«Louçã e Semedo apelam ao voto para evitar sonho de bloco central».1. Ora sucede que este "apelo" não esconde que o BE é o principal responsável pela inevitabilidade de um governo de "bloco central" (PS-PSD), caso o PS ganhe as próximas eleições legislativas (como se espera) sem maioria absoluta (como é o mais provável).
Ao persistir em comportar-se como um partido de protesto e anti-sistema, indisponível para "sujar as mãos" a governar, e ao adoptar uma atitude radical contra a disciplina orçamental e as obrigações decorrentes da integração europeia (que atiraria o País para fora do euro e da UE), o BE deixa o PS sem a possibilidade de coligações de governo à esquerda e condenado a aliar-se à direita, se não quiser governar em minoria (com a fragilidade inerente).
2. O BE escolheu ser um PCP-bis (uma cópia do PCP "sem centralismo democrático") em vez de se posicionar como um "CDS à esquerda", que permitisse opor uma coligação de esquerda à habitual coligação de direita entre o PSD e o CDS. Teve uma última oportunidade com Sócrates; rejeitou-a e aliou-se à direita e ao PCP para derrubar o governo do PS e abrir o caminho ao actual governo e à "troika" (sim, não podem negar essa responsabilidade!...).
3. Tudo indica que o BE vai sofrer mais uma queda nas próximas eleições europeias. É uma boa lição: o BE deixou de trazer qualquer valor acrescentado. Por um lado, entre o PCP e uma imitação, os eleitores anti-sistema preferem o original; por outro lado, cada voto no BE é um voto a menos numa alternativa de governo à esquerda, que só pode existir com uma vitória socialista, pelo que os eleitores menos radicais são levados a votar no PS.
Talvez o declínio eleitoral do Bloco abra o caminho para o seu reposicionamento político, convencendo definitivamente os bloquistas de que só lhes resta explorar o "nicho" que o "mercado eleitoral" lhes oferece, que é o de serem uma espécie de "voz crítica" do PS e o "parceiro júnior" de uma coligação de Governo com o PS, aceitando obviamente as devidas responsabilidades e os inerentes compromissos de um partido de governo.
Isso, sim, seria uma alternativa governativa ao bloco central. Tudo o resto é retórica cínica.