O programa de "expansão monetária" do Banco Central Europeu, através da compra maciça de dívida pública aos investidores (nomeadamente os bancos), já está a produzir os efeitos pretendidos na descida das taxas de juro e na desvalorização do euro, em consequência da inundação do mercado com euros frescos.
Com isso matam-se dois coelhos de uma cajadada: com a redução dos juros diminui-se a despesa com os encargos da dívida pública, aliviando o défice orçamental; com a desvalorização do euro estimulam-se as exportações e encarecem-se as importações, melhorando o saldo comercial externo. Tanto a redução dos juros como o fomento das exportações vão dinamizar a retoma económica e a criação de emprego. Em Portugal, portanto, o próximo Governo vai beneficiar de condições económicas e orçamentais mais favoráveis.
O único problema com este doping monetário é que ele é por natureza transitório, devendo cessar logo que a inflação de aproxime dos 2%. Importa por isso não relaxar os esforços (agora menos penosos por efeito da prodigalidade do BCE) de consolidação orçamental sustentável e de aumento da competitividade estrutural da economia, para que o fim do programa de estímulo vindo de Frankfurt não faça renascer os velhos problemas orçamentais e das contas externas. A crise por que passámos não pode ser desperdiçada.
Adenda
Com este quadro, cortesia do BCE, as metas oficiais de crescimento económico, de saldo orçamental e de saldo das contas externas para este ano em Portugal devem ser atingidas (se não ultrapassadas) com relativa facilidade. Mais uma vez, o Governo prepara-se para colher os louros de obra alheia.