domingo, 14 de novembro de 2004

As culpas de Guterres

Tendo participado nos "Estados Gerais" de 1994-95, fui contudo um dos primeiros críticos da governação de Guterres, especialmente no segundo governo. Basta recordar as minhas crónicas da época no Público. Por isso estou particularmente à vontade para discordar dos que consideram uma imperdoável "fuga" a sua demissão no seguimento da derrota das eleições locais de Dezembro de 2001, como insiste António Barreto no Público de hoje. Na altura defendi mesmo a demissão, como exercício de responsabilidade democrática. Parece-me evidente que nas circunstâncias -- sem maioria parlamentar, à mercê das oposições, perante uma crise financeira já declarada, depois do descrédito dos orçamentos "limianos" --, já não existiam condições mínimas de governação. A pesada derrota das autárquicas -- que foi uma inequívoca moção de censura popular ao Governo -- tornaria insuportável a posição do Governo, sujeitando-o a uma permanente flagelação pela falta de apoio político e arrastando por mais um ano (talvez até ao chumbo do orçamento seguinte) uma agonia governativa de que a primeira vítima seria o País.
Talvez ele devesse ter submetido uma moção de confiança ao Parlamento, obrigando as oposições a derrubá-lo (ou a proporcionar a formação de outro governo com condições de governabilidade), mas não compreendo como é que se lhe poderia exigir que permanecesse em funções nessas condições, contribuindo desse modo para agravar a crise de confiança política e a crise das finanças públicas, por falta de apoio parlamentar para adoptar medidas de disciplina financeira, como se tinha mostrado em relação às severas medidas de controlo da despesa pública propostas por Pina Moura no verão de 2001.
As culpas de Guterres estão antes, no mau governo, e não na demissão. Ele pagou com a demissão o seu insucesso governativo, e o PS com a derrota nas eleições subsequentes, como é próprio da democracia. Não creio que se deva reescrever a história desse período especialmente contra ele, em vista da disputa presidencial que se aproxima.

sábado, 13 de novembro de 2004

Acossamento

No congresso do PSD foram frequentes as queixas sobre a crítica dos "media" -- desde Santana Lopes a Morais Sarmento, entre vários --, sempre sublinhadas com vivos aplausos dos delegados. Só faltou o improvável ministro Gomes da Silva a reincidir na sua original tese da conspiração "objectiva". Mas é evidente que nas hostes do partido governamental reina o ressentimento contra a imprensa (apesar dos comissários governamentais em acção no meio) e que nele medra uma sensação de acossamento. Costuma ser um sinal antecipado de derrota...

Do Capitólio à Rocha Tarpeia

Manuela Ferreira Leite, então ministra das Finanças, foi entusiasticamente ovacionada como heroína no último Congresso do PSD. Não participa sequer no actual Congresso, depois de se ter oposto à investidura de Santana Lopes como presidente do partido e primeiro-ministro sem um congresso "ad hoc". É hoje uma militante simplesmente desprezada e indesejada. Se porventura viesse dizer perante o Congresso o que lhe vai na alma sobre o abandono da sua política de rigor orçamental e disciplina financeira receberia provavelmente uma monumental vaia.
Quando o populismo toma conta da política vai uma pequena distância da glória ao ostracismo...

Patrocínio pouco recomendável

Durante anos, Santana Lopes andou a vender proselitamente o velho elixir de «uma maioria, um governo, um presidente». Autocandidatou-se mesmo para ser a componente presidencial do tal três-em-um. Ontem, porém, ao anunciar o apoio do PSD a uma eventual candidatura presidencial de Cavaco Silva (solução que antes considerara desastrosa), SL acrescentou -- no que pode ser uma declaração combinada -- que isso depende de uma decisão pessoal do antigo primeiro-ministro e que se trata de uma «candidatura acima dos partidos» --, o que manifestamente não condiz com a famosa palavra de ordem.
O que é que mudou? Mudou o essencial, ou seja, o agora desejado candidato (à falta de outro com algumas chances eleitorais) nunca aceitaria disputar as eleições presidenciais numa "santíssima trindade" com esta maioria e com este governo, sob pena de alijar à partida qualquer hipótese de chegar a Belém. Esta maioria e este governo não são parceria recomendável para ninguém...

"Palestino", não "palestiniano"

«Não digam, não escrevam "palestinianos". É um seguidismo desnecessário da palavra francesa ou inglesa equivalente. Até há pouco, todos os dicionários incluíam apenas a palavra "palestino". Agora contêm também o neologismo "palestiniano" mas referem que se trata de estrangeirismo. Desgraçadamente, o novel Dicionário da Academia é omisso quanto a "palestino". Melhor fora que tivesse ficado pela palavra em que findou a primeira tentativa de Dicionário - "azurrar". Como então alguém satirizou, acabou onde os burros começam...
A verdade é que ninguém diz "filipiniano" ou "argentiniano". Se nós, portugueses, não defendermos a nossa língua, quem o fará?»

(M. Gaspar Martins - Porto)

sexta-feira, 12 de novembro de 2004

Cavaco e Guterres: acabou o tabu?

Afinal, depois de tantas voltas e reviravoltas, o longo mistério das presidenciais parece ter desfecho anunciado. Segundo tudo indica, será mesmo um duelo Cavaco-Guterres, como os amantes de emoções fortes gostariam de ver em cena.

Guterres quebrou o silêncio, esta semana, num congresso da Associação 25 de Abril, para tecer algumas considerações relativamente previsíveis mas carregadas de «subentendidos» políticos sobre a situação actual do país. E Cavaco foi mesmo a grande novidade do discurso de Santana Lopes na abertura do congresso do PSD.

Santana é um verdadeiro artista e, por isso, pouco lhe importará que aquilo que ainda ontem dizia sobre as desvantagens de uma candidatura presidencial de Cavaco se tenha subitamente metamorfoseado em vantagens evidentes. Resistirá o Professor a esta avenida que se abre à sua frente, ele que, mais do que nunca, faz questão em assumir uma postura suprapartidária? É óbvio que os tabus tácticos não acabaram, nem o de Cavaco, nem o de Guterres. Mas serão apenas isso, apenas tácticos. A não ser que...

Arafat: contrastes e paradoxos

No espaço de escassas horas, pudemos ver o contraste quase irreal, mas cruamente revelador, entre as imagens das cerimónias fúnebres no Cairo e do enterro de Arafat em Ramallah. Primeiro, uma cena gélida e perfeitamente coreografada, com os autocratas árabes alinhados ao lado uns dos outros como se fossem múmias (só a emoção da filha de Arafat destoava verdadeiramente). Depois, o caos e a histeria popular em Ramallah, esse luto furioso e agressivo dos deserdados. Duas cenas complementares do desconcerto e impotência árabe.

Agora que Arafat foi enterrado (mas com o mistério a pairar acerca da causa efectiva da sua morte) volta a especular-se sobre a possibilidade de uma saída para a trágica questão palestiniana. Mas quem acredita verdadeiramente nisso? A esperança de um Estado palestiniano independente não foi apenas boicotada sistematicamente pelo poder israelita e seus protectores americanos. Foi-o também pela incapacidade da liderança de Arafat em conseguir passar da clandestinidade para a luz do dia: da resistência armada para a construção de uma entidade política digna desse nome.

O ideal palestiniano não teria porventura sobrevivido sem Arafat. Mas também é certo que esse ideal acabou por ser condicionado pelos acidentes da sobrevivência política de Arafat. Chefe incontestado da nação palestiniana, apresentou-se como solução do problema até que acabou por tornar-se, também, parte do problema.

O autocratismo de Arafat favoreceu a incompetência e a corrupção da direcção palestiniana, num reflexo em pequena escala dessas detestáveis oligarquias árabes que se fizeram representar, com pompa e circunstância, no Cairo. Arafat foi, sem dúvida, um dos últimos ícones do séc. XX (o outro que resta é Mandela). Mas que o seu desaparecimento possa ser visto, e não apenas por Bush e Sharon, como uma esperança para o futuro da Palestina constitui uma ironia trágica na longa tragédia de um povo.

Vicente Jorge Silva

Arafat morreu. A Palestina resiste, logo vive.

Arafat vai hoje a enterrar. Todos os palestinianos o choram, mesmo os que justa ou injustamente o criticaram. Ele é o pai-fundador da naçao palestina (e a barriga de aluguer involuntaria, a contragosto, é Israel). E a um pai, que lutou encarniçadamente, contra tudo e todos, para impor a naçao, agradece-se e perdoa-se tudo (o fundador de Portugal, até na própria mae batia e os portugueses encolhem os ombros... ).
A naçao de Arafat está viva. Resiste, logo existe. Resiste por todas as formas à humilhaçao diária de uma ocupaçao tao brutal como refinada na perfidia, uma ocupaçao que só pode ser imposta por quem interiorizou o sofrimento de muitas geraçoes, ao ponto de tanto se desumanizar.
Presto emocionada homenagem a Arafat. O heroi, o lutador, o combatente infatigável, o politico astuto, o lider caloroso e profundamente humano, até nos erros. O homem que deu esse passo gigante, decisivo, que só um forte e corajoso líder podia dar, de reconhecer a existencia do Estado de Israel, para trazer um dia a paz aos dois povos e à regiao. Porque a Palestina existe no mapa, resiste na Cisjordania, em Gaza, em Jerusalém, no coraçao de cada palestiniano na diáspora e na consciencia de cada cidadao do Mundo. Porque a naçao Palestina há-de ter um Estado e viver em paz com Israel. Porque Arafat, um homem pequenino de grande visao e força animica, nunca nunca desistiu de lutar.

Ana Gomes

A praça edificada

Dando seguimento a um pedido de um munícipe, o Ministério Público pediu a anulação judicial da deliberação da Câmara Municipal de Coimbra, datada de 2003, que aprovou um empreendimento imobiliário numa ampla praça pública junto ao Estádio Municipal, cujo espaço foi cedido para o efeito a um grupo privado. O negócio foi justificado pela necessidade de realizar dinheiro para pagar o dito Estádio, reconstruído para o Euro 2004. A questão é que essa privatização imobiliária conflitua manifestamente com o destino da praça no Plano Director Municipal.
Porém, as obras já estão praticamente terminadas e dezenas de apartamentos estão vendidos, pelo que uma eventual anulação judicial pode vir a ter nulos efeitos práticos. Ora, o MP tem a incumbência constitucional de defender a legalidade, podendo impugnar directamente os actos administrativos ilegais. Tudo justifica que esse poder seja exercido especialmente quando a ilegalidade importar graves prejuízos para o interesse público e ainda mais quando não haja nenhum lesado especial que esteja interessado em impugnar o acto. Era manifestamente o caso. Sendo "prima facie" evidente a ilegalidade, o MP deveria ter actuado imediatamente, sem necessidade de pedido de ninguém, suscitando também a suspensão cautelar dos efeitos do licenciamento, para impedir a consumação da ocupação da praça.
É lamentável ter de concluir que muitas barbaridades urbanísticas (e outras), geralmente de notória ilegalidade, só vingam porque o Ministério Público não exerce as funções que constitucionalmente lhe incumbem.

quinta-feira, 11 de novembro de 2004

O regressado

Para ficar, ou para "desaparecer" de novo?

"Roubo" fiscal

Já não basta que rendimentos por conta de outrem paguem o IRS no próprio momento em que são recebidos, através de "retenção na fonte", ao contrário dos outros rendimentos, que só pagam no ano seguinte. Além disso, os montantes retidos são propositadamente superiores ao imposto a pagar, pelo que o Estado arrecada abusivamente dinheiro dos contribuintes, que só lhe devolve um ano depois (quando entretanto já se está a apropriar de mais retenções excessivas).
Segundo os cálculos da imprensa de hoje, o excesso de retenção chega a 22%, o que dá muitos milhões de euros de "empréstimo" forçado e gratuito desses contribuintes ao Estado, todos os anos. Esse "roubo" vai aumentar no próximo ano com a anunciada decisão de não reduzir as retenções em conformidade com a prometida baixa de IRS, o que quer dizer que a mesma, ainda que diminuta, só vai ter efeitos práticos em 2006.
Além de não poderem fugir ao fisco (como a generalidade dos demais contribuintes) e de pagarem o IRS "à cabeça", o Estado ainda lhes retira furtivamente uma parte suplementar das suas remunerações. O abuso agrava a iniquidade.

Um herói do século XX


Yasser Arafat (1929-2004)

Ele encarnou a luta e a determinação do povo palestiniano pela dignidade e pela autodeterminação.

"Cartograma" político dos Estados Unidos

Três investigadores da Universidade de Michigan elaboraram este mapa eleitoral da eleição presidencial, em que os estados aparecem redimensionados de acordo com a sua população (em vez da dimensão territorial). O vermelho identifica as zonas republicanas; o azul, as democratas; a púrpura, as zonas equilibradas. A imagem deste mapa permite corrigir a impressão visual dada pelos mapas eleitorais habituais, que apresentam uma avassaladora predominância do vermelho, devida à vitória de Bush em numerosos estados territorialmente vastos mas de escassa população, contrariamente ao que sucede com as vitórias de Kerry. A imagem artificial é portanto mais verdadeira (desastre democrata, mas nem tanto)...

Not welcome

Segundo o Financial Times, a crescente sensação entre estudantes e investigadores estrangeiros de que não são bem-vindos nos Estados Unidos, incluindo uma política restritiva de vistos, levou à primeira queda das matrículas estrangeiras em Universidades norte-americanas desde há 30 anos. O contrário é que seria de admirar. Quem lucra são as universidades britânicas, australianas e neozelandezas.

quarta-feira, 10 de novembro de 2004

Contenção sindical

Foi tornada pública uma primeira análise da CGTP sobre a Constituição europeia. Como era de esperar, carregam-se as objecções -- a maior parte delas porém sem fundamento -- e omitem-se ou desvalorizam-se os aspectos favoráveis, como por exemplo a Carta de Direitos Fundamentais, referida de passagem. Mesmo assim, e tendo em conta o peso dominante que o PCP e o BE (ambos fortemente contrários à Constituição) têm na central sindical, o que prenuncia uma posição idêntica, a declaração sindical fica aquém de uma condenação imediata. Prudência ou cálculo?

Causa Aberta: Pela escrita

«Qual é a minha causa?
É uma causa tão simples!
Eu sou professora de Língua Portuguesa do 2.º ciclo do ensino básico e "... só quero que eles gostem de ler e de escrever..." Vai daí lembrei-me: "E se eu usasse a net como aliada?"
E comecei com isto, mais tarde lembrei-me disto. Vão lá ver e digam se eles gostam ou não!»
Emília Miranda

Habilidades

Afinal a anunciada e magra diminuição do IRS não é para valer inteiramente já no próximo ano, no que respeita ao imposto retido na fonte, sendo uma parte da redução adiada para 2006 ou mesmo depois. Assim se limita em metade o impacto orçamental negativo no próximo ano e se faz "render o peixe" politicamente com a litania da baixa de impostos durante mais tempo. Nada se anunciou quando a idêntico faseamento do corte dos benefícios fiscais à poupança, que portanto vão ser integralmente suprimidos no próximo ano, com o correspondente aumento de impostos para os até agora beneficiários. Aumento, já; descida, às fatias...

terça-feira, 9 de novembro de 2004

Um Constituição para os cidadãos europeus

Na minha coluna de hoje no Público (também reproduzida no Aba da Causa) contesto um argumento de António Barreto contra a Constituição Europeia, mostrando que, ao contrário do sustentado por este, ela constitui um enorme avanço no reconhecimento e garantia de direitos para os cidadãos europeus.

«Portugal rouba mar à França»

Com este título provocatório do seu artigo de hoje no Público, Teresa de Sousa denuncia a "soberanite aguda" que se apossa dos círculos anti-europeus sempre que se avança na integração europeia. Eis uma passagem:
«A última dose de "soberanite aguda" provocada pelo novo tratado constitucional chegou com o seu artigo 10.º, que subordina o direito nacional ao direito da União. Como as pescas, há mais de trinta anos que é assim. Como com o mar, a descoberta não é descoberta nenhuma, é apenas mais uma tentativa de instrumentalizar o desconhecimento e a ignorância das pessoas a favor de uma ideologia antieuropeia bastante comum na intelectualidade portuguesa (mas não na sociedade portuguesa) que vê sempre no último tratado - seja ele Maastricht, Nice ou o actual - a derradeira fronteira da defesa da nossa soberania nacional. Nice era péssimo. Passou a ser um poço de virtudes, desde que não haja novo tratado.»
Com efeito!

O muro

Há 15 anos, quando o muro de Berlim caiu, encerrou-se um longo capítulo -- a princípio heróico, depois trágico -- da história europeia e mundial. Verdadeiramente o séc. XX, que foi o século da ascensão e queda do comunismo, terminou aí, ao menos simbolicamente. O que resta daquele algures (Coreia do Norte, Cuba) são cadáveres adiados que já nada procriam. A recente integração de meia dúzia de países do antigo "bloco socialista" na UE testemunha a rapidez e o sucesso da transição democrática por que passaram.

segunda-feira, 8 de novembro de 2004

A carta de condução

ou
Motivos para a ausência prolongada

Nunca sei o que escrever em todo o tipo de formulários sempre que chega o espaço em branco reservado à "profissão". Mas poderei dizer com tranquilidade que me inclino cada vez mais para uma actividade relacionada com o teatro. Ao fim de alguns anos disto posso dizer que encontrei um padrão, um estranho, bizarro mas fascinante padrão: a minha vida torna-se bem mais interessante durante as temporadas de espectáculos em que estou envolvido.
Não o sei explicar, não tentarei sequer, mas é um facto. Há qualquer coisa que passa do palco para a vida no exterior. Um algo misterioso que me dá confiança e que conjuga uma série de acasos positivos. Por isso, mais do que o vazio a seguir à estreia, sinto-me particularmente triste no último espectáculo das temporadas. Tão perturbado como nos dias de aniversário - perante a constatação de que, inevitavelmente, estou um ano mais velho. Por outro lado, descobri sem querer que - com as "URGÊNCIAS" - algo novo mudou no que à minha própria maturidade diz respeito. Todas as pequenas peças me tocam, emocionam de determinada forma. Talvez tenha chegado a altura, no que a Teatro diz respeito, de tirar a carta de condução - isto é, de aceitar confortavelmente o facto inexorável de que estarei (e quero estar) ligado a este mundo para o resto da vida.
Porque descobri que não são importantes os meus 27 anos de vida mas sim o pormenor deste ser o meu 18ºespectáculo de teatro (contabilizando diversas funções nas fichas técnicas dos ditos dezoito).
Pai, mãe... já sou adulto, maior e imputável. Venha a meia-idade que não há tempo a perder.

publicado em Urgências

50 anos do CÉNICO DE DIREITO

Foram 7 anos da minha vida. Os 5 do curso de Direito e mais 2 ainda porque não conseguia abandonar. Agora, dois anos depois de ter saído do grupo - antes que me tornasse definitivamente em parte da mobília -, regresso ao convívio do Cénico de Direito, para celebrar o 50º aniversário de um dos mais antigos grupos de teatro universitário da Europa.
Um dia destes, se não estiver demasiado lamechas, escreverei aqui - com minúcia e tempo - histórias desses anos que tive o privilégio de viver num grupo onde já passaram Lúcia Sigalho, João Grosso, Fernando Midões, Luís Miguel Cintra e muitos outros que poderão encontrar aqui.

Infelizmente, faltará Malaquias de Lemos, o fundador (falecido há pouco mais de um ano) - que homenageamos com saudade. Para já, volto ao palco para participar nos "Cães Danados", adaptação inédita do guião original de Quentin Tarantino, e n"A Kulpa", adaptação de "O Processo" de Kafka. Passem por lá.


Festival de Teatro do 50º Aniversário do Cénico de Direito

LISBOA (CIDADE UNIVERSITÁRIA)


CÉNICO DE DIREITO: Cães Danados - dia 12, Sala de teatro da Cantina Velha
SIN-CERA: Alice no País das Maravilhas - dia 13, Sala de teatro da Cantina Velha
CÉNICO DE DIREITO: A Kulpa - dia 15, Sala de teatro da Cantina Velha
O NARIZ: Viemos Todos de Outro Lado - dia 17, Sala de teatro da Cantina Velha
CÉNICO DE DIREITO: À Espera de Godot - dia 18, Sala de teatro da Cantina Velha
CÉNICO DE DIREITO: Coisas de Mulher (estreia) - dia 22, Salão Nobre da Reitoria


LEIRIA (ORFEÃO VELHO)

Cães Danados - dia 19

À Espera de Godot - dia 21

A Kulpa - dia 26

Coisas de Mulher - dia 27

Outras actuações :

Coisas de Mulher - dia 28, Coimbra (Festival ACTUS)

Bloga lá Disto

Não costumo gostar rigorosamente nada de blogues individuais, dedicados à vidinha do autor, relativamente irregulares na edição, com títulos a armar ao pingarelho e munidos de (blhearrgh!) comments. Mas... - não há regra sem excepção - foi um prazer, para ao mais ao fim de meses quase sem descobertas relevantes, encontrar o blogue do título.
A autora é a John e merece ser encontrada. Para mais, vai mantendo o seu blogue há quase um ano "no ar" - o que faz dela uma veterana nestas andanças. Além da perseverança, tem ainda uma escrita fluida, coloquial, despretensiosa - e, mais importante que tudo o resto - com muito sentido de humor. Provando assim que ainda há pérolas por descobrir no mundo virtual. Façam-lhe publicidade que ela merece.

Alerta

Desapareceu do seu blogue, há já cerca de um mês, Luís Filipe Borges (açoriano de 27 anos). Foi avistado pela última vez nuns posts publicitários que escreveu para amigos e vestia uma boina preta com 10 anos. A PSP alerta para outras particularidades do jovem blogger como a notável incapacidade para postar imagens como deve ser e o extraordinário atraso com que responde ao correio electrónico. Torna-se perigoso quando alcoolizado ou tomado por militante do Bloco. Se o avistar, ou possuir qualquer informação que possa conduzir ao seu paradeiro, é favor alertar o Causa Nossa - onde o jovem é esperado para inquérito quanto às causas da ausência e posterior espancamento. Obrigado.

domingo, 7 de novembro de 2004

Novíssima Cartilha Ilustrada

Num país onde há excesso de sisudos, é sempre de saudar quem decide partilhar o seu humor. É esse o caso Pedro e Rodrigo Monteiro, autores assumidos da Novíssima Cartilha Ilustrada («produto não recomendado pelo Estado Português»), ontem publicada pela Pé de Página.
Sobre ela, Moisés escreveu: «Convém separar as águas, esta não é uma obra como as outras». E não é de facto: é muito mais divertida, de A a Z, passando pelos ditongos e sem esquecer, no final, a lista de outras obras dos autores, tais como «Cem Anos de Sol e Dão» (sobre o Portugal turístico do século XX), o «Capachinho Vermelho» (Estaline afinal era careca), «Mamã Subversa», etc, etc.
Justamente dedicado ao Dr. Bayard, tal como os seus rebuçados, este livro fará como «não sofra mais», pelo menos nos minutos em que o estiver a ler.

Maria Manuel Leitão Marques

Causa Aberta: As causas pelas quais me movo

«Ansiar ser surpreendida por um sentido de humor único e que me fascine. Acreditar que ainda existem pessoas interessantes que, diariamente, nos fazem ler e reler, com prazer, um blog como este. Cruzar-me na rua com alguém que me sorria e me faça sorrir. Acreditar que, à medida que crescemos, não é o mundo que se torna mais ambíguo, apenas somos nós que nos recusamos a interpretá-lo de forma linear. Acreditar que, da próxima vez que alguém me pergunte se sou feliz, o possa responder de forma convicta, correcta ou não.»
Inês Baptista

Causa Aberta: Faço minha a vossa causa

«Porque a "causa nossa" faz parte do meu itinerário quotidiano e porque se trata de um trajecto fraterno e plural, em cujos conteúdos, de uma maneira geral, me revejo.
Porque me identifico com a maioria dos posts e porque alguns dos seus autores constituem, para mim, referências significativas do ponto de vista intelectual, ético e ideológico.
Porque para além das convicções, estar à esquerda é também um descomprometimento livre e solidário (...). Por tudo isto faço também minha a vossa causa.»

João Rui David

Pluralismo de opinião na televisão

Sebastião Lima Rego, da Alta Autoridade para a Comunicação Social, discorre no Público de hoje sobre o pluralismo na comunicação social e, em especial, na televisão. A meu ver, a questão do pluralismo de opinião -- pois só deste se trata -- só é um problema nos meios de comunicação onde existem limitações públicas ao número de operadores.
No caso dos "media" de serviço público, o pluralismo em cada um deles ("pluralismo interno") é inerente à sua própria definição. No caso dos "media" privados, havendo acesso livre e um grande número de operadores (incluindo limites à concentração), tendo cada um o direito de escolher a sua própria orientação, o resultado natural é um maior ou menor pluralismo "externo" (ou seja, no conjunto dos diversos órgãos). É essa a lógica da imprensa.
Não assim no caso da televisão, onde, por razões de limitação do espectro radioeléctrico e de sustentabilidade económica, o número de licenças de utilização que o Estado concede é muito limitado (no caso português, apenas duas estações privadas). Nestas circunstâncias, se não houver uma obrigação de "pluralismo interno" (ou seja, dentro de cada estação) pode suceder que a opinião veiculada fique limitada a duas orientações ou mesmo a uma só, comum às duas estações. Ora, o privilégio da utilização de um bem público (o espaço radioeléctrico), mediante licença pública, e a garantia de um mercado protegido devem ter como contrapartida uma obrigação de pluralismo de opinião, impedindo que cada estação seja posta ao serviço de uma única orientação política.

Tiro pela culatra

Segundo relata a imprensa, uma das palavras de ordem na manifestação dos estudantes universitários de 5ª feira passada em Lisboa era "Não à exclusão dos estudantes dos órgãos de gestão". Deixando de lado o pormenor de que ninguém propõe tal exclusão (há, sim, propostas de redução), é de notar que simultaneamente em Coimbra, onde os estudantes têm a mais forte influência no governo da universidade, os seus representantes apresentaram a sua demissão colectiva de todos os órgãos, a começar pelo senado.
A conclusão é simples. Eles só querem estar representados para poderem sair estrondosamente quando as coisas não correm de feição. Parece-me porém, uma manobra muito arriscada, caso se prove que a universidade funciona perfeitamente sem eles e que eles não fazem muita falta...

Agências de propaganda

A propósito desta importantíssima análise do Público de ontem sobre as "agências de comunicação" -- que é de leitura obrigatória --, J. Pacheco Pereira publica no Abrupto um comentário de conhecedor, de onde respigo esta passagem:
Com a sua obsessão pela propaganda, o marketing, a publicidade, e a "imagem" , o grupo à volta do actual Primeiro-ministro tem profundas relações com estes meios, com jornalistas, profissionais de "relações públicas" e de "comunicação". Este é o outro lado complementar da tentativa directa de controlo da comunicação, ou seja, parte do mesmo processo. Em todos os sítios por onde passou, as despesas deste tipo elevaram-se exponencialmente, dando emprego e "negócios" a toda uma série de próximos que lhe manifestam, como é de esperar, fortes fidelidades pessoais e de grupo.
Acontece que este grupo não é constituído por necessariamente as mesmas pessoas e empresas que "já lá estavam" com os anteriores dirigentes do partido, portanto há toda uma partilha a fazer, com gente a ganhar e outra a perder. Isto ajuda a explicar o significado da denúncia do antigo director do Diário de Notícias, que levanta o véu sobre uma realidade política, insisto política, que até agora não tinha sido realmente escrutinada, porque está por detrás das paredes da casa do Big Brother.
Esclarecedor, não é?