Há alturas em que vale a pena contrariar o senso comum, quando ele se afasta dos resultados de uma observação mais cuidadosa. É uma tarefa muitas vezes destinada ao fracasso. Mesmo assim, é isso que temos feito sempre nos cruzamos com um discurso de excessiva dramatização do endividamento das famílias, do género: «os portugueses estão todos insolventes; carregados de dívidas que não pagam; enlouquecidos pelo consumo supérfluo».
No outro dia numa reportagem da RTP-N lá fiz mais uma vez o meu papel. Que não é verdade. A maioria até paga. Apesar disso, é preciso educação financeira, etc., etc.
Mas desta vez senti-me compensada. Hoje, ao sair da Faculdade, cruzei-me com a funcionária que aufere o ordenado mais baixo (pouco mais de 500 euros). É mãe solteira e paga um crédito mensal por uma casa que adquiriu há uns tempos. Tinha ouvido a reportagem e veio agradecer-me. Ao princípio nem entendi bem porquê. Mas ela explicou-me. Sempre pagou pontualmente a «a renda ao banco» no dia 21 de cada mês. Fá-lo com muito esforço e passa por dificuldades. Não suporta, por isso, que andem sempre «a deitar abaixo os portugueses». Nem eu.
Blogue fundado em 22 de Novembro de 2003 por Ana Gomes, Jorge Wemans, Luís Filipe Borges, Luís Nazaré, Luís Osório, Maria Manuel Leitão Marques, Vicente Jorge Silva e Vital Moreira
quinta-feira, 3 de fevereiro de 2005
Anda gente de cabeça perdida
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Vital Moreira
Agora é o apelo à arruaça contra os adversários. Depois da aleivosia de Lopes, o ultraje de Guedes. O que é que deu na Direita, na iminência de ser afastada do poder? É esta a sua verdadeira face?
Regular o comércio
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Anónimo
A regulação do comércio deve privilegiar a protecção do "comércio tradicional" ou dos interesses dos consumidores (horários, escolha, comodidade, preços)? É possível conciliar ambos? A minha apreciação crítica está no meu artigo de hoje no Diário Económico (reproduzido também na Aba da Causa, como habitualmente).
Um olhar moderno sobre Portugal
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Anónimo
Da imperdível entrevista de Alain Minc hoje ao Público, destaco a chamada de atenção para as mudanças na organização do sistema político (a pluralidade de actores na tutela do interesse geral); a convicção de que o mercado não gera por si só democracia, e que o capitalismo só funciona bem quando o mercado tem contra-poderes democráticos (a propósito do caso chinês); e finalmente a antevisão de uma grande Espanha no futuro que aí vem.
O seu optimismo, não excessivo, na leitura da situação em Portugal poderá ainda ajudar a recuperar alguns espíritos mais desanimados e deveria fazer pensar aqueles que passam a vida a culpar a Constituição por isto e mais aquilo!
O seu optimismo, não excessivo, na leitura da situação em Portugal poderá ainda ajudar a recuperar alguns espíritos mais desanimados e deveria fazer pensar aqueles que passam a vida a culpar a Constituição por isto e mais aquilo!
"Uma catástrofe"
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Vital Moreira
«Pisar essa linha de fronteira [entre a esfera pública e a vida privada], admitir que os comportamentos privados são escrutináveis publicamente e que há uma ideia de rectidão em matéria moral ou sexual, seria uma catástrofe para a vida pública portuguesa.
O que os portugueses não gostam é que, em matéria de costumes, se apregoe uma coisa e se faça outra (como acontecia nos textos de Gil Vicente). As insinuações morais são sempre ridículas, cretinas e impopulares.»
Francisco José Viegas (Jornal de Notícias, 3-3-2005)
O que os portugueses não gostam é que, em matéria de costumes, se apregoe uma coisa e se faça outra (como acontecia nos textos de Gil Vicente). As insinuações morais são sempre ridículas, cretinas e impopulares.»
Francisco José Viegas (Jornal de Notícias, 3-3-2005)
Afinal, o número de indecisos...
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Vital Moreira
... é muito menor do que se tem falado, a creditar na sondagem publicada hoje no Jornal de Notícias. De resto, poucas novidades: o PS, com mais de 46%, obteria maioria absoluta de deputados (o limiar desta começa nos 45%), o PSD ainda fica acima dos 30%, o PCP seria o terceiro partido, o CDS ficaria a léguas dos ambicionados 10% e o BE deveria moderar o entusiasmo criado por anteriores sondagens. Mas é só mais uma sondagem, não é?
"O que impede as reformas "
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Vital Moreira
«Mas se estamos todos de acordo quanto à necessidade de mudar, o que impede as reformas em Portugal? Simples: as reformas trazem custos e benefícios e mesmo que os benefícios sejam superiores aos custos, estes tendem a ser concentrados e facilmente perceptíveis pelos seus destinatários, enquanto os benefícios são difusos e dilatados no tempo. Enquanto os custos têm frequentemente uma "identidade" que mobiliza quem os sofre, os benefícios das reformas são anónimos (ou pela sua projecção no futuro ou porque não se sabe quem os virá a merecer?). Logo, as reformas mobilizam muito mais facilmente contestação do que apoios.»
Miguel Poiares Maduro, DN, 2 de Fevereiro.
Miguel Poiares Maduro, DN, 2 de Fevereiro.
Não se faz...
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Vital Moreira
Dois correligionários de Buttiglione na organização "Comunhão e Libertação" em Portugal queixam-se de terem sido afastados do Parlamento, onde tinham assento na bancada do PSD (provavelmente preteridos pelos candidatos do PPM e do MPT, não podendo haver lugar para todos). Assim, o Padre João Seabra, chefe da organização integrista católica em Portugal, já não pode ufanar-se outra vez de ter dois representantes da sua organização no Parlamento. Mas é pena: assim a Opus Dei fica sem concorrência na AR no que respeita às organizações militantes dos valores fundamentalistas católicos. E ao menos sabia-se quem eram...
(corrigido)
(corrigido)
O PS e as SCUT
Publicado por
Vital Moreira
O dirigente e candidato pelo PS em Viseu, José Junqueiro, declarou num debate eleitoral que "não haverá nunca" portagens nas auto-estradas actualmente em regime de SCUT. Ora, ainda que o programa eleitoral do PS rejeite pôr fim às SCUT (a meu ver, mal), a verdade é que não garante que elas se manterão sem portagens para sempre. O que é o programa diz é que elas «deverão permanecer como vias sem portagem enquanto se mantiverem as condições que justificaram, em nome da coesão nacional e territorial, a sua implementação, quer no que se refere aos indicadores de desenvolvimento sócio-económico das regiões em causa, quer no que diz respeito às alternativas de oferta no sistema rodoviário».
Se Junqueiro fez a referida afirmação, será que o programa eleitoral do PS é diferente em Viseu?
Se Junqueiro fez a referida afirmação, será que o programa eleitoral do PS é diferente em Viseu?
Caçar na coutada do aliado
Publicado por
Vital Moreira
Na sua entrevista à RTP, o presidente do CDS insistiu na meta dos 10% de votação, o que significaria uma considerável subida em relação a 2002. Mas é evidente que, apesar de todos os sofismas que tentou, o seu terreno de caça só pode ser o eleitorado do PSD, seu putativo aliado na coligação governativa. Por isso, quanto mais votos o CDS tiver, mais pesada se torna a derrota de Santana Lopes e mais próxima fica a maioria absoluta do PS, tornando inútil o pré-acordo de renovação da parceria governativa dos dois partidos de direita. Malhas que as coligações tecem...
Como escreveu Clara Ferreira Alves, «Paulo Portas fez da chantagem inteligentemente exercida sobre o PSD a sua carreira política, e numa carreira política como a dele não existem amizades, do mesmo modo que na sua ideologia as uniões de facto não existem».
Como escreveu Clara Ferreira Alves, «Paulo Portas fez da chantagem inteligentemente exercida sobre o PSD a sua carreira política, e numa carreira política como a dele não existem amizades, do mesmo modo que na sua ideologia as uniões de facto não existem».
Incompetência do capitão
Publicado por
Vital Moreira
Pronunciando-se sobre as razões da queda do governo de coligação PSD/CDS, o dirigente centrista Lobo Xavier declarou que ela ficou dever-se à «crise de condução e de liderança» (de Santana Lopes, é evidente). Sendo isso óbvio para toda a gente, não deixa de ser relevante o seu reconhecimento público por um dirigente de um dos partidos da coligação (o que, aliás, só abona a favor do seu bom-senso).
Uma pergunta resta porém: sendo evidente que Lopes não vai adquirir de súbito as competências que manifestamente não tem, como se justifica que o CDS tenha renovado antecipadamente o acordo de coligação governamental com ele (para o caso de vencerem as eleições)? A ideia é que preferem estar dentro do barco do poder, mesmo com o certeza de naufrágio por incompetência do capitão?
Uma pergunta resta porém: sendo evidente que Lopes não vai adquirir de súbito as competências que manifestamente não tem, como se justifica que o CDS tenha renovado antecipadamente o acordo de coligação governamental com ele (para o caso de vencerem as eleições)? A ideia é que preferem estar dentro do barco do poder, mesmo com o certeza de naufrágio por incompetência do capitão?
quarta-feira, 2 de fevereiro de 2005
"Editorialistas" do DN
Publicado por
Vital Moreira
Num "jornal de referência" o lugar das opiniões partidárias (a existir) é, quando muito, nas colunas de opinião. Todavia, na edição electrónica do Diário de Notícias há um "editorial" semanal de um obscuro porta-voz do PSD de Santana Lopes (ver aqui e aqui). Será que o embaraçoso lapso constitui algum resquício electrónico dos recentes tempos oficiosos do DN? A ser assim, será que depois do 20 de Fevereiro o "editoral oficioso" passa a caber a um porta-voz do PS?
O vero Santana Lopes
Publicado por
Vital Moreira
«A insinuação é conhecida. O sentido é óbvio. Os desmentidos e protestos de "dama ofendida" a que ontem se entregou Santana Lopes são patéticos -- e sem qualquer credibilidade. Porque não houve qualquer mal-entendido ou qualquer "frase fora de contexto": o que se passou no comício das "1000 mulheres" do passado sábado foi do mais puro e genuíno Santana Lopes».
(J. Manuel Fernandes, editorial de Público de hoje; texto indisponível on-line).
(J. Manuel Fernandes, editorial de Público de hoje; texto indisponível on-line).
Iraque: calendário de desocupaçao, precisa-se!
Publicado por
AG
É importante não deixar desagregar mais a sociedade iraquiana, depois do esforço de afirmação de vontade colectiva que significou a votação de 30 de Janeiro. Porque, por baixo do manto de sucesso eleitoral, tecido com um misto de euforia e esperança, os problemas continuam.
É bom não esquecer que as eleições foram realizadas em condições extremamente deficientes, face aos padrões democráticos universalmente reconhecidos. Realizaram-se sob ocupação militar estrangeira; sem envolver algumas das mais populosas províncias; sem segurança mínima em partes importantes do país; sem um período de campanha eleitoral normal; sem se saber quem era a maior parte dos elementos integrantes das listas partidárias; sem se saber, em muitos dos casos, onde eram as mesas de voto; sem a participação de algumas das forças políticas importantes; e sem observação internacional independente. Segundo as últimas notícias, o grau de participação estima-se agora em 58%, o que, sem retirar mérito à vitória dos votantes iraquianos, fica bastante aquém dos triunfalistas 75% em que embalaram muitos, ainda desejosos de legitimar, mesmo a posteriori e por esta forma, a ocupação.
Sinais preocupantes surgem já: dos sunitas, uma parte da população que se sente despojada do poder que detinha sob o regime de Saddam e que disciplinadamente se auto-excluiu das eleições; apesar de declarações conciliatórias de alguns dos líderes políticos antes exilados, os seus representantes religiosos, em comunicado de ontem, já acusaram de ilegítimas as eleições. Sinais dos shiitas, a quem sobretudo se deve a participação massiva nas eleições, por disciplina religiosa, interessados na consagração de uma maioria política que corresponda à sua dimensão populacional e domine a liderança futura do país (veremos realmente a Administração Bush entregar o poder em Bagdad, em respeito por eleições democráticas, a dirigentes políticos empenhados na instauração de um regime semelhante ao dos "mollahs" de Teerão?). E sinais dos curdos, que olham para estas eleições como uma oportunidade histórica para potenciar o seu peso político na sociedade iraquiana, de forma a concretizar ambições, no mínimo federalistas no quadro constitucional.
Por isso, agora, é necessário canalizar esforços para não deixar desestabilizar mais o país e garantir a inclusão de todas estas partes no processo que se vai seguir até ao fim deste ano, com a formação do governo provisório e com a redacção da Constituição que será submetida a referendo em Outubro próximo.
Processo em que a ONU deve ter um papel central. E em que a UE deve tornar-se interveniente e visível. Desde logo, no apoio à formação das instituições envolvidas no processo constitucional e de governo. E também na capacitação das instâncias judiciárias indispensáveis para o estabelecimento de um Estado de Direito - e para abrir um processo de reconciliação nacional, o que pressupõe o julgamento de Saddam e de todos os responsáveis pelos crimes hediondos cometidos pelo seu regime. E, ainda, no apoio a acções de formação das forças armadas e policiais iraquianas, permitindo a saída gradual, calendarizada, das forças da coligação do Iraque.
Porque este é, talvez, o único tema aglutinador dos iraquianos de todas as extracções étnicas ou religiosas, neste momento. Por isso urge anunciar uma desocupação rápida. Rápida, mas responsável. Anunciada já, mas efectivada à medida que se criarem condições de segurança, sob controlo iraquiano ou da ONU. Pois, se foi possível marcar uma data para a realização de eleições, sem atender à existência de condições de segurança, porque não é igualmente possível marcar já uma data para as forças da coligação ocupante começarem a sair do Iraque?
Se houver um sinal político de saída das forças de ocupação e de envolvimento conjugado da ONU, outros importantes actores da comunidade internacional - a UE e outros países, designadamente muçulmanos - não hesitarão mais, decerto, em apoiar o processo que se vai seguir e que deve culminar nas eleições legislativas em Dezembro de 2005, habilitando-as a cumprir os requisitos universais de credibilidade e legitimidade democrática. Para que os iraquianos possam seguir o caminho democrático que escolherem.
É bom não esquecer que as eleições foram realizadas em condições extremamente deficientes, face aos padrões democráticos universalmente reconhecidos. Realizaram-se sob ocupação militar estrangeira; sem envolver algumas das mais populosas províncias; sem segurança mínima em partes importantes do país; sem um período de campanha eleitoral normal; sem se saber quem era a maior parte dos elementos integrantes das listas partidárias; sem se saber, em muitos dos casos, onde eram as mesas de voto; sem a participação de algumas das forças políticas importantes; e sem observação internacional independente. Segundo as últimas notícias, o grau de participação estima-se agora em 58%, o que, sem retirar mérito à vitória dos votantes iraquianos, fica bastante aquém dos triunfalistas 75% em que embalaram muitos, ainda desejosos de legitimar, mesmo a posteriori e por esta forma, a ocupação.
Sinais preocupantes surgem já: dos sunitas, uma parte da população que se sente despojada do poder que detinha sob o regime de Saddam e que disciplinadamente se auto-excluiu das eleições; apesar de declarações conciliatórias de alguns dos líderes políticos antes exilados, os seus representantes religiosos, em comunicado de ontem, já acusaram de ilegítimas as eleições. Sinais dos shiitas, a quem sobretudo se deve a participação massiva nas eleições, por disciplina religiosa, interessados na consagração de uma maioria política que corresponda à sua dimensão populacional e domine a liderança futura do país (veremos realmente a Administração Bush entregar o poder em Bagdad, em respeito por eleições democráticas, a dirigentes políticos empenhados na instauração de um regime semelhante ao dos "mollahs" de Teerão?). E sinais dos curdos, que olham para estas eleições como uma oportunidade histórica para potenciar o seu peso político na sociedade iraquiana, de forma a concretizar ambições, no mínimo federalistas no quadro constitucional.
Por isso, agora, é necessário canalizar esforços para não deixar desestabilizar mais o país e garantir a inclusão de todas estas partes no processo que se vai seguir até ao fim deste ano, com a formação do governo provisório e com a redacção da Constituição que será submetida a referendo em Outubro próximo.
Processo em que a ONU deve ter um papel central. E em que a UE deve tornar-se interveniente e visível. Desde logo, no apoio à formação das instituições envolvidas no processo constitucional e de governo. E também na capacitação das instâncias judiciárias indispensáveis para o estabelecimento de um Estado de Direito - e para abrir um processo de reconciliação nacional, o que pressupõe o julgamento de Saddam e de todos os responsáveis pelos crimes hediondos cometidos pelo seu regime. E, ainda, no apoio a acções de formação das forças armadas e policiais iraquianas, permitindo a saída gradual, calendarizada, das forças da coligação do Iraque.
Porque este é, talvez, o único tema aglutinador dos iraquianos de todas as extracções étnicas ou religiosas, neste momento. Por isso urge anunciar uma desocupação rápida. Rápida, mas responsável. Anunciada já, mas efectivada à medida que se criarem condições de segurança, sob controlo iraquiano ou da ONU. Pois, se foi possível marcar uma data para a realização de eleições, sem atender à existência de condições de segurança, porque não é igualmente possível marcar já uma data para as forças da coligação ocupante começarem a sair do Iraque?
Se houver um sinal político de saída das forças de ocupação e de envolvimento conjugado da ONU, outros importantes actores da comunidade internacional - a UE e outros países, designadamente muçulmanos - não hesitarão mais, decerto, em apoiar o processo que se vai seguir e que deve culminar nas eleições legislativas em Dezembro de 2005, habilitando-as a cumprir os requisitos universais de credibilidade e legitimidade democrática. Para que os iraquianos possam seguir o caminho democrático que escolherem.
Os iraquianos ganharam a guerra
Publicado por
AG
O povo iraquiano foi a votos a 30 de Janeiro. Numa extraordinária manifestação de coragem e de vontade colectiva. No dia 30 de Janeiro o povo iraquiano ganhou a guerra. Contra terroristas que odeiam, sobretudo, democracia, direitos humanos e direitos humanos das mulheres, em particular. Contra insurrectos que querem restabelecer o antigo poder. Contra defensores de uma ocupação que visa prolongar o controlo da economia e dos recursos iraquianos. Contra tudo e contra todos, iraquianos e iraquianas não fugiram à responsabilidade como cidadãos e cidadãs e mostraram que são eles e elas quem quer realmente mudar o Iraque. Provaram a maturidade de um povo com longa História em que as últimas gerações sofreram absurdamente : a guerra com o Irão, o jugo déspota de Saddam, a guerra com o Kuwait, as sanções, a invasão recente, a ocupação que persiste. Resistem e acabam de demonstrar que querem conduzir o seu destino. Maioritariamente muçulmanos, refutam as teses reaccionárias e mistificadoras de que o Islão é incompatível com Democracia.
As eleições podem não ter sido realizadas nas condições de liberdade e segurança que os iraquianos e a UE desejaria. Podem não ter tido a observação internacional a que os iraquianos teriam direito para que a sua legitimidade não pudesse ser contestada por ninguém. Podem não ter tido a participação da comunidade sunita, que constitui 20% da população - e isso é altamente preocupante, porque pode precipitar-se uma guerra civil se os sunitas forem marginalizados do processo constitucional que se vai seguir. Mas no sul e no norte, milhões de iraquianos e iraquianas apesar de todas as ameaças, insuficiências, constrangimentos e pressões votaram, tiveram a coragem de votar. Mesmo os shiitas que terão votado por obediência religiosa, tiveram a coragem de votar. E todos disseram, assim, mais uma vez, que é tempo de acabar com a ocupação militar do Iraque!
É tempo de deixar à comunidade internacional, sob o comando da ONU, o papel de enquadrar e apoiar o processo subsequente, sob controlo dos iraquianos. Um calendário de retirada deve ser urgentemente exigido a americanos e britânicos. A UE deve dizê-lo ao Presidente Bush, quando ele vier a Bruxelas dentro de semanas. Porque a maioria dos milhões de iraquianos e iraquianas que tiveram a coragem de votar, também têm tido a coragem de repetir que não querem as forças da coligação a ocupar militarmente o seu território. Mostram-no consistentemente todas as sondagens feitas por instituições americanas e publicadas na imprensa americana nos últimos meses.
Recorde-se a reacção irada dos iraquianos, quando Bush pretendeu colher louros do sucesso da equipa de futebol iraquiana nos Jogos Olímpicos. Não tentem outros vir agora colher louros desta vitória iraquiana! Por respeito pelos milhares de iraquianos vítimas da guerra. Uma guerra cheia de erros e enganos, pela qual os iraquianos, mais do que quaisquer outros, já pagaram um preço. Um preço elevadíssimo. Por isso, é deles a vitória.
As eleições podem não ter sido realizadas nas condições de liberdade e segurança que os iraquianos e a UE desejaria. Podem não ter tido a observação internacional a que os iraquianos teriam direito para que a sua legitimidade não pudesse ser contestada por ninguém. Podem não ter tido a participação da comunidade sunita, que constitui 20% da população - e isso é altamente preocupante, porque pode precipitar-se uma guerra civil se os sunitas forem marginalizados do processo constitucional que se vai seguir. Mas no sul e no norte, milhões de iraquianos e iraquianas apesar de todas as ameaças, insuficiências, constrangimentos e pressões votaram, tiveram a coragem de votar. Mesmo os shiitas que terão votado por obediência religiosa, tiveram a coragem de votar. E todos disseram, assim, mais uma vez, que é tempo de acabar com a ocupação militar do Iraque!
É tempo de deixar à comunidade internacional, sob o comando da ONU, o papel de enquadrar e apoiar o processo subsequente, sob controlo dos iraquianos. Um calendário de retirada deve ser urgentemente exigido a americanos e britânicos. A UE deve dizê-lo ao Presidente Bush, quando ele vier a Bruxelas dentro de semanas. Porque a maioria dos milhões de iraquianos e iraquianas que tiveram a coragem de votar, também têm tido a coragem de repetir que não querem as forças da coligação a ocupar militarmente o seu território. Mostram-no consistentemente todas as sondagens feitas por instituições americanas e publicadas na imprensa americana nos últimos meses.
Recorde-se a reacção irada dos iraquianos, quando Bush pretendeu colher louros do sucesso da equipa de futebol iraquiana nos Jogos Olímpicos. Não tentem outros vir agora colher louros desta vitória iraquiana! Por respeito pelos milhares de iraquianos vítimas da guerra. Uma guerra cheia de erros e enganos, pela qual os iraquianos, mais do que quaisquer outros, já pagaram um preço. Um preço elevadíssimo. Por isso, é deles a vitória.
O partido "saramaguista"
Publicado por
Vital Moreira
O "partido" do voto em branco já tem cartazes na rua e um website, ainda que anónimo. Para começar não é mau. Em tempos de crise da representação política e de descrédito dos partidos e dos políticos (que a crise do País e o desastre do "santanalopismo" fomentaram), o apelo do voto em branco -- que costuma ter tanto de populista como de elitista -- pode ser uma tentação ou uma escapatória para a descrença e/ou protesto politico.
Trata-se de uma alternativa menos mobilizadora do que os partidos "justicialistas", que também costumam surgir por estas alturas. Mas a atitude e a linguagem não deixam de ser semelhantes...
Trata-se de uma alternativa menos mobilizadora do que os partidos "justicialistas", que também costumam surgir por estas alturas. Mas a atitude e a linguagem não deixam de ser semelhantes...
Quem espalha boatos?
Publicado por
AG
Transcrevo um alerta que recebi de uma militante socialista:
"Tenho endereços de e.mails, no sapo, no clix, no hotmail e no portugalmail e é só através deste último que tenho recebido mails falaciosos, até de supostos militantes do PS, enviados por desconhecidos. A persuasão, a maledicência, o oportunismo, a insistência no envio de mails deste teor levou-me, não só, a responder de forma meio cáustica a esses endereços desconhecidos, como também a escrever aos administradores do portugalmail a questioná-los sobre o apregoado sigilo. Até ao momento não obtive qualquer resposta. Tendo em conta que tenho dois endereços no portugalmail que em nada me identificam e ambos estão a ser massacrados com propaganda do PSD, deduzo, assim, que a portugalmail permite o acesso aos endereços...".
"Tenho endereços de e.mails, no sapo, no clix, no hotmail e no portugalmail e é só através deste último que tenho recebido mails falaciosos, até de supostos militantes do PS, enviados por desconhecidos. A persuasão, a maledicência, o oportunismo, a insistência no envio de mails deste teor levou-me, não só, a responder de forma meio cáustica a esses endereços desconhecidos, como também a escrever aos administradores do portugalmail a questioná-los sobre o apregoado sigilo. Até ao momento não obtive qualquer resposta. Tendo em conta que tenho dois endereços no portugalmail que em nada me identificam e ambos estão a ser massacrados com propaganda do PSD, deduzo, assim, que a portugalmail permite o acesso aos endereços...".
O PPD de Santana Lopes
Publicado por
Vital Moreira
«(...) Santana Lopes cumpriu um dos seus mil e um desígnios dos últimos anos: criar um novo partido, afundando o PSD de Sá Carneiro, Balsemão e Cavaco. Agora temos, o seu "PPD", sem mais. (...) Na impossibilidade de reescrever a história do partido -- como fez Paulo Portas [no CDS/PP]-- devido à magnitude e importância histórica do PSD na sedimentação da democracia em Portugal, Santana Lopes arrasta o seu "PPD" para um destino suicidário. Tudo em nome e a benefício de um projecto de poder pessoal que se esgota nisso mesmo: depois de ganhar o poder ilegitimamente (digo eu) importava mantê-lo a qualquer preço. Para si mesmo e para os seus inenarráveis prosélitos, há muito sedentos de prebendas e sinecuras... No entanto, a desfaçatez e a incompetência foram longe demais.
Pior do que isto, e a triste ironia deste "novo" e incipiente partido, de "marca Santana", é o seu progressivo afastamento do ideal político e social de Sá Carneiro. Apesar da nostálgica e quase melodramática invocação "ad nauseam" do saudoso líder por Santana Lopes, a social-democracia de Sá Carneiro evaporou-se. A matriz social-democrata de pensamento e da prática de Sá Carneiro nada tem a ver com o actual primeiro-ministro e presidente do PSD. O "novo" partido afasta-se do centro, não para a direita, mas para lugar nenhum. Para o limbo político.
Os nomes que credibilizaram o PSD na última década afastaram-se, um por um, preferindo calar-se, repugnados com o rumo do partido. Alguns, como Pacheco e Marcelo são ostracizados ou censurados. Quem manda agora no "PPD" de Santana Lopes são "personalidades" desconhecidas ou conhecidas pelas piores razões. (...) Tudo alimentado com muita propaganda, marketing, demagogia populista e muita, muita falta de espírito democrático -- como se viu recentemente neste indizível e inenarrável ataque a José Sócrates. (...)»
(G M da Maia)
Pior do que isto, e a triste ironia deste "novo" e incipiente partido, de "marca Santana", é o seu progressivo afastamento do ideal político e social de Sá Carneiro. Apesar da nostálgica e quase melodramática invocação "ad nauseam" do saudoso líder por Santana Lopes, a social-democracia de Sá Carneiro evaporou-se. A matriz social-democrata de pensamento e da prática de Sá Carneiro nada tem a ver com o actual primeiro-ministro e presidente do PSD. O "novo" partido afasta-se do centro, não para a direita, mas para lugar nenhum. Para o limbo político.
Os nomes que credibilizaram o PSD na última década afastaram-se, um por um, preferindo calar-se, repugnados com o rumo do partido. Alguns, como Pacheco e Marcelo são ostracizados ou censurados. Quem manda agora no "PPD" de Santana Lopes são "personalidades" desconhecidas ou conhecidas pelas piores razões. (...) Tudo alimentado com muita propaganda, marketing, demagogia populista e muita, muita falta de espírito democrático -- como se viu recentemente neste indizível e inenarrável ataque a José Sócrates. (...)»
(G M da Maia)
Ele é capaz de tudo!
Publicado por
Vital Moreira
Depois ter feito as reles insinuações contra Sócrates num comício feminino em Braga, amplamente relatadas pela imprensa, Santana Lopes veio depois cobardemente desmenti-las e dizer-se mesmo ofendido por ser acusado de as ter feito. Agora, numa desnorteada fuga para a frente, vem com uma explicação estapafúrdia, sem pés nem cabeça, para o que disse (os "outros colos" de Sócrates seriam afinal os «da alta finança e das empresas de sondagens»!!), tomando os portugueses por tolos.
Quem julgou que pode haver limites para a dissimulação e o despautério desta criatura, engana-se. Ele é capaz de tudo, e mais alguma coisa!
Quem julgou que pode haver limites para a dissimulação e o despautério desta criatura, engana-se. Ele é capaz de tudo, e mais alguma coisa!
Perguntas ao PSD
Publicado por
Vital Moreira
Em entrevista à televisão, José Sócrates desmentiu categoricamente os boatos que correm sobre a sua vida privada e acusou Santana Lopes de comportamento indigno e intolerável. Só faltou a exigência de desculpas formais por parte do ofensor. Espero que não deixe de ser feita.
Em boa verdade, as insinuações de Lopes não deixariam de ser intoleráveis e indignas independentemente de os boatos serem falsos ou não. A exploração malévola da vida privada dos políticos é sempre inadmissível -- sobretudo quando provém de outros políticos --, salvo se ela for desonrosa ou contraditória com as posições políticas do visado.
Mais ordinária ainda do que a insinuação foi a inaudita vileza do desmentido de Lopes, ainda por cima declarando-se hipocritamente "ofendido" pela condenação da opinião pública. É o cúmulo da mentira, da mistificação e da baixeza moral. Definitivamente este homem não tem uma réstea de seriedade e de decência.
Perante esta demonstração de vilania, que enlameia o PSD, como é que se justifica o silêncio dos "históricos" em defesa do bom nome e da honorabilidade do partido, postos de rastos pelo seu actual presidente? E os eleitores do PSD, como é que vão sufragar a candidatura de Lopes a primeiro-ministro, ele que acaba de demonstrar que não preenche os mínimos requisitos de honestidade política e de carácter moral para o cargo?
Em boa verdade, as insinuações de Lopes não deixariam de ser intoleráveis e indignas independentemente de os boatos serem falsos ou não. A exploração malévola da vida privada dos políticos é sempre inadmissível -- sobretudo quando provém de outros políticos --, salvo se ela for desonrosa ou contraditória com as posições políticas do visado.
Mais ordinária ainda do que a insinuação foi a inaudita vileza do desmentido de Lopes, ainda por cima declarando-se hipocritamente "ofendido" pela condenação da opinião pública. É o cúmulo da mentira, da mistificação e da baixeza moral. Definitivamente este homem não tem uma réstea de seriedade e de decência.
Perante esta demonstração de vilania, que enlameia o PSD, como é que se justifica o silêncio dos "históricos" em defesa do bom nome e da honorabilidade do partido, postos de rastos pelo seu actual presidente? E os eleitores do PSD, como é que vão sufragar a candidatura de Lopes a primeiro-ministro, ele que acaba de demonstrar que não preenche os mínimos requisitos de honestidade política e de carácter moral para o cargo?
Governos de coligação
Publicado por
Vital Moreira
Por que é que os governos de coligação não têm tido grande êxito em Portugal? E por que razão é que nunca houve coligações do PS com partidos à sua esquerda? E por que motivos é que um governo de coligação do PS com o PCP ou com o BE é ainda mais improvável nas actuais circunstâncias?
Uma tentativa de resposta a estas perguntas pode ver-se no meu artigo de ontem no Público (também recolhido como habitualmente na prestimosa Aba da Causa).
Uma tentativa de resposta a estas perguntas pode ver-se no meu artigo de ontem no Público (também recolhido como habitualmente na prestimosa Aba da Causa).
terça-feira, 1 de fevereiro de 2005
"Onde está o verdadeiro PSD?"
Publicado por
Vital Moreira
«Santana protesta que não insinuou, mas no comício de Portalegre voltou ao assunto de força soez e codificada.
Na SIC Notícias o chefe do grupo parlamentar diz que "não há temas tabus" e que o PSD não pode ser condicionado...
Afinal que tipo de pessoas são estas que hoje lideram o PSD ?
Onde estão os verdadeiros PSD ?
O silêncio do histórico PSD, significa o quê ?»
(NH)
Na SIC Notícias o chefe do grupo parlamentar diz que "não há temas tabus" e que o PSD não pode ser condicionado...
Afinal que tipo de pessoas são estas que hoje lideram o PSD ?
Onde estão os verdadeiros PSD ?
O silêncio do histórico PSD, significa o quê ?»
(NH)
Despoluição política
Publicado por
Vital Moreira
Afinal Santana Lopes protesta que não insinuou nada contra ninguém. O comício das mulheres do PSD de Braga não existiu. As declarações histéricas das suas apoiantes não foram proferidas. As frases assassinas que ele próprio pronunciou para gáudio do mulherio devem ter sido inventadas pela imprensa. As mensagens "cifradas" dos cartazes da JSD também não existem.
Três dias depois, quando se avoluma o repúdio pela sua atitude reles, Lopes vem negar tudo. Em vez de reconhecer a malévola ofensa e pedir desculpa, tenta desmentir o irrefutável. Perante a condenação da opinião pública prefere somar à ofensa a cobardia da negação e a hipocrisia de se dizer «grande amigo» (sic!?) daquele a quem ofendeu. Para cúmulo, ainda se diz «muito ofendido» pelas acusações que lhe são feitas. É preciso topete!
Isto não é politicamente sério nem honesto. Este político é perigoso. Este político não tem a mínima dignidade para ocupar o cargo de primeiro-ministro (nem qualquer outro cargo público). Este político polui a esfera pública. Afastá-lo do poder é agora também uma questão de elementar ecologia política.
(revisto)
Adenda
Sobre esta indignidade ver também o Mar Salgado, o Bloguítica, o Puxapalavra e o Portugal dos Pequenitos.
Três dias depois, quando se avoluma o repúdio pela sua atitude reles, Lopes vem negar tudo. Em vez de reconhecer a malévola ofensa e pedir desculpa, tenta desmentir o irrefutável. Perante a condenação da opinião pública prefere somar à ofensa a cobardia da negação e a hipocrisia de se dizer «grande amigo» (sic!?) daquele a quem ofendeu. Para cúmulo, ainda se diz «muito ofendido» pelas acusações que lhe são feitas. É preciso topete!
Isto não é politicamente sério nem honesto. Este político é perigoso. Este político não tem a mínima dignidade para ocupar o cargo de primeiro-ministro (nem qualquer outro cargo público). Este político polui a esfera pública. Afastá-lo do poder é agora também uma questão de elementar ecologia política.
(revisto)
Adenda
Sobre esta indignidade ver também o Mar Salgado, o Bloguítica, o Puxapalavra e o Portugal dos Pequenitos.
Quem quer continuar assim?
Publicado por
Vital Moreira
Segundo uma sondagem da Universidade Católica (para o Público, RTP e Antena 1) 73% dos inquiridos avaliaram o Governo PSD/CDS de Santana Lopes como mau ou muito mau, com apenas 15% a considerarem-no bom ou muito bom (seguramente mais uma peça na "grande conspiração" das sondagens contra Lopes!...).
Considerando que o mesmo primeiro-ministro e a mesma coligação se apresentam a eleições para renovarem o mandato, quem quer continuar assim depois de 20 de Fevereiro?
Considerando que o mesmo primeiro-ministro e a mesma coligação se apresentam a eleições para renovarem o mandato, quem quer continuar assim depois de 20 de Fevereiro?
Quando o governo PS depende do BE e do PCP
Publicado por
Vital Moreira
Os últimos governos minoritários foram os de Guterres. Resultado: navegação à vista, "compra" de todas as reivindicações à custa do orçamento, medo de todas as contestações, cedência a todas as pressões, incapacidade de reformas de fundo que implicassem o sacrifício de algum interesse organizado, "fuga" para os referendos, etc. A coisa aguentou enquanto a economia e as finanças permitiram o regabofe. Depois foi o que se sabe. Quanto chegaram as dificuldades, o PCP e o BE aliaram-se alegremente à direita para impedir qualquer disciplina orçamental, deixando o PS sem escapatória. Seguiu-se o lastimável episódio do "orçamento limiano", o descrédito político, e a inevitável queda.
Era importante não esquecer. Nem o PS nem os eleitores. Governos sem maioria absoluta só duram enquanto cedem.
Era importante não esquecer. Nem o PS nem os eleitores. Governos sem maioria absoluta só duram enquanto cedem.
segunda-feira, 31 de janeiro de 2005
A estabilidade governativa segundo o BE
Publicado por
Vital Moreira
A afirmação de Louçã, na entrevista de hoje na RTP, de que o PS "já governou com maioria absoluta", quando no seu último governo "comprou" o deputado Campelo (CDS) para aprovar o orçamento, é uma observação pouco séria, para não dizer pouco honesta. Justamente porque não tinha maioria absoluta é que o Governo precisava de um voto adicional para fazer passar o orçamento. Se o BE ou o PCP tivessem proporcionado esse voto, em vez de votar contra ele, não será que o que se seguiu (queda do Governo PS, vitória da direita em 2002) poderia ter tido outro caminho?
E o que é que garante que, se das próximas eleições resultasse uma situação política semelhante, o BE não adoptaria a mesma atitude? Se o BE se recusa liminarmente a participar no Governo (para não "sujar" as mãos?) e só promete apoiá-lo se ele realizar as políticas que o BE defende, como é que Louçã pode asseverar, como fez na entrevista, que a estabilidade governativa está garantida no caso de um governo do PS sem maioria absoluta, quando um outro dirigente do BE já declarou mesmo que não teriam pruridos em apresentar uma moção de censura contra ele?
É evidente que não está, pelo contrário!
E o que é que garante que, se das próximas eleições resultasse uma situação política semelhante, o BE não adoptaria a mesma atitude? Se o BE se recusa liminarmente a participar no Governo (para não "sujar" as mãos?) e só promete apoiá-lo se ele realizar as políticas que o BE defende, como é que Louçã pode asseverar, como fez na entrevista, que a estabilidade governativa está garantida no caso de um governo do PS sem maioria absoluta, quando um outro dirigente do BE já declarou mesmo que não teriam pruridos em apresentar uma moção de censura contra ele?
É evidente que não está, pelo contrário!
A TRÊS SEMANAS DAS ELEIÇÕES (1)
Publicado por
Anónimo
A pré-campanha está a acabar. Para além das inacreditáveis insinuações postas a circular por líderes partidários que, à falta de argumentos políticos, pretendem excluir do debate público todos os que não sejam pais de família, ou verdadeiros machos latinos, duas notas:
1. não me lembro de outra em que tanta gente e tantas organizações tenham vindo a público (e ocupando tanto espaço nos media) defender o que querem para o país, ou para áreas sectoriais. E já ouvi (li) análises, opiniões e perspectivas interessantes e consistentes. Será que o nosso espaço público está, afinal, menos degrado do que eu suponha e em vias de recuperação? Ou será apenas uma consequência efémera do "sobressalto democrático" provocado pelos últimos meses de desgovernação e pela convicção generalizada de que estamos à beira do abismo?
2. muitas pertenças e não menos alinhamentos tradicionais parecem ter perdido validade, como que a sugerir serem as próximas eleições algo de mais sério do que uma rotina democrática. Claro que este aspecto é mais verificável para os lados do centro-direita, (efeito ainda do "Susto Santana"), mas, com menos evidência, atinge também os tradicionais alinhamentos com o BE.
Veremos o que nos reserva a campanha propriamente dita?
1. não me lembro de outra em que tanta gente e tantas organizações tenham vindo a público (e ocupando tanto espaço nos media) defender o que querem para o país, ou para áreas sectoriais. E já ouvi (li) análises, opiniões e perspectivas interessantes e consistentes. Será que o nosso espaço público está, afinal, menos degrado do que eu suponha e em vias de recuperação? Ou será apenas uma consequência efémera do "sobressalto democrático" provocado pelos últimos meses de desgovernação e pela convicção generalizada de que estamos à beira do abismo?
2. muitas pertenças e não menos alinhamentos tradicionais parecem ter perdido validade, como que a sugerir serem as próximas eleições algo de mais sério do que uma rotina democrática. Claro que este aspecto é mais verificável para os lados do centro-direita, (efeito ainda do "Susto Santana"), mas, com menos evidência, atinge também os tradicionais alinhamentos com o BE.
Veremos o que nos reserva a campanha propriamente dita?
A TRÊS SEMANAS DAS ELEIÇÕES (2)
Publicado por
Anónimo
Portanto, a questão é mesmo o défice das contas públicas: o Estado em Portugal anda a gastar demais para os recursos que os contribuintes lhe entregam. E já quase ninguém defende que o combate à fraude e evasão fiscais seja remédio miraculoso para ir buscar os recursos financeiros que faltam. Resumindo: a atenção deve concentrar-se no lado da despesa pública.
Vamos lá a retirar conclusões deste consenso mais ou menos generalizado. Os dados parecem ser estes:
a) A despesa pública tem de crescer, nos próximos anos, abaixo do crescimento do PIB;
b) As alterações estruturais - sejam elas quais forem - só produzirão efeitos palpáveis daqui a 5/10 anos.
Então como encarar esse irritante problema que é o hoje? Os partidos que se arriscam a recolher a confiança dos portugueses para governarem deviam, portanto, explicar como pretendem poupar cinco mil milhões de euros/ano na despesa pública. E já estamos a pedir pouco... face à desorçamentação e outras técnicas de criatividade contabilística que por aí grassam, é discutível que o verdadeiro défice das contas públicas não ande acima dos 7% do PIB.
O desperdício e as adiposidades públicas - as mordomias da alta administração e o fausto republicano (sinal do nosso subdesenvolvimento cívico) em que temos o hábito de envolver qualquer acto da República, por mais insignificante que seja o fontanário a inaugurar - custam-nos todos os anos cinco mil milhões de euros, ou será preciso ir buscar alguma poupança ao osso?
Vamos lá a retirar conclusões deste consenso mais ou menos generalizado. Os dados parecem ser estes:
a) A despesa pública tem de crescer, nos próximos anos, abaixo do crescimento do PIB;
b) As alterações estruturais - sejam elas quais forem - só produzirão efeitos palpáveis daqui a 5/10 anos.
Então como encarar esse irritante problema que é o hoje? Os partidos que se arriscam a recolher a confiança dos portugueses para governarem deviam, portanto, explicar como pretendem poupar cinco mil milhões de euros/ano na despesa pública. E já estamos a pedir pouco... face à desorçamentação e outras técnicas de criatividade contabilística que por aí grassam, é discutível que o verdadeiro défice das contas públicas não ande acima dos 7% do PIB.
O desperdício e as adiposidades públicas - as mordomias da alta administração e o fausto republicano (sinal do nosso subdesenvolvimento cívico) em que temos o hábito de envolver qualquer acto da República, por mais insignificante que seja o fontanário a inaugurar - custam-nos todos os anos cinco mil milhões de euros, ou será preciso ir buscar alguma poupança ao osso?
A TRÊS SEMANAS DAS ELEIÇÕES (3)
Publicado por
Anónimo
Bem sei que no dia 20 de Fevereiro vamos eleger deputados e não governos. Mas não será exigível que os partidos se expliquem como entendem governar?
Claro que esse como terá de estar em consonância com os grandes objectivos que afirmam para a governação, mas não é líquido que decorra, assim sem mais, daqueles. E, se em democracia o como faz toda a diferença, nas actuais circunstâncias do país ainda mais.
Vamos por partes:
A reconhecida má prestação da administração pública e a baixa qualidade dos serviços públicos (assegurados directamente pelo Estado, ou por ele contratualizados com privados) não é um problema central da nossa democracia e do estado da nossa economia? SIM!
Tal problema poderá ser ultrapassado pela injecção massiva de recursos financeiros? NÃO!
Haverá 100 empresas em Portugal que reúnam maior número de licenciados do que uma escola, uma universidade, um hospital, um tribunal de médias dimensões, ou qualquer direcção-geral? NÃO!
Então, com uma mão-de-obra tão qualificada, aos senhores ministros do próximo Governo não cabe papel mais importante do que mobilizarem os recursos humanos sob a sua dependência. Estes são a única alavanca de que se podem socorrer para melhorar a qualidade dos serviços públicos.Definir objectivos concretos, responsabilizar, avaliar, mobilizar os funcionários e apoiar a organização, a eficiência e a gestão das diferentes organizações sob a sua tutela é matéria muito mais decisiva para a acção dos futuros ministros do que as leis, as iniciativas e os programas que já se estão a preparar para anunciar com estrondo. Como é que vão governar?
Claro que esse como terá de estar em consonância com os grandes objectivos que afirmam para a governação, mas não é líquido que decorra, assim sem mais, daqueles. E, se em democracia o como faz toda a diferença, nas actuais circunstâncias do país ainda mais.
Vamos por partes:
A reconhecida má prestação da administração pública e a baixa qualidade dos serviços públicos (assegurados directamente pelo Estado, ou por ele contratualizados com privados) não é um problema central da nossa democracia e do estado da nossa economia? SIM!
Tal problema poderá ser ultrapassado pela injecção massiva de recursos financeiros? NÃO!
Haverá 100 empresas em Portugal que reúnam maior número de licenciados do que uma escola, uma universidade, um hospital, um tribunal de médias dimensões, ou qualquer direcção-geral? NÃO!
Então, com uma mão-de-obra tão qualificada, aos senhores ministros do próximo Governo não cabe papel mais importante do que mobilizarem os recursos humanos sob a sua dependência. Estes são a única alavanca de que se podem socorrer para melhorar a qualidade dos serviços públicos.Definir objectivos concretos, responsabilizar, avaliar, mobilizar os funcionários e apoiar a organização, a eficiência e a gestão das diferentes organizações sob a sua tutela é matéria muito mais decisiva para a acção dos futuros ministros do que as leis, as iniciativas e os programas que já se estão a preparar para anunciar com estrondo. Como é que vão governar?
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