terça-feira, 1 de abril de 2008

Viés político no noticiário da RTP

É evidente que o número de "presenças" noticiosas de cada força política no noticiário político é um critério relevante da avaliação da representação política do noticiário de uma estação de televisão. Mas será o mais importante? Se as referências forem predominantemente negativas, mais valeria ter menos tempo...

Bispos

Revelando uma notável imaginação, o presidente dos bispos portugueses queixa-se de uma «incrível exclusão da presença católica dos ambientes públicos e políticos». Só não disse de que «espaços públicos e políticos" é que se encontra excluída e, já agora, a que título é que deveria estar presente nos «espaços políticos».
Será que alguma vez veremos a Igreja Católica entre nós aceitar a mais elementar regra da separação entre o Estado e as igrejas, entre a esfera política e a esfera religiosa, entre César e Deus?

IRC

A taxa efectiva de IRC dos bancos voltou a baixar para valores inaceitáveis e muito inferiores à média das demais empresas. Ainda dizem que temos uma taxa de IRC muito alta! A ter em conta a taxa efectiva, poucos países devem superar-nos...
Será tudo legal, sem dúvida, mas uma lei que permite que isso seja legal deve ser mudada. Quanto antes, aliás. O Governo deveria proibir-se a si mesmo de pensar em baixar a taxa nominal do IRC sem corrigir primeiro estes "buracos" legais por onde as empresas se evadem ao imposto..

Escrutínio de embaixadores

Merece aplauso esta ideia de Luís Amado de promover um escrutínio parlamentar dos embaixadores nacionais no estrangeiro, antes de assumirem os respectivos cargos.
Mas seria ainda melhor se essa "sabatina" tivesse lugar antes da sua nomeação...

Relatório do Crisis Group sobre Timor-Leste

Óptimo este relatório do International Crisis Group sobre Timor-Leste! De leitura obrigatória.

Idade para ter juízo

Há alguns dias, no contexto de uma viagem ao Médio Oriente, o candidato do partido Republicano à Casa Branca, John McCain, declarou durante uma conferência de imprensa que estava preocupado com o facto de o regime iraniano "levar a Al-Qaeda para o Irão, para treiná-los e enviá-los de volta para o Iraque".
Não é segredo para ninguém que um ódio visceral separa o Irão da al-Qaeda, não tanto por causa de disputas teológicas entre sunitas e xiitas, mas antes porque os esbirros de Bin Laden consideram o regime iraniano uma barreira geopolítica para a renovação de um califado ortodoxo sunita. Nem mesmo a Administração Bush, insuspeita de se coibir em salientar o jogo sujo de Teerão, alguma vez defendeu qualquer ligação entre o Irão e a Al Qaeda.
Perante tal gaffe, um apoiante e amigo do Senador McCain, o Senador Lieberman, sussurrou qualquer coisa no ouvido do candidato. Imediatamente McCain tentou pôr água na fervura e precisou: "Desculpem, os iranianos estão a treinar extremistas, mas não a al-Qaeda."
A campanha de McCain pôs-se rapidamente em campo e explicou: "Numa conferência de imprensa, John McCain enganou-se e imediatamente corrigiu o que disse, explicando que o Irão suporta de facto extremistas islâmicos radicais no Iraque, mas não a Al Qaeda..."
Claro que os Democratas aproveitaram este erro crasso para atacar a reputação de especialista em questões de segurança sobre a qual McCain tem construído a sua campanha presidencial.
Interessante também a exposição considerável que esta gaffe teve em jornais tão insuspeitos de McCain-fobia, ou mesmo de "amor pelo Irão", como o Wall Street Journal e a Fox News.

segunda-feira, 31 de março de 2008

100 000 ou 20 000?

«A Plataforma que reúne os sindicatos dos professores entregou hoje no Ministério da Educação um abaixo-assinado com 20 mil assinaturas a exigir a suspensão do processo de avaliação até final do ano lectivo.»
De duas uma: ou só 20 000 dos 100 000 manifestantes é que eram professores, ou só 20 000 dos 100 000 professores manifestantes é que assinaram o protesto. Poderão os sindicatos esclarecer a enorme diferença?

"Eleitoralismo"

É extraordinário considerar como "eleitoralismo" medidas políticas tomadas a um ano e meio das eleições. Ora, no caso da descida do IVA, parece evidente que seria eleitoralmente mais rendoso adiá-la para o ano das eleições, com a vantagem de entretanto continuar a beneficiar da receita do imposto, que permitiria fazer mais umas "flores de política social" daqui a um ano. Curioso é ouvir essa acusação da boca de quem entende que ela deveria ser tomada só no próximo orçamento, ou seja, no orçamento de 2009!...

Seguidismo fiscal

O líder do PSD não pára de surpreender. Agora vem propor o alinhamento dos nossos impostos com Espanha, esquecendo que, se o IVA espanhol é mais baixo (16%), já são mais elevados o IRS e o IRC...

Uma coisa não impede a outra

«Louçã critica qualquer tentativa de criminalização da indisciplina escolar».
Embora não aplauda, em geral, a criminalização da indisciplina escolar, a verdade é que, ao contrário do que Louçã pressupõe, a punição penal de um crime praticado numa escola não impede que o mesmo facto seja disciplinarmente punido pela escola. Uma coisa não preclude a outra.
O que aconteceu demasiadas vezes é que não havia nenhuma punição. A reacção normal é passar-se do zero para o cem...

sexta-feira, 28 de março de 2008

Somague: soma ou subtracção?

O Tribunal Constitucional indeferiu a reclamação da SOMAGUE e confirmou a coima de 600.000 euros que lhe aplicou pelo financiamento ilícito do PSD na campanha eleitoral de 2001.
Não se sabe se Diogo Vaz Guedes, então presidente da SOMAGUE, e Vieira de Castro, o então SG-adjunto do PSD, já pagaram as coimas de 10.000 euros a que cada um foi condenado pelo TC.
O PSD diz que há-de pagar, mas não sabe como, nem quando, a quantia de 35.000 euros em que foi multado, além dos 233.415 euros que foi condenado a devolver ao Estado...
Para o ar continuam indecorosamente a assobiar José Luis Arnault, o então Secretário-Geral do PSD e Durão Barroso, o então Presidente do PSD.... Um ar abafado onde ressoa o silêncio ensurdecedor do PS.

(PS - encontrei a fotomontagem no site da JS da Amora. Valha-nos a JS!)

Estado investe em off-shores?




Ah, também estou à espera de que o Governo confirme se é verdade que o Estado português tem 235 milhões de dólares investidos em paraísos fiscais.
E se sim, que explique por que carga de água. E como tenciona agir doravante.

Venha a lista do Liechenstein...


Fico à espera para ver quem são os portugueses que estão na lista, que o Governo alemão deverá em breve divulgar, dos investidores no paraíso fiscal do Liechenstein.
Investidores?
Ou antes fugitivos ao fisco português?
Qual carapuça! Será tudo gente impolutamente isaltina, cheia de sobrinhos no Liechenstein....

Quem está indiciado por fraude fiscal?


Já que foi o combate à fraude e à evasão fiscal que fez mais diferença para a redução do défice orçamental agora conseguida,
já que o Estado recuperou 34 milhões de euros através da Operação Furacão, em regularizações voluntárias do IRC e IRS (o que atenua mas não iliba a responsabilidade pelos crimes),
não faria sentido que a imprensa divulgasse a lista dos evasores e delinquentes já indiciados na Operação Furacão e outras que tais, como as dos duzentos “empresários” do distrito de Leiria envolvidos na fraude por sobre-facturação das compras de aço para alimentar as continhas bancárias pessoais?

Os custos do défice herdado de Barroso


A propósito do controle do défice pelo Governo de José Sócrates, alguém conseguiu contabilizar o que custaram ao país as "receitas" mais que duvidosas postas em prática pela dupla Durão Barroso/Manuela Ferreira Leite em 2003 e 2004 para baixar contabilisticamente o défice orçamental, designadamente aquele estrategema manhoso que consistiu em vender créditos do fisco ao Citybank?

E a economia ?


Que tal uma política incentivadora do crescimento do emprego através do apoio à produtividade e internacionalização das PMEs portuguesas e de incentivo ao re-investimento nacional, em vez do desperdício das campanhas para arrebanhar duvidosissimos investimentos estrangeiros e das promoções pacóvias dos “Allgarves” e das “West Coasts”?
Que tal uma aposta a sério na eficiência energética na habitação e transportes e no desenvolvimento nacional de novas tecnologias para optimização das energias renováveis (em especial a solar), de forma a libertar o país do custo das importações de petróleo e a criar novas ofertas de exportação de bens e serviços?
Que tal uma política de desenvolvimento económico e de segurança nacional alavancada na estratégia maritima europeia, potenciando o desenvolvimento industrial, tecnológico, científico e de serviços que as diversas actividades marítimas e as imensos recursos dos oceanos oferecem?

Défice controlado

É sem dúvida histórica a redução do défice aos 2,6% do PIB, de acordo com os dados ontem divulgados pelo INE.
Está de parabéns o país. Que deve, indubitavelmente, reconhecimento ao Primeiro Ministro José Sócrates e à equipa que o Ministro Teixeira dos Santos dirige nas Finanças e Assuntos Fiscais. Ah, e às PGR e PJ, esta última por ter investigado fraudes fiscais no montante de 55 milhões de euros só em 2007...
É que foi sobretudo à conta do aumentoo das receitas fiscais – através do combate à fraude e evasão fiscal – que este excelente resultado nas contas públicas foi alcançado.
Mas discute-se já, sobretudo, o impacte nas empresas e nos contribuintes em geral da baixa de 1% do IVA que o Governo imediatamente anunciou.
Eu, cá por mim, como "há mais vida para além do défice" (Presidente Jorge Sampaio dixit), preferia que se discutisse antes como, ao mesmo tempo que se prosseguem as reformas do Estado, se relança estratégicamente o crescimento da economia, agora que o défice está finalmente por baixo e a confiança nacional e internacional poderá crescer.

quinta-feira, 27 de março de 2008

O Tibete e as Olimpíadas em Pequim


Ontem na Comissão de Assuntos Exteriores do Parlamento Europeu ouvimos o Presidente de Parlamento Tibetano no exílio, o Sr. Karma Chophel, expôr com clareza as propostas da "Via do Meio", defendida pelo Dalai Lama e pelas estruturas tibetanas sobre a forma negociada e pacifica para resolver a crise no Tibete, que já está a toldar a organização dos Jogos Olímpicos em Pequim.
O representante tibetano foi explícito ao defender que não devia haver boicote aos Jogos Olímpicos, que a China não devia ser isolada e que o objectivo dos tibetanos não era a separação da RP China, mas antes o alcançar de um estatuto de autonomia que garantisse direitos humanos e liberdades básicas ao tibetanos e lhes facultasse auto-governação no seu território.
Antes, no Plenário do PE, debatemos acaloradamente se sim, ou não, deveria haver boicote aos Jogos Olímpicos de Pequim. Abaixo transcrevo o que pude expressar no minuto a que tive direito:

"Não podemos ficar em silêncio diante da recente mortandade no Tibete e das tentativas das autoridades chinesas de esconder a sua extensão. Não podemos também, claro, apoiar a violência racista anti-Han and anti-Hui que irrompeu no Tibete e províncias chinesas vizinhas onde há minorias tibetanas, tanto como não aceitamos as tiradas racistas contra os tibetanos que se ouvem na China.
Mas todos nós, incluindo o povo chinês, devemos entender porque é que os tibetanos reagiram violentamente, apesar dos apelos à paz do Dalai Lama. Essa explosão é devida às humilhações, sofrimentos e grosseiras violações dos direitos humanos de há muito vividas pelos tibetanos no Tibete, onde estão a ficar uma minoria em resultado das políticas opressivas de Pequim.

Nós queremos ver os direitos humanos e as liberdades respeitadas tanto no Tibete, como na China, onde tantos estão na prisão só por ousarem expressar as suas opiniões - como Hu Jia, logo após ter falado connosco aqui no Parlamento Europeu, em Novembro passado, através de video-conferência.
Porque me interesso pelos direitos humanos na China e no Tibete, eu não apoio os apelos a um boicote dos Jogos Olímpicos em Pequim. Seria desmasiado conveniente para aqueles que contam com a indiferença do mundo para continuar a oprimir chineses e tibetanos. Em vez disso, cabe-nos a nós todos, como cidadãos do mundo, tornar estes Jogos em Pequim em verdadeiras Olimpíadas pelos Direitos Humanos. Pela liberdade no Tibete e pela liberdade na China".

O que também é "leviano e irresponsável"...

... é truncar as citações de declarações alheias, para as poder atacar.
A citação completa desta referência é esta:
«O primeiro-ministro José Sócrates afirmou hoje [14 de Março] em Bruxelas que é "leviano e irresponsável" falar em baixar os impostos, sem se conhecer ainda os dados da economia portuguesa do ano passado e os indicadores dos primeiros meses deste ano (Sublinhado acrescentado).
Os referidos dados foram conhecidos ontem...

Outras escritas

Importei para a Aba da Causa, como usualmente, os meus artigos do Público desta semana e da semana passada, respectivamente sobre a autodepreciação nacional e a "luta de classes" no sector público.

quarta-feira, 26 de março de 2008

Descida do IVA (4)

Penso que deve haver nova redução do IVA, para os 19% (valor de 2005), logo que haja folga consistente na redução do défice orçamental (talvez na aprovação do orçamento de 2009, lá para Novembro-Dezembro).
Mas também continuo a defender que a descida do IVA deveria ser acompanhada de medidas eficazes para combater a grande evasão ao imposto, como sucede nos sectores dos serviços, da restauração etc. Não percebo por que é que em Portugal não é possível tornar efectivamente obrigatória a emissão de factura fiscal na aquisição de todos os bens e serviços.

Descida do IVA (3)

Em mais uma prova de irresponsabilidade e descrédito político, o líder do PSD criticou a descida do IVA como uma "medida eleitoralista»", quando há pouco tempo o próprio Menezes anunciou que iria propor uma descida dos impostos no orçamento de 2009 (ou seja, no ano das eleições)!
Pois é, "estão verdes"...

Descida do IVA (2)

As associações empresariais e o PP preferiam uma descida do IRC. Mas sem razão. Primeiro, a descida do IVA beneficia directamente toda a gente (e relativamente mais os que têm menores rendimentos), enquanto a descida do IRC só beneficiaria directamente os empresários. Segundo, se o IVA subiu em 2005 para sanear as finanças públicas, deve descer logo que esse objectivo seja alcançado.
Portanto, foi a boa decisão.

Descida do IVA (1)

Como se tinha antecipado aqui, o excelente comportamento das finanças públicas -- em 2007 o défice ficou pelos 2,6%, quando a meta orçamental era 3,4%! -- abriu caminho à descida do IVA.
Desde há muito que defendia essa descida logo que a situação orçamental o permitisse fazer com segurança (por exemplo, aqui e aqui). Neste momento, o alívio fiscal é ainda mais justificado, para contrariar o arrefecimento económico que a crise norte-americana induz.

Relatório do PE sobre a UE e o Iraque







Já está disponível aqui o texto final do relatório do Parlamento Europeu sobre o papel da UE no Iraque, do qual fui relatora. Correu bem o voto em plenária: 506 votos a favor, 25 contra e 26 abstenções.

Bisar no erro

Só a obsessão contra o Acordo ortográfico é que pode levar Vasco Graça Moura a insistir no erro de considerar ilegal a ratificação do Protocolo modificativo de 2004. De facto, o Protocolo modificativo não precisa da ratificação de todos os Estados subscritores do Acordo, pela simples razão de que este ainda não era vinculativo para nenhum. Como o Acordo ortográfico de 1990 não chegou a vincular nenhum Estado, por não ter sido ratificado por todos -- que era originariamente um requisito da sua vigência --, nada impede que posteriormente uma parte dos Estados acordem entre si que ele passe a vincular aqueles que o ratifiquem (desde que sejam pelo menos três), sem esperar pelos outros.
Quando às diferenças ortográficas que o Acordo mantém -- por causa de diferenças de pronúncia --, é evidente que elas são totalmente irrelevantes para a legalidade do acordo. As opiniões de VGM sobre as soluções do Acordo (mesmo que fossem procedentes) não constituem um parâmetro da sua validade jurídica...

O fim do capitalismo financeiro desregulado?

«Remember Friday March 14 2008: it was the day the dream of global free-market capitalism died. For three decades we have moved towards market-driven financial systems. By its decision to rescue Bear Stearns, the Federal Reserve, the institution responsible for monetary policy in the US, chief protagonist of free-market capitalism, declared this era over. It showed in deeds its agreement with the remark by Joseph Ackermann, chief executive of Deutsche Bank, that "I no longer believe in the market’s self-healing power". Deregulation has reached its limits.» (Martin Wolff, Financial Times).
Fala quem sabe. Decididamente, os tempos não correm bem aos fiéis da "teologia do mercado".

Pelo Tibete livre:Não ao boicote!


Boicote aos Jogos Olimpicos nesta fase do campenonato?
Nem pensar!
Era demasiado fácil, poupar os autocratas de Pequim à maratona recheada de obstáculos que já estão a enfrentar e em que o orgulho os fez embarcar.
Era demasiado fácil, para que pudessem silenciar já quem clama pelos seus mais fundamentais direitos no Tibete. E na China.
Era demasiado fácil, para que pudessem manter sem mais brechas o muro de propaganda mentirosa com que enganam o seu próprio povo, mais de um bilião de chineses, sobre as suas políticas imperialistas e neo-coloniais no Tibete e não só.
Era demasiado fácil para exonerar governos e empresas na Europa e não só, que se agacham diante dos autocratas de Pequim, salivando com os "negócios da China" que lhes são acenados.
Era demasiado fácil para exonerar os patrões do Comité Olimpico Internacional das responsabilidades de atribuir os jogos a Pequim.
Era demasiado fácil para isentar atletas, jornalistas, políticos e turistas que planeiam estar em Pequim para os Jogos, das suas responsabilidades de cidadania global - que têm não apenas de ter em atenção os direitos dos tibetanos, mas também os direitos dos chineses que a ditadura de Pequim também grosseiramente viola.
Era demasiado fácil boicotar.
Era o que mais faltava!
Ai, não queriam Jogos Olimpicos em Pequim? Pois então hão-de tê-los e contem connosco: vamos lá todos disputar essa nova modalidade: as Olimpíadas dos Direitos Humanos. Em Pequim ou fora de Pequim. Pela liberdade dos chineses e dos tibetanos. Daqui até ao fim dos Jogos. E depois, já nada mais será igual.
Aos Jogos Olimpicos de Pequim, e em força!

Violência nas escolas


O video da agressão à professora na Escola Carolina Michaelis é um murro na nossa consciência colectiva. Todos temos culpa por ter deixado degradar a disciplina na escola democrática, a autoridade dos professores e por negligenciarmos as crianças que os pais não têm tempo, nem capacidades, para educar.
Eu sinto culpa, por nunca me ter interessado pelas implicações das mudanças sociais na degradação do ensino em Portugal, por nunca me ter incomodado em demasiada com a qualidade política de quem ficava com a pasta da Educação a seu cargo em sucessivos governos. E sinto ainda mais culpa por ter obrigação de ter ouvido professores e alunos na familia e nas amizades mais próximas.
Claro que há quem tenha muito mais responsabilidades do que eu. E há sobretudo quem deva intervir politica e disciplinarmente, quando é imperioso intervir.
Não compreendo, por isso, que os responsáveis do Ministério da Educação desvalorizem a gravidade do que o filme do Carolina Michaelis revela
– que não é caso isolado, como demonstram outros videos que estão a circular, como muitos professores há muito denunciavam e como até o PGR já alertara. A inversão de valores e abalo à autoridade que o video documenta é grave, passe-se numa só ou em 7% das escolas do país. O acto tem de ser punido exemplar e rapidamente, para que a dissuassão no futuro funcione.
E sobretudo não compreendo que perante actos de delinquência conhecidos, ocorridos em várias escolas e cometidos pelos mesmos alunos – maxime as agressões repetidas na escola de Tarouca - responsáveis do ME venham encolher os ombros, dizendo que nada se pode fazer porque os responsáveis são menores, não podem ser privados da escola, não podem ser expulsos da escola, nem objecto de quaisquer sanções aplicadas pelas autoridades escolares.
Eu pasmo! Então os outros alunos, professores e funcionários da escola vão ter que aguentar quantas mais agressões e distúrbios certos alunos entendam perpetrar? Então o bom ambiente e a segurança na escola vai ficar dependente dos humores de algumas crianças deseducadas em familias disfuncionais, como admitia esta manhã à TSF o Secretário de Estado Valter Lemos serem os delinquentes de Tarouca?
Como é obvio essas crianças e jovens perturbadas não podem ser privadas da escolaridade. Precisam até de acompanhamento especial, em escola ou instituição adequadas. Não podem, de maneira nenhuma, é continuar nas escolas normais a desinquietar toda a gente e a agredir quem lhes resista. Caso contrário, a sensação de impunidade alastra, e não haverá meio nenhum de restaurar disciplina e segurança nas escolas.
A aluna matulona que agrediu a pequena professora no Carolima Michaelis, o canastrão que filmou a cena rebolado de gozo, os delinquentes que repetidamente agrediram empregadas e alunos em Tarouca, os paspalhões que procuram destrambelhar uma professora numa aula de economia noutro video esta noite passado nas TVs, só podem ter um destino e amanhã já. Por ordens da Senhora Ministra, se as autoridades escolares não tomarem a decisão que se adequa: imediata suspensão das escolas respectivas, com divulgação pública da suspensão. E rápidos processos disciplinares, para efectivar a expulsão daqueles alunos das escolas que perturbaram e acelerar as suas tranferências para instituições adequadas, onde as suas necessidades de educação especiais sejam asseguradas pelo Estado, se os paizinhos não quiserem ou puderem tomar outras disposições.
Ele há limites para tudo. E momentos para intervir de forma exemplar. O Ministério da Educação precisa de mostrar que não é complacente com alguns e intransigente com outros. Que a lei e a disciplina é para todos e para fazer cumprir por todos. Pelos alunos também.

Pobre processo de paz...


Esta tarde no PE tivemos uma sessão do Grupo de Trabalho Médio Oriente, com Tony Blair, o MNE norueguês e um Secretario de Estado francês. Sobre onde estamos e próximas jogadas do processo de paz israelo-palestino relançado (?) em Annapolis.
De mais significativo apenas a admissão de que a estratégia israelo/americano/europeia de ostracizar o Hamas acabou por ser contraproducente: contribuiu para a queda do governo de unidade nacional palestino, legitimamente saído das eleições, e agrava a fractura inter-palestiniana, não favorecendo assim o objectivo hoje por todos assumido como desejável (pelo menos em palavras) de estabelecer “dois Estados” – pois sem reconciliação nacional palestina, nao haverá Estado palestino viável, como sublinhou o MNE norueguês.
Tony Blair não foi tão explícito, mas reconheceu que é preciso tirar as lições dos erros cometidos: «em Gaza isolou-se o povo, em vez de isolar os extremistas e cada dia se radicaliza mais gente» e admitiu que para negociar a paz na Irlanda negociou que se fartou com o IRA, na penumbra, quando isso era ainda heresia na Grã-Bretanha.
Também sobre uma solução internacional para Jerusalem, a travagem dos colonatos, o fim da ocupação israelita, o desmantelamento de barreiras na Margem Ocidental, o papel da Europa – político, humanitário e numa possível(?) força de interposição - o norueguês e o francês foram mais longe e mais afirmativos do que Tony Blair. Aliás, o que mais me impressionou no ex -PM britânico, foi constatar-lhe o inesperado “low profile” – tiraram-lhe as cabecinhas pensantes que o costumavam aconselhar e o boneco desinsuflou de forma pungente.
De tudo, ficou-me uma desesperante sensação de “déjà vu”- a mesma que venho revivendo ciclicamente, desde os tempos empolgantes do inicio do processo de paz, que acompanhei de perto na nossa presidência europeia em 1992. No final, comentei para um colega “se estes tipos nem nos conseguem convencer a nós que desta vez é que vai fazer-se tudo para alcançar a paz, como hão-de convencer quem está no terreno a sofrer os horrores do conflito, de um lado e do outro?”.