1. Sem surpresa, o Bloco de Esquerda veio anunciar as suas propostas para "combater a inflação", um menu, porém, que, em vez de parar o aumento do custo de vida, não faria senão provocar uma espiral inflacionista.
Quando o surto inflacionista é movido sobretudo por constrangimentos na oferta, como é o caso agora (energia, bens alimentares, etc.), o congelamento administrativo de preços e o aumento automático de rendimentos tendem a gerar, respetivamente, mais escassez e mais inflação. Um círculo vicioso, onde os mais débeis perdem sempre.
De resto, não faz sentido que, enquanto a política monetária do BCE encara agora a inflação seriamente, a nível interno fosse adotada uma política fiscal e orçamental e de rendimentos pró-cíclica, que só poderia alimentar mais inflação.
2. Todos estamos condenados a pagar, em erosão do poder de compra, a nossa parte côngrua do "imposto geral" que a inflação sempre implica. Por isso é que a inflação é sempre viciosa.
Como já aqui defendi há algumas semanas, o Governo deve concentrar-se num programa de ajuda às famílias mais vulneráveis (aliás, como já anunciado), para impedir que a inflação aumente os níveis de pobreza, acompanhado de tributação excecional sobre os windfall profits das empresas que tiram partido da escassez e da carestia de bens essenciais, cuja receita ajudaria a financiar aquele programa.
Numa "economia social de mercado", o papel do Estado pode e deve ser o de moderar o impacto social negativo do surto inflacionista e não o de alimentá-lo e prolongá-lo com pretensas medidas de combate que só podem revelar-se contraproducentes.