O que sobressai na história do senador Republicano Larry Craig, que acaba de se demitir do Senado norte-americano depois de conhecido publicamente o episódio da tentativa de contacto sexual com outro homem no mictório de um aeroporto, é a extraordinária contradição entre essa conduta e o seu moralismo ultraconservardor e reaccionário enquanto político, contrário aos casamentos gay, às políticas de combate à discriminação de género, etc. Entre outras coisas, o ex-senador Craig foi um dos mais severos críticos do ex-presidente Clinton no caso Lewinski, por "conduta imoral."
Há um nome para isso: hipocrisia. E há uma lição a tirar: nada mais imoral do que a imoralidade dos moralistas.
Blogue fundado em 22 de Novembro de 2003 por Ana Gomes, Jorge Wemans, Luís Filipe Borges, Luís Nazaré, Luís Osório, Maria Manuel Leitão Marques, Vicente Jorge Silva e Vital Moreira
segunda-feira, 3 de setembro de 2007
sábado, 1 de setembro de 2007
Jornalistas
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Vital Moreira
A oposição profissional ao novo Estatuto dos Jornalistas já percebeu (não era difícil...) que o veto presidencial não lhe serve de grande coisa (foi mais um "flirt" de Belém com a profissão...), pelo que defende agora que uma lei destas "não deve ser aprovada só por um partido", pretendendo consagrar uma espécie de "poder de veto da oposição" nesta matéria, a somar ao do Presidente da República.
De onde é que surgiu esta ideia de que não basta uma maioria para legitimar politicamente um estatuto profissional dos jornalistas, não se sabe ao certo. Será que tem a ver com algum desconhecido privilégio da profissão?
De onde é que surgiu esta ideia de que não basta uma maioria para legitimar politicamente um estatuto profissional dos jornalistas, não se sabe ao certo. Será que tem a ver com algum desconhecido privilégio da profissão?
Privatizações
Publicado por
Vital Moreira
No seu artigo de ontem no Público, Luís Campos e Cunha (que foi o primeiro, e breve, ministro das Finanças do actual Governo) pergunta qual é o sentido, se sentido tem, a privatização de empresas públicas gestoras de infra-estruturas que são monopólios naturais, como é o caso da REN (que na próxima privatização deixará de ter maioria de capital público). Não posso senão concordar com a questão, tanto mais que suponho ter sido primeiro a suscitá-la publicamente, em termos discordantes, aliás mais do que uma vez.
E também compartilho da estranheza de estas questões não serem objecto de discussão política, especialmente no PS. De facto, como diz o autor, a privatização de infra-estruturas não é o mesmo que a privatização de empresas que operam em ambiente concorrencial, como uma cimenteira ou uma seguradora.
E também compartilho da estranheza de estas questões não serem objecto de discussão política, especialmente no PS. De facto, como diz o autor, a privatização de infra-estruturas não é o mesmo que a privatização de empresas que operam em ambiente concorrencial, como uma cimenteira ou uma seguradora.
sexta-feira, 31 de agosto de 2007
OGM em Portugal
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AG
Já está disponível na ABA DA CAUSA um artigo meu sobre os OGM em Portugal, publicado ontem no Diário de Leiria.
Excesso legislativo
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Vital Moreira
«Publicação de escutas só com OK dos visados», mesmo que constem de peças processuais que não se encontrem protegidas pelo segredo de justiça. De facto, tal parece ser o único sentido da norma do nº 4 do art. 88º novo Código de Processo Penal, segundo o qual
«Não é permitida, sob pena de desobediência simples, a publicação, por qualquer meio, de conversações ou comunicações interceptadas no âmbito de um processo, salvo se não estiverem sujeitas a segredo de justiça e os intervenientes expressamente consentirem na publicação».A não haver outro entendimento possível, então trata-se de uma restrição claramente desproporcionada ao conhecimento público dos processos penais. Por minha parte, apoio a solução de vincular os média pelo segredo de justiça -- desde que reduzido este ao mínimo indispensável --, mas não considero aceitável ir além disso, até a uma proibição automática, geral e permanente de divulgação de conversas telefónicas constantes dos autos não protegidos pelo segredo, determinado nos termos da lei.
Um pouco mais de seriedade, sff.
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Vital Moreira
Decididamente, Marques Mendes não está a passar por um bom momento. Depois da leviana visita de solidariedade à directora do MNAA, resolveu celebrar efusivamente os vetos legislativos presidenciais, que considerou serem "fruto da arrogância do Governo".
Ora, uma das leis vetadas, a que reformula o regime da responsabilidade civil extracontratual do Estado -- por sinal, aquela de que o Presidente mais discorda, incluindo a sua filosofia --, foi aprovada por unanimidade, contando portanto com o voto do do PSD, a que Marques Mendes preside e do qual é também deputado.
Há fenómenos de notável irresponsabilidade, não há?!
Ora, uma das leis vetadas, a que reformula o regime da responsabilidade civil extracontratual do Estado -- por sinal, aquela de que o Presidente mais discorda, incluindo a sua filosofia --, foi aprovada por unanimidade, contando portanto com o voto do do PSD, a que Marques Mendes preside e do qual é também deputado.
Há fenómenos de notável irresponsabilidade, não há?!
Contra, porque sim
Publicado por
Vital Moreira
A propósito do novo regime de empréstimos garantidos pelo Estado para a frequência do ensino superior, sustentei que ele constitui uma vantagem adicional para os seus beneficiários, bem como um apoio (e um encargo financeiro) adicional do Estado, que se soma aos apoios existentes, proporcionando a possibilidade de frequência do ensino superior a quem de outro modo não poderia fazê-lo ou só o poderia fazer com muitas dificuldades.
Os críticos do referido regime (aqui e aqui), em vez de contestarem essa mais-valia (não vejo como), desviam a conversa para outros temas que não estão em discussão, como as propinas e a acção social escolar, sabendo bem que nem as primeiras vão aumentar nem a segunda vai diminuir (pelo contrário). Quando não convém conversar sobre alhos, fala-se em bugalhos...
Os críticos do referido regime (aqui e aqui), em vez de contestarem essa mais-valia (não vejo como), desviam a conversa para outros temas que não estão em discussão, como as propinas e a acção social escolar, sabendo bem que nem as primeiras vão aumentar nem a segunda vai diminuir (pelo contrário). Quando não convém conversar sobre alhos, fala-se em bugalhos...
quinta-feira, 30 de agosto de 2007
Justiça
Publicado por
Vital Moreira
No Chile, um dos generais de Pinochet, responsável pelo assassínio de vários opositores à ditadura, foi condenado a prisão perpétua.
Nem sempre justiça tardia deixa de ser justiça.
Em contrapartida, nos Estados Unidos, um tribunal militar absolveu um oficial que era responsável pela prisão de Abu Ghraib ao tempo das torturas e dos maus-tratos a prisioneiros, acusado de omissão de vigilância e de "cobertura" dos crimes. Nenhum oficial foi condenado no âmbito desse processo. Como diz o New York Times de hoje, os Estados Unidos desejam pôr Abu Ghraib "debaixo de tapete".
Nem sempre a aparência de justiça é justiça.
Nem sempre justiça tardia deixa de ser justiça.
Em contrapartida, nos Estados Unidos, um tribunal militar absolveu um oficial que era responsável pela prisão de Abu Ghraib ao tempo das torturas e dos maus-tratos a prisioneiros, acusado de omissão de vigilância e de "cobertura" dos crimes. Nenhum oficial foi condenado no âmbito desse processo. Como diz o New York Times de hoje, os Estados Unidos desejam pôr Abu Ghraib "debaixo de tapete".
Nem sempre a aparência de justiça é justiça.
Espanha e Portugal: um destino comum na Europa
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AG
Li com muito interesse este artigo do socialista espanhol Enrique Barón Crespo, meu colega no Parlamento Europeu, aliás ex-Presidente desta instituição, um ilustre europeu e um distinto europeísta.
Não posso concordar com a mensagem iberista do artigo, como também discordei das mais recentes provocações de José Saramago no mesmo sentido: a aproximação política entre os dois países vizinhos, o forte incremento das trocas comerciais, a integração económica, as fronteiras abertas e, claro, uma longa e próspera paz entre ambos, não devem ser confundidos com uma antecâmara de uma fusão política. Ou será que se perspectiva também a fusão entre a França e a Alemanha? Ou entre a Holanda e a Alemanha?
A história do sucesso da cooperação ibérica (apesar dos diferentes graus de desenvolvimento entre Portugal e Espanha, ambos deixaram para trás para sempre a miséria e o obscurantismo) é indissociável do projecto europeu e do seu progresso.
E aqui Barón Crespo tem toda a razão em lembrar que "la aventura europea nos ha permitido reencontrarnos". Permitiu a duas nações soberanas e distintas colher os frutos da cooperação, do desenvolvimento económico e da integração, deixando para trás séculos de guerras, mesquinhez dinástica e nacionalismos complexados.
Cabe agora a Portugal - onde infelizmente alguns, enredados em mentalidades ultrapassadas, nunca deixaram de confundir partilha de soberania com perda de independência - assumir as suas responsabilidades europeias liderando as negociações que culminarão numa reforma substancial dos Tratados europeus existentes: um novo Tratado de Lisboa para a União Europeia.
A união na diversidade é a força da Europa.
Não posso concordar com a mensagem iberista do artigo, como também discordei das mais recentes provocações de José Saramago no mesmo sentido: a aproximação política entre os dois países vizinhos, o forte incremento das trocas comerciais, a integração económica, as fronteiras abertas e, claro, uma longa e próspera paz entre ambos, não devem ser confundidos com uma antecâmara de uma fusão política. Ou será que se perspectiva também a fusão entre a França e a Alemanha? Ou entre a Holanda e a Alemanha?
A história do sucesso da cooperação ibérica (apesar dos diferentes graus de desenvolvimento entre Portugal e Espanha, ambos deixaram para trás para sempre a miséria e o obscurantismo) é indissociável do projecto europeu e do seu progresso.
E aqui Barón Crespo tem toda a razão em lembrar que "la aventura europea nos ha permitido reencontrarnos". Permitiu a duas nações soberanas e distintas colher os frutos da cooperação, do desenvolvimento económico e da integração, deixando para trás séculos de guerras, mesquinhez dinástica e nacionalismos complexados.
Cabe agora a Portugal - onde infelizmente alguns, enredados em mentalidades ultrapassadas, nunca deixaram de confundir partilha de soberania com perda de independência - assumir as suas responsabilidades europeias liderando as negociações que culminarão numa reforma substancial dos Tratados europeus existentes: um novo Tratado de Lisboa para a União Europeia.
A união na diversidade é a força da Europa.
Mais uma medida de "destruição do Estado social"
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Vital Moreira
«A comparticipação do Estado destinada à compra de manuais escolares para as famílias mais carenciadas com filhos no 10.º, 11.º ou 12.º anos subiu 27,7 por cento.» (do Público de hoje).
Gostaria de ter escrito isto
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Vital Moreira
«Mas a tendência para usar a moral, geralmente associada à religião, como arma política é uma constante na estratégia conservadora. Ela existe entre os conservadores americanos, mas também entre alguns conservadores portugueses. Todos nos recordamos das ocasiões em que Paulo Portas ou Bagão Félix, por exemplo, fizeram alarde dos seus princípios morais e religiosos como arma política. Estes e outros conservadores gostam especialmente de proclamar a sua fidelidade aos valores morais, de ser filmados na igreja, etc. Pela minha parte, desconfio. Aqueles que usam a bandeira da fé e dos bons costumes na arena política são, em geral, os piores: os mais calculistas e os mais impiedosos.»
(João Cardoso Rosas, "Moralismo e Conservadorismo", Diário Económico de hoje)
(João Cardoso Rosas, "Moralismo e Conservadorismo", Diário Económico de hoje)
"Para a democratização do ensino superior"
Publicado por
Vital Moreira
«O anúncio do novo regime de crédito assistido no ensino superior suscitou a habitual condenação dos partidos da oposição à esquerda do PS, em nome de uma alegada "desresponsabilização do Estado". Ora, este argumento não procede. Mantendo tudo o resto igual, o regime de empréstimos constitui um importante ganho em si mesmo. E, depois, não existe nenhuma desoneração da responsabilidade financeira do Estado.»Este texto é um trecho do meu artigo desta semana no Público (com o título em epígrafe), entretanto recolhido no Aba da Causa.
Houve quem criticasse o referido artigo (como aqui e aqui), porém sem razão, omitindo designadamente esta passagem e a sua justificação subsequente no meu texto.
A questão é simples: para os destinatários, trata-se ou não de uma medida vantajosa e bem-vinda?
Adenda
Também importei para a Ada da Causa o texto da semana anterior, que faltava, intitulado "Direito de réplica", em resposta a uma crítica de J. M. Correia Pinto.
É impressão minha...
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Vital Moreira
... ou o Governo já não vai cumprir o compromisso de introduzir no corrente ano portagens nas auto-estradas SCUT anunciadas?
Adenda
O adiamento é também dado como certo pelo Diário Económico de hoje.
O atraso é mau, por vários motivos: (i) porque o processo revela alguma imprevidência na antecipação das dificuldades da introdução das portagens; (ii) porque o incumprimento do compromisso numa área politicamente delicada como esta não é favorável para crédito do Governo; (iii) porque se perdem receitas significativas, enquanto o Estado está obrigado a pagar às concessionárias as portagens virtuais, cujo montante global cresce com o grande aumento do tráfego das SCUT em causa.
Adenda
O adiamento é também dado como certo pelo Diário Económico de hoje.
O atraso é mau, por vários motivos: (i) porque o processo revela alguma imprevidência na antecipação das dificuldades da introdução das portagens; (ii) porque o incumprimento do compromisso numa área politicamente delicada como esta não é favorável para crédito do Governo; (iii) porque se perdem receitas significativas, enquanto o Estado está obrigado a pagar às concessionárias as portagens virtuais, cujo montante global cresce com o grande aumento do tráfego das SCUT em causa.
quarta-feira, 29 de agosto de 2007
Veto
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Vital Moreira
Embora seja um leigo em matéria de organização militar e de forças de segurança, afiguram-se-me em geral muito pertinentes as objecções do Presidente da República que justificam o seu veto ao estatuto da GNR. Por isso, embora podendo confirmar a diploma sem alterações, a maioria parlamentar socialista faria bem em tomar em boa conta as razões de Belém.
"Anti-americanismo primário"
Publicado por
Vital Moreira
«Há quem diga que George W. Bush não vai aguentar até ao fim do mandato, mas julgo que o mundo não vai ter essa sorte. Infelizmente, para a América e para o mundo, este barco não é o Titanic, e ainda vai demorar muito tempo a ir ao fundo.» (Domingos Amaral, Diário Económico de hoje).
Em que comprometido silêncio se encontra a coorte doméstica de bushistas, neocons e neoliberais em geral, que ainda há dois ou três anos fulminava análises destas como crime de "anti-americanismo primário"? Que vergonha, deixar desamparados, com o seu torpe silêncio cúmplice, a humilhação dos seus heróis de ontem, agora que o bushismo de afunda sem honra nem glória!..
Em que comprometido silêncio se encontra a coorte doméstica de bushistas, neocons e neoliberais em geral, que ainda há dois ou três anos fulminava análises destas como crime de "anti-americanismo primário"? Que vergonha, deixar desamparados, com o seu torpe silêncio cúmplice, a humilhação dos seus heróis de ontem, agora que o bushismo de afunda sem honra nem glória!..
Um pouco mais de seriedade, sff
Publicado por
Vital Moreira
Marques Mendes foi fazer uma visita ao MNAA, oportunamente ciceroneado pela directora cessante, numa óbvia encenação para os média, que colaboraram alegremente (a "máquina de propaganda do PSD a funcionar", diria J. Pacheco Pereira, se não visse só a dos outros...). Nessa visita-conferência-de-imprensa, o presidente do PSD denunciou o "crime" do afastamento da referida directora.
Há três notas a registar: (i) como candidato a Primeiro-ministro (credível ou não...), MM deveria cuidar mais da propriedade da sua linguagem política, pois trata-se de um caso de exercício de um poder, perfeitamente legal, de cessação de uma comissão de serviço num cargo público de livre nomeação (e exoneração); (ii) MM deveria ter um pouco de pudor na denúncia de supostos "saneamentos" políticos alheios, quando é certo que ainda recentemente o Estado foi judicialmente condenado a indemnizar uma vaga de "saneamentos" ilegais, esses sim, do seu próprio Governo; (iii) uma directora de um estabelecimento público em funções, ainda que de saída, não deveria prestar-se a "fretes" partidários tão grosseiros como este, um puro caso de indecoroso abuso de funções públicas, que nenhuma revindicta pessoal pode justificar.
Adenda
Saúdo esta visão convergente de J. Pacheco Pereira. Ainda bem!
Há três notas a registar: (i) como candidato a Primeiro-ministro (credível ou não...), MM deveria cuidar mais da propriedade da sua linguagem política, pois trata-se de um caso de exercício de um poder, perfeitamente legal, de cessação de uma comissão de serviço num cargo público de livre nomeação (e exoneração); (ii) MM deveria ter um pouco de pudor na denúncia de supostos "saneamentos" políticos alheios, quando é certo que ainda recentemente o Estado foi judicialmente condenado a indemnizar uma vaga de "saneamentos" ilegais, esses sim, do seu próprio Governo; (iii) uma directora de um estabelecimento público em funções, ainda que de saída, não deveria prestar-se a "fretes" partidários tão grosseiros como este, um puro caso de indecoroso abuso de funções públicas, que nenhuma revindicta pessoal pode justificar.
Adenda
Saúdo esta visão convergente de J. Pacheco Pereira. Ainda bem!
USA 2008 - a "golpaça"
Publicado por
Vital Moreira
Na corrida de 2008 para a Casa Branca não se preparam somente as candidaturas em cada campo. Preparam-se também as manobras para tentar evitar a provável derrota eleitoral dos Republicanos. A mais notória é a que o New York Times relatava há dias, sobre uma iniciativa referendária na Califórnia destinada a alterar o modo de eleição dos representantes do Estado -- o maior da União -- no colégio eleitoral presidencial.
Actualmente, em quase todos os Estados da União (salvo o Maine e o Nebraska, dos mais pequenos) o partido que ganha em cada Estado elege automaticamente todos os representantes desse Estado no colégio eleitoral presidencial. Se a proposta californiana fosse aprovada, os membros desse Estado no colégio eleitoral seriam eleitos uninominalmente nos "distritos eleitorais" da Câmara dos Representantes, o que permitiria uma certa divisão entre os dois grandes partidos.
Sob essa capa de selecção aparentemente mais justa está, porém, uma grosseira "habilidade" em favor dos Republicanos. Na verdade, na hipótese provável de os Democratas ganharem na Califórnia, eles deixariam de contar com uma parte dos 55 membros no colégio (que significam mais de 1/10 da composição deste), enquanto que nos demais Estados, onde não está em curso nenhuma mudança idêntica, se manteria a regra "the winner takes it all". Ou seja, os Republicanos continuariam a eleger todos os representantes nos Estados onde ganharem, ao passo que, mesmo perdendo na Califórnia, contariam com uma parte dos representantes desse Estado (na actual repartição de lugares na Câmara dos Representantes detêm 19 dos 53 deputados).
Existem muitas propostas para reformar o injusto sistema eleitoral presidencial norte-americano. Mas de duas, uma: ou se abole o colégio eleitoral, sendo o Presidente eleito por sufrágio universal a nível nacional (o que teria garantido a vitória a Gore contra Bush em 2000); ou se mantém o colégio eleitoral, mas adoptando um sistema de repartição dos representantes estaduais em todos os Estados (pelo menos os mais importantes), e não apenas em alguns.
Actualmente, em quase todos os Estados da União (salvo o Maine e o Nebraska, dos mais pequenos) o partido que ganha em cada Estado elege automaticamente todos os representantes desse Estado no colégio eleitoral presidencial. Se a proposta californiana fosse aprovada, os membros desse Estado no colégio eleitoral seriam eleitos uninominalmente nos "distritos eleitorais" da Câmara dos Representantes, o que permitiria uma certa divisão entre os dois grandes partidos.
Sob essa capa de selecção aparentemente mais justa está, porém, uma grosseira "habilidade" em favor dos Republicanos. Na verdade, na hipótese provável de os Democratas ganharem na Califórnia, eles deixariam de contar com uma parte dos 55 membros no colégio (que significam mais de 1/10 da composição deste), enquanto que nos demais Estados, onde não está em curso nenhuma mudança idêntica, se manteria a regra "the winner takes it all". Ou seja, os Republicanos continuariam a eleger todos os representantes nos Estados onde ganharem, ao passo que, mesmo perdendo na Califórnia, contariam com uma parte dos representantes desse Estado (na actual repartição de lugares na Câmara dos Representantes detêm 19 dos 53 deputados).
Existem muitas propostas para reformar o injusto sistema eleitoral presidencial norte-americano. Mas de duas, uma: ou se abole o colégio eleitoral, sendo o Presidente eleito por sufrágio universal a nível nacional (o que teria garantido a vitória a Gore contra Bush em 2000); ou se mantém o colégio eleitoral, mas adoptando um sistema de repartição dos representantes estaduais em todos os Estados (pelo menos os mais importantes), e não apenas em alguns.
Para além do admissível
Publicado por
Vital Moreira
É evidente que tanta ignorância e confusão sobre sistemas de "corporate governance" como a denunciada por J. Vasconcelos Costa é demais, sobretudo num jornal de referência. O Público precisa de se cuidar!
terça-feira, 28 de agosto de 2007
"Claustrofobias"
Publicado por
Vital Moreira
«Têm razão - ainda que da forma mais tortuosa - os que se queixam do ambiente claustrofóbico que reina na comunicação social portuguesa. Ele não resulta, porém, das práticas de censura do governo, mas sim da incapacidade da classe política para debater publicamente os temas que contam na actualidade nacional e internacional.»
(Teodora Cardoso, Jornal de Negócios de hoje).
(Teodora Cardoso, Jornal de Negócios de hoje).
Estado social
Publicado por
Vital Moreira
Uma das garantias mais básicas dos direitos fundamentais é o direito de acesso ao direito e aos tribunais, sem discriminações, designadamente por efeito de incapacidade económica. Acaba de ser revisto o respectivo regime legal, com reforço do apoio judiciário, incluindo a dispensa de taxa de justiça e o pagamento de consulta e patrocínio forense pelo Estado, em termos mais generosos do que anteriormente.
É pena que entre nós não seja obrigatório publicar a previsão oficial de encargos financeiros resultantes da implementação das leis (cuja estimativa deve, porém, constar dos projectos de diploma), quer em termos de perda de receita (isenção da taxa de justiça), quer em termos de pagamento, pela segurança social, das remunerações dos profissionais forenses que participam no serviço. Mas a sua divulgação ajudaria a justificar publicamente e a legitimar socialmente o esforço fiscal que o Estado social exige.
É pena que entre nós não seja obrigatório publicar a previsão oficial de encargos financeiros resultantes da implementação das leis (cuja estimativa deve, porém, constar dos projectos de diploma), quer em termos de perda de receita (isenção da taxa de justiça), quer em termos de pagamento, pela segurança social, das remunerações dos profissionais forenses que participam no serviço. Mas a sua divulgação ajudaria a justificar publicamente e a legitimar socialmente o esforço fiscal que o Estado social exige.
Teste democrático
Publicado por
Vital Moreira
A eleição de Abdulá Gul para Presidente da República da Turquia - o primeiro presidente religioso do País -- vai ser um teste democrático: se a eleição vai ser o começo de uma furtiva subversão islamista da República laica (como temem os círculos laicos mais ortodoxos) ou se vai ser a prova de que a democracia turca está suficientemente madura para ter sem problemas um chefe de Estado religioso num Estado radicalmente laico (como sustenta o partido no poder).
É evidente que a questão não interessa somente à Turquia, nem sequer à União Europeia, da qual aquele pretende tornar-se membro. A compatibilidade entre a democracia e o Islão é uma questão chave da nossa era.
É evidente que a questão não interessa somente à Turquia, nem sequer à União Europeia, da qual aquele pretende tornar-se membro. A compatibilidade entre a democracia e o Islão é uma questão chave da nossa era.
Balanço político
Publicado por
Vital Moreira
Segundo o Correio da Manhã, «Sócrates pressiona ministros», referindo-se à execução orçamental e ao cumprimento do défice.
Mas há "outra pressão" a fazer pelo PM. Tendo sido cumprida a primeira parte da legislatura e a dois anos das eleições, é altura de fazer o balanço do que foi feito e do que está por fazer. Há medidas em falta ou atrasadas, que não podem ficar para o último ano.
Mas há "outra pressão" a fazer pelo PM. Tendo sido cumprida a primeira parte da legislatura e a dois anos das eleições, é altura de fazer o balanço do que foi feito e do que está por fazer. Há medidas em falta ou atrasadas, que não podem ficar para o último ano.
Contas partidárias
Publicado por
Vital Moreira
A punição da generalidade dos partidos políticos pelo Tribunal Constitucional por ilegalidades na apresentação e prestação das contas das contas das eleições de 2005 revela que o sistema de escrutínio e de responsabilização previsto na lei de 2003 está a funcionar em pleno.
Ainda bem!
Adenda
É evidente que as ilegalidades na apresentação das contas, punidas com coima pecuniária, não são o mesmo que financiamentos proibidos (por exemplo, por empresas, como sucedeu no caso Somague -PSD), que hoje constituem crime e são punidas com pena de prisão.
Ainda bem!
Adenda
É evidente que as ilegalidades na apresentação das contas, punidas com coima pecuniária, não são o mesmo que financiamentos proibidos (por exemplo, por empresas, como sucedeu no caso Somague -PSD), que hoje constituem crime e são punidas com pena de prisão.
Notas a Vilaverde Cabral
Publicado por
Vital Moreira
Numa entrevista ao Diário Económico de hoje, diz M. Vilaverde Cabral:
1. O nosso "semipresidencialismo" (aceitemos a qualificação por comodidade) não tem funcionado como puro parlamentarismo (basta pensar no poder de veto presidencial, no poder de dissolução parlamentar independente, nos altos cargos de nomeação presidencial, no poder de externalização pública de posições políticas pelo Presidente, etc.), mas sim como aquilo que é e foi desejado pelo menos desde a revisão constitucional de 1982: um parlamentarismo cum poder moderador presidencial.
O nosso sistema político-constitucional não é um genuíno semipresidencialismo, no sentido de cotitularidade e co-exercício do poder executivo pelo Presidente da República, à maneira francesa.
2. Tudo se opõe à presidência do conselho de ministros pelo Presidente, salvo a título excepcional. Há a letra da Cosntituição, que só permite que o PR presida ao Conselho de ministros a convite do Primeiro-ministro; e há a lógica do sistema constitucional, que confere a condução da política governamental (e a respectiva responsabilidade política) ao Governo, sob direcção do PM, e não ao PR.
Quem tem poderes de supervisão (ou seja, o Presidente) não pode compartilhar da actividade supervisionada.
3. A ideia de criação de um partido presidencial a partir de Belém não é somente descabida e fora-de-tempo (nem Eanes foi tão longe); constituiria também um grave abuso e desvio de poder por parte do Presidente que o fizesse.
«O nosso semipresidencialismo tem sido completamente parlamentarismo, com poucas excepções. (...) O relançamento institucional do sistema seria um cenário de reforço dos poderes presidenciais. Não é preciso muito. Não há nada na Constituição que proíba o Chefe de Estado de presidir ao Conselho de Ministros. (...) Por outro lado, era importante fazer um partido a partir do Presidente da República, como já aconteceu.»Como é bom de ver, discordo inteiramente destas considerações, que venho combatendo há trinta anos:
1. O nosso "semipresidencialismo" (aceitemos a qualificação por comodidade) não tem funcionado como puro parlamentarismo (basta pensar no poder de veto presidencial, no poder de dissolução parlamentar independente, nos altos cargos de nomeação presidencial, no poder de externalização pública de posições políticas pelo Presidente, etc.), mas sim como aquilo que é e foi desejado pelo menos desde a revisão constitucional de 1982: um parlamentarismo cum poder moderador presidencial.
O nosso sistema político-constitucional não é um genuíno semipresidencialismo, no sentido de cotitularidade e co-exercício do poder executivo pelo Presidente da República, à maneira francesa.
2. Tudo se opõe à presidência do conselho de ministros pelo Presidente, salvo a título excepcional. Há a letra da Cosntituição, que só permite que o PR presida ao Conselho de ministros a convite do Primeiro-ministro; e há a lógica do sistema constitucional, que confere a condução da política governamental (e a respectiva responsabilidade política) ao Governo, sob direcção do PM, e não ao PR.
Quem tem poderes de supervisão (ou seja, o Presidente) não pode compartilhar da actividade supervisionada.
3. A ideia de criação de um partido presidencial a partir de Belém não é somente descabida e fora-de-tempo (nem Eanes foi tão longe); constituiria também um grave abuso e desvio de poder por parte do Presidente que o fizesse.
segunda-feira, 27 de agosto de 2007
Para Eduardo Prado Coelho
Publicado por
Vital Moreira
Não fui amiga pessoal de EPC, embora tenha partilhado com ele a tertúlia que esteve na origem do Causa Nossa. Mas fui sua leitora habitual, durante anos. Faz-me falta pela sua alegria de viver (que lhe devia dar direito a não morrer tão cedo). Pela sua maneira de escrever, alternando a crítica dura com o reconhecimento generoso. Muito atento a muita coisa. Sem o vício de dizer mal por princípio. Como um entre nós, os portugueses, e não como quem julga sempre de cima.
A sua última crónica, publicada postumamente, foi sobre o Simplex e o percurso kafkiano da sua empregada brasileira para renovar a autorização de residência. Meu Caro Eduardo Prado Coelho, queria dizer-lhe que hoje de manhã mesmo meti as mãos à obra sobre o assunto. Gostaria de lho dizer pessoalmente. Infelizmente terá de ser a minha última homenagem. Prefiro-a a um ramo de flores. Com a certeza que teria o seu acordo.
Maria Manuel Leitão Marques
A sua última crónica, publicada postumamente, foi sobre o Simplex e o percurso kafkiano da sua empregada brasileira para renovar a autorização de residência. Meu Caro Eduardo Prado Coelho, queria dizer-lhe que hoje de manhã mesmo meti as mãos à obra sobre o assunto. Gostaria de lho dizer pessoalmente. Infelizmente terá de ser a minha última homenagem. Prefiro-a a um ramo de flores. Com a certeza que teria o seu acordo.
Maria Manuel Leitão Marques
Um a um, caindo vão
Publicado por
Vital Moreira
É dada como segura a demissão do ministro da Justiça de Bush, Alberto Gonzales. A confirmar-se a demissão, há muito devida, trata-se da queda de mais um dos mais direitistas membros da equipe presidencial, há muito sob sob acusação de purga política dos procuradores federais em vários Estados da União.
Depois da saída de Ronald Rumsfeld, Paul Wolfowitz e de Karl Rowe, entre outros comparsas menores, Bush vê-se privado de alguns dos seus mais dilectos apoiantes. A um ano do fim do mandato, o bushismo vai-se desmoronando...
Depois da saída de Ronald Rumsfeld, Paul Wolfowitz e de Karl Rowe, entre outros comparsas menores, Bush vê-se privado de alguns dos seus mais dilectos apoiantes. A um ano do fim do mandato, o bushismo vai-se desmoronando...
Democracia liberal
Publicado por
Vital Moreira
Numa carta ontem no Público, Mário Soares reitera a sua crítica à "democracia liberal", enquanto declinação do neoliberalismo.
Acompanho o antigo Presidente da República na rejeição do neoliberalismo social, mas tenho muitas dúvidas sobre a vantagem em deixar nas mãos da direita neoliberal, mais liberal do que democrata, o exclusivo do conceito de democracia liberal, que nada obriga a descartar de um ponto de vista de esquerda.
O conceito nasceu para designar o sistema político nascido da democratização do liberalismo clássico, provocada pelo sufrágio universal, pela universalização da cidadania e pela intervenção das massas na vida política. Trata-se de um síntese não isenta de tensões, em que a componente democrática é limitada pelas liberdades pessoais e políticas (garantias dos direitos fundamentais) e em que a componente liberal é limitada pelos requisitos democráticos (inelegibilidades, limites dos mandatos, obrigação de democracia partidária, proibição de organizações racistas ou fascistas, etc.).
A democracia liberal, enquanto categoria política, não supõe necessariamente um Estado liberal no campo económico e social. Pelo contrário, a conjugação da democracia liberal e do Estado social constitui a grande tradição democrática europeia.
A meu ver, de um ponto de vista de esquerda, o argumento não deve ser o de alienar a democracia liberal, mas sim defendê-la contra o risco de descarnamento democrático ínsito no neoliberalismo económico e social. Quando o liberalismo radical tende a recuperar a antiga oposição entre liberalismo e democracia, sacrificando a segunda ao primeiro, incumbe à esquerda defender a democracia liberal enquanto síntese da liberdade e da democracia política.
Acompanho o antigo Presidente da República na rejeição do neoliberalismo social, mas tenho muitas dúvidas sobre a vantagem em deixar nas mãos da direita neoliberal, mais liberal do que democrata, o exclusivo do conceito de democracia liberal, que nada obriga a descartar de um ponto de vista de esquerda.
O conceito nasceu para designar o sistema político nascido da democratização do liberalismo clássico, provocada pelo sufrágio universal, pela universalização da cidadania e pela intervenção das massas na vida política. Trata-se de um síntese não isenta de tensões, em que a componente democrática é limitada pelas liberdades pessoais e políticas (garantias dos direitos fundamentais) e em que a componente liberal é limitada pelos requisitos democráticos (inelegibilidades, limites dos mandatos, obrigação de democracia partidária, proibição de organizações racistas ou fascistas, etc.).
A democracia liberal, enquanto categoria política, não supõe necessariamente um Estado liberal no campo económico e social. Pelo contrário, a conjugação da democracia liberal e do Estado social constitui a grande tradição democrática europeia.
A meu ver, de um ponto de vista de esquerda, o argumento não deve ser o de alienar a democracia liberal, mas sim defendê-la contra o risco de descarnamento democrático ínsito no neoliberalismo económico e social. Quando o liberalismo radical tende a recuperar a antiga oposição entre liberalismo e democracia, sacrificando a segunda ao primeiro, incumbe à esquerda defender a democracia liberal enquanto síntese da liberdade e da democracia política.
Imprudência legislativa
Publicado por
Vital Moreira
Mesmo sem compartilhar de todas as objecções do Presidente da República, estou de acordo com o veto da lei que estabelece um novo regime da responsabilidade patrimonial do Estado, especialmente no que se refere à responsabilidade pelo funcionamento dos serviços públicos e à responsabilidade por omissões legislativas. Penso que existe alguma imprudência e, mesmo, leviandade politcamente correcta no reconhecimento do direito à indemnização em termos tão amplos.
Não é aliás caso único esta tendência para, em nome da protecção dos direitos dos particulares contra o Estado, levar as garantias dos primeiros ao extremo, sem um adequado equilíbrio com o interesse público. Outro exemplo relativamente próximo está na lei do processo dos tribunais administrativos e fiscais, sobretudo em matéria de providências cautelares, que levou a uma explosão da litigância administrativa e a um activismo judicial nem sempre pautado pela devida contenção.
Não é aliás caso único esta tendência para, em nome da protecção dos direitos dos particulares contra o Estado, levar as garantias dos primeiros ao extremo, sem um adequado equilíbrio com o interesse público. Outro exemplo relativamente próximo está na lei do processo dos tribunais administrativos e fiscais, sobretudo em matéria de providências cautelares, que levou a uma explosão da litigância administrativa e a um activismo judicial nem sempre pautado pela devida contenção.
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