terça-feira, 6 de julho de 2004

Come on, George! (III)

Há boas notícias, mesmo após a nossa derrota ante os gregos - ainda resta um grande número de individualidades disponível para aconselhar Jorge Sampaio sobre a crise José Barroso. Dizem-me que as colectividades também não regatearão esforços na busca de uma solução patriótica e que estão prontas para organizar um novo encontro no Beato. Haja esperança!...

Luís Nazaré

Come on, George! (II)

Meia hora depois de o analista Marcelo se ter declarado disponível para o lugar de primeiro-ministro, o presidente Santana Lopes veio dizer ao povo e a Jorge Sampaio para tirarem o cavalinho da chuva - PM só haverá um, Santana e mais nenhum. Que alívio!...

Luís Nazaré

segunda-feira, 5 de julho de 2004

Come on, George! (I)

Em directo na TVI, o analista Marcelo Rebelo de Sousa não excluiu a hipótese de vir a ser o primeiro-ministro de Pedro Santana Lopes. Basta Jorge Sampaio querer...

Luís Nazaré

A impossível derrota

Não sei se é melhor perder-se bem contra um antagonista manifestamente superior, ou perder-se mal ante um adversário ao nosso alcance. Pouco importa. A verdade é que desbaratámos uma oportunidade irrepetível de nos sagrarmos campeões europeus.

O texto de VJS, Fatalidades mediterrânicas, mais abaixo, traduz fielmente o estado de espírito que acompanhou a Selecção até ao seu último combate e os previsíveis efeitos do desaire na psique nacional. Só discordo da análise "técnica" da partida - o nosso erro não foi a mistura fatal de auto-confiança e ansiedade mórbida. Pelo contrário, pecámos por falta de ambição, pelo medo de vencer, pela atitude fatalista nos momentos cruciais.

Eu, que estive na Luz, vi uma claque grega tão forte quanto o bloco defensivo da sua selecção. Em clara minoria, numa proporção de um para quatro, os cânticos helénicos calaram o mole público português, visivelmente apático e falho de dotes canoros. Aí começou a desgraça. À minha volta, estrangeiros de todas as nacionalidades perguntavam a cada instante se os adeptos portugueses estavam a poupar a voz para o prolongamento. Lá lhes dizíamos que não, cantarolando uns breves "olé, Portugal, olé", mas a coisa não era convincente. Ainda antes do início da partida, pressenti o pior.

Depois veio o medo. Traumatizada pela derrota na partida inaugural, a nossa Selecção refugiou-se na contenção táctica e acomodou-se ao jogo cínico dos gregos, numa atitude incompatível com a atmosfera de confiança e com a superioridade futebolística que vínhamos revelando. O nosso mal foi não termos caído em cima deles "que nem tarzões" desde o primeiro minuto, não lhes dando tempo para respirar nem espaço para evidenciar o seu pobre (mas honrado) futebol. A estratégia é isso mesmo - saber tirar partido das vantagens próprias. Pensar que se vence o adversário utilizando as mesmas armas do que ele é meio caminho andado para a desgraça. Como se viu.

Luís Nazaré

As "desgrécias" nacionais

1. Foi pena, mas o esforço não foi suficiente ou a ele não se juntou a sorte que também conta nestas coisas de jogos, como, aliás, em tantas outras. Mas raramente conta só. Organização, estratégia, trabalho e rigor tornam a sorte mais próxima. Auto-estima e apoio colectivo fazem-lhe muita falta. O que não faz de todo falta são as gravatas às riscas e outros amuletos equivalentes. Valem, afinal, aquilo que já sabíamos que valiam: nada. "Desgrécia" a de quem acreditou!
2. A chantagem que Alberto João Jardim faz sobre o Presidente é inqualificável. «Desgrécia» a nossa que temos de o ouvir. Resta a esperança que no meio do dito cujo contra-golpe se esqueça também de candidatar-se às próximas eleições regionais.

Sampaio prisioneiro na sua teia

Ignoro, como toda a gente, qual irá ser a decisão final de Jorge Sampaio: se aceita Santana Lopes como primeiro-ministro com, segundo consta, um ministro das Finanças credível (mas o que será, no fundo, inquestionavelmente, um ministro das Finanças credível?); ou se dissolve o Parlamento e convoca eleições antecipadas. Permito-me até duvidar se Sampaio saberá já qual a melhor decisão a tomar. Certo é que nenhuma será boa e satisfatória e qualquer delas o enredará numa teia de responsabilidades políticas directas na gestão da crise, com prejuízo do seu estatuto e da sua autoridade.

O que parece certo é que o dilema do Presidente foi, em grande parte, criado por ele e pela sua incapacidade de ver claro desde o momento em que se tornou evidente a apetência de Durão Barroso em fugir para Bruxelas. Ora, imagine-se que o Presidente, em vez de deixar-se aprisionar na sua habitual indecisão e ambiguidade, colocava desde o início Durão Barroso perante as suas responsabilidades e não lhe facilitava o abandono da chefia do Governo.

Imagine-se que Sampaio dizia a Barroso o seguinte: «Senhor primeiro-ministro, compreendo que o convite que lhe é feito constitui uma honra para si e para o país. Não ponho isso em causa nem a legitimidade da opção que entender tomar. Mas a sua saída do Governo numa altura tão crucial, a meio do seu mandato, interrompendo o objectivo que se propôs de recuperar a confiança nas finanças públicas e na economia nacional, abre uma grave crise política e institucional que provocará uma enorme instabilidade no país. Por outro lado, não há memória de que nenhum outro primeiro-ministro em funções na Europa (até em países que não atravessam uma situação tão difícil como a nossa) tenha aceite demitir-se das suas responsabilidades políticas internas para aceder a convite tão honroso. Peço-lhe que reflicta nisso e nas suas responsabilidades, sendo certo que não deixarei de tomar a decisão que melhor salvaguarde os interesses nacionais e de dar conhecimento imediato dela aos portugueses».

Não acredito que se Sampaio tivesse tido um comportamento tão claro com Barroso, este alimentaria as ilusões que se conhecem sobre a aceitação pacífica do Presidente de uma sucessão ao gosto pessoal do primeiro-ministro cessante (ou de uma alternativa Santana Lopes). Além disso, Sampaio e Barroso deviam desde logo ter concertado a necessidade de ambos explicarem imediatamente ao país o que estava em jogo, assumindo cada um deles as respectivas posições e responsabilidades. Como nenhum deles o fez, Sampaio ficou prisioneiro das notícias entretanto divulgadas pelos media e Barroso tratou de apressar a sua fuga para Bruxelas.

Finalmente, não se compreendem os critérios selectivos das personalidades convidadas por Sampaio a deslocar-se a Belém para consultas (porquê Rui Machete, João Salgueiro, Miguel Cadilhe ou Artur Santos Silva, por exemplo, e não outros com semelhante estatuto?) Porquê tanto tempo para ganhar tempo e arrastar uma (in)decisão que poderia ter sido evitada se o Presidente tivesse ideias claras e não mostrasse um comportamento tão errático desde o início da crise?

Agora, com o país político dividido a meio e o país económico entregue a estados de alma contraditórios, qualquer solução será sempre uma má solução. Tudo porque Sampaio não confrontou visivelmente Durão Barroso com as suas responsabilidades. A partir de agora, o Presidente ver-se-á enredado e fragilizado na opção que acabar por tomar. O que se traduzirá inevitavelmente num enfraquecimento da sua autoridade institucional, com reflexos preocupantes na grave situação em que o país se encontra e na parte final do seu mandato em Belém.

Vicente Jorge Silva

Fatalidades mediterrânicas

Como toda a gente, fiquei triste por não termos sido campeões da Europa, até porque confiava que aquele início desastrado contra a Grécia nos levaria a aprender a lição e tirar conclusões para a final. Havia mesmo um elemento de superstição complementar: quem perde no princípio ganha no fim. E não é suposto, apesar das provas em contrário, que a história se repita duas vezes.

Mas o fado (esse fado mediterrânico que deveria funcionar a nosso favor, numa inédita coincidência circular a nível futebolístico) foi linear, repetitivo. Os gregos resgataram-se da sua secular vocação da tragédia e os portugueses morderam, novamente, o velho pó da sua melancolia.

Depois da onda crescente de euforia que nos transportou até ao jogo decisivo, confiantes no engenho de Scolari e no talento dos nossos jogadores, acabámos outra vez traídos por essa mistura fatal de auto-confiança e ansiedade mórbida que o calculismo greco-germânico aproveitou em pleno. Mas, para consolação nossa, sempre poderemos dizer que há males que vêm por bem.

O Euro 2004 tornara-se uma nuvem de fumo que servira para ocultar a fuga de Durão Barroso para a Europa. A partir de ontem, voltámos a cair «na real» e acordámos da ilusão que o futebol tece. Apesar da gravata às riscas verde-rubras do primeiro-ministro cessante, tornou-se claro que ele queria mesmo escapar de um clássico destino trágico à grega (mas, de facto, à portuguesa). Agora, a evidência está à mostra. Fatalidades mediterrânicas...

Vicente Jorge Silva

estranha forma de vida

Na hora da glória, jogar mal, com ansiedade e morrer na praia. O futebol é literatura e ser português é isto.

domingo, 4 de julho de 2004

Sai agora teu funeral à rua

Sai agora teu funeral à rua. Uma pequena multidão te acompanha. Dentro em pouco descerás à terra. Não é justo.
Justo seria esperar pelo pôr-do-sol para então depor teu franzino corpo na orla branca da praia que amaste. Serena e lentamente, o mar te viria buscar, onda após onda, ao ritmo de quem respira quando ama. E te levaria para o lugar definitivo que só tu e ele sabem ser o teu.
Na claridade da manhã, uma inadvertida e espantada gaivota não saberia entender a gravidade daquele lugar. Nem que força, resistindo a qualquer bater de asas, a mantinha imóvel. Até que o grito de alegria da primeira criança na praia celebrasse o regresso da palavra... e a libertasse para o voo, livre de segredos e de sentidos de que nunca suspeitaria.

O que eu queria dizer-te nesta tarde
Nada tem de comum com as gaivotas.


Jorge Wemans

Sei agora mais algumas coisas de ti

"A vida dos que partem
é sempre mais venturosa
que a dura e triste sina
dos que ficam
recortando nos lugares habituais
e nos momentos comuns
o espaço da ausência
daqueles que amam.
"

Sei agora mais algumas coisas de ti.
Percebo que escreveste logo tudo da primeira vez. De jacto, por uma vez e para sempre, estavas toda ali. Nos primeiros versos, a que incansável e sempre renovada, voltaste vezes sem conta, já inscreveras tudo o que eras e serias.
De todos os cantos do mundo
Amo com um amor mais forte e mais profundo
Aquela praia extasiada e nua
Onde me uni ao mar, ao vento e à lua.


Percebo que andaste comigo pela mão desde muito cedo. Acompanhas-me desde aquele momento adolescente em que comecei a fazer-me diferente daquilo para que me tinham feito. Falei a tua cristalina palavra porque ela dizia o que obscuramente procurava.
(?)
A presença dos céus não é a Tua,
Embora o vento venha não sei donde.

Os oceanos não dizem que os criaste,
Nem deixas o Teu rasto nos caminhos.

Só o olhar daqueles que escolheste
Nos dá o Teu sinal entre fantasmas
.


Percebo por que nunca te resisti. Mesmo quando regressavas e eu pensava ter-te esquecido. Ou quando quis coisas que tu não querias. Quando disse acabado e velho o teu mundo. No tempo em que o sentimento atrapalhava a vida. Ou quando o mar foi só o sono do descanso. Mas nunca te resisti. Nunca te procurei. Chegaste sempre até mim pela mão de alguém.
(?)
Apenas sei que caminho como quem
É olhado amado e conhecido
E por isso em cada gesto ponho
Solenidade e risco


Jorge Wemans

Confissão para Sophia

Tu nunca soubeste, mas foste santo-e-senha, ponte e porta, abrindo para intimidades e cumplicidades. Os rostos ganhavam outra proximidade quando nos diziam que também frequentavam a tua poesia. Olhares que nunca retivéramos fixavam-se na nossa memória, só porque, inesperadamente, encontrávamos neles a recordação dos teus poemas. Mais do que qualquer outro, tu eras a graça da amabilidade do mundo. E tornavas amáveis todos os que de ti se reclamavam.
Como não amar a mulher que se diz, mostrando o traço a lápis com que se detivera aqui:

MÃOS
Côncavas de ter
Longas de desejo
Frescas de abandono
Consumidas de espanto
Inquietas de tocar e não prender.


Como não me socorrer de ti, lendo:
PROMESSA
És tu a Primavera que eu esperava,
A vida multiplicada e brilhante,
Em que é pleno e perfeito cada instante.


[Sabes que não gaguejo quando recito poesia?]

Como evitar o desafio daquele que "no tempo da selva mais obscura, na noite densa dos chacais" te diz:
(...)
E em frente desta gente
Ignorada e pisada
Como a pedra do chão
E mais do que a pedra
Humilhada e calcada

Meu canto se renova
E começo a busca
Dum país liberto
Duma vida limpa
E dum tempo justo


Que outra resposta senão:
Na clara paisagem essencial e pobre
Viverei segundo a lei da liberdade
Segundo a lei da exacta eternidade.


Combates, amores e amizades, tu os permitistes, tu os iluminastes.
Jorge Wemans

Conversa com Sophia

Sabes, o mundo estragou-se, estragou-se muito nestes últimos anos. No Uganda os homens tornaram-se abjectos lobos. Os horrores da limpeza étnica regressaram à Europa. Dos céus voltam a cair em território europeu bombas mortíferas que rebentam com cinco décadas de paz. Manhattan sucumbe debaixo de um ódio cego, traiçoeiro, velhaco e assassino. No Iraque instala-se a guerra. Um muro iníquo, vergonhoso e violento cresce impunemente todos os dias, dividindo, qual sinal de todas as derrotas, a Palestina. A Europa envelhece e os outros morrem de fome. O Planeta protesta exangue, mas ninguém o ouve. O mundo porta-se mal.
Sabes, por vezes toma conta de mim aquela melancolia adolescente dos finais de tarde de Setembro, quando a tranquilidade do cair da noite nos avisava do fim de um tempo. Quando se tornava claro que as férias iam terminar, que nunca mais voltaríamos a ser os mesmos - mesmo que aos mesmos locais regressássemos. "Nos derniers baisers". Voltaríamos, é verdade. Mas mais velhos, mais perros de sentimentos e mais presos a realidades que não eram dali e nos roubavam o sonho.
Ao olhar o mundo, sinto por vezes regressar essa melancolia: um certo modo de pensar, construir e viver a civilidade, a democracia, a justiça e a paz vai transformar-se num adolescente sonho de Verão? Num passado de cuja realidade passaremos a duvidar? Numa memória repudiada?
Preciso de te reler:

És tu que estás

És Tu que estás à transparências das cidades
Vê-se o Teu rosto para além dos bairros interditos.

O mal palpável próximo insistente
Parece tornar-Te evidente.

Sobe do destino uma sede de Ti.
Não somos só isto que se torce
Com as mãos cortadas aqui.


Jorge Wemans

M&M

Ouvi este comentário e não resisto a reproduzir: É uma pena que o PSD não tenha escolhido Marques Mendes para novo líder do partido. Seria um mal menor.

aforismos de directa (6:30 a.m.)

Uma mulher alcoolizada é uma bailarina expulsa da Companhia.

aforismos de directa (6:27 a.m.)

Um amigo diz-nos na cara o que alguns inimigos sussurram nas costas.

aforismos de directa (6:25 a.m.)

A diferença entre um otário que se leva a sério e um que não o faz é que o primeiro ainda não percebeu que o é.

É hoje!

Eu sei que vou chorar / de tristeza ou de alegria / eu vou chorar.

PSD ou PPD?

«O PSD dsapareceu e nasceu um outro PPD, tal como o CDS tinha desaparecido para nascer o PP.
O Populismo, paulatinamente, sem que se notasse muito conquistou um importante espaço no panorama partidário. E o que é pior, mas habitual noutras paragens, aliado aos piores interesses económicos, às redes da especulação imobiliária, das redes duvidosas do futebol e de tudo o que com elas está associado.
A Direita dos valores cedeu o seu espaço à direita dos interesses. O centro-direita deixou de estar representado em eleições. O Populismo vai apostar na demagogia, nas falsas promessas, na coligação de interesses mesquinhos em que o PSD se transformou e na clubite (que os dirigentes deste partido foram fomentando) para reter votos e enganar o antigo eleitorado do PSD e do CDS.
O sonho antigo de Santana de cindir o PSD e criar um grande partido político da direita populista foi conseguido, ultrapassando as antigas expectativas (nem sequer foi preciso cindir o PSD). Será que os sociais-democratas de direita não vão reagir e formar um novo partido, apesar das dificuldades derivadas de lhes terem roubado passo a passo o aparelho partidário?
Começa a haver muitos cidadãos cuja opinião não está representada no espectro partidário, o que é um sério risco para a democracia.
Se Santana e Portas representam um grande risco a curto prazo para Portugal e para a sua economia, bem como para a situação económica e social da população, sobretudo as camadas mais carenciadas e as classes médias, o facto atrás referido é verdadeiramente grave para o futuro de Portugal como país democrático.
Esperemos que a esquerda se saiba mostrar à altura deste desafio de verdadeira salvação nacional e que o eleitorado e as elites do centro e da direita dos valores saibam reagir e reorganizar-se.
Apesar de as suas posições não serem, quanto a mim, as que melhor defendem os portugueses, eles são necessários a uma democracia saudável que consiga combater a desilusão, o afastamento dos eleitores da política e esses grandes cancros da democracia que são a corrupção e o sectarismo e nepotismo. Tudo cancros que têm vindo a desenvolver-se nestes últimos dois anos.(...).»

(Carlos Braga)

sábado, 3 de julho de 2004

A pata de coelho

Num país que sofre de défice de cultura científica, em que passamos a vida a pregar a importância do rigor como condição para os bons resultados, na escola ou na economia, nada melhor do que esta febre da "pata de coelho" que nos invadiu nos últimas dias a propósito do Euro 2004. É o presidente da federação de futebol que não vai aos jogos para não dar azar ou o futuro ex-primeiro-ministro que não larga a gravata das riscas que dá sorte à selecção. (Hoje mesmo confessou: «só perdeu quando não a pus»!!!). Lá que guardassem a pata no bolso do casaco, seria um mal menor. Vir exibi-la para a televisão, cheios de orgulho, como se fossem iluminados sabe-se lá por quem, já me parece demais.

Maria Manuel Leitão Marques

No país das últimas coisas

Para a Sophia, este blog inteiro.

Sem escrúpulos

Depois de Manuela Ferreira Leite (ver post "Tempos Novos" abaixo) foi agora a vez de Cavaco Silva ser vítima de grosseira manipulação de informação em favor do novo líder do PSD, Santana Lopes.
Segundo o Expresso online, «o ex-primeiro-ministro Cavaco Silva desmente peremptoriamente informações segundo as quais teria dado o "aval" ao novo líder do PSD, Santana Lopes. "Desminto categoricamente", diz Cavaco em declaração ao EXPRESSO, considerando "desonesto" que o seu nome esteja a ser usado em "jogos políticos" em que não quer participar, ao mesmo tempo que evidencia preocupação com a crise resultante da ida de Barroso para Bruxelas».
Sabe-se obviamente de onde surgiram as ditas informações falsas. Se é assim com os correlegionários, o que será com os adversários? O novo PSD já dá para assustar!

Perguntas ao PS

«(...) No caso de haver eleições antecipadas era conveniente que o PS tivesse resposta para duas questões cruciais:
a) Se ganhar as eleições sem maioria absoluta, que é o resultado mais provável, vai o PS repetir a experiência dos governos minoritários de Guterres ou estará disponível para uma coligação governativa à sua esquerda? E com quem? Com o PCP, com o BE ou com ambos?
b) Que posição vai o adoptar em matéria de disciplina financeira e rigor orçamental? Vai abandonar o PEC? Vai abolir de novo portagens em auto-estradas? Vai repor o valor anterior das propinas unversitárias? Vai novamente empolar os quadros da função pública e aumentar os vencimentos acima da inflação?
(...)»

(JMS, Lisboa)

Comentário: Eu também penso que em caso de convocação de eleições estas (e outras) dúvidas devem ter oportunamente uma resposta clara. (VM)

«Tempos novos»

«Manuel Ferreira Leite afirma que votou contra o nome de Santana Lopes para a presidência do PSD. A ministra das Finanças desmente ainda que tenha pedido desculpa ao autarca de Lisboa e mantém a opinião de que a substituição directa de Durão Barroso por Santana é um golpe de Estado no partido.»
(website da SIC)

«Como se viu com a forma como foi "relatada" aos jornalistas a intervenção e o voto de Manuela Ferreira Leite no Conselho Nacional, já se percebeu como está a funcionar uma estratégia de "informação", ou seja, uma central de desinformação. Coordenada, organizada e intencional, destinada a obter efeitos políticos imediatos. Os jornais foram manipulados para contarem mentiras. Manuela Ferreira Leite nem pediu desculpas, nem votou Santana Lopes.
Está na altura dos jornalistas fazerem aquilo que sempre disseram que fariam quando as suas "fontes" deliberadamente mentem: denunciar os seus nomes.»

(J. Pacheco Pereira, link)
Sinais ominosos do que está para vir? "São Sampaio" nos valha!

Haja noção das proporções

«Vivemos a maior crise desde o 25 de Abril».
(Engª Maria de Lurdes Pintasilgo, antiga primeira-ministra (1979) e candidata à presidência da República (1985))

sexta-feira, 2 de julho de 2004

Sophia (1919-2004)

Hei-de ter algures a 1ª edição da "Geografia" (1967), por onde a "descobri". E também o cartaz com o seu poema dedicado à revolução de Abril («Esta é a madrugada que eu esperava / O dia inicial inteiro e limpo /...»). Ou a memória deste outro poema, oportunamente assinalado numa antologia:
Exílio
Quando a pátria que temos não a temos
Perdida por silêncio e por renúncia
Até a voz do mar se torna exílio
E a luz que nos rodeia é como grades
Felizes os países que são feitos de poetas assim!

Marlon Brando (II)

«Após a leitura do seu post sobre Marlon Brando, senti uma imperativa necessidade de o contactar, acrescentando uma informação de carácter pessoal.
Marlon Brando foi um dos grandes actores da sua geração, se não mesmo o maior, sendo legítimo até, como o faz justamente o New York Times, dizer que em "acting there's a pre-Brando and an after-Brando"; tornou-se ainda um símbolo de toda uma geração, e de algumas seguintes, que viveram o seu surgimento esplendoroso nos anos 50, passando pelo arrefecimento dos anos 60, e assistindo ao reavivar da sua carreira nos anos 70.(...)
O que gostaria de acrescentar é o seguinte: o brilhantismo de Marlon Brando, não só na sua profissão artística de actor mas também no seu modo irreverente de encarar a sua carreira e as suas envolvências, fá-lo extravasar as gerações que viveram o seu apogeu. Eu tenho 23 anos, e Marlon Brando também está entre os meus heróis. Hoje, também o meu coração está de luto.»

(ASC)

Não estás sozinho, Daniel (Força!)

«Boa tarde, caros amigos:
Desconhecem-me, a maior parte de vocês. Contudo, fazem parte do meu dia-a-dia, com os vossos pensamentos, irritações, devaneios, suspiros.
Decidi dar-me também a conhecer. Quero que se disponibilizem para me ler, pois claro! Uma relação, ainda que virtual tem duas partes, e eu pretendo agora ser ouvido! Estive a aturar as vossas indisposições, mal-estares, estive presente nos momentos felizes, dolorosos, até nos desconcertantes.
Marquei a minha presença assídua, rogo agora a vossa atenção. O vosso carinho, e, (eu sei que não é fácil), o vosso tempo. É terrível ter de o pedir, quando nem sequer sabiam que eu existia. Quando se calhar, fui eu que me intrometi numa relação a dois, entre vocês e a blogosfera. Terei sido um intruso?
Essa dúvida vai torturar-me, garanto-vos.
Mas quero ter a certeza de ter alguém do outro lado. Ou descobrir que, afinal, estou sozinho.
melhores cumprimentos

Daniel

PS: O blog chama-se "esteiros".»

Brando forever!

Morreu Marlon Brando. Lembrá-lo-ei sempre pela sua notável declamação do discurso de Marco António aos cidadãos romanos depois do assassínio de César no filme Júlio César (1953), que vi uma meia dúzia de vezes em virtude da minha adoração juvenil por Shakespeare. Desde então até ao estupendo O Padrinho, passando por Um Eléctrico Chamado Desejo, pela Revolta na Bounty, pelo Há Lodo no Cais e pelo Apocalypse Now, para citar só os filmes que mais me impressionaram, nunca mais deixei de o admirar na sua portentosa carreira de actor, a que a juntou a sua tumultuosa história pessoal feita de rebeldia e provocação às convenções, bem como uma meritória entrega a causas cívicas (designadamente a defesa dos direitos dos índios norte-americanos). Ele está entre os meus heróis.

As eleições e a estabilidade

Silva Lopes apresentou um dos melhores argumentos que já ouvi a favor das eleições antecipadas: o de que só elas poderão garantir alguma estabilidade e consolidação financeira nos próximos anos. É caso para dizer que as aparências iludem!
Na verdade, fosse qual fosse o partido que viesse a ganhar agora as eleições, iniciar-se-ia uma nova legislatura de 4 anos e, por isso, o vencedor não teria a tentação de desenvolver de imediato políticas de tipo eleitoralista (que também já não tinha tempo de praticar antes do acto eleitoral). Pelo contrário, essa tendência será quase inevitável com o cenário de um governo da actual coligação, governando a dois anos de eleições. E não se adivinham meios de poder travar tal desvario. Promessas, como se ouviu ontem, não faltarão. Mas teria o Presidente da República algum instrumento para pôr o Governo "no sério", por exemplo, se este viesse, nos próximos meses, a libertar o endividamento das autarquias ou a subir o ordenado dos funcionários muito a cima do que o bom senso financeiro nos aconselha?

Maria Manuel Leitão Marques

Quem enganou quem

«Só aceitei [a presidência da Comissão Europeia] depois de estar intimamente e plenamente convencido de que não se punha a questão das eleições antecipadas», terá dito Durão Barroso ontem no Conselho Nacional do PSD que procedeu à eleição do seu sucessor à frente do PSD. Só há duas explicações para esta declaração: ou recebeu previamente, ou julgou ter recebido, alguma garantia por parte do Presidente da República quanto à viabilidade de formação de um novo governo pela actual maioria parlamentar; ou então ele quis desculpar-se perante o Partido pela imprudência de ter abandonado o Governo sem se aperceber da crise política que iria abrir. Uma vez que o Presidente já declarou há dias que não assumiu nenhum compromisso quanto à solução a adoptar, e não havendo razões para duvidar da sua inexistência, só resta a segunda alternativa. A verdade é que, na sua ânsia para aceitar a presidência da Comissão, Barroso não quis sequer encarar as possíves sequelas da sua decisão, querendo acreditar que tudo correria bem e que o Presidente nada faria. Poder ser que sim, mas isso não altera o juízo sobre a leviandade ou insinceridade do ainda primeiro-ministro...