Com as candidaturas presidenciais de Mário Soares, Jerónimo de Sousa e, ao que se diz, de Francisco Louçã, é já claro que os partidos de esquerda não querem deixar nenhuma margem para a desmobilização do respectivo eleitorado na próxima disputa presidencial. Porquê esta inesperada importância conferida pela esquerda às eleições presidenciais, quando ainda há poucas semanas, na falta de uma candidatura forte na área socialista, tudo parecia encaminhar-se para uma fácil vitória de Cavaco Silva (o que era óbvio nessa altura), havendo mesmo observadores a vaticinar uma feliz convivência entre ele e o governo do PS (o que era bem menos óbvio...)?
A razão para essa "revolta à esquerda" não está somente no facto de ela não se conformar facilmente com a ideia de ver em Belém, pela primeira vez, um PR oriundo da direita partidária (Eanes não era de esquerda mas era um militar independente). A principal explicação, embora poucas vezes assumida expressamente, está em que, por razões históricas, a esquerda alimenta uma visceral desconfiança sobre a capacidade da direita para respeitar as "regras do jogo" na Presidência da República, dado que um presidente sem escrúpulos constitucionais pode subverter impunemente a ordem constitucional (não existe em geral antídoto para as possíveis decisões inconstitucionais de um Presidente).
As imprudentes teorizações presidencialistas de alguns conspícuos apoiantes de Cavaco Silva só ajudaram a essa "dramatização" da próxima disputa presidencial. O candidato não vai ter tarefa fácil neste ponto. Afinal, é a estabilidade do regime que pode estar em causa...