A renúncia de Ferro Rodrigues pode significar também o fim de um certo PS, fortemente influenciado pelo grupo de militantes oriundos do antigo Movimento de Esquerda Socialista (MES), que entraram no PS pela mão de Mário Soares há mais de duas décadas. Seja quem for o sucessor -- previsivelmente José Sócrates, se António Vitorino não quiser antecipar a sua saída de Bruxelas para vir disputar a liderança --, há razões par antecipar que será um PS menos à esquerda ideologicamente, politicamente mais "moderado" e mais pragmático, mais ortodoxo em matéria de política económica e financeira, mais aberto à reforma liberal dos serviços públicos, provavelmente mesmo mais contido em relação às "causas de sociedade" (despenalização do aborto, por exemplo), enfim menos próximo do PS francês e mais próximo do blairismo britânico.
A tentação para ocupar o espaço centrista proporcionado pela deslocação do PSD de Santana Lopes para a direita poderá tornar politicamente "pagante" esse reposicionamento político e ideológico do PS. Em contrapartida, à esquerda, tanto o PCP como o Bloco de Esquerda podem beneficiar desse distanciamento do PS da disputa pelo espaço tradicional da esquerda e das causas sociais e culturais mais radicais. Pode estar na forja uma recomposição do sistema partidário nacional.