sábado, 26 de abril de 2014

Antologia do desatino político

«Se não tivesse havido o 25 e Abril, o País estaria mais ou menos como está» (J. A. Saraiva, Sol desta semana).

sexta-feira, 25 de abril de 2014

40 anos

As crises e os governos passam, o 25A fica!

quarta-feira, 23 de abril de 2014

"Desvalorização interna" (2)

Não tendo moeda própria, Portugal só podia restabelecer a sua competitividade externa em tempo curto por via da "desvalorização interna".
Mas se a receita era incontornável, já a dose e o ritmo do remédio tinham uma margem de discrionariedade que no caso português foi usada de forma a tornar o ajustamento especialmente penoso, em termos de austeridade, recessão e desemprego, tudo aliás sem alcançar resultados correspondentes em termos de "desvalorização salarial". Acresce que, depois de falhada a tentativa de redução dos custos não salariais do trabalho em 2012 (proposta de corte substancial na TSU patronal), o Governo limitou-se a investir na redução salarial, com os inerentes custos sociais e políticos. Escassos resultados para tão elevados custos.

"Desvalorização interna" (1)

A tradicional desvalorização externa (ou seja, a desvalorização da moeda) produz imediatamente um choque de competividade da economia, pelo embaratecimento das exportações e pela consequente expansão económica, e só depois traz a perda generalizada de rendimentos, por via da inflação (que é relativamente "indolor"), sem corte no valor nominal daqueles. Ao contrário, a desvalorização interna começa pela redução efectiva de rendimentos (sem anestesia...), sobretudo dos salários, induzida por medidas de austeridade orçamental e pela consequente recessão, e só depois traz o aumento da competividade, pela redução dos custos dos bens exportáveis.
É por isso que a desvalorização interna é sentida de forma muito mais penosa do que a desvalorização externa, mesmo quando a perda real de rendimentos é de valor idêntico ou até menor.

Alvo errado

A lista da coligação governamental às eleições europeias faz campanha como se o PS fosse Governo. Ora os governos PS já foram julgados eleitoralmente na altura própria. Agora é o Governo do PSD e do CDS que está no pelourinho. As eleições "secundárias" não costumam servir para punir a oposição, mas sim o governo...

Riqueza artificial

«Liga portuguesa de futebol é a oitava mais rica do Mundo».
E também deve estar entre as que têm clubes mais endividados. É uma pecha ancional: viver acima dos recursos próprios...

quarta-feira, 9 de abril de 2014

O milagre das eleições

Numa vertigem de anúncios de efeito garantido, o Governo difundiu três novidades: a lista de dezenas projectos de obras públicas até 2020, a disponibilidade para elevar o salário mínimo para o próximo ano e um flirt com uma possível descida do IRS também em 2015.
Subitamente, tudo o que antes estava fora de causa, passou a ser possível. As execradas obras públicas passaram a ser virtuosas; o subida do salário mínimo já não causa despedimentos nem diminui a competitividade das empresas; e a receita fiscal já não é tão necessária para o equilíbrio orçamental. Explicação do suave milagre? Obviamente, as eleições de Maio deste ano e de Setembro do ano que vem!

Referendo (3)

Como é usual, a abstrusa proposta de referendo do BE teve logo um coro de apoios nos media.
Se o Bloco tivesse no eleitorado o apoio que tem nos media, ainda ganhava as eleições. Felizmente, as nozes são muito menos que as vozes...

Referendo (2)

É evidente que o tal referendo sobre a denúncia do Tratado Orçamental seria incontornavelmente inconstitucional, pelo que nunca poderia ter lugar. Primeiro, porque a Constituição não contempla a hipótese de referendos sobre denúncia de tratados internacionais, depois de ratificados; segundo, porque a CRP é clara quando exclui das matérias referendáveis as "questões e os actos de conteúdo orçamental, tributário ou financeiro" (CRP, art. 115º), sendo óbvio que o Tratado Orçamental versa sobre questões... orçamentais.
Mas que importam esses pequenos obstáculos constitucionais para o BE? Do que se trata é somente de fazer um "número" para a galeria da campanha eleitoral das europeias, mesmo sabendo da inanidade do exercício.

Referendo

Desde há muito que as propostas de referendo sobre matérias atinentes à integração europeia se tornaram um dos instrumentos de flagelação política preferidos da esquerda antieuropeia, sempre caracterizados pela irresponsabilidade e pelo oportunismo.
Desta vez, o Bloco de Esquerda, obviamente muito nervoso pela perspectiva de um mau resultado nas próximas eleições europeias, resolveu tirar da cartola o coelho de um referendo ao Tratado Orçamental, sem ter a coragem de propor directamente aquilo que seria o resultado inexorável da eventual denúncia desse tratado, que seria a saída do euro e, por arrastamento, a saída da União.
O que isto mostra, mais uma vez, é o fosso entre a esquerda pró-integração europeia, e pró-euro, e a esquerda de protesto, atavicamente contrária a uma e a outro. Esse fosso estrutural torna inviável qualquer discurso sobre a convergência entre as duas linhas ou qualquer hipótese de aliança de governo.

domingo, 6 de abril de 2014

Ilusões

Não faz sentido pensar que a solução para o nosso problema da dívida pública passa pela sua hipotética "mutualização" ao nível dos Estados-membros da UE (via eurobonds ou algo similar), o que faria diminuir o peso dos juros.
É evidente que uma hipotética mutualização da responsabilidade pelas dívidas soberanas -- se alguma vez vier a existir -- só será aceitável pelos países do Norte quando o risco de todas elas for relativamente baixo e o diferencial de juros entre elas for muito menor do que é hoje.
Para isso, porém, é preciso primeiro fazer o trabalho de casa quanto ao saneamento das finanças públicas, obtenção de saldos orçamentais primários, estancamento do endividamento, enfim aplicação do Tratado Orçamental. Ou seja, se alguma vez vier a ser realidade, a mutualização da responsabilidade pelas dívidas soberanas será um "prémio" pela disciplina orçamental e pela redução dos juros da dívida, não um substituto.

"Uma vida antiga que é importante ter presente"

Conheci muitas das grandes figuras da resistência antifascista nos meus anos no PCP. Deixei de os ver há décadas, mas nunca perdi o respeito e admiração que a sua dura luta merece. É bom voltar a encontrá-los nas entrevistas sensíveis e informadas de Anabela Mota Ribeiro, nos 40 anos do 25 de Abril.
Para que se não esqueça que o fascismo, afinal, existiu.

sábado, 5 de abril de 2014

Gostava de ter escrito isto

«Se tivesse um pingo de vergonha, o PSD nunca mais pronunciaria o nome BPN».
(Miguel Sousa Tavares, Expresso de hoje).

Voto obrigatório?

Ao longo das quatro décadas de democracia constitucional entre nós não têm faltado propostas no sentido de tornar o voto obrigatório.
São vários os argumentos a favor do voto obrigatório em geral: diminuir a abstenção e travar a erosão da legitimidade eleitoral da democracia; responsabilizar todos os cidadãos pelo destino e governo da República; tornar mais equitativa a representação social, visto que a abstenção é maior nas camadas sociais de menor rendimento; retirar aos partidos de protesto e anti-sistema a vantagem relativa que lhes dá a maior militância dos seus votantes.
Há diversos países onde o voto é obrigatório (Bélgica, Grécia, Brasil, Argentina, Uruguai, Austrália, etc.), com diferentes graus de efectividade. E embora a participação eleitoral fique bem aquém dos 100%, existe uma evidente correlação entre voto obrigatório e menor abstenção. Obviamente, o voto obrigatório não impede o voto nulo nem o voto branco, que aliás tenderiam a aumentar.
Os principais argumentos contra o voto obrigatório são os seguintes: a democracia liberal não pode assentar no voto compulsório, que contraria a liberdade individual; uma democracia responsável só pode ter por base o voto informado e motivado; a abstenção também é um "voto" de consentimento no regime político.
No caso de Portugal, onde o voto já é constitucionalmente um "dever cívico" (sem efeito visível, porém), podem suscitar-se algumas dificuldades suplementares: possível inconstitucionalidade da obrigação de voto; cadernos eleitorais empolados com muitos eleitores fantasma ou duplicados; facilidade em inventar razões de escusa (os atestados médicos e os casos de objecção de consciência teriam um súbito pico...); ausência de uma cultura cívica de aceitação de obrigações públicas.
Mas estas dificuldades não deveriam servir para cancelar um debate sério sobre o assunto.

quarta-feira, 2 de abril de 2014

É a economia, estúpido!

A situação na Venezuela agrava-se e o caos económico, social e político está à vista.
Nunca tive nenhuma simpatia pelo "bolivarismo", mesmo no tempo de Chávez, como não tenho por nenhum populismo, por mais esquerdista que se apresente; mas Maduro, que não tem nem o carisma nem o génio do fundador, exibe a incontornável falência do regime.
Quando a economia não resiste aos tratos de polé da incompetência e da irresponsabilidade política, o povo é que sofre.

terça-feira, 1 de abril de 2014

Prognóstico reservado

Depois da fragorosa derrota da esquerda nas eleições locais em França, a nomeação de Manuel Valls -- normalmente conotado com a "direita" do PS francês -- para o cargo de primeiro-ministro marca uma inflexão política do presidente Hollande no sentido de uma maior atenção ao desempenho económico e ao equilíbrio das finanças públicas. Resta saber se há a vontade política para desencadear as necessárias reformas económicas e sociais.
Sendo conhecido o vezo esquerdista do PS francês, só pode haver um prognóstico reservado.

Limpeza a empobrecer


"O mais exasperante, para quem, como eu, anda dentro e fora do país, é notar o efeito da propaganda mentirosa do Governo na imagem que projecta de Portugal no exterior: em vez de fazer compreender a magnitude dos sacrifícios impostos aos portugueses, de fazer entender os desafios com que nos confrontamos, e de renegociar a dívida impagável e um programa de apoio à consolidação das contas e ao cumprimento dos critérios do Tratado Orçamental -  o que supõe investir no crescimento e no emprego em vez de os continuar a destruir - o governo de Passos Coelho-Portas, com eco pressuroso em Durão Barroso, alimenta a narrativa mistificadora da direita alemã, que precisa de ver e de vender Portugal como um caso de sucesso, mesmo que isso suponha que nos enforcam no que chamarão de uma "saída limpa". Limpeza, só se for em mais empobrecimento e destruição do país".



Texto que escrevi para o meu comentário de hoje no Conselho Superior /ANTENA 1 e que pode ser lido na íntegra na ABA DA CAUSA http://aba-da-causa.blogspot.be/2014/04/limpeza-empobrecer.html

Teses

A disciplina orçamental não é de esquerda nem de direita.
Não há nada de progressista no excesso de endividamento público.
O pior que se pode dizer do Estado social é que ele só é financiável com dinheiro emprestado.
A única coisa que um governo conseguiria se anunciasse um programa de reestruturação da dívida pública era o aumento dos juros e logo o encarecimento da dívida.

O que fica mais tempo

«Situação social na UE não melhorou apesar do início da retoma - Comissão Europeia».
A crise do Euro foi superada. A crise orçamental está em vias de o ser. A crise económica está a virar. Resta, porém, a crise social, que não vai desaparecer em pouco tempo.