Blogue fundado em 22 de Novembro de 2003 por Ana Gomes, Jorge Wemans, Luís Filipe Borges, Luís Nazaré, Luís Osório, Maria Manuel Leitão Marques, Vicente Jorge Silva e Vital Moreira
sexta-feira, 29 de julho de 2016
"Ultra vires"
Também o Presidente da Repúblico, ao saudar publicamente a não aplicação de multas pela União Europeia, achou por bem enunciar quais devem ser agora as prioridades políticas do Governo. Ora, o PR não tem poderes de superintendência política sobre o Governo, cuja condução política compete exclusivamente ao Primeiro-Ministro e ao Conselho de Ministros.
Gostaria de ver o Governo mais assertivo publicamente quanto à sua autonomia face a Bruxelas e Belém.
quinta-feira, 28 de julho de 2016
Equidade fiscal
Se tal for necessário, ouso sugerir agravamento do IVA sobre:
- a hotelaria, de 6% para 13%, visto que os hotéis não são seguramente serviços de primeira necessidade (pelo menos os de 4 e 5 estrelas) e não se entende que paguem menos IVA do que os restaurantes;
- as touradas: quem gosta desse espetáculo bárbaro não se importará de pagar uma sobretaxa;
- a compra e venda de eucaliptos, para compensar as lesões ambientais que a eucaliptização galopante do país provoca.
Excesso de zelo
Segundo esta notícia do Jornal de Negócios, a Comissão Nacional de Proteção de Dados considera "claramente inconstitucional" a transmissão ao fisco de certos dados bancários.
Duvido de tal inconstitucionalidade, e pelo menos não vejo onde é que ela é "clara". Primeiro, ao contrário do título da notícia, o Fisco não vai passar a ter acesso às contas e seus movimentos; são os bancos que transmitem a informação necessária, limitada a saldos e aplicações financeiras. Segundo, não é evidente que o "sigilo bancário", que não goza de explícita proteção constitucional, faça parte da "reserva da intimidade da vida privada", efetivamente protegida pela Constituição. Terceiro, uma vez que é a própria Constituição a remeter para a lei a definição de "dados pessoais", não se vê por que é que a prossecução de um interesse público tão importante como a luta contra a evasão fiscal não possa justificar uma delimitação mais restritiva dessa noção para este efeito.
Sem surpresa
Caso a maioria parlamentar de esquerda que aprovou o diploma insistisse em confirmá-lo (no que não acredito...), seria curioso saber se não se justificaria a fiscalização da sua constitucionalidade, na medida em que a proibição de concessão desses serviços a empresas privadas consubstancia uma restrição da autonomia municipal e uma violação da igualdade entre os municípios nesse aspeto.
Adenda
Quanto a uma possível confirmação parlamentar do diploma, cabe perguntar se não será exigível uma maioria de 2/3, na medida em que ao estabelecer uma reserva de setor público para os referidos serviços, o diploma em causa tem a ver com os limites entre os setores económicos, que é um dos casos em que a confirmação parlamentar de diplomas vetados exige aquela maioria qualificada (CRP, art. 136º-3).
quarta-feira, 27 de julho de 2016
Leniência
Fica assim de lado a meta oficial de 2,2% inscrita no orçamento deste ano, que praticamente já ninguém fora do Governo acreditava que fosse possível alcançar, dado o arrefecimento da retoma económica e os seus inevitáveis impactos orçamentais negativos. Mas é óbvio que concedendo esta nova meta orçamental menos exigente, a Comissão Europeia vai ter mão pesada no caso de ela não ser cumprida.
Além disso, com o alívio relativo das metas orçamentais deste ano, vai ser muito mais árduo conseguir realizar as metas do plano de estabilidade orçamental relativas ao próximo ano. Por isso, o orçamento de 2017 torna-se um exercício ainda mais exigente do que já era.
Em Bruxelas não há leniência grátis...
Adenda
O aumento de défice deste ano de 2,2% para 2,5% vai traduzir-se num acréscimo do endividamento público em cerca de 500 milhões de euros. Embora muita gente tenda a esquecer, mais défice significa mais dívida.
Sensatez
Adenda
A Comissão decidiu não aplicar as multas mas não abdicou da possibilidade de suspender as fundos comunitários no próximo ano, se não forem cumpridas as metas orçamentais deste ano.
segunda-feira, 25 de julho de 2016
Reversão
Lead da minha coluna no Diário Económico digital da semana passada. Contra a renacionalização da política de comércio externo da UE.
Prémio
Estes resultados são tanto um prémio para a política "amiga dos cidadãos" do Governo (fim da austeridade, recuperação de rendimentos, salário mínimo, simplificação administrativa, etc.) como uma punição para a ineficácia da oposição da direita, que continua desprovida de mensagem consistente, baseada num discurso "tremendista", à espera de um desastre da "geringonça".
sábado, 23 de julho de 2016
I Governo constitucional
Ainda nesse mesmo ano realizaram-se também as primeiras eleições regionais nos Açores e na Madeira (junto com as eleições presidenciais) e as primeiras eleições locais (12/12/76). Só faltaram as eleições europeias, que vieram mais tarde (1987), depois da adesão à CEE em 1986.
Foi um ano cheio em termos eleitorais, sem paralelo na nossa história!
Adenda
Nesta fotografia há duas notas a assinalar: não havia nenhuma mulher entre os ministros e fumava-se na sala de sessões da AR em plena tomada de posse, mesmo sem cinzeiros à mão.
sexta-feira, 22 de julho de 2016
Ficção política
Primeiro, estes meses mostraram o fosso intransponível entre o PS e os seus parceiros de maioria parlamentar em matérias tão decisivas como a UE, a disciplina orçamental e a dívida pública. Segundo, os dois partidos da extrema-esquerda não têm nenhum interesse em comprometer-se politicamente no Governo, visto que só lhes interessa "sacar" do PS as vantagens acordadas, sem terem de pagar o preço pela corresponsabilização em outras politicas, num quadro de solidariedade governamental e de apoio ao Governo sem derrogações.
Mesmo que cada um desses partidos aceitasse colaborar com o PS num governo comum (o que é muito problemático...), já nenhum deles concebe compartilhar com o outro uma mesa de conselho de ministros num "ménage a trois" com o PS. Imaginar um ministro do BE ao lado de um ministro do PCP pertence à ordem da ficção política.
Adenda
Noto agora que a proposta é para concretizar somente depois das autárquicas do próximo ano, o que pressupõe que nessa altura o PS ainda terá força política bastante para um segundo ciclo governativo e que o Presidente da República estaria disponível para aceitar a demissão e reconduzir o primeiro-ministro para um segundo Governo. Saúda-se a confiança...
For the record
Regista-se e aplaude-se o compromisso presidencial. Há matérias que pela sua própria natureza pertencem à reserva da democracia representativa e da responsabilidade partidária, preferivelmente por maioria qualificada, devendo ficar imunes às conjunturais paixões plebiscitárias.
quinta-feira, 21 de julho de 2016
Ai, a dívida!
- Portugal é o único dos países referidos que teve um considerável aumento dos juros (tabela 2, última coluna);
- Portugal é, de longe, o País que mais viu agravar a sua diferença para a Alemanha (tabela 3, última coluna).
2. É por isso que é essencial reforçar o desempenho orçamental e o controlo do endividamento público, a fim de melhorar a notação de risco da dívida pública portuguesa e baixar os juros.
Se os juros sobem apesar da rede de segurança mantida pelo BCE na compra de dívida pública no mercado secundário, o que poderá suceder quando esse programa cessar?
quarta-feira, 20 de julho de 2016
Pro memoria
Resta a consolação de que os seus nomes ficam registados para memória futura, expostos à devida exprobação dos vindouros.
Acordos parlamentares
Nestes casos, torna-se indispensável a negociação de acordos parlamentares entre os dois principais partidos a fim de obter essas maiorias. É fácil de compreender que a quebra desses gentlemen's agreements parlamentares - como sucedeu hoje na frustrada eleição do novo presidente do Conselho Económico e Social - abala a confiança institucional sem a qual nenhuma democracia parlamentar pode funcionar.
Há mais numa democracia parlamentar do que o cumprimento da Constituição e do regimento da AR...
Chapeau!
Já disse uma vez, sem grande exagero, que se tivesse os votos correspondentes à sua influência nos média, o Bloco ganharia as eleições. O PCP bem pode ter maior número de militantes, mais o controlo da CGTP, o que lhe dá um incomparável poder de mobilização e de protesto social, mas que tem cada vez menor poder multiplicador nas eleições; o Bloco não compete em nenhum desse fatores mas tornou-se uma assinalável máquina de luta política e eleitoral.
2. A constituição da "geringonça" governamental veio aumentar a assimetria entre o poder ideológico dos neocomunistas do Bloco e o dos velhos comunistas do PCP.
Enquanto os primeiros não perderam tempo nem têm escrúpulos em cooptar em seu proveito as medidas do Governo, como se este fosse seu, enchendo o país com cartazes a celebrar as suas conquistas e inundando as televisões com porta-vozes seus a celebrarem o triunfo da narrativa "anti-austeritária" e antieuropeísta, o PCP não consegue esconder o seu constrangimento com a sua integração na maioria governamental, e os seus poucos militantes com acesso às televisões mostram-se incapazes de descolar da linguagem tradicional, cada vez menos convincente.
Tirando partido com mestria das oportunidades que a nova situação política (e o PS) lhe proporcionam no Parlamento, nas tribunas públicas, nas televisões e nas instituições, o Bloco é o grande triunfador político da "geringonça", mercê da falta de contestação da banda do PS (cortesia da aliança parlamentar) e do crescente acantonamento político do PCP.
Independentemente de saber se é um triunfo duradouro, há que reconhecê-lo. Chapeau!
terça-feira, 19 de julho de 2016
Táxis
Tendo sido porventura a primeira pessoa a defender publicamente a liberalização da atividade, só tenho que saudar a posição da AdC e esperar, sem excessiva expetativa, que o Governo lhe dê seguimento (ao contrário do que sucedeu com idêntica recomendação da AdC quanto à liberalização das farmácias, que ficou na gaveta, até agora...).
Caso encerrado, salvo factos supervenientes
Caso arrumado, portanto, pelo menos até outubro, quando o quadro da execução orçamental estiver a 3/4 do ano financeiro.
Sem precedente
Atá agora com considerável expressão no poder local, em dezenas de municípios, o chamado orçamento participativo é um instrumento privilegiado para chamar os cidadãos a intervir na esfera pública e a decidir diretamente o financiamento de certas políticas públicas. O nome é enganador, pois não se trata de participar na decisão orçamental do Governo e do Parlamento, mas sim de a exercer diretamente, sendo por isso uma espécie de referendo informal atípico.
Seja como for, há que saudar esta iniciativa, que de resto cumpre um compromisso do programa eleitoral do PS e do programa do Governo. Oxalá seja bem sucedida como têm sido a experiência ao nível municipal, e venha para ficar, servindo também para ajudar a generalizar este mecanicismo de intervenção popular aos orçamentos das regiões autónomas e de todos os municípios do País.
segunda-feira, 18 de julho de 2016
O homem errado no lugar errado
Os Tories vão rejubilar com a recondução do líder trabalhista, cujo esquerdismo e cuja falta de apelo eleitoral manterão o Labour na oposição por muitos e maus anos. De partido de governo o Partido Trabalhista torna-se um mero partido de protesto. Triste destino...
domingo, 17 de julho de 2016
Deriva antidemocrática
Na sua sanha de depuração dos "inimigos internos", a Turquia afasta-se provocatoriamente do consenso do Estado de direito democrático europeu. A UE e os aliados da Turquia na NATO, incluindo Portugal, vão fechar os olhos a esta repressiva deriva antidemocrática?!
Ou será que só vemos derivas antidemocráticas quando elas ocorrem em Moscovo, em Caracas ou em Luanda?!
Adenda (18/7)
Esta segunda-feira, a União Europeia diz que vai enviar uma mensagem forte à Turquia sobre a defesa do Estado de direito. Esperemos que seja bem forte e que seja devidamente convincente.
Só não via quem não queria
Vejo agora que o BCE tinha exposto as mesmas objeções numa carta até agora não conhecida. Jurando que desconhecia na altura a posição do BCE, limito-me a comentar que aquelas objeções eram, e são, tão evidentes, que só não via quem não queria.
Aqui ao lado
Com um défice superior a 5% em 2015, ainda sem orçamento aprovado este ano, sem governo nem perspetivas de vir a ter um governo com maioria parlamentar, a eventual amenização da sanção da União Europeia por incumprimento da disciplina orçamental no ano passado pode vir acompanhada de pesadas condições quanto às metas orçamentais no corrente ano e no próximo.
Rajoy apressou-se a anunciar um aumento das receitas fiscais, no valor de 7500 milhões de euros. Mas parece que a Comissão Europeia exige bastante mais. Citando fontes europeias, o El País fala numa correção orçamental de 10 000 milhões de euros!
2. O facto de a situação espanhola ser mais preocupante pode ajudar Portugal a receber uma sentença mais leve no procedimento de défice excessivo (PDE) em vias de conclusão.
Mas ilude-se quem pensa que ela virá sem condições quanto ao desempenho orçamental deste ano e do ano que vem, a não ser que o Governo convença a Comissão de que, apesar dos fatores em contrário, desde logo o sensível abrandamento da economia, o País não está está em risco de derrapagem orçamental, .
A 27 de julho se saberá...
Adenda (18/7)
O Governo espanhol argumenta que não precisa de medidas adicionais porque o forte crescimento económico (mais de 3%) vai fazer baixar naturalmente o défice orçamental (aumento das receitas fiscais e diminuição das despesas sociais). Mas este argumento contraria toda a racionalidade orçamental da UE: é justamente porque em Espanha o ciclo económico está em alta, que o saldo orçamental nominal deveria ser zero ou mesmo positivo, a fim de respeitar a norma sobre o equilíbrio do saldo estrutural (que é o saldo orçamental nominal descontado dos efeitos do ciclo económico).
sábado, 16 de julho de 2016
Mais um problema
Uma das consequências do golpe de Estado vai ser o congelamento por tempo indeterminado do projeto de adesão à UE, cujas perspetivas aliás nunca foram boas; outra vai ser a complicação das relações entre a Turquia e a UE, se o autoritarismo ou a instabilidade política se instalarem Ancara.
Mais um problema sério à beira da União, como se já não tivesse muitos...
sexta-feira, 15 de julho de 2016
Invenção
Na verdade, o Tratado Orçamental limita-se a apertar os requisitos da disciplina orçamental da zona euro, sem estabelecer nenhumas novas sanções para os casos de défice excessivo. Efetivamente, as sanções por défice excessivo estão diretamente previstas no próprio Tratado de Funcionamento da União (art. 126º), segundo procedimento regulado em legislação ordinária da União. O Tratado Orçamental só deu mais protagonismo decisório à Comissão no procedimento sancionatório, à custa do Conselho.
Desse modo, para acabar com as sanções por incumprimento da disciplina orçamental da União, não bastaria descartar o vilipendiado Tratado Orçamental; seria preciso sair da União -, que é obviamente o objetivo não confessado do Bloco.
quinta-feira, 14 de julho de 2016
"Liberalismo ordenado"
Nascido contra o autoritarismo económico de Estado do nazismo, o ordoliberalismo apresentou-se também desde o início como um "novo liberalismo", por afastar o regresso ao liberalismo clássico e ao abstencionismo económico do Estado, na medida em que preconizava a defesa ativa da concorrência contra os cartéis e a concentração do poder económico. "Liberalismo com regras"contra "liberalismo laissez faire".
Por isso, o ordoliberalismo esteve na base da economia de mercado regulada, normalmente associada ao chamado "capitalismo renano", uma da modalidades menos "neoliberais" do capitalismo contemporâneo.
2. Não é menos infundada a associação do ordoliberalismo com o neoliberalismo no campo social. Pelo contrário, a noção de "economia social de mercado", que tem origem no ordoliberalismo (e que o neoliberalismo propriamente dito rejeita), resulta justamente do "casamento" entre a economia de mercado regulada e o Estado social (direitos dos trabalhadores, direitos sociais, direitos dos consumidores, etc.), que goza de consagração constitucional na Alemanha.
3. Desde o Tratado de Lisboa, a noção de economia social de mercado está na base da "constituição económica" da UE (TUE, art. 3º-3).
Os adversários da economia de mercado e os ultraliberais têm todo o direito de não gostar. Mas a qualificação social da economia de mercado caracteriza bem o modelo económico e social europeu, conjugando a liberdade económica individual, que a economia de mercado (regulada) proporciona, e o bem-estar social, que o Estado social e os direito sociais asseguram.
[revisto]
Labirinto espanhol
É evidente que o PSOE não pode apoiar um Governo do PP. Mas, não havendo condições para uma maioria de esquerda (como em Portugal), a posição responsável do PSOE não pode consistir em impedir a formação do Governo e lançar o País em novas eleições (em que nada ganharia), mas sim a a de, se necessário, deixar passar o Governo do PP com a sua abstenção.
Não podendo ser uma birra, a insistência do PSOE no voto contra só pode entender-se como uma manobra de pressão sobre o PP destinada a influenciar o programa do Governo da direita.
quarta-feira, 13 de julho de 2016
Voltar ao mesmo?
Sem surpresa, dado o aumento do rendimento disponível e do recurso ao crédito, entre os itens que pesam especialmente no crescimento das importações estão os automóveis e os bens de consumo, sem menção dos bens de equipamentos e de matérias primas, o que só pode ser explicado por uma quebra no investimento, que os números conhecidos relativos à atividade económica indiciam.
Não se trata de boas notícias.
terça-feira, 12 de julho de 2016
Contrariar os indícios
Em tempo: eis a minha coluna no Diário Económico digital da semana passada. Ou: menor crescimento económico, mais pressão orçamental. Salvo prova em contrário.
Felizmente, inverosímil
Ainda bem, porque os números são os mais dececionantes entre todos os conhecidos até agora (por exemplo, apenas 0,7% de crescimento este ano e défice orçamental acima dos 4%!), tão insatisfatórios que só podem ser inverosímeis.
Seja como for, duas coisas coincidem em relação a todas as projeções: (i) rever em baixa as previsões oficiais e (ii) considerar necessárias medidas adicionais para atingir a meta do défice estabelecida no orçamento de 2016 (2,2%). Conviria começar a admitir que não podem estar todas erradas...
Adenda (13/7)
Afinal há mais uma previsão com crescimento abaixo de 1% e défice acima dos 3%, o que as torna menos inverosímeis. As coisas complicam-se para o País...
sexta-feira, 8 de julho de 2016
Escrúpulos (2)
A entrada de Durão Barroso para chairman do Goldmann-Sachs não deixa de surpreender negativamente. Primeiro, não tem precedente na história dos presidentes do executivo da UE; segundo, o GS encontra-se sob jurisdição das agências de regulação financeira da UE e da Comissão Europeia, a que Durão Barroso presidiu; terceiro, o GS é talvez o maior símbolo do mais agressivo capitalismo financeiro global, sem grandes escrúpulos quanto ao respeito pela regulação financeira internacional ou pelos interesses dos países onde tem negócios, como mostrou na assistência às manigâncias orçamentais dos governos gregos antes da crise; por último, o Goldmann Sachs está em litigância agressiva contra o Banco de Portugal e contra o Novo Banco, no valor de centenas de milhões de euros, por causa da resolução do BES.
Dificilmente poderia ser pior em matéria de conflito de fidelidades e de interesses.
Escrúpulos
Já se sabe que escrúpulos políticos ou morais não é matéria em que a direita seja forte. Mas este caso é um despautério!
quinta-feira, 7 de julho de 2016
Shame on you!
Regista-se o seu tardio arrependimento, mas continua a constituir um mistério como é que um líder de esquerda europeia pôde embarcar na insânia de Bush. Tendo eu denunciado e combatido a injustificada e irresponsável intervenção militar, apraz-me ver a verdade histórica reposta. mas continuo sem perceber como é que dois governos de países democráticos puderam embarcar em tal loucura, cujos devastadores efeitos duradouros ainda estamos hoje a pagar no Iraque, na Síria, na Líbia, etc..
quarta-feira, 6 de julho de 2016
Promover Direitos Humanos quando os estamos a violar?
Processo de Paz Médio Oriente moribundo e cada vez mais mortal...
UE - o "soft power" não chega
"A Estratégia Global apresentada pela Alta Representante Mogherini procura dar resposta aos desafios humanitários, económicos, políticos e de segurança que a UE enfrenta.
Num mundo globalizado em que ameaças e desafios extravasam fronteiras, os cidadãos reconhecem - todos os eurobarómetros o confirmam - que só com mais e melhor União poderemos garantir a segurança colectiva. O problema é que os governos, na deriva intergovernamental que vem afectando a União, tardam em reconhecê-lo.
O "soft power" não chega, sublinhou aqui a Alta Representante. Pois não. Por isso a União tem mesmo de reforçar a autonomia estratégica em capacidades de defesa e segurança, articulando recursos e políticas para assegurar resiliência civil e militar, com meios de resposta rápida e coordenada às crises - da em curso na Líbia, aqui ao lado, a uma possível crise no Mar da China, com impacto desestabilizador global.
Defender os cidadãos, princípios e interesses europeus só com direcção política corajosa, que reconheça o interesse comum, coordene e dê coerência a políticas internas e acções externas e atue globalmente para promover segurança humana e por regras de governação global ancoradas no direito internacional, nos direitos humanos e no Estado de direito."
Intervenção que fiz (tosquiada para caber num minuto) no debate plenário do PE sobre a Estratégia Global da UE, esta tarde
Presidência eslovaca não augura liderança europeísta
"Nos próximos meses trabalharemos na revisão do Regulamento de Dublin e no reforço da EASO, entre outros desafios como os decorrente do Brexit. Mas as suas posições nestas matérias, Presidente Fico, não auguram liderança europeista. O Senhor afirmou, por exemplo:
- “O Islão não tem lugar na Eslováquia, os migrantes mudam a identidade do nosso país”.
- "Não iremos nunca trazer um único muçulmano para a Eslováquia (...) eles representam um grave risco para a nossa segurança”.
E que dizer dos ataques aos refugiados nas fronteiras com a Hungria e a Áustria, sob o seu governo?
E ter-se associado com outros do Grupo de Visegrado para violar o Acordo de Schengen, fechando fronteiras aos refugiados e asfixiando a Grécia?
Lamento, Sr. Fico, mas o senhor de europeista não parece ter nada e de social-democrata ainda menos.
Sem por em causa a qualidade e empenho dos funcionários eslovacos, temo que a sua presidência da UE só venha agravar os problemas com que nos confrontamos.
Tem seis meses para demonstrar que estou enganada."
(Minha intervenção esta manhã em plenário do PE sobre o Programa da presidência eslovaca da UE)
terça-feira, 5 de julho de 2016
Guardar costas e controlar fronteiras europeias...
Mas controlar fronteiras e organizar operações de retorno é, por definição, reagir na fase final do problema.
A prioridade devia ser abrirmos vias legais e seguras para migrantes e refugiados não terem de se entregar em mãos criminosas, impedindo rotas cada dia mais perigosas, mas mais lucrativas para os traficantes! E investir na articulação do Frontex ou da nova Agência com uma EASO e uma EUROPOL reforçadas. Assim como mudar o discurso, deixando de ir a reboque da extrema direita xenófoba, dizendo a verdade aos nossos cidadãos: se refugiados e migrantes precisam da Europa, também a Europa precisa deles!"
O arauto
Por mais generosa que seja a leitura constitucional dos poderes do PR, entre eles não cabe seguramente a função de arauto do Governo.
Descaramento
Mesmo em política há limites para o descaramento!
Contra a selva fiscal na Europa
"Saúdo os co-relatores Jeppe Kofod e Michael Theurer por este relatório de seguimento da Comissão TAXE-2, que mostra que o Parlamento Europeu agiu face ao escândalo "Luxleaks" e segue na linha da frente do combate à fraude, evasão e ilisão fiscais.
Queremos justiça e transparência para reverter o desastroso consenso de desregulação financeira e concorrência fiscal entre Estados-Membros nos últimos 20 anos, que acentuou a divergência entre Estados Membros e insuportáveis distorções económicas e sociais. Acossados pela austeridade ultra-liberal, os cidadãos e pequenas e médias empresas são os mais castigados pela opaca selva fiscal vigente na Europa, suportando desproporcionadamente a carga fiscal.
Não nos conformamos com um Mercado Interno que não pode assegurar concorrência leal sem um mínimo de harmonização fiscal. E que não pode continuar a tolerar "patent boxes" e outras "ajudas de Estado" dadas às multinacionais em esquemas para evitarem pagar impostos.
Comissão e Conselho não podem demorar passar á prática as nossas recomendações, dos relatórios públicos país por país, a uma base comum consolidada de imposição, à protecção dos denunciantes e a sanções para quaisquer facilitadores de esquemas de "dumping" fiscal, incluindo o confisco de proventos.
É preciso parar de atacar o projeto europeu com políticas que acentuam injustiça e desigualdades, e que, portanto, desencadeiam compreensível revolta nos cidadãos. Como bem sublinhou o Comissário Moscovici - que saúdo pela sua interacção com o Comité TAXE - esta é uma questão essencial da democracia nos nossos Estados Membros e na Europa".
Minha intervenção esta tarde no debate plenário do PE sobre "Acordos Fiscais e outras medidas semelhantes" (Comissão TAXE 2 sobre o escândalo "Luxleaks")
Um Conselho Europeu em negação...
segunda-feira, 4 de julho de 2016
A escolha do diabo
Ou seja, como entende que tanto Lisboa como Madrid se encaminham para novo incumprimento, a Comissão só perdoa as faltas passadas se os dois países tomarem medidas imediatas para não haver reincidência na violação dos compromissos de consolidação orçamental em 2016.
2. Este ultimato da CE para a apresentação e concretização do famoso "plano B" que o Governo nunca definiu, por o achar desnecessário, pode antecipar para as próximas semanas o debate sobre a evolução da economia e das finanças públicas que se esperava somente para depois das férias do verão.
Se tal for o caso, então é provável uma subida de temperatura política, com a extrema-esquerda a rejeitar ruidosamente a iniciativa de Bruxelas e a pressionar o Governo para lhe resistir, enquanto este vai tentar evitar um choque frontal com as instituições da União, que poderia ser fatal para a confiança dos mercados financeiros no País...
3. Seja como for, o Governo fica colocado entre a espada e a parede: ou cede ao ultimato da União, apresentando as medidas requeridas, e contradiz a sua rejeição de mais austeridade; ou não cede, e assume o ónus de ver aplicadas sanções financeiras ao País.
É fácil dizer que entre ambas, venha o diabo e escolha. Mas é evidente que a segunda opção pode ter efeitos muito nocivos para o País.
domingo, 3 de julho de 2016
Tóxico
Embora tal referendo seja constitucionalmente impossível, por não serem admitidos referendos sobre matérias orçamentais, a sua simples proposta revela uma enorme irresponsabilidade política, pois uma eventual desvinculação em relação a esse Tratado privaria o País do acesso ao Mecanismo Europeu de Estabilidade em caso de necessidade. Sem essa "rede de segurança", o custo da dúvida pública nacional rapidamente aumentaria.
2. Este episódio revela o aventureirismo político do Bloco em todo o seu esplendor.
É evidente que o PS nunca poderia embarcar em tal provocação política, mas não é menos certo que em Bruxelas e nas capitais nacionais da UE não pode deixar de causar perplexidade o facto de um dos aliados parlamentares do Governo defender a desvinculação das obrigações de disciplina orçamental do País.
Se havia dúvidas, é agora evidente que o BE constitui um ativo tóxico da protocoligação governamental. Há alianças que comprometem.
sábado, 2 de julho de 2016
Avisos...
Mas as advertências só são realmente preocupantes porque são naturalmente associadas às projeções e previsões das instituições nacionais e internacionais - a última das quais do FMI - que não são propriamente animadoras quanto a variáveis tão importantes como o crescimento do PIB, o investimento, as exportações e o emprego, ou o saldo orçamental e o nível da dívida pública. Fosse outro o quadro, e provavelmente nem os tais avisos existiriam nem eles justificariam a reação agastada que suscitaram, tão desproporcionada como eles.
Denunciar a suposta malevolência do mensageiro não faz desaparecer a má mensagem, se ela tiver fundamento. Importa é provar que não tem..,
E depois do Brexit
Lead da minha coluna desta semana no Diário Económico digital. Sobre as opções de relacionamento do Reino Unido com a UE depois do Brexit.
sexta-feira, 1 de julho de 2016
Na pior altura
Mas pôr em prática essas medidas numa altura em que já são evidentes as pressões negativas sobre o orçamento, não parece nem oportuno nem sensato.