Blogue fundado em 22 de Novembro de 2003 por Ana Gomes, Jorge Wemans, Luís Filipe Borges, Luís Nazaré, Luís Osório, Maria Manuel Leitão Marques, Vicente Jorge Silva e Vital Moreira
quinta-feira, 24 de agosto de 2006
Privilégios (2)
Publicado por
Vital Moreira
Pelo que decorre do post precedente, os protestos dos sindicatos da função pública contra o aumento da contribuição dos beneficiários em alguns dos actos financiados (ou comparticipados) pela ADSE, que em alguns casos importa em menos de de 1-euro-1, são verdadeiramente indecentes.
Privilégios
Publicado por
Vital Moreira
As notícias sobre alguns aumentos das contribuições dos beneficiários nos cuidados de saúde financiados pela ADSE vêm chamar, uma vez mais, a atenção para esse "subsistema de saúde" dos funcionários públicos. Criado ainda nos anos 60 do século passado, manteve-se após a criação do SNS, apesar de isso contrariar a natureza supostamente universal e geral deste (assim o define a Constituição).
Os funcionários preferiram obviamente manter o seu sistema privativo, que lhes custa uma "ninharia" de 1% das suas remunerações (de que estão isentos os funcionários aposentados, vá-se lá saber porquê...) e lhes dá acesso a forte comparticipação nos cuidados em regime de medicina convencionada e de livre escolha, para além do SNS. O Estado encontrou um meio de minorar os encargos, fazendo pagar à ADSE os cuidados prestados pelo SNS aos seus beneficiários (o que, aliás, não tem muita lógica, visto que eles são constitucionalmente beneficiários deste ao mesmo título que os demais cidadãos).
As contas da ADSE encontram-se disponíveis no seu site. O relatório relativo a 2005 revela duas coisas evidentes: o grande crescimento das despesas, muito para além do orçamentado, e a grande dependência do orçamento do Estado. A primeira reflecte, de forma agravada, o crescimento geral das despesas de saúde. A segundo mostra que as contribuições dos beneficiários -- que aliás entram nas contas do Estado e não da ADSE (que não dispõe de autonomia financeira) -- cobrem uma reduzida percentagem dos encargos: 100 milhões de euros de receita contra 871 milhões de despesas correntes, sem contar as elevadas despesas de PIDDAC! Mesmo que se adicionem os reembolsos à ADSE de outras entidades públicas, além do Estado (uns 50 ou 100 milhões), o diferencial entre receitas geradas e despesas realizadas é enorme, e só diminui o seu significado, se descontarmos os pagamemtos da ADSE ao SNS e se entrarmos em linha de conta com os gastos que o SNS poupa por não ter de prestar os cuidados que os beneficiários da ADSE buscam no sector privado. O défice é naturalmente financiado pelos impostos, sendo evidente que os funcionários públicos beneficiam de uma considerável regalia em matéria de saúde (a somar a outras...), em comparação com os demais cidadãos, beneficiários gerais do SNS.
Quando se impõe uma redução do défice público, não se compreende a manutenção desta situação. De resto, independentemente da questão dos custos, em termos sistémicos nada justifica a existência de um sistema de saúde específico para os funcionários públicos. O Governo "atacou" no ano passado a maior parte dos regimes de saúde especiais do sector público, mas manteve intocado o principal regime especial, que é o da ADSE. De duas uma: ou o ADSE deve ser extinto, ou então o seu regime deve ser ampliado a todos os cidadãos, com as necessárias correcções quanto ao financiamento.
Na verdade, se na criação do SNS se tivesse adoptado a filosofia de base da ADSE (sistema de base essencialmente contributiva, com moderado co-pagamento dos cuidados de saúde pelos beneficiários, desde que com isenção em relação aos que não têm meios), o problema do financiamento do SNS não existiria como hoje o conhecemos e a pressão sobre os impostos seria menor (dado que não teriam de sustentar em geral o SNS). Provavelmente a essa questão teremos de reverter, décadas depois...
(Revisto.)
Os funcionários preferiram obviamente manter o seu sistema privativo, que lhes custa uma "ninharia" de 1% das suas remunerações (de que estão isentos os funcionários aposentados, vá-se lá saber porquê...) e lhes dá acesso a forte comparticipação nos cuidados em regime de medicina convencionada e de livre escolha, para além do SNS. O Estado encontrou um meio de minorar os encargos, fazendo pagar à ADSE os cuidados prestados pelo SNS aos seus beneficiários (o que, aliás, não tem muita lógica, visto que eles são constitucionalmente beneficiários deste ao mesmo título que os demais cidadãos).
As contas da ADSE encontram-se disponíveis no seu site. O relatório relativo a 2005 revela duas coisas evidentes: o grande crescimento das despesas, muito para além do orçamentado, e a grande dependência do orçamento do Estado. A primeira reflecte, de forma agravada, o crescimento geral das despesas de saúde. A segundo mostra que as contribuições dos beneficiários -- que aliás entram nas contas do Estado e não da ADSE (que não dispõe de autonomia financeira) -- cobrem uma reduzida percentagem dos encargos: 100 milhões de euros de receita contra 871 milhões de despesas correntes, sem contar as elevadas despesas de PIDDAC! Mesmo que se adicionem os reembolsos à ADSE de outras entidades públicas, além do Estado (uns 50 ou 100 milhões), o diferencial entre receitas geradas e despesas realizadas é enorme, e só diminui o seu significado, se descontarmos os pagamemtos da ADSE ao SNS e se entrarmos em linha de conta com os gastos que o SNS poupa por não ter de prestar os cuidados que os beneficiários da ADSE buscam no sector privado. O défice é naturalmente financiado pelos impostos, sendo evidente que os funcionários públicos beneficiam de uma considerável regalia em matéria de saúde (a somar a outras...), em comparação com os demais cidadãos, beneficiários gerais do SNS.
Quando se impõe uma redução do défice público, não se compreende a manutenção desta situação. De resto, independentemente da questão dos custos, em termos sistémicos nada justifica a existência de um sistema de saúde específico para os funcionários públicos. O Governo "atacou" no ano passado a maior parte dos regimes de saúde especiais do sector público, mas manteve intocado o principal regime especial, que é o da ADSE. De duas uma: ou o ADSE deve ser extinto, ou então o seu regime deve ser ampliado a todos os cidadãos, com as necessárias correcções quanto ao financiamento.
Na verdade, se na criação do SNS se tivesse adoptado a filosofia de base da ADSE (sistema de base essencialmente contributiva, com moderado co-pagamento dos cuidados de saúde pelos beneficiários, desde que com isenção em relação aos que não têm meios), o problema do financiamento do SNS não existiria como hoje o conhecemos e a pressão sobre os impostos seria menor (dado que não teriam de sustentar em geral o SNS). Provavelmente a essa questão teremos de reverter, décadas depois...
(Revisto.)
quarta-feira, 23 de agosto de 2006
Opções de guerra
Publicado por
Vital Moreira
Os adeptos da guerra do Líbano insistem em protestar que não foi Israel que a começou. Na verdade, ela teve como pretexto a captura de dois soldados israelitas pelo Hezbollah num raid sobre a fronteira com o Líbano. Mas importa registar que o objectivo declarado do Hezbollah era bem definido e limitado. O secrétário-geral da movimento chiita, Nasrallah, anunciou na altura da operação que o objectivo era um troca de prisioneiros com Israel, por intermédio de "negociações indirectas". O que estave em causa, portanto, era obter "moeda de troca" para conseguir a libertação de muitos militantes do Hezzbollah em poder de Israel há anos, capturados durante a ocupação israelita do sul do Líbano, a quem sempre se recusou a libertar.E o líder chiita acrescentou explicitamente: «Não queremos uma escalada militar no Sul nem desejamos arrastar a região para uma guerra».
Sem dar margem para nenhuma tentativa de negociação, Israel preferiu desencadear, acto contínuo, uma guerra punitiva contr o Hezbollah e contra o Líbano -- guerra, aliás, que já estava preparada, como se viu pela sua prontidão --, para «partir a espinha» do Hezbollah. Não conseguiu esse objectivo, nem recuperar os dois soldados. Agora, porém, vai ter de fazer o que no início não quis: a troca de prisioneiros, mediante as tais conversações indirectas que antes enjeitou. Só é de lamentar que pelo meio tenha ficado a destruição de meio Libano e a morte de mais de um milhar de pessoas, entre os quais mais de 150 israelitas.
Opções de guerra...
Sem dar margem para nenhuma tentativa de negociação, Israel preferiu desencadear, acto contínuo, uma guerra punitiva contr o Hezbollah e contra o Líbano -- guerra, aliás, que já estava preparada, como se viu pela sua prontidão --, para «partir a espinha» do Hezbollah. Não conseguiu esse objectivo, nem recuperar os dois soldados. Agora, porém, vai ter de fazer o que no início não quis: a troca de prisioneiros, mediante as tais conversações indirectas que antes enjeitou. Só é de lamentar que pelo meio tenha ficado a destruição de meio Libano e a morte de mais de um milhar de pessoas, entre os quais mais de 150 israelitas.
Opções de guerra...
terça-feira, 22 de agosto de 2006
"Censura!"
Publicado por
Vital Moreira
O gabinete do Primeiro-Ministro não reagiu à brutal acusação do crítico de televisão Eduardo Cintra Torres, na sua coluna habitual do Público, há dias, segundo a qual dispõe de «informações [que] indicam que o gabinete do primeiro-ministro deu instruções directas à RTP para se fazer censura à cobertura dos incêndios, [sendo] ordens directas do gabinete de Sócrates.»
É certo que a acusação, baseada em fontes não identificadas (e portanto insusceptível de ser comprovada) não é muito verosímil, pois, mesmo que tal lhes passasse pela cabeça, não se vê o gabinete de Sócrates a "cair" na tolice de contactar a RTP -- nem a administração nem a direcção de informação são conhecidos como "gente do Governo" -- para "proibir" a cobertura televisiva dos fogos florestais, nem se imagina os visados a acatar a "censura". Todavia, dada a gravidade da acusação, e não sendo o autor da acusação propriamente um inimputável, pode a mesma, se não desmentida, ganhar uma credibilidade que à primeira vista não merece.
É este um ónus da responsabilidade política num Estado democrático: quando um governante é acusado de alguma patifaria, mesmo infundada -- salvo se obviamente imaginária ou malévola --, não é o acusador que tem de provar a dita, mas os acusados que têm de provar (ou pelo menos de protestar) que ela não tem fundamento. Como diria o Engº Guterres, é a vida!
É certo que a acusação, baseada em fontes não identificadas (e portanto insusceptível de ser comprovada) não é muito verosímil, pois, mesmo que tal lhes passasse pela cabeça, não se vê o gabinete de Sócrates a "cair" na tolice de contactar a RTP -- nem a administração nem a direcção de informação são conhecidos como "gente do Governo" -- para "proibir" a cobertura televisiva dos fogos florestais, nem se imagina os visados a acatar a "censura". Todavia, dada a gravidade da acusação, e não sendo o autor da acusação propriamente um inimputável, pode a mesma, se não desmentida, ganhar uma credibilidade que à primeira vista não merece.
É este um ónus da responsabilidade política num Estado democrático: quando um governante é acusado de alguma patifaria, mesmo infundada -- salvo se obviamente imaginária ou malévola --, não é o acusador que tem de provar a dita, mas os acusados que têm de provar (ou pelo menos de protestar) que ela não tem fundamento. Como diria o Engº Guterres, é a vida!
Mais rigor, precisa-se
Publicado por
Vital Moreira
Lê-se no Público de hoje (link só para assinantes):
Já exprimi neste blogue a minha posição sobre esta matéria, criticando a dispensa de publicação do recrutamento de pessoal em regime de contrato de trabalho (que, aliás, está sujeito a um procedimento público de selecção, pelo que não poderia ser "escondida"). Mas um pouco de rigor jornalístico na análise das coisas não faz mal a ninguém, sendo aliás um dever profissional.
«Na prática, o fim da publicação da celebração e renovação de contratos individuais de trabalho significa que a grande maioria das entradas para a administração pública - nomeadamente para cargos de assessores do Governo e outros postos normalmente associados a contratações políticas - deixaria de ser escrutinada pelos cidadãos.»Não é assim. Por um lado, no sector público administrativo, ressalvados os institutos públicos, a maior parte do pessoal da Administração pública continua a ter o regime de funcionário público - cuja nomeação continua a ser publicada -- e não o do contrato de trabalho; por outro lado, na generalidade dos casos o pessoal dos gabinetes e demais pessoal de nomeação "política" (nomeadamente dirigentes da Administração) também não é contratado, não estando portanto as suas nomeações isentas de publicação oficial. A conclusão do texto citado é, portanto, infundada.
Já exprimi neste blogue a minha posição sobre esta matéria, criticando a dispensa de publicação do recrutamento de pessoal em regime de contrato de trabalho (que, aliás, está sujeito a um procedimento público de selecção, pelo que não poderia ser "escondida"). Mas um pouco de rigor jornalístico na análise das coisas não faz mal a ninguém, sendo aliás um dever profissional.
"A nossa família perdeu a guerra"
Publicado por
Vital Moreira
Tocante, e de grande dignidade, sem ira nem ressentimento, o texto do escritor israelita David Grossman, hoje publicado no El País, sobre a morte de um seu filho, sargento do exército, na Guerra do Líbano.
Insólito país, este
Publicado por
Vital Moreira
Em França, a direita hesita numa pequena isenção do imposto de sucessões em favor do cônjuge sobrevivo, mas nem isso provavelmente avançará, porque, como observou um dirigente da maioria de direita, o Governo não pode dar uma mensagem de "tudo em favor dos ricos", a um ano das eleições presidenciais.
Em Portugal, porém, o imposto sobre sucessões e doações foi furtivamente revogado em 2003, pelo Governo Durão Barroso, depois de ter sido desconstitucionalizado na revisão constitucional de 1997, com o acordo do PS. Assim desapareceu, desamparadamente, um dos mais justos impostos, em termos sociais. Em Portugal, os ricos nada têm a temer, em matéria fiscal.
Insólito país, este.
Em Portugal, porém, o imposto sobre sucessões e doações foi furtivamente revogado em 2003, pelo Governo Durão Barroso, depois de ter sido desconstitucionalizado na revisão constitucional de 1997, com o acordo do PS. Assim desapareceu, desamparadamente, um dos mais justos impostos, em termos sociais. Em Portugal, os ricos nada têm a temer, em matéria fiscal.
Insólito país, este.
segunda-feira, 21 de agosto de 2006
Voos da CIA ... também já "suicidam"?
Publicado por
AG
As fontes ditas "governamentais", que o "DN" e outros jornais têm citado, apostadas em impedir que esclarecimentos de responsáveis nacionais sobre os alegados voos da CIA sejam prestados - à AR ou ao PE, ou seja, na verdade aos portugueses e demais europeus - terão também outros propósitos: um deles será intimidar-me. Como se fosse possível levar a sério acusações anónimas de "deslealdade", vindas de meios complacentes com assessorias em Bagdad, acumulações de direcção de empresas estrangeiras com funções parlamentares, candidaturas presidenciais concorrentes, etc, etc, etc...
Mas, deixando de lado jogadas baixas, o tema dos voos da CIA é, de facto, muito sério. E a investigação do PE também. E lá que assusta, assusta. Gente "má", como diria o Presidente Bush. E por isso começam a aparecer uns "suicidados".
Ora tomem atenção ao artigo «Two Strange Deaths in European Wiretapping Scandal», de Paolo Pontoniere e Jeffrey Klein, publicado no "New America Media", anteontem, 19 de Agosto. Transcrevo passagens:
«Just after noon on Friday, July 21, Adamo Bove - head of security at Telecom Italia, the country's largest telecommunications firm - told his wife he had some errands to run as he left their Naples apartment. Hours later, police found his car parked atop a freeway overpass. Bove's body lay on the pavement some 100 feet below.
Bove was a master at detecting hidden phone networks. Recently, at the direction of Milan prosecutors, he'd used mobile phone records to trace how a "Special Removal Unit" composed of CIA and SISMI (the Italian CIA) agents abducted Abu Omar, an Egyptian cleric, and flew him to Cairo where he was tortured. The Omar kidnapping and the alleged involvement of 26 CIA agents, whom prosecutors seek to arrest and extradite, electrified Italian media. U.S. media noted the story, then dropped it.
The first Italian press reports after Bove's death said the 42-year-old had committed suicide. Bove, according to unnamed sources, was depressed about his imminent indictment by Milan prosecutors. But prosecutors immediately, and uncharacteristically, set the record straight: Bove was not a target; in fact, he was prosecutors' chief source. Bove, prosecutors said, was helping them investigate his own bosses, who were orchestrating an illegal wiretapping bureau and the destruction of incriminating digital evidence. (...)
About 16 months earlier, in March of 2005, Costas Tsalikidis, a 38-year-old software engineer for Vodaphone in Greece had just discovered a highly sophisticated bug embedded in the company's mobile network. The spyware eavesdropped on the prime minister's and other top officials' cell phone calls; it even monitored the car phone of Greece's secret service chief. Others bugged included civil rights activists, the head of Greece's "Stop the War" coalition, journalists and Arab businessmen based in Athens. All the wiretapping began about two months before the Olympics were hosted by Greece in August 2004, according to a subsequent investigation by the Greek authorities. (...)»
Tsalikidis, também apareceu «suicidado» a 9 de Março de 2005.
O artigo continua:
(...)«Investigations into the alleged suicides of both Adamo Bove and Costas Tsalikidis raise questions about more than the suspicious circumstances of their deaths. They point to politicized, illegal intelligence structures that rely upon cooperative business executives. European prosecutors and journalists probing these spying networks have revealed that:
The Vodaphone eavesdropping was transmitted in real time via four antennae located near the U.S. embassy in Athens, according to an 11-month Greek government investigation. Some of these transmissions were sent to a phone in Laurel, Md., near America's National Security Agency.
According to Ta Nea, a Greek newspaper, Vodaphone's CEO privately told the Greek government that the bugging culprits were "U.S. agents." Because Greece's prime minister feared domestic protests and a diplomatic war with the United States, he ordered the Vodafone CEO to withhold this conclusion from his own authorities investigating the case.
(...)
Germany's Federal Intelligence Service, BND, recently snooped on investigative journalists. According to parliamentary investigations, the spying may have been carried out using the United States's secretive Bad Aibling base in the Bavarian Alps, which houses the American global eavesdropping program dubbed Echelon.
Were the two alleged suicides more than an eerie coincidence? A few media in Italy - La Stampa, Dagospia and Feltrinelli, among others - have noted the unsettling parallels. But so far no journalists have been able to overcome the investigative hurdles posed by two entirely different criminal inquiry systems united only by two prime ministers not eager to provoke the White House's wrath.»
Não transcrevo a conclusão. Mas não a desvalorizo.
Mas, deixando de lado jogadas baixas, o tema dos voos da CIA é, de facto, muito sério. E a investigação do PE também. E lá que assusta, assusta. Gente "má", como diria o Presidente Bush. E por isso começam a aparecer uns "suicidados".
Ora tomem atenção ao artigo «Two Strange Deaths in European Wiretapping Scandal», de Paolo Pontoniere e Jeffrey Klein, publicado no "New America Media", anteontem, 19 de Agosto. Transcrevo passagens:
«Just after noon on Friday, July 21, Adamo Bove - head of security at Telecom Italia, the country's largest telecommunications firm - told his wife he had some errands to run as he left their Naples apartment. Hours later, police found his car parked atop a freeway overpass. Bove's body lay on the pavement some 100 feet below.
Bove was a master at detecting hidden phone networks. Recently, at the direction of Milan prosecutors, he'd used mobile phone records to trace how a "Special Removal Unit" composed of CIA and SISMI (the Italian CIA) agents abducted Abu Omar, an Egyptian cleric, and flew him to Cairo where he was tortured. The Omar kidnapping and the alleged involvement of 26 CIA agents, whom prosecutors seek to arrest and extradite, electrified Italian media. U.S. media noted the story, then dropped it.
The first Italian press reports after Bove's death said the 42-year-old had committed suicide. Bove, according to unnamed sources, was depressed about his imminent indictment by Milan prosecutors. But prosecutors immediately, and uncharacteristically, set the record straight: Bove was not a target; in fact, he was prosecutors' chief source. Bove, prosecutors said, was helping them investigate his own bosses, who were orchestrating an illegal wiretapping bureau and the destruction of incriminating digital evidence. (...)
About 16 months earlier, in March of 2005, Costas Tsalikidis, a 38-year-old software engineer for Vodaphone in Greece had just discovered a highly sophisticated bug embedded in the company's mobile network. The spyware eavesdropped on the prime minister's and other top officials' cell phone calls; it even monitored the car phone of Greece's secret service chief. Others bugged included civil rights activists, the head of Greece's "Stop the War" coalition, journalists and Arab businessmen based in Athens. All the wiretapping began about two months before the Olympics were hosted by Greece in August 2004, according to a subsequent investigation by the Greek authorities. (...)»
Tsalikidis, também apareceu «suicidado» a 9 de Março de 2005.
O artigo continua:
(...)«Investigations into the alleged suicides of both Adamo Bove and Costas Tsalikidis raise questions about more than the suspicious circumstances of their deaths. They point to politicized, illegal intelligence structures that rely upon cooperative business executives. European prosecutors and journalists probing these spying networks have revealed that:
The Vodaphone eavesdropping was transmitted in real time via four antennae located near the U.S. embassy in Athens, according to an 11-month Greek government investigation. Some of these transmissions were sent to a phone in Laurel, Md., near America's National Security Agency.
According to Ta Nea, a Greek newspaper, Vodaphone's CEO privately told the Greek government that the bugging culprits were "U.S. agents." Because Greece's prime minister feared domestic protests and a diplomatic war with the United States, he ordered the Vodafone CEO to withhold this conclusion from his own authorities investigating the case.
(...)
Germany's Federal Intelligence Service, BND, recently snooped on investigative journalists. According to parliamentary investigations, the spying may have been carried out using the United States's secretive Bad Aibling base in the Bavarian Alps, which houses the American global eavesdropping program dubbed Echelon.
Were the two alleged suicides more than an eerie coincidence? A few media in Italy - La Stampa, Dagospia and Feltrinelli, among others - have noted the unsettling parallels. But so far no journalists have been able to overcome the investigative hurdles posed by two entirely different criminal inquiry systems united only by two prime ministers not eager to provoke the White House's wrath.»
Não transcrevo a conclusão. Mas não a desvalorizo.
Voos da CIA não rimam com...soberania
Publicado por
AG
Enternecedor o arco de eurocépticos soberanistas, do CDS ao PCP, passando pelos incontornáveis Drs. Pacheco Peeira e Vasco Graça Moura!
Valho-me das edições do «PÚBLICO» e «DN» de dias 18 e 19 do corrente, para notar como fazem coro com as fontes anónimas, ditas «governamentais», que tentam vender aquela de que seria crime de lesa-soberania pátria se responsáveis portugueses respondessem a solicitação do Parlamento Europeu (já que pedidos na AR, até aqui, foram "chumbados"...) sobre as alegações dos voos da CIA envolvidos no transporte de pessoas sequestradas e/ou destinadas a tortura e prisão por tempo indeterminado em Guantanamo ou noutras cadeias por esse mundo fora.
Mas a violação flagrante, constante e continuada da soberania nacional nas Lajes, por exemplo, desde há muito, não incomoda o sono de tão ínsignes soberanistas! Atente-se, a propósito, no último «EXPRESSO» no interessante artigo "Os 'equívocos' das Lajes", de Estevão Gago da Câmara, expondo o que é de todos bem sabido: a ligeireza com que as autoridades portuguesas - civis e militares - desde há muito vêm fazendo aplicar (ou melhor, não aplicar) o articulado do Acordo de Cooperação e Defesa entre Portugal e os EUA, que faculta aos EUA uso da Base das Lajes. Teoricamente sob comando e controle português.
Valho-me das edições do «PÚBLICO» e «DN» de dias 18 e 19 do corrente, para notar como fazem coro com as fontes anónimas, ditas «governamentais», que tentam vender aquela de que seria crime de lesa-soberania pátria se responsáveis portugueses respondessem a solicitação do Parlamento Europeu (já que pedidos na AR, até aqui, foram "chumbados"...) sobre as alegações dos voos da CIA envolvidos no transporte de pessoas sequestradas e/ou destinadas a tortura e prisão por tempo indeterminado em Guantanamo ou noutras cadeias por esse mundo fora.
Mas a violação flagrante, constante e continuada da soberania nacional nas Lajes, por exemplo, desde há muito, não incomoda o sono de tão ínsignes soberanistas! Atente-se, a propósito, no último «EXPRESSO» no interessante artigo "Os 'equívocos' das Lajes", de Estevão Gago da Câmara, expondo o que é de todos bem sabido: a ligeireza com que as autoridades portuguesas - civis e militares - desde há muito vêm fazendo aplicar (ou melhor, não aplicar) o articulado do Acordo de Cooperação e Defesa entre Portugal e os EUA, que faculta aos EUA uso da Base das Lajes. Teoricamente sob comando e controle português.
Opção errada
Publicado por
Vital Moreira
O Governo resolveu pôr em prática um diploma de Durão Barroso que dispensa a publicação no Diário da República das nomeações da Administração pública em regime de contrato de trabalho (e não, como informaram as televisões, dos funcionários públicos e de titulares de cargos públicos). Todavia, em vez de a pôr em vigor, era preferrível ter revogado essa medida, visto que o recrutamento de pessoal para a Administração pública, mesmo em regime de contrato de trabalho, não deve estar imune ao princípio da publicidde e do escrutínio público, até para saber se foram cumpridas as regras procedimentais impostas por lei que garantem a igualdade e imparcialidade da selecção.
sexta-feira, 18 de agosto de 2006
Timor Leste: nossos aliados, mas mais aliados ...da Austrália
Publicado por
AG
No relatório que refiro no post acima sobre os debates em curso no Conselho de Segurança da ONU para a constituição de nova Missão ONU para Timor Leste, em substituição ou reforço da actual, alude-se ao "amargo desarcordo" entre membros do chamado Core Group (de que Portugal e Brasil fazem parte), que se reflecte também nas divisões entre membros (e entre membros permanentes) do CS.
Divisões que respeitam a 1) autorizar a nova missão, com uma componente militar, sob o Capítulo VII da Carta da ONU (China, Russia e França em particular opõem-se) e 2) determinar se a missão militar é integrada por «capacetes azuis», logo sob comando e controle da ONU, ou fica sob comando ...da Austrália.
Assinale-se que o Secretário Geral da ONU propôs a primeira opção (a par de 1600 polícias, 35O «capacetes azuis» para quem as forças internacionais actualmente presentes em Timor Leste transfeririam gradualmente competências). Assinale-se também que o Governo de Timor Leste, sob liderança de Ramos Horta, pediu expressamente que o comando da componente militar pertença à ONU.
Portugal, o Brasil, os países da região, obviamente opõem-se às pretensões autralianas - evidentemente em apoio do pedido de Timor Leste e das recomendações de Kofi Annan.
Quem discorda?
Quem apoia as pretensões australianas contra Dili e o SG da ONU?
Quem se borrifa para o que Portugal pensa ou defende relativamente a Timor Leste?
Ora, quem havia de ser? os nossos queridos aliados e parceiros Reino Unido e Estados Unidos da América.
A provar que, por mais desvelado e acrítico que seja o alinhamento de sucessivos governos portugueses, os EUA e o RU são hoje mais parceiros e mais aliados do país dos cangurus.
Alguém nos explica como vale a pena continuar a escancarar-lhes os nossos aeroportos (e o que mais?) à passagem de carregamentos suspeitos para questionáveis destinos?
Divisões que respeitam a 1) autorizar a nova missão, com uma componente militar, sob o Capítulo VII da Carta da ONU (China, Russia e França em particular opõem-se) e 2) determinar se a missão militar é integrada por «capacetes azuis», logo sob comando e controle da ONU, ou fica sob comando ...da Austrália.
Assinale-se que o Secretário Geral da ONU propôs a primeira opção (a par de 1600 polícias, 35O «capacetes azuis» para quem as forças internacionais actualmente presentes em Timor Leste transfeririam gradualmente competências). Assinale-se também que o Governo de Timor Leste, sob liderança de Ramos Horta, pediu expressamente que o comando da componente militar pertença à ONU.
Portugal, o Brasil, os países da região, obviamente opõem-se às pretensões autralianas - evidentemente em apoio do pedido de Timor Leste e das recomendações de Kofi Annan.
Quem discorda?
Quem apoia as pretensões australianas contra Dili e o SG da ONU?
Quem se borrifa para o que Portugal pensa ou defende relativamente a Timor Leste?
Ora, quem havia de ser? os nossos queridos aliados e parceiros Reino Unido e Estados Unidos da América.
A provar que, por mais desvelado e acrítico que seja o alinhamento de sucessivos governos portugueses, os EUA e o RU são hoje mais parceiros e mais aliados do país dos cangurus.
Alguém nos explica como vale a pena continuar a escancarar-lhes os nossos aeroportos (e o que mais?) à passagem de carregamentos suspeitos para questionáveis destinos?
Timor Leste no Conselho de Segurança
Publicado por
AG
Para quem se interesse pelo que se está a passar sobre Timor Leste no Conselho de Segurança da ONU, reproduzi na ABA DA CAUSA o relatório, datado de ontem, da publicação das ONGs congregadas de Nova Iorque "SECURITY COUNCIL REPORT" (que, de alguma maneira, nos meus anos de Conselho de Segurança, em 97/98, me orgulho de ter estimulado a criar).
Trata-se de um relatório que vou mandar a todos os membros do PE, e em especial aos membros britânicos, pedindo-lhes atenção crítica para as posições sustentadas pelo governo de Tony Blair contra a recomendação do Secretário-Geral da ONU e o pedido expresso do Governo de Timor Leste. No sentido de que a componente militar da nova missão da ONU em Timor Leste fique sob comando e controlo da ONU e não da Austrália.
Trata-se de um relatório que vou mandar a todos os membros do PE, e em especial aos membros britânicos, pedindo-lhes atenção crítica para as posições sustentadas pelo governo de Tony Blair contra a recomendação do Secretário-Geral da ONU e o pedido expresso do Governo de Timor Leste. No sentido de que a componente militar da nova missão da ONU em Timor Leste fique sob comando e controlo da ONU e não da Austrália.
Horas extraordinárias
Publicado por
Vital Moreira
As medidas agora tomadas para reduzir as horas extraordinárias na função pública e para acabar com um regime de remuneração extraordinário das mesmas no caso dos serviços de urgência de saúde vão no bom sentido de racionalização dos serviços públicos e de travagem do crescimento da factura com o pessoal do sector público. Por um lado, havendo em geral excesso de pessoal no sector público, não se compreende tanto recurso a horas extraordinárias; por outro lado, elas são um factor de considerável agravamento dos custos de pessoal, em alguns casos duplicando a remuneração (como sucede nos serviços de saúde).
Não se engana todo o mundo, o tempo inteiro...
Publicado por
AG
Ontem, 17 de Agosto, o Tribunal Federal de Distrito em Detroit declarou que o uso pela Administração Bush da NSA - National Security Agency - para espiar cidadãos americanos é inconstitucional e que o Presidente Bush não tem poderes para o decretar.
E o Congressista John Conyers Jr. (Democrata do Michigan) tornou público um relatório de 350 páginas intitulado "A Constituição em crise; as minutas de Downing Street e o embuste, a manipulação, a tortura, o revanchismo e o encobrimento na guerra do Iraque e na vigilância interna".
Numa entrevista a William River Pitt (ver "The Conyers Report: An Interview", pelo cronistta do New York Times William Rivers Pitt em t r u t h o u t | Interview) o Congressista resume assim o relatório:
"Concluimos que há provas substanciais de que o Presidente, o Vice-Presidente e outros altos membros da Administração Bush enganaram o Congresso e o povo americano relativamente à decisão de ir para a guerra no Iraque; fizeram declarações falsas e manipularam a informação dos serviços secretos relativamente à justificação para tal guerra; aprovaram tortura e tratamentos desumanos, crueis e degradantes no Iraque; permitiram a retaliação indevida contra os críticos da Administração; e aprovaram espionagem interna, que é tanto ilegal como inconstitucional. Também concluimos que não tem havido um inquérito independente às circunstâncias rodeando os escândalos de espionagem interna da Admnistração Bush".
E o Congressista John Conyers Jr. (Democrata do Michigan) tornou público um relatório de 350 páginas intitulado "A Constituição em crise; as minutas de Downing Street e o embuste, a manipulação, a tortura, o revanchismo e o encobrimento na guerra do Iraque e na vigilância interna".
Numa entrevista a William River Pitt (ver "The Conyers Report: An Interview", pelo cronistta do New York Times William Rivers Pitt em t r u t h o u t | Interview) o Congressista resume assim o relatório:
"Concluimos que há provas substanciais de que o Presidente, o Vice-Presidente e outros altos membros da Administração Bush enganaram o Congresso e o povo americano relativamente à decisão de ir para a guerra no Iraque; fizeram declarações falsas e manipularam a informação dos serviços secretos relativamente à justificação para tal guerra; aprovaram tortura e tratamentos desumanos, crueis e degradantes no Iraque; permitiram a retaliação indevida contra os críticos da Administração; e aprovaram espionagem interna, que é tanto ilegal como inconstitucional. Também concluimos que não tem havido um inquérito independente às circunstâncias rodeando os escândalos de espionagem interna da Admnistração Bush".
quinta-feira, 17 de agosto de 2006
Marcelo Caetano
Publicado por
Vital Moreira
Começou na extrema-direita ultranacionalista. Foi um dos ideólogos, construtores e protagonistas do corporativismo e da ditadura. Sucessor de Salazar à frente do regime, presidiu ao declínio do Estado Novo e falhou a sua modernização. Deposto, sem honra nem glória, no 25 de Abril, acabou no exílio e no ressentimento.
Politicamente, não avultará na história do séc. XX. Fica a sua obra de universitário, de administrativista e de historidor das instituições. O que não é pouco.
Politicamente, não avultará na história do séc. XX. Fica a sua obra de universitário, de administrativista e de historidor das instituições. O que não é pouco.
A "guerra ao terror" de Bush faz o jogo dos terroristas
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AG
Vale a pena ler o artigo «A Self-Defeating War», da autoria de George Soros (mais um americano anti-americano, «por supuesto»...) publicado no insuspeito «The Wall Street Journal», no passado dia 15 de Agosto.
Começa assim:
"The war on terror is a false metaphor that has led to counterproductive and self-defeating policies. Five years after 9/11, a misleading figure of speech applied literally has unleashed a real war fought on several fronts - Iraq, Gaza, Lebanon, Afghanistan, Somalia - a war that has killed thousands of innocent civilians and enraged millions around the world. Yet al Qaeda has not been subdued; a plot that could have claimed more victims than 9/11 has just been foiled by the vigilance of British intelligence".
Começa assim:
"The war on terror is a false metaphor that has led to counterproductive and self-defeating policies. Five years after 9/11, a misleading figure of speech applied literally has unleashed a real war fought on several fronts - Iraq, Gaza, Lebanon, Afghanistan, Somalia - a war that has killed thousands of innocent civilians and enraged millions around the world. Yet al Qaeda has not been subdued; a plot that could have claimed more victims than 9/11 has just been foiled by the vigilance of British intelligence".
Iraque: 3.438 civis mortos em Julho
Publicado por
AG
Segundo o New York Times, Julho passado foi o mês mais mortífero da guerra para os civis iraquianos. Uma média de 110 iraquianos foram mortos por dia nesse mês. O número total de 3.438, segundo estatísticas do Ministério da Saúde, corresponde a um aumento de 9% em relação a Junho e cerca do dobro do número de mortos em Janeiro. Mais de metade dessas mortes ocorreu em Bagdad.
Compromissos com o nazismo
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Vital Moreira
Os que sempre tentaram justificar e "branquear" o compromisso de grandes intelectuais alemães com nazismo (desde Heidegger a Carl Schmitt), procuram, agora, ver uma equiparação com o caso de Günther Grass. Como se houvesse real semelhança entre a pertença de um anónimo jovem de 17 anos às Waffen SS, no final da guerra, como tantos milhares de outros (por mais censurável que isso seja, e ainda mais o silêncio até agora), e o duradouro e empenhado compromisso activo daqueles consagrados intelectuais com a construção filosófica e doutrinária e com a legitimação política do nazismo (os quais, aliás, na maior parte dos casos, e ao contrário do autor de O Tambor, não deram nenhuma prova de arrependimento posterior)! Seria o mesmo que comparar os "autores" com os seus "seguidores"...
Insucesso israelita
Publicado por
Vital Moreira
Na guerra que lançou contra o Líbano, Israel aplicou a mesma política que desde há anos prossegue contra os palestinianos: flagelar as populações e destruir infra-estruturas para forçar as autoridades políticas (num caso a Autoridade Palestiniana, noutro caso o governo Libanês) a isolar e lutar contra os movimentos radicais.
Como mostrou ontem um jornalista israelita, Charles Enderlin, num artigo do Le Monde, o resultado não foi propriamente brilhante, antes contraproducente. Na Palestina, levou à radicalização popular e à vitória eleitoral do Hamas; no Líbano, a inesperada resistência do movimento radical chiita durante mais de um mês de ofensiva israelita só fez aumentar a sua popularidade e a solidariedade com ele, tanto no País como no mundo árabe. Em vez de isolar e aniquilar o adversário, como pretendia (calcula-se que a força militar do Hezbollah se mantém muito forte), o ataque israelita só lhe conferiu maior legimidade e autoridade política.
Para tornar as coisas ainda mais comprometedoras para Israel, o acordo de cessar fogo nem sequer passa pela libertação dos soldados israelitas capturados pelo Hezbollah -- que foram o pretexto da guerra--, que Israel terá de negociar com o inimigo, seguramente a troco da libertação de membros do movimento chiita detidos por Israel.
Como mostrou ontem um jornalista israelita, Charles Enderlin, num artigo do Le Monde, o resultado não foi propriamente brilhante, antes contraproducente. Na Palestina, levou à radicalização popular e à vitória eleitoral do Hamas; no Líbano, a inesperada resistência do movimento radical chiita durante mais de um mês de ofensiva israelita só fez aumentar a sua popularidade e a solidariedade com ele, tanto no País como no mundo árabe. Em vez de isolar e aniquilar o adversário, como pretendia (calcula-se que a força militar do Hezbollah se mantém muito forte), o ataque israelita só lhe conferiu maior legimidade e autoridade política.
Para tornar as coisas ainda mais comprometedoras para Israel, o acordo de cessar fogo nem sequer passa pela libertação dos soldados israelitas capturados pelo Hezbollah -- que foram o pretexto da guerra--, que Israel terá de negociar com o inimigo, seguramente a troco da libertação de membros do movimento chiita detidos por Israel.
Sucesso israelita
Publicado por
Vital Moreira
É claro que Israel conseguiu um dos seus objectivos estratégicos, ou seja, a interposição de uma força internacional no Sul do Líbano, que, em princípio, servirá de tampão contra as incursões e ataques do Hezbollah. Mas isso não vai sem um reverso: a internacionalização da defesa das fronteiras de Israel trará consigo um aumento da pressão internacional para a solução justa da questão palestiniana. Provavelmente, Israel vai ter de mudar de agulha: trocar a arroganta postura unilateralista e de recusa de negociações com a Autoridade Palestiniana por uma solução política de compromisso, na base de dois Estados e de "troca de territórios pela paz".
quarta-feira, 16 de agosto de 2006
Mau passo
Publicado por
Vital Moreira
O aumento do número de deputados da assembleia regional dos Açores, de 52 para 57, não é de aplaudir, indo contra o sentimento da opinião pública nesta matéria. De resto, depois deste aumento nos Açores, como é que o PS poderá justificar qualquer diminuição no número de deputados da AR?
Como era evidente
Publicado por
Vital Moreira
«Israel planeou guerra no Líbano antes do rapto dos seus soldados». Só os distraídos poderiam pensar que uma ofensiva da envergadura que revestiu o ataque ao Líbano se organizava em dois dias! Com o "rapto" dos soldados israelitas (quantos dirigentes do Hezbollah não "raptou" Israel antes?), o Hezbollah forneceu o conveniente pretexto. Para contento dos "senhores da guerra" de ambos os lados.
Guerras
Publicado por
Vital Moreira
É bom quando uma guerra acaba. Mas é mau quando ambos os contendores têm maior ou menor razão para reclamar vitória. Estão prontos para outra. Em princípio, salvo nas guerras de defesa, só deveria haver vencidos.
Líbano: ensaio para o Irão
Publicado por
AG
Vale a pena ler o artigo «Watching Lebanon» de Seymour M. Hersh, na última edição da revista «THE NEW YORKER» (datada de 21 de Agosto). Procurarei resumi-lo:
O autor recorda a passividade da Administração Bush nos primeiros dias depois do rapto de dois soldados israelitas pelo Hezbollaah a 12 de Julho, que ofereceu a Israel ensejo para a brutal guerra de retaliação sobre o Líbano, sublinhando que, de facto, os EUA estavam desde há meses envolvidos no planeamento de um ataque de Israel contra o Líbano, considerado por Telavive como inevitável face aos sucessivos ataques provocatórios que o Hezbollah vinha lançando contra Israel. Não apenas porque, na perpectiva de Washington, arrasar o Hezbollah seria bom para a segurança de Israel e para reforçar o governo do Líbano, mas porque o Presidente Bush e o Vice-Presidente Dick Cheney estavam convencidos de que uma campanha de bombardeamento aéreo contra o complexo subterrâneo do Hezbollah serviria como ensaio para um ataque «pre-emptivo» americano contra as instalações nucleares iranianas, em boa parte também subterrâneas.
Já desde a primavera, segundo o articulista, que as Forças Aéreas americana e israelita começaram a desenvolver planos para um ataque demolidor contra as instalações nucleares iranianas. (Um ataque que muitos especialistas políticos e militares consideram uma loucura pelo elevado número de civis que vitimaria e pelas imprevisíveis e incontroláveis consequências - e foi justamente por designar tal cenário como de «nuts» que Jack Straw foi despedido por Tony Blair, por pressões da Administração Bush, revelou a imprensa britânica recentemente).
O plano israelita para o Líbano seria idêntico ao que os EUA planeiam para o Irão: intenso bombardeamento a partir do ar de instalações nucleares, incluindo infraestruturas civis. O Vice-Presidente Cheney e Elliott Abrams, Conselheiro-Adjunto da Segurança Nacional, seriam entusiastas desta dupla operação. E os EUA teriam dado a entender a Israel «se têm de atacar, estaremos convosco. Mas façam-no mais cedo: quando mais esperarem, menos tempo teremos nós para avaliar e planear para o Irão, antes de Bush sair da presidência».
Hersh cita Richard Armitage, que foi Secretário de Estado Adjunto no primeiro mandato de Bush, considerando que a campanha de Israel no Líbano, dadas as inesperadas dificuldades e criticismo geral que enfrentou, pode, no fim de contas, servir como aviso à Casa Branca sobre o Irão: «Se as mais poderosas forças militares na região - as israelitas - não conseguem pacificar um país como o Líbano, com uma população de 4 milhões, terá de se pensar cuidadosamente antes de aplicar a mesma receita ao Irão, que tem muito mais profundidade estratégica e uma população de 70 milhões». Sobre o Líbano, Armitage observou que «A única coisa que o bombardeamento alcançou até agora foi unir a população contra os israelitas».
Hersh cita um europeu : «Os israelitas foram apanhados numa armadilha. Há anos que acham que podem resolver os problemas sendo implacáveis. Mas agora, com o martírio islâmico, as coisas mudaram e eles precisam de respostas diferentes. Como amedrontar gente que anseia pelo martírio?». E cita também um perito irano-americano: «Se os EUA atacarem as instalações iranianas podem acabar por transformar Ahmadinejad noutro Nasrallah - em estrela rock da rua árabe».
Mas, sublinha Hersh, segundo fontes no Pentágono, a informação sobre o Hezbollah e o Irão está a ser manipulada pela Casa Branca como em 2002 e 2003, vendendo a mentira de que o Iraque tinha armas de destruição maciça. «A grande queixa agora na comunidade dos serviços de informação é que todo o material importante é enviado directamente para o topo, por insistência da Casa Branca, e sem ser analisado ou mal o sendo». «Isto é horrível e viola regras de segurança; mas se te queixas, estás despedido...»revela uma fonte. «Cheney é quem controla isto».
A resistência do Hezbollah e a sua capacidade de continuar a lançar «rockets» contra o norte de Israel apesar de estar sob bombardeamento constante, deveria ser considerada um sério revés para quem queira usar a força contra o Irão. E contra quem sustente que o bombardeamento do Irão criará dissensão interna e revolta. Mas fontes de Hersh próximas das chefias militares previram que a Administração faria uma avaliação muito mais positiva do que deveria da campanha israelita no Líbano: «Nem pensar que Rumsfeld e Cheney venham a tirar a conclusão certa do que se passou no Líbano». «Quando o fumo desaparecer, eles virão dizer que foi um sucesso, e vão retirar daí reforço para o plano de atacar o Irão».
Ontem, contra toda a evidência e a polémica instalada até em Israel, o próprio Presidente Bush, apesar dos esgares de desconforto, já veio proclamar a «derrota» do Hezbollah.
O autor recorda a passividade da Administração Bush nos primeiros dias depois do rapto de dois soldados israelitas pelo Hezbollaah a 12 de Julho, que ofereceu a Israel ensejo para a brutal guerra de retaliação sobre o Líbano, sublinhando que, de facto, os EUA estavam desde há meses envolvidos no planeamento de um ataque de Israel contra o Líbano, considerado por Telavive como inevitável face aos sucessivos ataques provocatórios que o Hezbollah vinha lançando contra Israel. Não apenas porque, na perpectiva de Washington, arrasar o Hezbollah seria bom para a segurança de Israel e para reforçar o governo do Líbano, mas porque o Presidente Bush e o Vice-Presidente Dick Cheney estavam convencidos de que uma campanha de bombardeamento aéreo contra o complexo subterrâneo do Hezbollah serviria como ensaio para um ataque «pre-emptivo» americano contra as instalações nucleares iranianas, em boa parte também subterrâneas.
Já desde a primavera, segundo o articulista, que as Forças Aéreas americana e israelita começaram a desenvolver planos para um ataque demolidor contra as instalações nucleares iranianas. (Um ataque que muitos especialistas políticos e militares consideram uma loucura pelo elevado número de civis que vitimaria e pelas imprevisíveis e incontroláveis consequências - e foi justamente por designar tal cenário como de «nuts» que Jack Straw foi despedido por Tony Blair, por pressões da Administração Bush, revelou a imprensa britânica recentemente).
O plano israelita para o Líbano seria idêntico ao que os EUA planeiam para o Irão: intenso bombardeamento a partir do ar de instalações nucleares, incluindo infraestruturas civis. O Vice-Presidente Cheney e Elliott Abrams, Conselheiro-Adjunto da Segurança Nacional, seriam entusiastas desta dupla operação. E os EUA teriam dado a entender a Israel «se têm de atacar, estaremos convosco. Mas façam-no mais cedo: quando mais esperarem, menos tempo teremos nós para avaliar e planear para o Irão, antes de Bush sair da presidência».
Hersh cita Richard Armitage, que foi Secretário de Estado Adjunto no primeiro mandato de Bush, considerando que a campanha de Israel no Líbano, dadas as inesperadas dificuldades e criticismo geral que enfrentou, pode, no fim de contas, servir como aviso à Casa Branca sobre o Irão: «Se as mais poderosas forças militares na região - as israelitas - não conseguem pacificar um país como o Líbano, com uma população de 4 milhões, terá de se pensar cuidadosamente antes de aplicar a mesma receita ao Irão, que tem muito mais profundidade estratégica e uma população de 70 milhões». Sobre o Líbano, Armitage observou que «A única coisa que o bombardeamento alcançou até agora foi unir a população contra os israelitas».
Hersh cita um europeu : «Os israelitas foram apanhados numa armadilha. Há anos que acham que podem resolver os problemas sendo implacáveis. Mas agora, com o martírio islâmico, as coisas mudaram e eles precisam de respostas diferentes. Como amedrontar gente que anseia pelo martírio?». E cita também um perito irano-americano: «Se os EUA atacarem as instalações iranianas podem acabar por transformar Ahmadinejad noutro Nasrallah - em estrela rock da rua árabe».
Mas, sublinha Hersh, segundo fontes no Pentágono, a informação sobre o Hezbollah e o Irão está a ser manipulada pela Casa Branca como em 2002 e 2003, vendendo a mentira de que o Iraque tinha armas de destruição maciça. «A grande queixa agora na comunidade dos serviços de informação é que todo o material importante é enviado directamente para o topo, por insistência da Casa Branca, e sem ser analisado ou mal o sendo». «Isto é horrível e viola regras de segurança; mas se te queixas, estás despedido...»revela uma fonte. «Cheney é quem controla isto».
A resistência do Hezbollah e a sua capacidade de continuar a lançar «rockets» contra o norte de Israel apesar de estar sob bombardeamento constante, deveria ser considerada um sério revés para quem queira usar a força contra o Irão. E contra quem sustente que o bombardeamento do Irão criará dissensão interna e revolta. Mas fontes de Hersh próximas das chefias militares previram que a Administração faria uma avaliação muito mais positiva do que deveria da campanha israelita no Líbano: «Nem pensar que Rumsfeld e Cheney venham a tirar a conclusão certa do que se passou no Líbano». «Quando o fumo desaparecer, eles virão dizer que foi um sucesso, e vão retirar daí reforço para o plano de atacar o Irão».
Ontem, contra toda a evidência e a polémica instalada até em Israel, o próprio Presidente Bush, apesar dos esgares de desconforto, já veio proclamar a «derrota» do Hezbollah.
terça-feira, 15 de agosto de 2006
domingo, 13 de agosto de 2006
Porque falham os generais em Israel?
Publicado por
AG
Vale a pena ler no www.antiwar.com o artigo de 12/8/06 do israelita URI AVNER
"The Buck Stops Where?"
Não resisto a reproduzir extractos:
«Today the war entered its fifth week. Hard to believe: our mighty army has now been fighting for 29 days against a "gang" and "terrorist organization," as the military commanders like to describe them, and the battle has still not been decided.
(...)
Now everybody already admits that something basic has gone wrong in this war. The proof: the War of the Generals, which previously started only after the conclusion of a war, has now become public while the war is still going on.
The chief of staff, Dan Halutz, has found the culprit: Udi Adam, the chief of the Northern Command. He has practically dismissed him in the middle of the battle. That is the old ploy of the thief shouting, "Stop thief!" After all, it is obvious that the person mainly to blame for the failures of the war is Halutz himself, with his foolish belief that Hezbollah could be defeated by aerial bombardment alone.
But it is not only at the top of the army that mutual accusations are flying around. The army command accuses the government, which is retaliating in kind.»
(...)
But this is a sterile debate, because it ignores the main fact, which is becoming clearer from day to day: it is altogether impossible to win this war. That's why nothing is working as planned.
(...)
It is quite clear that the army command's wonderful plan did not include the defense of the rear within rocket range. There was no plan for the solution of the hundred and one problems emanating from the attack on Hezbollah: from the protection of the civilian population from thousands of missiles to the necessary economic arrangements when a third of the country's population is living under bombardment and is paralyzed. Now the public is crying out, and soon the ministers and generals will have to try to find somebody to blame for that, too.
For this war is being fought on the backs of the weak, who cannot afford to "evacuate themselves" from the rockets' area. The rich and well-to-do got out long ago ? in Israel as well as in Lebanon.
(...)
"Now the end of the killing depends on the UN. David Ben-Gurion called it contemptuously "UNO-SHMUNO" (UM-SHMUM in Hebrew). In the 1948 war, he violated its cease-fire resolutions whenever it suited him (as a soldier, I took part in some of these actions). He and all his successors over the years have violated almost all the UN decisions concerning us, arguing (not without justification) that the organization was dominated by an automatic anti-Israeli majority, consisting of the Soviet bloc and Third World countries.
Since then, the situation has changed. The Soviet bloc has collapsed and the UN has become an arm of the U.S. State Department. Kofi Annan has become a janitor, and the real boss is the U.S. delegate, John Bolton, a raving neocon and therefore a great friend of Israel. He wants the war to go on.
(...)
The new proposals of the Beirut government have lit red lights in Jerusalem. The Lebanese government proposes to deploy 15,000 Lebanese troops along the border, declare a cease-fire and get the Israeli troops out of Lebanon. That is exactly what the Israeli government demanded at the start of the war. But now it looks like a danger. It could stop the war without an Israeli victory.
Thus a paradoxical situation has arisen: the Israeli government is rejecting a proposal that reflects its original war aims, and instead demands the deployment of an international force, which it objected to strenuously at the start of the war. That's what happens when you start a war without clear and achievable aims. Everything gets mixed up.
(...)
The civilians who pose as war leaders are no better then the generals. A veteran general might even have learned something from his experience.
I am going now to say something I did not think I would ever utter: It is quite possible that we would not have slid into this foolish war if Ariel Sharon were in charge. Fact: he did not attack Hezbollah after the withdrawal in 2000. One attempt was enough for him. Which proves again that there is nothing so bad that something worse cannot be found.
The lust for war also explains the talking choir of the hundreds of ex-generals, who think and talk in unison in favor of the war. A cynic would say, what's the big deal, after all it's the army that gave them their standing in society. They are important only as long as the conflict between Israel and the Arab world continues. The conflict guarantees their status. They have no interest whatsoever in its resolution.
But the phenomenon is more profound. The army is the crucible for senior officers. It shapes their world outlook, their attitude and style. Apart from the settlers, the senior officers' corps ? in and out of uniform ? is today the only ideological party in Israel and therefore has a huge influence. It can easily gobble up a thousand little functionaries like Amir Peretz before breakfast.
This is why there is no real self-criticism. At the beginning of the fifth week, the slogans are again, Forwards! To the Litani! Further! Stronger! Deeper!»
"The Buck Stops Where?"
Não resisto a reproduzir extractos:
«Today the war entered its fifth week. Hard to believe: our mighty army has now been fighting for 29 days against a "gang" and "terrorist organization," as the military commanders like to describe them, and the battle has still not been decided.
(...)
Now everybody already admits that something basic has gone wrong in this war. The proof: the War of the Generals, which previously started only after the conclusion of a war, has now become public while the war is still going on.
The chief of staff, Dan Halutz, has found the culprit: Udi Adam, the chief of the Northern Command. He has practically dismissed him in the middle of the battle. That is the old ploy of the thief shouting, "Stop thief!" After all, it is obvious that the person mainly to blame for the failures of the war is Halutz himself, with his foolish belief that Hezbollah could be defeated by aerial bombardment alone.
But it is not only at the top of the army that mutual accusations are flying around. The army command accuses the government, which is retaliating in kind.»
(...)
But this is a sterile debate, because it ignores the main fact, which is becoming clearer from day to day: it is altogether impossible to win this war. That's why nothing is working as planned.
(...)
It is quite clear that the army command's wonderful plan did not include the defense of the rear within rocket range. There was no plan for the solution of the hundred and one problems emanating from the attack on Hezbollah: from the protection of the civilian population from thousands of missiles to the necessary economic arrangements when a third of the country's population is living under bombardment and is paralyzed. Now the public is crying out, and soon the ministers and generals will have to try to find somebody to blame for that, too.
For this war is being fought on the backs of the weak, who cannot afford to "evacuate themselves" from the rockets' area. The rich and well-to-do got out long ago ? in Israel as well as in Lebanon.
(...)
"Now the end of the killing depends on the UN. David Ben-Gurion called it contemptuously "UNO-SHMUNO" (UM-SHMUM in Hebrew). In the 1948 war, he violated its cease-fire resolutions whenever it suited him (as a soldier, I took part in some of these actions). He and all his successors over the years have violated almost all the UN decisions concerning us, arguing (not without justification) that the organization was dominated by an automatic anti-Israeli majority, consisting of the Soviet bloc and Third World countries.
Since then, the situation has changed. The Soviet bloc has collapsed and the UN has become an arm of the U.S. State Department. Kofi Annan has become a janitor, and the real boss is the U.S. delegate, John Bolton, a raving neocon and therefore a great friend of Israel. He wants the war to go on.
(...)
The new proposals of the Beirut government have lit red lights in Jerusalem. The Lebanese government proposes to deploy 15,000 Lebanese troops along the border, declare a cease-fire and get the Israeli troops out of Lebanon. That is exactly what the Israeli government demanded at the start of the war. But now it looks like a danger. It could stop the war without an Israeli victory.
Thus a paradoxical situation has arisen: the Israeli government is rejecting a proposal that reflects its original war aims, and instead demands the deployment of an international force, which it objected to strenuously at the start of the war. That's what happens when you start a war without clear and achievable aims. Everything gets mixed up.
(...)
The civilians who pose as war leaders are no better then the generals. A veteran general might even have learned something from his experience.
I am going now to say something I did not think I would ever utter: It is quite possible that we would not have slid into this foolish war if Ariel Sharon were in charge. Fact: he did not attack Hezbollah after the withdrawal in 2000. One attempt was enough for him. Which proves again that there is nothing so bad that something worse cannot be found.
The lust for war also explains the talking choir of the hundreds of ex-generals, who think and talk in unison in favor of the war. A cynic would say, what's the big deal, after all it's the army that gave them their standing in society. They are important only as long as the conflict between Israel and the Arab world continues. The conflict guarantees their status. They have no interest whatsoever in its resolution.
But the phenomenon is more profound. The army is the crucible for senior officers. It shapes their world outlook, their attitude and style. Apart from the settlers, the senior officers' corps ? in and out of uniform ? is today the only ideological party in Israel and therefore has a huge influence. It can easily gobble up a thousand little functionaries like Amir Peretz before breakfast.
This is why there is no real self-criticism. At the beginning of the fifth week, the slogans are again, Forwards! To the Litani! Further! Stronger! Deeper!»
...para levar a guerra até ao Irão
Publicado por
AG
Ainda do artigo "The New Middle East" out of control", de Jim Lobe, baseado na análise do Coronel Lawrence Wilkerson, o ex-chefe de gabinete do ex Secretário de Estado Colin Powell:
(...)"That Rice may now find herself in a similar position, having to contend with a resurgent Cheney-led coalition of hawks who are not so much complacent about the course of current events in the Middle East as convinced that their strategy of regional "transformation" by military means will be vindicated, is what is perhaps particularly alarming about the present moment.
"This whole business is nuts - unless, of course, you believe what the rumor-mongers are beginning to pass around," wrote Wilkerson in reference to the Lebanon war in an email exchange with IPS. "(T)hat this entire affair was ginned up by Bush/Cheney and certain political leaders in Tel Aviv to give cover for the eventual attack by the U.S. on Iran. At first, I refused to believe what seemed to be such insanity. But I am not so certain any longer."
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(...)"That Rice may now find herself in a similar position, having to contend with a resurgent Cheney-led coalition of hawks who are not so much complacent about the course of current events in the Middle East as convinced that their strategy of regional "transformation" by military means will be vindicated, is what is perhaps particularly alarming about the present moment.
"This whole business is nuts - unless, of course, you believe what the rumor-mongers are beginning to pass around," wrote Wilkerson in reference to the Lebanon war in an email exchange with IPS. "(T)hat this entire affair was ginned up by Bush/Cheney and certain political leaders in Tel Aviv to give cover for the eventual attack by the U.S. on Iran. At first, I refused to believe what seemed to be such insanity. But I am not so certain any longer."
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