Os cronistas apuram-se, na imprensa dos últimos dias, na exegese das diversas opiniões dentro do PS sobre Barroso.
Como se o que mais interessasse fosse o futuro de Barroso e não o futuro da Europa.
No afã de marcarem os seus pontos, tratam de me citar selectivamente, distorcendo o que disse e penso.
Por isso entendo esclarecer:
Não subscrevo as “razões patrióticas” que o Governo do PS invoca para apoiar a renovação do mandato de Durão Barroso à frente da Comissão Europeia.
Não adiantei o nome de António Guterres como possível alternativa a Barroso por ser português. Indiquei-o por ser figura de indesmentível competência para o lugar (tanto que em tempos foi para ele desafiado), independentemente da sua nacionalidade.
Não adiantei o nome de António Guterres isoladamente – integrei-o num rol de personalidades de diferentes nacionalidades que, além de serem da família socialista ou social-democrata europeia, têm inquestionavelmente perfil para o cargo: citei Pascal Lamy, Margot Wallstrom, Mary Robinson e Poul Nyrup Rasmussen (atenção “Publico” de 8 de Abril, o outro Rasmussen, o Anders Fogh, é neo-liberal de direita, ainda mais à direita que o Dr. Barroso, e na minha opinião nem para porteiro da NATO deveria servir...)
Adiantei ainda um outro nome não português que, não sendo socialista nem social-democrata, é progressista e portanto susceptível de ser apoiado por gente de esquerda como eu, se depois das eleições europeias de Junho for preciso agregar mais apoios para encontrar uma alternativa de esquerda a Barroso: o verde alemão Joshka Fisher.
São por isso totalmente ilegítimas e manipuladoras as interpretações que me atribuem a sugestão do nome de António Guterres para, rejeitando Barroso, ir apesar de tudo ao encontro dos sentimentos nacionalistas dominantes.
Queridos e queridas cronistas e comentadores: sou completamente imune a patrioteirices dessas. É que eu sei bem que, para efeitos políticos, ser português não basta e sobretudo não salva mesmo nada. Convém não esquecer que Salazar também era português.