1. E pronto, bastaram duas semanas para os próprios cidadãos gregos rebentarem o balão das grandes proclamações do Governo Syriza. Na iminência do colapso do sistema bancário, por causa dos maciços levantamentos de depósitos, o novo Governo grego teve de abandonar todos os seus objetivos "antiausteritários": nem corte na dívida, nem fim da austeridade orçamental, nem reversão das medidas tomadas, nem novo empréstimo à margem do programa de resgate em vigor (que o Syriza tinha declarado morto e sepultado), nem fim da supervisão da troika (que só perde o nome).
Em troca, além de salvar os bancos do colapso (que vão retomar o financiamento do BCE) e de receber a fatia que faltava do empréstimo ao abrigo do programa de assistência em vigor (desde que cumpra as obrigações em falta), o Governo grego obtém autorização para tomar medidas de atenuação da crise social (o que é bem-vindo) e uma eventual revisão do excedente orçamental primário previsto para este ano, se uma evolução económica menos positiva do que o previsto o justificar.
2. Tudo bem quando acaba bem? Nem tudo. Por um lado, as eleições e a vitória do Syriza afetaram negativamente a economia e a cobrança de impostos, agravando a situação económica e orçamental; por outro lado, tudo agora depende da capacidade do Governo grego para cumprir e fazer cumprir de boa fé o acordo que a contre-coeur celebrou com a UE (a começar pela lista de compromissos a entregar na próxima segunda-feira).
Acima de tudo, porém, prevaleceram os princípios e as regras da zona euro, bem como o respeito pelos compromissos tomados, sobre o voluntarismo ideológico, a irresponsabilidade política e a má fé negocial da esquerda radical.
Adenda (1)
Um nota humilhante para a Grécia (que traduz a falta de confiança de Bruxelas em Atenas) é o facto de os 11 000 milhões de euros que tinham sido emprestados à Grécia para eventual recapitalização dos bancos gregos, e que o Governo Syriza queria desviar para outros fins, vão voltar à UE, ficando confiados à guarda do ECB, não vá o diabo tecê-las...
Adenda (2)
«Um país não pode pedir apoio e formular as condições» (Dijsselbloem). Nem mais!