terça-feira, 9 de agosto de 2005

Abrupto ou abutre?

"A Capital é hoje um jornal que vale a pena ler, até porque a sua agenda é muito diferente da dos outros jornais diários. (...) É um jornal maison, íntimo, e por isso é um jornal urbano interessante, que publica trabalhos jornalísticos com informação nova e temas pouco tratados".

(Pacheco Pereira sobre A Capital, no Abrupto, em Agosto de 2004)

"A Capital vai-me fazer falta, mas sempre que eu via um número revoltava-me a incúria com que era feita. Eu sei que é duro dizer isto, mas não era segredo para ninguém, a começar pelos seus leitores, que o desastre era inevitável".

(Pacheco Pereira sobre o fim da Capital; na Sábado de 5 a 11 de Agosto de 2005)

Correio dos leitores: Lisboetês

«Não sei se será lisboetês ou não. Português é que não é de certeza. Repetidamente o pivôt da RTP 1 José Rodrigues dos Santos comenta que tal matéria "não tem a haver" com qualquer coisa. Então não há um(a) colega que lhe faça o reparo? Ninguém lhe dirá que "não tem a haver" não tem mesmo nada a ver com "não tem a ver"?»
Fernando Barros

Correio dos leitores: CGD

«Então e na CGD ?
Esta instituição é uma autêntica agência de emprego do bloco central (PS/PSD).Quem entrar para a CGD sem cartão daqueles partidos se chegar a chefe de secção já é muito bom. Hoje a Caixa está enxameada de Directores oriundos das mais variadas origens e cujos currículos são uma vergonha, enquanto dantes os quadros superiores eram recrutados na instituição.
O [Armando] Vara então é de bradar aos céus, como é que um 1.º ministro se enterra desta maneira. O tesoureiro da agência de Vinhais foi promovido a administrador. Querem maior afrontra para que lá trabalha honradamente?»

M. Malaca

«Quanto aos meninos-familia [na PT]:
1- e os que estudam lá fora à custa dos metecos nacionais?
2- e como é nas repartições onde trabalha a família toda mais a prole (experimente fazer as contas sobre o valor do legado que é um emprego no estado para um vencimento de 1.500 euros/mês)?
3- e na CGD pode constatar que está lá a famelga toda.
5- e nas Câmaras? A avaliar pelo municipio local, se nos outros a coisa tiver um nível de degradação igual a 50% ao "deste" poder local, a coisa só é sustentável porque o povo é pouco letrado... ou não tem nem voz nem direitos substantivos.
6- e nos Intitutos, fundações e quejandos onde o Estado mete o bedelho?
Mas a questão é: como moralizar esta sociedade, esta classe política tão... tão seráfica? Eu sei que os empresários não são melhores, os operários também são o que são e os amanuenses em geral já não se convencem com uma "gasosa"...
Soluções?
(...) Como salvar o regime sem a transmissão gratuita da soberania para a Espanha (país que eu aliás muito aprecio), sendo certo que os portugueses de um modo geral, não apreciam os espanhóis?
Aqui em casa estamos a lutar por uma solução nada sui generis: emigrar. Emigrar para sempre, o que quer dizer, mandar às malvas o Futebol Clube do Porto, a Académica (...), deixar de ficar agarrado à TV com medo que o pinhal da família também arda, passar as férias no Montenegro, falar alemão e francês lá em casa, e ter vergonha de usar o passaporte que se exibe!
(...) Sopra no ar um vento pútrido de dissolução que põe em causa um bem cujo valor não há dinheiro que pague. A vida em liberdade. Mas liberdade com roubo acintoso, costuma dar em tragédia.»

A. A. Oliveira

Correio dos leitores: Floresta

Sobre a floresta baseada no pinheiro bravo e no eucalipto, e apoiada pelos interesses de produtores florestais e madeireiros, a coisa não é assim tão simples.
A economia florestal em Portugal não é, em geral, rentável. Em boa parte, por falta de mão-de-obra, e pelo baixo preço pago pela madeira. Os proprietários não têm como cuidar da sua floresta. (...) É por isso que proprietários inteligentes optam por plantar eucalipto - porque lhes dá um trabalho menor a manter as suas terras.
Se [se] quiser substituir os pinheiros bravos e eucaliptos por carvalhos, terá que [se] subsidiar os proprietários para que eles os plantem e tratem deles durante a juventude - mondando as ervas e árvores nascidiças à sua volta. E terá que arranjar mão-de-obra para fazer isso - coisa que hoje em dia é praticamente impossível de arranjar por esse Portugal fora. Sem um mercado de mão-de-obra, de máquinas, e de compradores de madeira abundante, facilmente disponível, e em efetiva concorrência económica, nada feito.»

Luís Lavoura

«À sua lista dos possíveis interessados nos incêndios eu acrescentaria ainda as empresas que detêm os meios aéreos de combate aos incêndios, as que fornecem diverso material necessário ao combate dos mesmos (...).
De qualquer modo, vendo que actualmente arde qualquer coisa, mesmo que não seja uma mata bem provida de árvores, estou em crer que os incêndios acontecem por maldade pura, fruto da ausência de consciência cívica, e, quiçá, por afronta ao poder.
Penso que os meios aéreos de combate aos fogos deveriam pertencer ao Estado. Mas se isso acontecer, quando acontecer, provavelmente, no início, não diminuirão os incêndios...
O Estado também não é exemplo no cuidado que presta às áreas florestais do seu domínio. Dantes organizavam-se as matas de grandes extensões de forma a obviar os danos de possíveis incêndios; agora, as matas públicas estão desorganizadas, mal limpas... e exige-se aos particulares um cuidado que o Estado não tem.»

Agostinho Pereira

segunda-feira, 8 de agosto de 2005

E se fosse nos Restauradores?

Obviamente que um aeroporto, como qualquer outra infra-estrutura, deve ficar tão perto quanto possível do lugar de destino ou origem da maioria dos que o utilizam. Em Portugal, esse lugar é Lisboa. Sem discussão.
Daí que a única questão que se torna relevante discutir é se é preciso ou não um novo aeroporto. Posto isso, se os estudos técnicos, com os riscos inerentes, concluírem que sim, ninguém imagina que um novo aeroporto possa ficar no Terreiro do Paço ou nos Restauradores como a pista em direcção ao Marquês! E pouca gente achará, quando aterra numa qualquer capital do mundo, seja Hong-Kong, Paris ou Kuala-Lumpur, que passar meia hora num comboio rápido para chegar ao centro seja qualquer coisa de impensável. Ou será que sim?

A preto e branco

A discussão a propósito do novo aeroporto (fique na Ota ou em qualquer outro lugar) fez-me lembrar a que ocorreu em alguns círculos conservadores há umas décadas, quando se anunciou a televisão a cores. De muito boa gente ouvi perguntar para quê. Não precisávamos. Estávamos tão bem a preto e branco!

Binóculo de um óculo só !

«(...) Era um homem com um binóculo de um óculo só»! Eis uma das inacreditáveis frases de colecção escritas em livro publicado pelo actual vereador da cultura da Câmara municipal de Coimbra.
Mais inacreditável é ainda que ele apareça de novo na coligação liderada pelo PSD, representando o PPM. Uma segunda vez é demais!

Robin Cook: I do miss him

No início dos anos 90, quando trabalhei na Embaixada em Londres, ele era o «gnomo» para a imprensa britânica. À conta da sua parecença física com aqueles bonecos «kitsch» que polvilham os jardins das casas da classe média na Grã-Bretanha. Mas também porque se destacava, como um dos principais porta-vozes do Partido Trabalhista, na marcação ao desastroso governo de John Major, explorando em particular as revelações do «Scott Inquiry» sobre a indecência, o comportamento doloso dos governos conservadores da Sra. Thacher, que durante os anos 80 foram vendendo secretamente armas ao Iraque. Do ditador Saddam Hussein, claro.
Quando se tornou Ministro dos Negócios Estrangeiros do governo de Tony Blair em Maio de 1997, Robin Cook afirmou uma política externa baseada em considerações éticas, em especial na necessidade de coerência na defesa dos direitos humanos. Era preciso coragem e determinação - não bastava a convicção, porque ia ser preciso afrontar persistentemente poderosos interesses comerciais e outros: os detrás das vendas de armas a Saddam ou a Suharto (720 milhões de dolares em contratos de venda de armas à Indonésia só no último ano do governo Tory, baixaram para um milhão em 1998). E em Setembro de 1999 Robin Cook declarou a suspensão das vendas de Hawks e outro material bélico a Jacarta para, assumidamente, fazer ver ao governo e ao Exército indonésios que a violência em Timor-Leste suscitava internacionalmente «horror and disgust».
Antes disso Robin Cook já fizera uma grande diferença em relação a Timor-Leste: a presidência britânica da UE liderara uma missão da Troika a Timor-Leste, em Junho de 1998 (Suharto acabara de cair), que produziu um marcante relatório onde, pela primeira vez, não se escamoteavam os sentimentos dos timorenses contra a ocupação indonésia. E durante o ano de 1999, em Jacarta, nunca eu poderia ter contado com o valioso apoio do meu velho amigo Robin Christopher, embaixador britânico ali, se ele não se sentisse inteiramente respaldado pela direcção política do Foreign Office. E a rapidez com que veio a luz verde para Xanana Gusmão, libertado da prisão, ficar alojado na Embaixada britânica até poder sair da Indonésia, em 6 de Setembro de 1999, escassas horas depois de eu e a Paula Pinto termos ido pedi-lo ao Robin Cristopher, atesta como Robin, o Ministro, entendia bem e depressa o que estava em causa.
Vim a lidar pessoalmente com ele só mais tarde, com o Iraque em pano de fundo. No âmbito do PSE, Partido Socialista Europeu, onde ele exercia a Presidência e onde eu passei a representar o PS desde que assumi funções de Secretária Internacional em 10 de Fevereiro de 2003. Admirei-lhe primeiro a autoridade cosmopolita, a perícia a dirigir reuniões e a habilidade negocial. Apesar dos resultados serem nulos - em Março era impossível chegar um acordo entre os partidos socialistas europeus, tão grande era a fractura criada pela iminente invasão do Iraque. A mais encarniçada oposição ao consenso que Robin tentava vinha do seu compatriota que ali representava o Labour e o governo britânico - Dennis Mc Shane (entretanto Secretário de Estado para a Europa no Foreign Office), com um comportamento confrontacional arrogante, em tudo oposto ao de Robin.
Dias depois Robin demitia-se de líder do Labour nos Comuns, em protesto contra a posição governamental de invadir o Iraque, a reboque da Administração Bush e sob falso pretextos. Com a intervenção fundamentada conhecida e a persistente intervenção posterior denunciando as desastrosas consequências a invasão. Que ele tinha razão, é hoje indesmentível.
Dos contactos que regularmente tivemos no ano seguinte, enquanto ainda liderou o PSE (ele decidiu não se recandidatar nas eleições de Abril de 2004), confirmei todas as primeiras impressões, mais a extrema afabilidade pessoal. Quis trazê-lo à Convenção Europeia do PS em 28 de Fevereiro de 2004 - a agenda não lho permitiu.
Robin Cook fez diferença neste mundo. Ele teve a lucidez de articular e procurar pôr em prática uma política externa com coerência e fundamentação ética. Nem sempre conseguiu resultados. Mas tentou. E sempre que não concordou, no mais essencial, não transigiu. No mundo em geral e nos partidos socialistas, de ontem como de hoje, integridade pessoal e política fazem diferença.

Ao contrário

«Segundo dados divulgados recentemente pela petrolífera BP, relativos ao ano de 2004 , o país ocupa o terceiro pior lugar no ranking da UE em termos de eficiência energética. Portugal utiliza cerca de 0,88 barris de crude para produzir mil euros de riqueza, enquanto a vizinha Espanha precisa de pouco mais de 0,75 barris. E a Alemanha e a França só necessitam de 0,44 barris.» (Diário de Notícias).
Sucede que um dos sectores onde existe maior desperdício é o dos transportes. Ora, em vez de penalizar esse sector pela ineficência energética, o Governo resolveu apoiá-lo com medidas de desagravamento fiscal dos combustíveis!

Subscrevo

«[Alberto Costa] é o primeiro ministro em 30 anos de democracia que não hesita perante o poder letal das corporações da justiça. Mesmo que perca, o País ficará a dever-lhe actos de coragem e de distinto serviço público.»
Luís Miguel Viana (Diário de Notícias, 07-08-05)

sábado, 6 de agosto de 2005

Lisboetês (4)

Locutora da RTP 1 relatando ontem os incêndios no distrito de Aveiro: ela pronuncia "Avâiro", tal como pronunciará "fâira" (em vez de feira), "Avâiras" (em vez de Aveiras), "desfâita" (em vez de desfeita), etc. Outro desvio da norma fonética típico do "lisboetês" dominante nos media nacionais.

Serviço público de emprego de 1ª classe

«Dezenas de filhos de governantes nos quadros da PT».

Hiroshima

Mesmo em tempo de guerra, os massacres maciços de populações civis não são formas de terrorismo?

Correio dos leitores: CGD

«(...) Na questão da CGD devo acreditar que o actual Ministro das Finanças tinha as suas razões e que elas seriam fortes para tomar a decisão que tomou. Parece-me que a questão das indemnizações será (ou já foi) modificada por este Governo, pois, como diz, se razões políticas podem entrar em linha de conta, então as indemnizações não fazem sentido. Penso também que esses cargos não são necessariamente políticos, mas razões de confiança política podem levar à sua exoneração. Na RTP não houve exoneração porque a administração é credível e tem uma política definida para a estação. Mas não está a salvo de exoneração por razões de ordem política. Penso que será uma especificidade legítima do exercício de admnistração de uma empresa pública. Quanto ao caso Celeste Cardona, também manifesto a mesma perplexidade (...).»
J.F.

Equívoco democrático

O presidente da câmara municipal do Porto e candidato à reeleição, Rui Rio, propôs um compromisso político, de acordo com o qual quem ganhasse as eleições municipais teria direito a implementar a sua solução para a questão do túnel de Ceuta, parado desde há meses por causa do embargo do IPPAR. É uma solução inaceitável. Por um lado, numa democracia representativa, as eleições não podem ser transformadas em plebiscito temático; segundo, não pode haver referendos locais sobre matérias que não são da competência municipal, mas sim do Estado, como é o caso. Para perversão das regras democráticas, já bastam as que existem.

Cegueira

Continuamos a não querer ver que sem alterar o perfil da floresta nacional -- baseada no pinheiro bravo e no eucalipto -- o Páis continuará a ser um braseiro todos os anos pelo Verão. Até quando é que os interesses dos produtores florestais, dos madeireiros e da celulose prevalecerão sobre os interesses gerais do País? Entretanto, o nosso "petróleo verde" -- como alguém designou, com rara propriedade e humor negro, a nossa floresta industrial -- continuará a cumprir a sua missão, que é ... servir de combustível!

sexta-feira, 5 de agosto de 2005

Lugares de encanto

Ilha Graciosa, Açores.

Correio dos leitores: Ota

«É difícil assistir de longe a esta discussão miserável, em que o PS (no qual votei) troca os pés todos os dias com uma falta de argumentos que provoca dó. Quem lê as entrevistas vácuas dos ministros e as esquivas declarações do blog "Causa Nossa" (...), só pode acrescentar que depois do CCB, da Expo, do Alqueva e do Euro, esse "desígnio nacional", os eleitores portugueses já mereciam que quem os governa tivesse um pingo de vergonha. Mas bem podemos ficar à espera.»
Luís Jorge

Comentário
O Causa Nossa não é porta-voz do PS e no que me diz respeito não existe nenhuma "declaração esquiva": desde há muito considero necessária a construção de um novo aeroporto (que, aliás, já esteve na agenda de um governo PSD-CDS...). De resto, se o leitor votou no PS, como afirma, deveria ter-se dado conta de que a construção do novo aeroporto constava do seu programa eleitoral...
(corrigido)

Correio dos leitores: Diferenciação fiscal dos camionistas

«Em relação ao comentário-resposta ao Luís Lavoura sobre a diferenciação fiscal para os camionistas, embora concordando com a sua afirmação sobre a origem/pressuposto da taxa mais moderada de ISP sobre o gasóleo, a situação actual é exactamente a que o Luís descreve: a taxação reduzida de ISP era justificada sempre como um incentivo à actividade económica. Como esse incentivo não bastava e o gasóleo não era suficientemente barato para acomodar os gastos da nossa agricultura, decidiu-se aplicar uma taxa especial ao gasóleo para utilização agrícola. A fraude e o abuso nos primeiros meses dessa utilização foi tal, que a administração viu-se compelida a "marcar" o gasóleo. Mesmo assim, é extremamente duvidoso que não haja (alguma) evasão fiscal por essa via. O incentivo de que o Luís fala é ainda mais pernicioso: ao contrário do que afirma, a taxa reduzida do gasóleo, associada a uma taxação mais baixa em IA para os automóveis de uso agrícola, no qual se integravam até há bem pouco tempo quase todos os automóveis "jeep" SUV, estilo Pajero ou Suzuki Vitara (utensílios de lavoura tão deslocados como uma carroça de bois como transporte público), levou à proliferação desse tipo de automóveis, com consumos de combustível absolutamente excessivos. Em paralelo, o gasóleo mais barato levou a que, mesmo para os outros automóveis menos passíveis de serem classificados como instrumentos de lavoura, como sejam os Mercedes ou BMW, os modelos Diesel sejam historicamente muito mais vendidos em Portugal do que o justifica. Por último, os recentes dados sobre a poluição em Lisboa (suspeita-se que outras cidades do país tenham situações idênticas) justificariam outros cuidados com a subsidiação da frota a diesel. Por todas estas razões, adicionar mais esta isenção/redução/benefício aos camionistas é, na minha modesta opinião, estúpido e irresponsável.(...)»
Pedro Martins Barata

quinta-feira, 4 de agosto de 2005

A questão presidencial

Já pode ser visto na Aba da Causa o meu artigo desta semana no Público sobre a questão presidencial (com correcção das gralhas da versão impressa). A questão é: a candidatura de Cavaco Silva traz consigo um projecto de presidencialização do regime?

Um passo em falso

Sobre a remodelação da administração da CGD tenho a dizer o seguinte:
1. Defendo desde há muito que as empresas públicas devem ser administradas por gestores profissionais, sujeitos, de acordo com a lei das empresas públicas, a orientações governamentais.
2. Por isso, entendo que as empresas públicas devem ficar fora do regime de "spoil system", não contando para os "despojos" do partido de governo.
3. As "convenções" políticas que devem ser observadas; ora, desde há muito que se considera que o Banco de Portugal e a CGD devem ficar fora do regime de confiança política de cada governo.
4. Se a justificação para a substituição da administração da CGD tem a ver com a confiança política, então o que é que justifica a permanência de Celeste Cardona, cuja nomeação o PS tanto críticou?
5. É de aplaudir a diminiuição do número de administradores (de 11 para 9). Mas não serão ainda demais?
6. Se se trata de lugares de confiança política, o que é que justifica as indemnizações pela exoneração?

Correio dos leitores: Escolas privadas

«Parece-me que Você centra demasiado as escolas privadas em escolas católicas. Ora, isso não é assim. Só aqui nas redondezas do Instituto Superior Técnico conheço três escolas privadas que fornecem educação pré-primária e primária. Todas elas são pertença de indivíduos singulares, e não são confessionais.
Ou seja, há no nosso país, aparentemente, muito ensino privado que nada tem a ver com o catolicismo. E esse ensino tem bastante sucesso - todas as escolas que referi têm uma ampla lista de espera à entrada.»

Luís Lavoura

Correio dos leitores: Energia nuclear

«(...)A energia nuclear causa um problema insolúvel, os resíduos. Ninguém sabe o que lhes fazer. O seu tempo de vida, i.e. o perigo que são para todos os seres vivos, alonga-se por milhares de anos... Vamos criar um problema às geracões futuras para o qual não temos solucão á vista? E o princípio da precaucão?
E se os terroristas atacam uma central nuclear? O combustível para as centrais nucleares está a acabar, o urânio é finito. A energia nuclear é a mais cara, se considerarmos as externalidades. Os países europeus mais avançados - Alemanha, Bélgica, Suécia estão a abandonar o nuclear.
Portugal tem as condicões óptimas para aproveitar a energia solar. Em Espanha constroem-se centrais solares, na Alemanha e na Áustria cobrem-se centenas de milhares de telhados com painéis fotovoltaicos.
Em Portugal desperdiça-se imensa energia. Cerca de 1/3 é puro desperdício. Quantos ares condicionados não funcionam com a porta aberta? - não funcionam, desperdiçam - é para isto que queremos uma central nuclear, para alimentar o desperdício?
Em termos de desperdício ninguém bate a EDP.
O futuro pertence ao sol. A descentralização do fornecimento da energia, a autonomia que permite - política também - e o seu carácter infinito tornam-na ideal.»

Joao Miguel Vaz, Eng. Mecânico

quarta-feira, 3 de agosto de 2005

O jornal fantasma

Tenho duas más notícias: a primeira é que A Capital teve a sua última edição no sábado passado; a segunda é que, precisamente em consequência disso, estou de volta à Causa.
Abaixo deste, estão publicados os meus dois últimos textos para o diário lisboeta. Inéditos. Escrevi-os de avanço, na esperança de que a péssima notícia, afinal, não se concretizasse. Um seria o meu texto de humor na segunda-feira, o outro a página de domingo. Deixo-os aqui.

Finalmente, escrevo este post da minha secretária no jornal. À minha volta, ninguém. As televisões desligadas, as mesas abandonadas e com os jornais de há vários dias atrás. Notam-se agora, muito melhor, as imperfeições todas: a humidade nas paredes, o vidro partido, as ventoinhas avariadas. Algumas secretárias foram esvaziadas das toneladas de papel, livros e lembretes pessoais dos seus ocupantes. Lá em baixo, na redacção, duas ou três pessoas limpam os discos dos seus computadores, disquete atrás de disquete.
Somos quase ninguém e os poucos que somos não têm vontade de conversar. De que se fala quando já não há um prazo diário a cumprir? De que se conversa num jornal quando já só existe o edifício?

ps: peço desculpa pela má edição dos textos abaixo mas o blogger diz-me que eles estão perfeitos na caixa de "Edit". Não sei que se passa - mas não é a primeira vez nem será a última.

ps2: o "Sit-Dowm Comedy", crónica de humor sobre a actualidade, que assinei diariamente durante mais de um ano n'A Capital, continuará no CN após uns dias de descanso.

10 mandamentos para as vésperas dos aniversários

1) acabarás de ler o Oscar Wilde todo. Aprenderás que todos viemos da sarjeta mas que alguns de nós olham para as estrelas. À noite, nas últimas horas do último dia antes do teu novo ano, procurarás estrelas cadentes no céu. Com os aforismos do senhor Wilde na cabeça, formularás desejos ? desejarás o básico, no género Miss Universo: a felicidade, a paz no mundo, o fim da fome em África. Depois, se houver estrelas suficientes a cair, pedirás o que realmente desejas, como bom humano egoísta que és: um aumento no trabalho, o reconhecimento público, as boas graças da secretária da tua empresa;

2) farás uma maratona cinematográfica por muitos dos clássicos do cinema que ainda não viste: Touro Enraivecido, do Scorcese, A Sombra do Caçador, do Charles Laughton, O Caçador, do Michael Cimino, Os Inadaptados, do John Huston, Nascido para Matar, do Kubrick. Terminada a prova, serás um homem mais culto e mais bem preparado para as vicissitudes da vida. Ok, pronto, serás um homem mais culto;

3) viajarás durante horas pela tua terra natal. Ao volante do carro, sozinho e com os teus cd?s preferidos no rádio. Não atenderás o telefone, não levarás ninguém nem oferecerás boleia. Se a tua terra for pequenina demais para uma viagem de horas, procurarás caminhos alternativos, de terra, estradas privadas, farás viagens circulares. Só estás autorizado a parar o carro em duas situações: nos sítios onde foste feliz ou nos locais que - incrivelmente - ainda não conhecias;

4) escreverás cartas. Sim, mesmo que odeies escrever cartas. Não são e-mails nem tampouco sms. Cartas mesmo ? o que implica uma ida matinal à papelaria para comprar papel de carta como deve ser. Voltarás então para casa ou passarás pela tua esplanada preferida e escreverás cartas, mesmo que não sejas obrigado a enviá-las. Já. Escolhe bem os destinatários. Aconselho pais, melhores amigos, amigos distantes, o amor da tua vida. Escreverás aquilo que nunca tiveste coragem de dizer. Relerás as cartas na véspera do teu próximo aniversário e farás emendas. E lembrar-te-ás que deves absolutamente enviá-las aos respectivos destinatários, enquanto é tempo;

5) Não comprarás nada para ti. Esperarás pelas surpresas dos teus amigos ? mesmo que não seja surpresa nenhuma e tu já saibas exactamente o que te vão oferecer. Visitarás os parentes chatos que suportas com dificuldade e que (felizmente) não podem ir à tua festa de anos. Receberás, com o mais notável dos sorrisos amarelos, os seus presentes horrorosos: as camisas de envergonhar um cantor pimba; as indispensáveis peúgas; os cheques mixurucas; e os conselhos patéticos. No fim de tudo isto, respirarás fundo;

6) Escreverás num bloco os teus projectos para o novo ano da tua vida: as viagens que planeias fazer; os trabalhos nos quais pretendes participar; os objectivos profissionais; um ou dois sonhos pessoais para realizar absolutamente antes de morrer; as pessoas distantes que tens mesmo de visitar; as pazes que deves fazer; as guerras que deves preparar; as idas ao ginásio; as compras para a casa; os discos que te faltam. Deves encher um bom número ímpar de páginas e sublinhar os itens mais importantes. Finalmente, deves dar-te por satisfeito se realizares 20% deles;

7) Manterás, na véspera do teu aniversário, uma conversa com Deus. Perguntarás o que é feito, por onde tem andado, contarás as novidades, dirás de tua justiça: em que pé está a tua fé, o que mudou neste último ano, o que deves agradecer e do que te arrependes. Se falar com Deus te fizer impressão, conduz então uma entrevista a ti próprio. Escolhe um local resguardado, onde não te possam ver e tomar por louco, e segue os parâmetros da conversa divina acima descrita. No fundo, faz um exame de penitência a ti próprio: onde falhaste, o que conquistaste, o que te falta (e por que te falta) para seres a pessoa que desejaste ser;

8) Terás pelo menos uma refeição na companhia dos teus pais. Deves-lhes tudo e sabes bem que nem tu nem eles estão a ficar mais novos. Tentarás não te irritar com as coisas que te irritavam na adolescência e que deixaram marcas tal como eles procurarão, de certeza, não se chatear demasiado com as tuas imperfeições. No final, pedirás a receita à tua mãe e um conselho ao teu pai. Partilharás a receita e cozinharás demais o conselho. É a vida;

9) Cantarás as canções da tua vida, um pouco por todo o lado, na véspera do teu aniversário. Mesmo que não te lembres bem da letra ? inventas. Cantarás sozinho e para as pessoas, no trânsito, na rua, em casa. Cantarás baixinho e muito alto, canções tristes ou alegres, consoante o estado de espírito. Escreverás um poema expressamente destinado a seduzir as mulheres da tua vida que ainda não se atravessaram no teu caminho. Não lhe colocarás data, naturalmente, embora seja véspera do teu aniversário e te sintas moralmente condenável pelo fim a que se destinam aqueles versos;

10) Passarás a noite acordado. Sentirás a intuição do tempo de que falavam os beatniks. Julgarás estar envelhecido e que não há mais tempo a perder. Não quererás desperdiçar um minuto sequer. Dançarás a noite toda, conhecerás pessoas novas, abraçarás as pessoas velhas, cometerás loucuras, violarás sinais de trânsito, beberás mais do que a tua conta, beijarás uma nova paixão que morrerá com o nascer do sol. Passarás o dia do teu aniversário com a maior ressaca da tua vida e jurarás para nunca mais. Guardarás estes mandamentos até para o ano.

Sit-Down Comedy 363 - Avulsas

1 ? Carrilho quis fazer campanha a bordo de um camião do lixo mas um responsável da Câmara não o autorizou. Parece que Carrilho estava tão perfumado que o lixo não aguentava. Além disso, o responsável em questão é assessor de Santana ? logo, de lixos percebe ele. 2 ? Foi oficializado o Clube do Stress, que conta entre os seus membros com o Presidente da República, Lazlo Boloni, Sócrates, Carmona ou Luís Filipe Vieira. Bem escolhidos, sim senhor. Estamos claramente na presença de experts. Espera-se agora a inauguração do Clube do Relax, com Tomás Taveira, Alexandre Frota, Zezé Camarinha, enfim... 3 ? Co Adriaanse não convocou o eterno capitão portista, Jorge Costa, para um torneio prestigiado na Holanda. Jorge Costa é conhecido como o ?Bicho?; Adriaanse arrisca-se a entrar para a história como o ?Mata-Bicho?. E é bom que o holandês não se esqueça da velha máxima da filosofia brasileira: ?Se correr, o bicho pega; se ficar, o bicho come?. 4 ? Pinto da Costa, entretanto, veio dizer que há muito tempo não via tanta disciplina no seio do plantel. Ao mesmo tempo, Jorge Costa fica em terra, jogadores acabados de comprar são dispensados e Léo Lima diz cobras e lagartos do novo técnico. Das duas uma, ou Pinto precisa de ir ao oftalmologista ou estava a referir-se ao plantel do hóquei em patins. 5 ? Paul McCartney anunciou ao mundo que compôs uma canção com a ajuda do falecido amigo George Harrison. Aproveito a boleia para dizer que estou a terminar um romance com a ajuda do meu falecido bisavô Jorge Luís Borges.

Correio dos leitores: Liberalização das farmácias

«Tem toda a razão [sobre a liberalização das farmácias]. Sob este ponto de vista, a pretensa liberalização do
mercado de alguns (muito poucos!) medicamentos nada adianta. É pena que Você tenha gastado tanta verve a defender essa "medida" do atual governo, quando ela passa perfeitamente ao lado da verdadeira necessidade de liberalização.
É mudar alguma coisa para que fique tudo na mesma.»

Luís Lavoura

Comentário
Ainda os nossos neófitos neoliberais não tinham nascido e já eu defendia a liberalização do estabelecimento de farmácias. A venda de medicamentos sem receita médica fora das farmácias não é uma alternativa à liberalização.

Correio dos leitores: Lisboetês

«(...) Vivi 5 anos em Lisboa, durante a universidade. Se, tendo até aí vivido no Porto, posso acusar muito portuense de não passar do discurso de paróquia, fortemente alicerçado no futebol (nós só queremos Lisboa a arder...), posso dizer que fiquei surpreendido pela atitude de desinteresse displicente que associo a muitos (como em tudo, não se pode generalizar) lisboetas: o resto do país nada tem para lhes oferecer, nada lhes interessa, com ele nada têm a aprender, um pouco como a China imperial do século XIV. A metrópole em si se encerra e basta, a modernidade e o chique estão "lá fora", e o Algarve, bom, o Algarve está bem para se passar uns fins-de-semana escarrapachados ao Sol, uma espécie de país do Norte de África aqui ao pé, que sempre sai mais em conta e até já há auto-estrada.
Por isso não surpreende que a televisão, epicentro da difusão de massas, sediada em Lisboa, emitida de Lisboa, e sobretudo para Lisboa (excepto uns incêndios e umas desgraças lá na terra para entreter a malta na silly season), seja o veículo por excelência da pronúncia entre o posh e o kitsch com que seremos, slowly but surely, colonizados.
Imagine o escândalo que seria ter um pivot a abrir o telejornal (da TVI...?) com a autêntica pronúncia Portuense. Já imaginou a onde de indignação?»

(Vasco P.)

Correio dos leitores: Fronteira


«Envio-lhe duas fotografias que recebi há bem pouco tempo e que ilustram bem a razão pela qual, e não independentemente do lugar onde, da forma e do conteúdo, há decisões de estado que esta geração tem que tomar com coragem e determinação, e falo óbviamente do Novo Aeroporto e do TGV, para que aqueles que nos seguirem não voltarem a tirar fotografias iguais a estas e por maioria de razão a insultarem-nos a memória que então já seremos.»
CB