O artigo de Miguel Portas, publicado ontem no Diário de Notícias, do qual foi reproduzido um excerto num post precedente, parece firmar a posição oficial do Bloco de Esquerda sobre a atitude a tomar em relação ao Governo que vier a resultar da previsível vitória eleitoral do PS nas próximas eleições. Invocando as divergências em matéria europeia (mas o discurso poderia igualmente invocar as diferenças na política doméstica), ele vem asseverar que o BE não está disponível para uma coligação de Governo com o PS, preferindo ficar na oposição, pronto a aprovar somente as leis e outras medidas com que concordar.
Admitindo que uma coligação com o PCP, mesmo que este a deseje, não se afigura mais provável, pelas mesmas ou maiores razões (basta referir o fosso no que respeita à UE), isto significa que, caso vença sem maioria absoluta, o PS não poderia contar com apoios à sua esquerda para formar uma maioria parlamentar de apoio ao Governo. Tudo indica que, nesse caso, forçado novamente a constituir um governo minoritário, lhe faltaria o necessário apoio parlamentar para assegurar as incontornáveis políticas de disciplina orçamental e de contenção da despesa pública que se tornam imperiosas enquanto a retoma económica não aliviar a situação financeira.
Sendo assim, resta ao PS contar somente consigo mesmo e empenhar-se a sério na obtenção de uma maioria absoluta. Ao excluir antecipadamente o apoio pós-eleitoral a um Governo do PS, o BE acrescenta um bom argumento para reforçar esse objectivo eleitoral.