«(...)Penso, contudo, que Jorge Sampaio está a dar uma oportunidade à Democracia, especialmente à esquerda. Estes serão tempos difíceis, penso que ninguém terá dúvidas disso, mas há aqui uma oportunidade excelente para exercer a Democracia em toda a sua extensão, a Democracia que não termina no eixo Presidência-Governo-Assembleia. A Democracia deve ser sempre exercida através da participação cívica, da vigilância popular. (...) Não porque [o Governo] seja ilegítimo, mas porque será mau para o país. Será, como foi dito, o Governo mais populista desde o 25 de Abril. Santana Lopes tem, contudo, muitos inimigos à esquerda ? a sua quase totalidade ? e à direita ? nomeadamente no seu próprio partido. Como tal, esta poderá ser uma hora para cerrar fileiras entre a esquerda, de uma forma real e unida, e associar a sociedade a este combate político. (...)
A oportunidade poderá ser de ouro e poderá não se repetir. Para a aproveitar a esquerda terá, porém, de se aperceber que o Presidente Sampaio se disponibilizou para líder da oposição [ao Governo]. Colocou o Governo num altar sacrificial da Presidência. Poderá não ter os instrumentos de Poder para fazer mais que uma contestação, mas deixou claro que a fará se assim o entender. Se o Presidente Sampaio souber ter a coragem para o fazer e se a esquerda tiver a lucidez para o apoiar nestas acções, poderemos ter uma mudança real dentro de 2 anos, não apenas de governo mas de toda uma mentalidade de fazer política. Será uma ideia algo utópica? Talvez, mas não é essa uma das características da esquerda?
Por 2 anos curtos e diferentes, não da parte do Governo, mas da oposição de esquerda.»
(JSA)