1. Entre nós o jornalismo de direita é mais direita do que jornalismo. É patética a sua tentativa de reescrever as regras comuns da democracia parlamentar e decretar a suposta ilegitimidade da substituição de um governo minoritário de uma coligação de direita por um governo maioritário de uma coligação de esquerda.
Pelos vistos, segundo o jornalismo de direita há duas novas regras na democracia parlamentar: (i) os partidos de direita podem fazer governos de coligação entre si, os de esquerda, não; (ii) por efeito de um decreto divino, as coligações de direita, mesmo minoritárias, devem prevalecer sobre as de esquerda, ainda que maioritárias. É a nova democracia da direita.
2. Para o jornalismo de direita, as soluções que ele considera politicamente inaceitáveis têm que ser ilegítimas. Mas não é assim.
Como tenho reiteradamente afirmado ao longo dos anos, é preciso separar o juízo de legitimidade e o juízo político. Nem tudo o que é legítimo é politicamente meritório; nem tudo o que é politicamente mau é ilegítimo. A eventual "coligação de esquerda", que aliás ainda é uma mera hipótese em negociação, pode ser uma solução politicamente inviável (como penso), mas não é ilegítima à luz de qualquer critério da democracia parlamentar. Pelo contrário.