Até ao início da actual crise, as ideias de Estado social e de intervenção do Estado na economia estavam acossadas sob décadas de ofensiva neoliberal. Todos os partidos de direita se tinham convertido à nova ortodoxia da soberania ilimitada do mercado, da redução do Estado às "tarefas de soberania" e do culto da "responsabilidade individual". A antiga "direita social" de tradição democrata-cristã tinha praticamente desaparecido.
Entre nós, o panorama era o mesmo, com o PSD a entrar numa deriva discursiva contra os serviços públicos e contra toda a presença do Estado na economia, culminando na proposta de privatização da própria CGD.
Subitamente, porém, com a crise o discurso neoliberal entrou de férias, o Estado passou a ser o salvador da economia e das empresas e toda a gente virou fervorosa defensora das obrigações sociais do Estado. A direita passou mesmo a liderar a exigência de mais e mais medidas económicas e sociais dos governos.
Há, porém, um pequeno problema com estas mudanças súbitas. Excluída uma improvável conversão político-ideológica, há alguma sinceridade nisso?! O oportunismo político tem muitas faces...