1. Os dirigentes e comentadores de direita continuam a tentar convencer os eleitores do PS de que eles "não votaram num governo do PS com o PCP e o BE".
Pois não! Mas também não votaram contra. Numa democracia parlamentar os eleitores não votam em governos mas sim em partidos que depois formam o governo de acordo com a sua representação parlamentar (incluindo alianças de governo com que eles individualmente podem não concordar).
2. Há duas coisas certas quanto aos eleitores do PS: quiseram votar a favor de um governo PS e, portanto, contra o governo do PSD e do CDS. Acresce que, como mostrei aqui, ao passo que uma aliança de governo com a direita foi explicitamente excluída pelo PS antes e durante a campanha eleitoral, já a hipótese de um governo do PS com os partidos à sua esquerda não somente não foi excluída como foi inequivocamente admitida (o que a meu ver afastou eleitores que quiseram excluir essa possibilidade, sendo essa uma das razões para o insucesso eleitoral do PS).
3. É curioso que os comentadores de direita que consideram ilegítimo um acordo de governo do PS com o PCP e o BE já admitem sem problemas um acordo de governo do PSD e do CDS com o PS. É óbvia a contradição: se os eleitores do PS não votaram num governo com o PCP e o BE muito menos votaram numa aliança de governo com a direita, como eles propõem. E o mesmo se pode dizer, de resto, dos eleitores da Coligação de direita, que também não votaram numa aliança de governo com o PS.
Mais uma vez, a lógica política da direita não tem ponta por onde se lhe pegue.