Assinei hoje, com outros colegas, mais uma resolução sobre a situação no Zimbabwe, que será amanhã aprovada pelo Parlamento Europeu.
Com a mais alta inflação do mundo (que chegou oficialmente aos 231 milhões por cento em Julho mas, segundo alguns, atinge actualmente o impensável valor de 8 seguido por 18 zeros por cento!), 80% dos cidadãos a viver com menos de um dólar por dia, 50% da população a passar fome (segundo a ONU, 5.5 milhões de pessoas precisam de ajuda alimentar) e com a esperança média de vida reduzida na última década de 60 anos para 37 anos, nos homens, e 34 nas mulheres, o Zimbabwe continua paralisado no impasse das negociações para uma anti-democrática partilha do poder.
E quando se pensava que a situação dificilmente podia piorar, eis que surge um surto de cólera que já matou quase mil pessoas, infectou outras 18 mil e tenderá piorar com as próximas chuvas. No entanto, segundo Mugabe, a cólera resulta de um ataque biológico de contornos racistas do Reino Unido e já está controlada!
Se não fosse tão trágico, este Zimbabwe de Mugabe seria anedota.
Mas desfere, sem dúvida, diariamente flechas de acusação a União Africana e a dirigentes africanos - com Thabo Mbeki à cabeça - bem como a dirigentes europeus, pela criminosa tolerância que prolongadamente ofereceram ao autocrata Mugabe, enquistando-o na obstinação de não abandonar o poder, mesmo arrasando o seu país e o seu povo.
Espero que este surto de cólera tenha, pelo menos, um impacto positivo: como a cólera não respeita fronteiras, a propagação a outros países da região poderá forçar os seus líderes a finalmente reagir e forçar Mugabe a deixar em paz o martirizado povo do Zimbabwe.