusiastas da renovação prometida. Estava lá a fina flor do aparelho do PS, nomeadamente das federações distritais que tão bem conhecemos e cuja paixão pelas propostas renovadoras se tornou célebre. E pairava no ar aquele clima unanimista e inconfundível da velha corte pressurosa em prestar vassalagem ao novo príncipe.

Espero para ver como Sócrates irá ultrapassar a quadratura do círculo. Sobretudo depois dos meses a fio que ele levou a recrutar apoios para a sua candidatura entre o que o PS tem de mais velho, mais gasto, mais clientelista e menos renovável. Construir o novo com o velho releva do milagre. Mas Sócrates chama-se Sócrates. Quem sabe se esta coincidência auspiciosa não nos reserva um prodigioso milagre?

Vicente Jorge Silva

Rui Cardoso Martins

Portugal parece um país de humoristas. Um país de gente refém das gargalhadas e de um sentido não real da existência. Não é, de todo, algo de muito surpreendente. As pessoas tomam comprimidos para rir e para chorar, a vida é cada vez mais um exercício complexo, cada dia um exercício onde o curto prazo vence qualquer dimensão mais profunda.
Com o nascimento das Produções Fictícias, que começaram por aproveitar a oportunidade de Herman José, o universo do humor tornou-se mais interessante. Mas, ao mesmo tempo, inquietante. Há gente que, manifestamente, começou a sobrevalorizar-se doentiamente. Formataram-se na construção de piadas e, julgando poder deixar uma qualquer marca na história, estão condenados ao esquecimento.
Voltarei ao assunto. Mas não posso deixar em claro o texto publicado no excelente Inimigo Público por Rui Cardoso Martins. É que agora posso dizer que já fui motivo de cinco minutos da atenção daquele que é, na minha opinião claro, o mais talentoso e brilhante escritor de humor em Portugal. Aquele que é responsável, creio, pelo melhor programa dos últimos anos na RTP e por uma extraordinária crónica semanal no Público.
Por um lado, faz o seu caminho e continua a dar lições aos mais jovens. Mas, por outro, tenho um pouco a ideia que está a perder tempo numa estrutura que privilegia o anonimato e lhe trava as ambições. Mas isto sou eu a pensar. E pode ser que nada disto faça sentido para o Rui, que nem sequer conheço pessoalmente. 
Luís Osório

O Estadão dos Assuntos Económicos

Depois de dois pesos pesados (pesadíssimos) dos «lobbies» económicos, Dias Loureiro e Angelo Correia, terem apadrinhado Santana Lopes nas suas diligências para a formação do Governo, a designação de Álvaro Barreto para o ministério da Economia confirma que a confederação informal dos interesses empresariais vai estar representada ao mais alto nível no próximo Executivo. Aliás, Barreto não será simplesmente ministro da Economia, mas ministro de Estado e dos Assuntos Económicos.

Álvaro Barreto é um velho senhor educadíssimo e simpatiquíssimo (digo-o sem qualquer sombra de ironia, ele é mesmo assim) que passou por inúmeros conselhos de administração e foi assessor de outros tantos. A sua carteira como agente de representações do poder económico é tão volumosa que chega a intimidar. Além disso, Barreto é uma bela figura, com um perfil de patrício romano, no esplendor dos seus quase setenta anos de idade.

Ministro da Economia, «tout court», era um papel escasso para tal personagem. A Economia foi assim promovida, assaz justamente, a Assuntos Económicos (pois é deles que se trata, não de mera e abstracta Economia). Só acho que ministro de Estado é um título que sabe a pouco, tendo em conta o volume e infinita diversidade dos ditos Assuntos de que Álvaro Barreto é familiar. Estadão seria mais adequado e soaria melhor. De facto, os Assuntos Económicos não são apenas matéria de Estado, mas de Estadão.

Vicente Jorge Silva

Entro de baixa...

... ao blogue por motivo de férias, por umas duas semanas. Vantagem dos blogues colectivos, sempre fica quem se encarregará de alimentar o Causa Nossa

Receita para o êxtase

Veneza, Mahler (em versão jazz pelo Uri Ensemble Caine)  e um poema que fala em «perder (...) / a última carreira do vaporetto». Eis uma receita simples para o êxtase.
Obrigado Ademar!

Comércio electrónico & confiança

Mantidas em "low profile" durante os primeiros anos, as compras "on line" disparam agora a ritmos relativamente acelerados. Mais de um terço dos internautas franceses (8,3 milhões), de todas as idades, compram em linha com regularidade. À frente continuam os discos e os livros, mas o mercado das viagens e do turismo é o que mais progride. Roupa, produtos de fotografia e informáticos, jogos de vídeo, bilhetes de espectáculos, perfumes e flores (mesmo a sério e não apenas virtuais como as que recebi no dia da festa do Causa Nossa) ocupam os lugares seguintes. Os produtos alimentares são os que mais resistem, provavelmente devido à densidade do comércio de proximidade neste sector.
Tal como entre nós, em estudos feitos há alguns anos, o principal obstáculo continua, no entanto, a ser a segurança das formas de pagamento em linha. Em boa verdade, talvez não seja tanto um problema de insegurança informática propriamente dita, mas muito mais um problema de falta de confiança no sistema aquilo que afasta tantos consumidores de escrever o número do seu cartão de crédito num écran de computador.


«O mundo é imperfeito»

«(...) O gesto [de Pacheco Pereira] é bonito e nobre (é um bom exemplo de postura pública e dignidade pessoal). Mas parece-me que se baseia num erro de apreciação do contexto, contudo.
Continuo a defender, à semelhança do que escrevi várias vezes em
http://taf.net/opiniao/ , que devemos adoptar uma posição mais institucional. Parece-me mal que decisões destas sejam tomadas em função da pessoa concreta que irá estar nas funções de Primeiro-Ministro. O que está em causa não pode depender de fulano A ou de fulano B. É de Portugal que estamos a falar, não é de PSL ou PP.
Mais: quer se queira quer não, PSL foi _eleito_, mesmo que indirectamente. Pode-se argumentar (provavelmente bem) que não era isso que o povo queria, mas as regras que nos regulam são essas e chegou-se aqui sem violar objectivamente a Lei.
O mundo é imperfeito, aceitemo-lo assim e façamos o melhor que sabemos nestas condições. Isso não é quebrar princípios nem amolecer com inércia. A única razão válida para uma "demissão" nestas circunstâncias seria considerar que o simbolismo desse acto tem o valor de um exemplo de alerta. Respeito-o por isso.»


(Tiago Azevedo Fernandes)