Ao contrário da acusação malévola do seu adversário, creio que António Costa revelou uma enorme coragem e corre um grande risco em ter desafiado nesta altura a liderança do PS, quando o alívio da crise começa a jogar a favor do Governo e quando, por isso, a vitória eleitoral do PS daqui a um ano é tudo menos "favas contadas", mesmo com ele à frente do partido.
Seria muito mais confortável e menos arriscado deixar-se ficar quieto a assistir à crescente incapacidade do PS de Seguro de se afirmar como alternativa ganhadora e aguardar que a muito provável derrota deste nas eleições do próximo ano lhe fizesse cair o PS nos braços, sem ter de fazer nada por isso (como fez Seguro em 2011).
Além disso, depois de chegar à liderança do PS com o argumento de fazer melhor oposição e de estar em melhores condições para levar o PS à vitória, Costa não pode permitir-se depois perder as eleições legislativas (ou ter uma vitória marginal). O cadáver politico insepulto de Seguro renasceria incontinente para reivindicar triunfante a sua vingança.
Só uma funda convicção e uma enorme confiança podem justificar uma aposta tão exigente e tão arriscada.