1. Ou me engano muito ou a comunicação de Cavaco Silva desta noite pode ter inaugurado o mais profundo conflito político-institucional jamais ocorrido desde o início da era constitucional em 1976.
O Presidente da República não se limitou a dizer que indigita Passos Coelho por o PSD ter ganho as eleições, de acordo com a tradição nesta matéria, o que não é objecionável (como defendi, por exemplo, aqui). Ele acrescentou, porém, que o fez porque considera preferível uma solução de governo minoritário, necessariamente frágil e instável (contra o que ele próprio defendeu), do que a alternativa de governo maioritário que está a ser negociada à esquerda sob a égide do PS, solução que invetivou por todos as formas e qualificou de "altamente inconsistente".
2. Cavaco Silva não adiantou o que fará quando essa alternativa lhe for presente depois da quase certa rejeição do Governo Passos Coelho na AR.
Mas a violência das palavras que usou e o tom bélico com que se referiu à possibilidade de um Governo do PS com apoio do BE e do PCP, como se fosse o Mal encarnado, revelam que, mesmo que venha a ter de o nomear por falta de alternativa viável, não lhe vai dar o benefício da dúvida e o vai declarar como persona non grata, fazendo-lhe a vida tão negra quanto puder.
Preparemo-nos para o pior.