sábado, 10 de setembro de 2011

Intervenção no XVIII Congresso do PS

O PEC 4 serviu à direita, com a ajuda de partidos de esquerda, para derrubar Sócrates. Agora, em vertigem mais "troikista" do que a Troika, PSD e CDS arrasam os portugueses com o PEC 4 ao cubo.
O PS está vinculado ao Acordo com a Troika, mas não pode desistir de o fazer ajustar onde for preciso, recusando o que é contra-senso e maligno, e de exigir aquilo que o governo da direita manifestamente não tem: uma estratégia de crescimento económico e criação de emprego, indispensável para tirar o país e a Europa da crise.
Crise que é global e, além de económica e financeira, é política: por deixar correr o capitalismo de casino. Por falta de políticos que resistam a ser capturados por interesses e que defendam o Estado, para melhor defender os cidadãos, como fez o PS com a reforma de segurança social.
A corrupção em Portugal é metástese de cancro que alastra na Europa. O esquema dos submarinos alemães é ilustrativo, cá como na Grécia, da corrupção que abre portas e janelas, das empresas aos decisores políticos, passando pelos que, na Justiça, se furtam a decidir - como toleramos o escândalo de o PGR ter bloqueado a investigação sobre a aquisição dos submarinos, que na Alemanha prossegue e já resultou em presos por subornarem .... portugueses!?
Não haverá governação económica na Europa sem controlo do movimento de capitais, sem os pôr a pagar a crise que geraram e sem controlar os paraísos fiscais. Pois não é o PM Passos Coelho que, para proteger os super-ricos, argumenta que um imposto sobre rendimentos de capital e património afugentaria o investimento? Mas qual investimento? O que as empresas do PSI 20, os bancos, os ricos e os corruptos já fazem na Holanda, no Luxemburgo, na Suíça e nos off shores para fugir ao fisco em Portugal ?
A crise não se resolve com nenhum país a sair do euro e à conta apenas de austeridade recessiva. Exige mecanismos e políticas europeias - industriais, comerciais energéticas, fiscais, sociais, etc - que dêem sustentação ao euro, assegurando convergência e solidariedade entre as economias dos Estados Membros.
Precisamos de harmonização fiscal e de um IRC comum a toda a zona euro para não continuarmos a agravar a competitividade das economias mais fracas, como a portuguesa.
Precisamos de "eurobonds" para defender o euro dos especuladores.
Precisamos de um imposto sobre transações financeiras para a União Europeia ter recursos suficientes para redistribuir e reactivar a economia, investir no emprego, na Europa social e numa Europa mais determinante na regulação global.
Pelo registo invertebrado deste governo em Berlim há dias, terá de ser o PS, como sempre, a colocar a Europa na agenda nacional e a por o governo a ter agenda na Europa, para fazer ouvir os interesses portugueses e ajudar a construir a UE.
Desistirmos da Europa seria desistirmos da Paz. Por isso não há recuos, é preciso avançar para uma Europa mais integrada política e económicamente, uma Europa Federal, que tem ser mais democrática e solidária. Sem complexos, nem medo de perdermos soberania: mas que soberania temos hoje, afinal, a toque de caixa da Troika e com o PM de chapéu na mão a papaguear o que manda a chanceler alemã?
Esta crise não se resolve com tacticismos oportunistas, nem encenações mediaticas, nem receitas tecnocraticas: o que faz falta é a política no posto de comando e liderança esclarecida e audaz, a falar verdade aos portugueses e a bater-se contra a injustica, a desigualdade, o desarmar do Estado e o enfraquecer da Europa.
Foi por isso revigorante ouvir ontem o nosso Secretario Geral, Antonio José Seguro, afirmar que "as pessoas estão primeiro" e enunciar as diferenças ideológicas que distinguem o PS da direita. E ouvir hoje Francisco Assis declarar rever-se no mesmo combate.
Contra o neo-liberalismo desregulador e corruptor, precisamos de unidade. Pelo socialismo democrático e com políticas e praticas limpas, para que os cidadãos voltem a confiar.
Podemos fazer a diferença e abrir uma nova era em Portugal, na Europa e no mundo, sem subserviência, sem complexos, a falar grosso - como ontem disse Mario Soares. Pela defesa dos interesses de Portugal, pelo reforço da democracia na Europa e por um mundo mais regulado e mais justo.
VIVA o PS !
VIVA PORTUGAL !

Ana Gomes
Braga, 10.9.2011