1. A ideia que o BE veiculou em Portugal (com o apoio de alguns inesperados "compagnons de route" ocasionais...), segundo a qual a disputa a propósito da crise grega consistiu numa luta entre a Grécia e a Alemanha e entre a esquerda e a direita é uma óbvia ficção.
Primeiro, o novo governo grego desafiou toda a União e viu-se contrariado por todos os demais Estados-membros, de norte a sul, de leste a oeste, grandes e pequenos, ricos e pobres (incluindo os mais pobres do que a Grécia ). Segundo, tratou-se de um confronto entre, de um lado, a esquerda radical do Syriza e, do outro, os governos de todas as demais orientações políticas, incluindo conservadores, liberais e social-democratas (contando nestes a França, a Itália, a Áustria, etc, sem esquecer o SPD alemão).
2. O que justificou essa unanimidade foi a ideia de que a União não podia consentir que um Estado-membro do euro se permitisse renegar unilateralmente as regras comummente acordadas e aceites e os compromissos livremente assumidos com as instituições.
Por mim, não tive dúvidas em alinhar com a posição comum da União e com a posição dos social-democratas europeus na defesa da "constituição" da zona euro. A incontinente animosidade dos syrizistas domésticos contra mim desvanece-me.
[revisto]
Adenda 1
Não tendo tergiversado sobre a questão de princípio, também defendi desde o início a concessão de alguma margem de manobra para a Grécia, nomeadamente para atenuar a crise social, por exemplo aqui e aqui.
Adenda 2
Quanto ao leitor que afirma que eu fiquei "praticamente isolado à esquerda", devo dizer que, para além de a afirmação me parecer exagerada, me habituei há muito a manter posições firmes contra correntes emocionais. Mas anoto mais uma vez que, se o BE tivesse nos eleitores a influência de que goza na imprensa e nas redes sociais, dava para ganhar eleições...