quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Quanto pior melhor

Como aqui foi dito na devida altura, o PSD tornou o País refém da sua irresponsabildiade política. Sem orçamento, mergulharemos numa crise financeira incontornável, não somente nas finanças públicas mas também no acesso ao crédito pelas empresas e famílias, com efeitos devastadores na economia e no emprego. A vinda do FMI e o risco de saída do euro tornar-se-ão uma possibilidade real.

Um pouco mais de objectividade sff

Oa fretes da RTP ao PSD começam a ser obsessivos. Há pouco, a propósito da ruptura das conversações entre o PS e o PSD sobre o orçamento, a estação pública foi ouvir a opinião dos que apresentou como "economistas". Ora das quatro personalidades ouvidas nenhuma exerce a profissão de economista, sendo todos gestores ou empresários profissionais. Mais importante do que isso, todos são afectos ao PSD!
Haja decência!

Injustiça fiscal

Comentei ontem na rubrica "Conselho Superior" da RDP-Antena 1 a injustiça fiscal que o projecto de OE vem agravar. Exemplificando com a discriminação anti-constitucional que resultaria da revogação de beneficios fiscais ás comunidades religiosas e respectivas obras sociais à excepção da Igreja Católica.
Observei também a injustiça e imoralidade fiscal que resulta de instituições de interesse comercial ostensivo e de fundações desconhecidas e de duvidosissima utilidade pública conseguirem o reconhecimento pelo governo desse estatuto para beneficiarem de isenções fiscais, quando pesados sacrificios são exigidos à esmagadora maioria dos contribuintes portugueses.
"Justiça Fiscal" é o titulo do livro que José Luis Saldanha Sanches conseguiu deixar-nos já do seu leito de morte. De justiça fiscal precisamos, urgentemente - evidenciar-nos isso é, porventura, o único mérito deste projecto de OE.

domingo, 24 de outubro de 2010

Pela TTF - Taxa sobre Transacções Financeiras

No site da campanha "Europeus pela reforma financeira" eu justifico porque apoio a criação de uma Taxa sobre Transacções Financeiras (TTF):

Os "banksters" (banqueiros/gangsters) criaram a crise. Os bancos devem agora ajudar os europeus a sair da crise, financiando investimento em crescimento inteligente e sustentável, com emprego decente para todos. É para isso a TTF"

Junte-se à campanha! Clique aqui.

sábado, 23 de outubro de 2010

Como é bom viver à custa dos outros

Quando Portugal passa por severas dificuldades orçamentais e há consenso para a diminuição das despesas eleitorais a nível nacional, a Assembleia regional da Madeira resolve aumentar as subvenções para as eleições regionais (aliás já bem generosas).
Sabendo-se que a Madeira vive em boa parte à custa do orçamento do Estado -- ou seja, dos contribuintes do continente --, é caso para dizer que é fácil ser generoso quando são os outros a pagar a conta. Como sempre o PSD nacional, que quer arrasar a despesa pública a nível do Estado, assobia para o ar...

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

OE - onde estamos e para onde vamos?

Aqui fica o link do que sobre o assunto eu ontem disse aos ouvintes da rubrica "Conselho Superior" da RDP-Antena 1.

Vitória para a igualdade na Europa

O PE aprovou hoje o relatório de Edite Estrela com propostas legislativas que alargam o periodo de licença da maternidade na UE das actuais 14 para as 20 semanas, pagas por inteiro, e reforçam a protecão e segurança das mães no local de trabalho. O relatório propõe também licenças de paternidade de duas semanas integralmente pagas.Não se trata apenas de uma grande vitória para a igualdade de género na UE, mas de promover a saúde e segurança das mulheres e também de estimular a natalidade, numa Europa em perigoso declínio demográfico.
É uma importante contribuição para a Europa sair da crise por cima, com estímulo à economia valorizando o factor trabalho (contra as receitas neo-liberais que prevalecem e tudo subordinam ao factor capital), com medidas de apoio aos cidadãos - e em particular a mais de metade deles, as mulheres.
Em 2009 este relatório viu a sua aprovação adiada por arrostar com a oposição da direita mais retrógrada, em convergência com a relutância de alguns governos e forças políticas que se dizem socialistas/trabalhistas (através de eurodeputados que se prestam a ser sobretudo correias de transmissão no PE). Em 2010, a vitória não estava assegurada, foi preciso negociar, fazer compromissos, mas ainda assim arriscar. Arriscou-se, ganhou-se. Foi uma vitória saborosa e sobretudo bem merecida. Por Edite Estrela. E por todas nós, as mulheres na Europa.

Portugal sobe em índex de igualdade de género

Portugal subiu do lugar 46˚ para 32˚ no Índex de Género do Fórum Económico Mundial - um ranking de 132 países. O relatório publicado na semana passada ("The 2010 Global Gender Gap Report" revela que Portugal chega mesmo ao topo da classificação quanto a igualdade na inscrição no ensino secundário e terciário.
Mas já relativamente à igualdade salarial, o país está destacado num vergonhoso 103˚ lugar.
Quanto à participação das mulheres na política, Portugal está em 28˚ lugar no que diz respeito a mulheres no Parlamento e no 21˚ relativamente a mulheres em posições ministeriais, embora em ambos os critérios esteja ainda longe de atingir a paridade. É, aliás, nesta área da participação política que Portugal está melhor qualificado relativamente a outros países, apesar de ser também nesta área que apresenta maior disparidade - o que indica que, a nível mundial, a discriminação de género é maior nesta área, comparativamente aos outros critérios avaliados neste estudo: participação económica, educação e saúde.
Este é,apesar de tudo, o melhor resultado nacional dos últimos cinco anos e um salto significativo em relação a 2009. É resultado da acção persistente e empenhada de muita gente (mulheres e alguns homens inteligentes), sob a direcção militante da Secretária de Estado da Igualdade, Elza Pais.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Recursos financeiros próprios da UE

A Comissão Europeia ousou colocar em cima da mesa a ideia da criação de recursos tributários próprios da UE, com várias alternativas (e não somente um IVA europeu, como enganadoramente titula o Público).
Há muito que defendo essa idea, que permitiria aumentar os recursos finaneiros da UE e substituir as contribuições directas dos Estados-membros -- que constituem despesa orçamental, contando para o défice orçamental -, desse modo contrariando a nociva noção de "contribuinte líquido", que constitui o mais demagógico dos argumentos anti-UE nos países mais ricos, que por isso mais contribuem para as finanças da UE.
Vai ser interessante ver a reacção dos que ainda há um ano reagiram à ideia de receitas tributárias próprias da UE como se fosse uma heresia antinacional...

Brincar com o País

Passos Coelho sabe bem que as suas condições para viabilizar o orçamento -- nomeadamento no que respeita à diminuição da receita -- não podem ser realizadas sem renunciar à necessária redução do défice, pelo que não podem ser satisfeitas pelo Governo. Sem orçamento, o País entrará numa perigosa derrapagem financeira e económica, que a crise política deixará à deriva.
O PSD obstina-se em brincar com os destinos do País.

Diário ocasional

Um dia (hoje) na vida de um eurodeputado:
7:15 -  saída do hotel em direcção ao Parlamento
8:00 - pequeno-almoço de trabalho com os demais presidentes de comissão parlamentar e a direcção do grupo parlamentar socialista
9:00 - presença no plenário para o debate sobre o novo serviço de acção extrena da UE
11:00 - subida ao gabinete para uma sessão de trabalho com o chefe dos serviço parlamentar de apoio à minha Comissão
12:00 - de novo no plenário para ouvir a discurso do secretário-geral das Nações Unidas, de visita ao PE
12:30 - votações no plenário
13:00 - desistência de almoçar na cantina e no restaurante do PE, dado o congestionamento da procura e não dispor de menos de uma tempo para almoçar fora; opção por um sumo e uma sanduiche no bar dos deputados, aproveitando para estudar os documentos de apoaio à reunião seguinte
14:00 - reuião da conferência de presidentes de comissões parlamentares, com uma agenda pesada
16:00 - conversação telefónica com o secretário-geral da União Interparlamentar (UIP) que amanhã visita o PE
16:15 - encontro com jornalistas naionais para responder a perguntas sobre as concessões comerciais ao Paquistão, que podem afectar a indúsria textil portuguesa.
16:30 - gravação de debate para a RTP com outros eurodeputados portugueses, sobre o mesmo assunto
17:00 - presidência de uma reunião do comité de direcção da representação do PE na conferência parlamentar junto da Organização Mundial de Comércio
18:00 - reunião do grupo parlamentar socialista, tendo na agenda o relatório de Edite Estrela sobre a directiva da UE acerca da licença de maternidade e de paternidade
20:30 - jantar de trabalho com o Presidente do PE, Buzek, e a ministra dos negócios estrangeiros da UE, Catherine Ashton, junto com os demais responsáveis parlamentares da politica externa da União
22:30 - passagem pelo gabinete para verificar o correio electrónico e preparar os papéis para amanhã
23:00 - saída do PE em direcção ao hotel.
Não de trata de modo algum de um dia excepcional quannto à agenda diária, nem um exclusivo pessoal.
Ainda há quem suponha que o PE é uma sinecura...

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Grande surpresa

«Francisco Louçã anuncia voto do BE contra proposta do Governo» - Público de hoje. 

Que grande surpresa! Alguma vez o BE votará um orçamento!?

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

HOJE: Audição Pública sobre Segurança Química, Biológica, Radiológica e Nuclear na UE

HOJE às 15 Horas, no Gabinete do PE em Lisboa, Edifício Jean Monnet, Rua do Salitre

O PE está a avaliar o Plano de Acção da UE sobre Segurança Química, Biológica, Radiológica e Nuclear (QBRN), que entrou em vigor em Julho deste ano e visa a melhorar a Prevenção, Preparação e Resposta a desastres ou ataques terroristas envolvendo substancias QBRN.

Desastres como o que ocorreu, recentemente, num depósito fabril de alumínio na Hungria, implicando um derrame de lama tóxica num afluente do rio Danúbio, além de já ter morto nove pessoas e destruído várias aldeias e campos de cultivo, ameaça também a segurança e a saúde pública noutros países vizinhos, sendo exemplo de acidente QBRN que desconhece fronteiras. Uma catástrofe semelhante pode ocorrer em qualquer país da UE, envolvendo outras substâncias químicas ou também biológicas, radiológicas ou nucleares.

Como relatora do PE sobre o tema, apresentei esta semana o Projecto de Relatório, estando até ao final de Novembro a ouvir especialistas e a recolher sugestões de alteração ou melhoria para as recomendações que faço. Convido, por isso, todas e todos os interessados a comparecer nesta Audição Pública.

Especialistas de várias forças de segurança, protecção civil e outras autoridades nacionais pronunciar-se-ão sobre o nível de preparação, prevenção e resposta em Portugal: teremos contribuições do Ministério da Defesa Nacional, Ministério da Administração Interna, da Autoridade Nacional para a Proibição das Armas Químicas, da Autoridade Nacional de Protecção Civil e do Serviço de Informações da República Portuguesa.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Um pouco mais de cuidado, sff

O Público de hoje titula uma peça da seguinte maneira: Agravamento do IVA vai eliminar 20 mil empregos na distribuição de gás de garrafa. Assim, sem aspas nem nada. Lida a notícia, verifica-se que essa ideia não passa de opinião de uma associaçao do sector interessado.
Parece, porém, evidente que as regras jornalísticas não podem admitir que se adopte como título uma opinião (aliás, inverosímil) sem indicar explicitamente que se trata de uma opinião, e não de uma informação. As opiniões são livres; os factos, não. E o Público não pode validar como suas opiniões de grupos de interesse, ainda por cima obviamente infundadas.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Mineiros salvos, mineiros salvam-nos!

O Grupo Coral dos Mineiros de Aljustrel gravou um disco dos seus cantares alentejanos especialmente para o fazer chegar aos mineiros chilenos, há meses retidos nas entranhas da terra e hoje finalmente libertados do cativeiro.
O Embaixador do Chile em Lisboa, em entrevista com a Ana Lourenço há pouco na SIC Noticias, agradeceu, comovido, o gesto solidário e confortante dos nossos mineiros.
Eu também lhes agradeço, sentidamente.
Pela fraternidade que souberam expressar, em nome de todos nós em Portugal, aos mineiros, suas familias e a todo o povo chileno.
Pela lição de humanidade que nos deram a todos.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Eleição de Portugal para o Conselho de Segurança

Vibrei.
Por Portugal!
Pela auto-estima nacional, tão mais necessária em tempos de dura crise!
Pelos governos do PS, um que lançou e outro que retomou e levou por diante o projecto da candidatura.
Pela diplomacia portuguesa, que é tão boa como as melhores, quando lhe são dadas condições para trabalhar (não falo dos meios, que raramente teve nas ultimas décadas...).
Pelos meus muitos amigos e colegas que se empenharam nesta candidatura no MNE em Lisboa, nas embaixadas e missões pelo mundo fora e na Missão junto da ONU em Nova Iorque - e obviamente destaco o embaixador José Filipe Morais Cabral, á frente da equipa no terreno em Nova Iorque. Porque aí é que tudo verdadeiramente se decide, na base de relações pessoais - quantas Notas Verbais das chancelarias não valem os papéis onde estão escritas, quantas delegações não recebem instruções e quantas não as cumprem?
Vibrei e revivi a alegria que senti num dia de vitória idêntica, em Outubro de 1996, em Nova Iorque, quando fomos pela segunda vez eleitos para o CSNU.
E aí estremeci - lembrei-me da experiência profissionalmente exaltante, pessoalmente gratificante, mas politicamente muitas vezes frustrante que vivi nos dois anos seguintes, como membro da nossa Delegação ao Conselho de Segurança.
Pesou-me a carga da responsabilidade, da tremenda responsabilidade que vai recair sobre o nosso país e sobre quem terá de dar a cara por ele no CSNU, na procura de resolução para os conflitos mais sangrentos no mundo, no inevitavel alinhamento por uma ou outra parte do conflito (e alinha-se sempre, mesmo quando nos abstemos...).
Em 1996 ganhamos porque tinhamos um concorrente fraco (a Austrália tinha como embaixador em NY um arrogante e execrado Butler) e apareciamos como mais dialogantes e abertos que os rivais. Então, como hoje, também recebemos muitos votos de regimes muito pouco recomendáveis (sem eles não se ganha, é a realidade..). Mas não tinhamos prometido nada, não sugeriramos disponibilidade para fazer fretes a quem quer que fosse.
Então tínhamos uma causa que nos obrigava à defesa consequente dos principios da Carta das Nações Unidas, do Direito Internacional e dos Direitos Humanos em particular: Timor Leste. E é indubitável que o nosso papel no CSNU em 1997/98, a influência que aí ganháramos, nos ajudou a conseguir o que haviamos de querer e alcançar para Timor Leste em 1999: o referendo e a entrada da ONU (UNAMET) e, mais tarde, a da INTERFET e depois da UNTAET.
Em 2011/2012, Timor Leste felizmente já lá vai à sua vida, sem precisar de advogado na ONU.
O que nos vai agora obrigar a ser coerentes e consistentes na defesa da Carta das Nações Unidas, da Paz, do Direito Internacional, dos Direitos Humanos, quando tivermos de tomar posição diante de um conflito que envolva antagonismo entre países com quem mantenhamos relações políticas ou económicas significativas, quando tivermos de alinhar por uns ou por outros, como acontece todos os dias no CSNU?
É que o mais fácil é mandar principios e lei às urtigas (ainda por cima sem grande articulação europeia, no estado em que está a UE, que continua sem representação no CSNU apesar do Tratado de Lisboa). Não esqueçamos como em 2003 deixamos facilmente Durão Barroso desviar-nos do direito internacional, tornando Portugal anfitrião da Cimeira da guerra dita "preventiva" e alinhando-nos com a agressão ilegal ao Iraque.
A diplomacia conta - e a nossa, em geral, percebe a importância decisiva da lei e dos princípios, sobretudo para quem não é grande potência.
Mas o comando político é que determina.
E agora, sem a jangada de Timor Leste a chamar-nos à pedra e com a jangada de pedra europeia à deriva, o comando político da nossa diplomacia vai ser posto à prova todos os dias no CSNU, a partir de 1 de Janeiro de 2011.
Convém ficarmos atentos.

PCP pelo PCC (pelo capitalismo chinês)!

O PCP veio criticar o Comité Nobel pela atribuição do Prémio Nobel da Paz ao corajoso lutador pelos direitos humanos chinês Liu Xiaobo - cuja mulher acaba de ser posta em prisão domiciliária só por ter ido à prisão comunicar-lhe a noticia da atribuição do Prémio.
Já sabiamos que o PCP desdenha dos que se batem pela democracia e os direitos humanos para defender certas ditaduras: da URSS à Coreia do Norte, passando por Cuba. Por isso não espanta que assuma as dores da ditadura do PCC-Partido Comunista da China. O que importa notar é que assim também se converteu em defensor de um regime que se distingue na prática do mais selvagem e predador capitalismo.
Nada tenho a ver com o PCP. Mas, como portuguesa, democrata e respeitadora do papel que o PCP teve na Resistência Anti-fascista em Portugal, sinto-me envergonhada com este posicionamento do PCP. Sei que há militantes do PCP que me acompanham.

Em memória de Paula Escarameia


Procura-se no google uma fotografia e só sai esta, antiga e esbatida, e uma outra, ainda mais pequenina. Em contrapartida, capas de livros, artigos, intervenções sobre Timor Leste e diversos temas de Direito Internacional, em várias linguas - uma profusão.
O que diz muito sobre a Mulher - com M grande - que deixou este mundo há precisamente uma semana, no dia em que a República fez 100 anos: Paula Escarameia.
Uma Mulher que honrou a República e que prestigiou Portugal, suscitando por todos os areópagos políticos e académicos internacionais por onde passou não apenas admiração pelas suas formidáveis capacidades como jurista, como também reconhecimento pelas contribuições portuguesas que projectava, com criatividade e espírito construtivo.
Uma professora catedrática que não queria atrair atenções para si, mas era afirmativa e voluntariosa na defesa e aplicação dos principios e preceitos da lei internacional - que conhecia profundamente e que ajudou a fazer, empenhadamente. O Estatuto de Roma, do Tribunal Penal Internacional aí está, cheio de dedadas indeléveis da Doutora Paula Escarameia.
Trabalhamos anos, sem nos conhecermos pessoalmente, em sinergia pela libertação de Timor Leste, eu no MNE, ela na Plataforma de Juristas por Timor Leste, que fundou. Conhecemo-nos em Londres em 1993, numa sessão na "Bar Association" sobre Timor Leste. Reencontrámo-nos em Outubro de 1996 em Nova Iorque, na ponta final da campanha eleitoral para Portugal ter assento no Conselho de Segurança no biénio seguinte; e celebramos então conjuntamente, na nossa Missão junto da ONU, a vitória. Trabalhamos depois juntas, dois anos, na Missão em Nova Iorque - eu na nossa Delegação no Conselho de Segurança, ela representando-nos na 6a. Comissão da Assembleia Geral, a jurídica. Depois do meu regresso de Jacarta em 2003, reencontramo-nos algumas (poucas) vezes mais, em Lisboa, nos jantares da Associação Portuguesas de Mulheres Juristas e pelas causas que partilhavamos - Timor Leste, a ONU, o Direito Internacional...
Da Assembleia Geral à sua eleição para a prestigiada e prestigiosa Comissão do Direito Internacional da ONU foi um pulinho. Para ela. Porque era a Doutora Paula Escarameia - Portugal só ganhou por tabela, por ter sabido candidatar quem tinha já créditos estabelecidos nos meios jurídicos internacionais.
No passado 5 de Outubro a República ficou mais baça por ter perdido, com apenas 50 anos de idade, tão brilhante jurista, diplomata e dedicada professora.
A ONU - com os sucessos e os falhanços de sermos nós todos, de representar todos os nossos Estados - perdeu mais do que a diplomata e a jurista: perdeu uma convicta activista e advogada de defesa. Da ONU e da "rule of the law" planetariamente.
Se estivesse ainda entre nós, a Paula Escarameia hoje teria vibrado com a eleição de Portugal para o Conselho de Segurança. E, ao mesmo tempo, tal como eu, teria sentido o coração apertado pelo tremendo peso da responsabilidade e alguma incerteza.
Importaria que no MNE se dedicasse à memória de Paula Escarameia a eleição de hoje na ONU. Para que na nossa acção no Conselho de Segurança, nos próximos dois anos, nunca nos faleçam os valores, os principios e a letra do Direito Internacional, incluindo o Direito Internacional dos Direitos Humanos.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

A República e as Mulheres

Hoje, a República Portuguesa tem mulheres profissionais, civis e militares, integradas em missões internacionais humanitárias, de manutenção da paz, de construção nacional; tem mulheres jornalistas a cobrir intrepidamente conflitos em todo o mundo; tem mulheres diplomatas nos postos mais dificeis e perigosos; tem observadoras eleitorais nos confins mais inóspitos do planeta, sem sequer o enquadramento logistico e de segurança de uma missão de paz.
As mulheres desta República Portuguesa estão fartas de dar provas de que são capazes e confiáveis em todos os desempenhos profissionais, incluindo nas Forças Armadas e de Segurança. Estão dispostas a correr riscos, tal e qual os homens, sacrificando se necessário a própria vida. Estão prontas para colocar os seus talentos, as suas qualificações, a sua coragem e a sua energia ao serviço de uma República que só se completará verdadeiramente, democraticamente, no dia em que elas exercerem, em plena igualdade com os homens, todas as responsabilidades da cidadania e da governação do pais.


Extracto de uma intervenção que fiz no dia 2, no Porto, diante da Associação de Auditores de Defesa nacional. E que pode ler-se aqui, na ABA DA CAUSA.

Esta foi a minha forma de celebrar o centenário da República.
Esta é a minha forma de exigir que se cumpra a República. Democraticamente!

Portugal e a politica de comércio internacional da UE

Sendo eu presidente da Comissão de Comércio Internacional do Parlamento Europeu, resolvi organizar em Portugal uma conferência internacional sobre política de comércio internacional da UE depois do Tratado de Lisboa, com incidência especial sobre os "instrumentos de defesa comercial" (antidumping, anti-subsídio, etc.).
A conferência realiza-se depois de amanhã no Palácio da Bolsa no Porto, com a presença do comissário europeu do comércio interncional, Karel de Gucht, do nosso Ministro da Economia, Vieira da Silva, e de vários especialistas nacionais e estrangeiros, além de representantes das associações empresariais interessadas.
A entrada é livre e todos os interessados são bem-vindos. O programa completo é o seguinte.

PROGRAMA PARA CONFERÊNCIA
Política Comercial Externa da União Europeia e
Instrumentos de Defesa Comercial (Antidumping, etc.)

Palácio da Bolsa, Porto, Portugal

8 de Outubro, 2010, 9:30-17:30

9:30 – 10:00: Sessão inaugural
·  Rui Moreira, Presidente da Associação Comercial do Porto
·  Professor Vital Moreira, Eurodeputado e Presidente da Comissão do Comércio Internacional do Parlamento Europeu
·  José António Vieira da Silva, Ministro da Economia, da Inovação e do Desenvolvimento de Portugal

10:00 – 12h30: O Tratado de Lisboa e a Política Comercial Externa da UE
·  Karel De Gucht, Comissário Europeu para o Comércio Internacional
·  Liliane Bloem, Presidente do Comité sobre Política Comercial do Conselho da UE
·  Professor Vital Moreira, Eurodeputado e Presidente da Comissão do Comércio Internacional do Parlamento Europeu
·  Moderadora: Elisa Ferreira, Eurodeputada


12:45 – 14:30: Pausa para almoço


14:30 – 15:30: Aspectos políticos e económicos dos Instrumentos de Defesa Comercial (Antidumping, etc.)
·  Professor Manuel Porto, Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra
·  Stefaan Depypere, Director de Defesa Comercial na Direcção Geral do Comércio da Comissão Europeia
·  Moderador: Professor Alberto Castro, Docente e Director do Centro de Estudos de Gestão e Economia Aplicada da Universidade Católica Portuguesa


15:45 – 17:15: Utilização dos Instrumentos de Defesa Comercial - implicações práticas para as empresas
·  Armando Coutinho, Delegado Português no Comité Anti-dumping do Conselho da UE, Ministério da Economia, da Inovação e do Desenvolvimento de Portugal
·  Angeles Bosch, Vice-Directora Geral para os Instrumentos de Defesa Comercial, Ministério da Economia de Espanha
·  José António Ferreira de Barros, Presidente da Associação Empresarial de Portugal
·  Moderador: Rui Moreira, Presidente da Associação Comercial do Porto


17:15 – Sessão de encerramento
·  Pedro Lourtie, Secretário de Estado dos Assuntos Europeus de Portugal.
·  Vital Moreira, Eurodeputado e Presidente da Comissão de Comércio Internacional do Parlamento Europeu.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Viva a República!

Participada, animada, elevada, digna da ocasião -- a sessão evocativa do centenário da República esta manhã nos Paços do Município em Lisboa.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Memória da I República

A exposição hoje inaugurada no Ministério da Justiça (Terreiro do Paço) sobre os Ministros da Justiça na I República (começando em Afonso Costa e acabando em Catanho de Meneses) constitui um excelente exemplo de como as comemorações do centenário do 5 de Outubro podem ser aproveitadas para evocar e melhorar o nosso conhecimento sobre a atribulada história da I República. A bela exposição em si mesma, com o seu catálogo, e sobretudo a notável página electrónica sobre a justiça na I República, simultaneamente inaugurada no website do MJ, pela sua riqueza de informação, são uma boa contribuição para ajudar a preencher o défice de saber sobre a história da justiça na I República (não existe nenhum estudo monográfico sobre o tema…).
Se outros ministérios igualmente criados pela I República – Educação, Trabalho, Agricultura – fizessem outro tanto, as comemorações do Centenário teriam contribuído enormemente para inventariar a nossa história política nesses breves e agitados 15 anos, entre a instauração da República e a Ditadura.

Adenda
Entre as obras digitalizadas e incluídas na biblioteca digital contam-se o comentário de Marnoco e Sousa à  Constituição de 1911 e os estudos de Carlos de Oliveira e de Magalhães Colaço à lei da separação do Estado e das Igrjas, obras essenciais da época, que agora passam a estar disponíveis universalmente.
Obrigado José Maglhães!

Duplicidade

O PSD sempre teve a arte de ter uma cara para cada lugar e circunstância: despesista na Madeira e prosélito do corte da despesa pública no Continente, centralista em Lisboa e regionalista no resto do País, etc.
Agora, depois de o PSD ter obrigado o PS (e bem) e aplicar portagens em todas as SCUT, vem o PSD do Algarve propor uma frente de luta contra o fim da SCUT algarvia. Portgens são boas só para os outros...

Bipolarismo

Os jornais andaram meses a clamar por cortes a sério na despesa pública, a fazer coro com Passos Coelho. Agora que o novo programa de austeridade veio a público, apesar de não consistir só em corte da despesa, os mesmos jornais enchem-se de denúncias dos efeitos maléficos do corte da despesa pública!
Não há como estar sempre a favor da onda...

sábado, 2 de outubro de 2010

O outro desafio

Mais complicado do que corrigir o défice orçamental -- que se alcança em dois ou três anos com mais ou menos medidas de austeridade -- é corrigir do défice estrutural de competitividade da economia portuguesa, que está na base do défice externo e do endividamento externo da economia portuguesa e das próprias dificuldades orçamentais do país.
Sem maior competitividade não haverá melhoria das exportações, nem do investimento externo entre nós, nem do potencial de crescimento da economia, nem das perspectivas de emprego, nem aumento da receita fiscal do Estado.
Para melhorar a competitividade há que conter ou reduzir os custos de produção (crédito, trabalho, serviços), aumentar a produtividade (qualificação profissional, inovação tecnológica, organização empresarial), incentivar o investimento nos sectores de bens exportáveis, melhorar as infra-estruturas de transportes (rodoviárias, aéreas, portuárias), manter baixa a inflação interna (controlando ao aumento da procura), reduzir os custos administrativos da actividade empresarial (licenciamentos, etc.), superar as constrições do sistema judicial (cobranças, falências, etc.).

Remunerações no sector público

Desde há muitos que venho defendendo a necessidade de redução do peso orçamental dos gastos de pessoal na Administração pública (bem acima da média europeia), reduzindo os efectivos e contendo o crescimento das remunerações.
O plano de austeridade orçamental agora decretado inclui pela primeira vez uma redução efectiva de remunerações dos escalões mais bem remunerados, maneira drástica de diminuir a despesa a pública. Embora se compreenda a justificação social que levou a poupar ao corte as remunerações menos elevadas, apesar serem em geral melhores do que nas actividades equivalentes no sector privado, a sobrepenalização dos remunerações mais altas (que pode chegar a 10%) vem estreitar ainda mais o leque salarial no sector público administrativo e dificultar o recrutamento de pessoal qualificado nas tarefas mais exigentes da Administração pública.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Virtude da República 2

A organização da Conferência internacional sobre o republicanismos na Universidade de Coimbra ofereceu aos conferencistas e participantes um concerto nocturno no convento de Santa Clara a Velha, com a orquestra Clássica do Centro e o Coro dos Antigos Orfeonistas de Coimbra.
Trata-se de um deslumbrante cenário, depois das grandes obras de recuperação do mosteiro dos aluviões de séculos de inundações do Mondego. Naquele grandioso local, as peças de Barber, R Strauss, Weber, Orff e Verdi, juntamente com José Afonso e José Niza soam ainda maias deslumbrantes.

Virtude da República

O colóquio de ontem sobre o republicanismos na Universidade de Coimbra abriu com um bem conseguido discurso de fundo do Presidente da República. À beira de se candidatar a novo mandato presidencial, Cavaco Silva não quer deixar os créditos republicanos por mãos alheias.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Estado de necessidade

Anteontem, na RDP, expressei o meu ponto de vista sobre o Relatório da OCDE, conhecido na véspera, e sobre as medidas de corte na despesa pública e de agravamento de impostos que o próximo Orçamento do Estado implicaria, face ao crescente endividamento do país, à mercê das altissimas taxas de juros exigidas pelos mercados financeiros.
Ontem à tarde participei na Manifestação organizada pela Confederação Europeia dos Sindicatos, em Bruxelas, contra o “colete de forças” em que a Comissão Europeia, a mando do governo alemão, procura enfiar as economias mais vulneráveis de países como Portugal, como resposta “quadrada” à crise financeira global: a desejável maior disciplina orçamental não pode fazer-se inflexivelmente, à conta do estrangulamento das economias e de quem trabalha; e uma verdadeira recuperação económica europeia só acontecerá, com sustentabilidade, se tiver a criação de emprego como objectivo (e indicador) central e se corrigir os desequilibrios estruturais entre as economias dos seus Estados Membros.
À noite, como todos os portugueses, fui surpreendida na TV com as drásticas medidas anunciadas pelo Primeiro Ministro. À primeira vista correspondem ao que eu esperava – temia, mas esperava. A ver vamos os detalhes quanto à repartição social dos sacrificios.
Hoje, perante a monstruosidade do problema, sinto que não estamos em tempos para tergiversar:
- É tempo de todos os socialistas se unirem, estoicamente, em apoio ao Primeiro Ministro, pela agrura de ter de decretar medidas durissimas e de arrostar com incompreensão e impopularidade.
Com o travo amargo da injustiça de, apesar de fundamentais reformas feitas ainda antes de todos os outros países e da crise eclodir, nos acharmos hoje neste “estado de necessidade” pela selvajaria da lei dos mercados, que esta UE dominada pela direita neo-liberal não tem querido controlar.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Austeridade III

Tendo resistido até agora, o Governo acabou por ter de seguir as pisadas da Grécia, da Irlanda, da Espanha e de outros países em dificuldades orçamentais, reduzindo a massa remuneratória da Administração pública em 5% (poupando, porém, os escalões de remunerações menos elevadas e penalizando as mais elevadas). Tratando-se da principal componente da despesa do sector público, era impossível reduzir tanto a despesa pública sem a diminuir.
Interrogo-me, no entanto, sobre se teria de ir-se tão longe, caso se tivessem evitado algumas medidas tão onerosas nesse capítulo como foi a aumento generalizado de 2,9% nas remunerações para 2009, já em plena crise, e o acordo com os professores, já depois das eleições de há um ano, cujo risco orçamental na altura assinalei aqui e aqui (sem bem me lembro, sem ser acompanhado pelos que sempre clamam pelo corte na despesa pública...).