quarta-feira, 6 de outubro de 2004

Ensino público

«(...) Assim como a Saúde, a educação é uma área apetecível. Nestas últimas duas semanas, com o atraso e a polémica da colocação de professores, a má imagem (não sei se até que ponto verdadeira) dada pela questão dos atestados médicos, e finalmente neste fim-de-semana com o tal "Ranking" falacioso, o ensino público sofreu uma deterioração tremenda da sua imagem.
No fim disto tudo, a mensagem "subliminar" é naturalmente para as classes médias. Estas pensarão naturalmente em colocar os filhos no ensino privado, onde os professores são efectivos e estão altamente motivados e onde "aparentemente" os alunos obtêm os melhores resultados
Acho por isso que há razões para achar que todo este "reboliço" em torno do ensino público poderá afinal não ser acidental.
Se no futuro, a classe media estiver retirada das escolas públicas, estas passarão a ser escolas para a classe mais pobre. Sem a presença dos famílias pertencentes a classe média, o grau de exigência dos pais em relação as escolas publicas e da própria sociedade civil em relação ao sistema de ensino estatal no país diminuirá irremediavelmente. Passará a ser como nos EUA onde até a classe média-baixa tem os filhos no ensino privado. Perder-se um certo "efeito trampolim" que a presença dos filhos da(s) classe(s) media poderiam ter para os filhos das classes baixas. A qualidade do ensino público baixará ainda mais. Teríamos assim um ensino público, ao jeito quase "misericordioso" a ensinar apenas "profissões". Enquanto isso as elites e a classe média, no ensino privado, disputariam exclusivamente os lugares de acesso para dar acesso ao ensino superior (onde o melhor ainda é o público). O ensino público poderia ser finalmente mais poupadinho, a indústria do ensino pago sairia reforçada.
Será este o objectivo verdadeiro, o plano, por detrás de que se tem passado recentemente?»


(S. J. Gouveia)