Depois de a maioria de direita ter votado com o PS as alterações à Constituição portuguesa, que visam adaptá-la ao futuro tratado constitucional europeu, o Governo acaba de confirmar o oportunismo errático, incoerente e serôdio da sua relação com a Europa, ao alinhar com o Reino Unido e outros expoentes do eurocepticismo contra um reforço da integração europeia. Fomos dos primeiros a subscrever a adopção da Constituição Europeia mas logo demos o dito por não dito, invertemos o sentido da marcha e riscámos "linhas vermelhas" contra a forma e a substância do nosso próprio compromisso. Alguém é capaz de perceber isto? Alguém vislumbra a visão estratégica que se esconde por detrás de tamanha e gritante incongruência? Estaremos a voltar outra vez aos tempos do cavaquismo mas seguindo um percurso inverso (quando Cavaco trocou o "thatcherismo" inicial por uma aproximação ao núcleo duro europeu)?
Dentro de dias, o já ausente debate europeu ameaça ser definitivamente eclipsado e pulverizado pelos efeitos do psicodrama do congresso do PSD. O anunciado duelo Santana-Durão ocupará os ecrãs e as primeiras páginas. A nossa pequenez doméstica e a nossa irrelevância internacional assumirão as proporções da caricatura periférica que não conseguimos deixar de ser. A Europa terá desaparecido em Oliveira de Azeméis.
Vicente Jorge Silva