1. A regras de disciplina orçamental e de governação económica da zona euro costumam ser apontadas como culpadas das dificuldades de alguns países periféricos, como Portugal, em aumentarem o seu potencial de crescimento, de emprego e bem-estar. É a tese da extrema-esquerda parlamentar entre nós, como fundamento prático da sua hostilidade ideológica à integração europeia em geral e ao euro em especial.
Mas independentemente do debate político-ideológico sobre a integração europeia, os factos desmentem frontalmente a responsabilidade do euro no nosso insucesso económico, apesar das aparências em contrário. Nem sempre o que vem depois supõe uma relação de causalidade ("post hoc" nem sempre significa "propter hoc").
Os exemplos da Irlanda e de Espanha, entre outros, mostram que é possível aos países periféricos crescerem robustamente no quadro das regras da zona euro. E, mesmo entre nós, o sucesso das reformas da legislação do trabalho e do arrendamento, adotadas no período de assistência financeira, no atual dinamismo do mercado de emprego e do mercado urbanístico respetivamente mostram que há muita margem interna para influenciar o crescimento e o emprego.
Não é por acaso que a esquerda radical quer "reverter" ou restringir também essas reformas, com o propósito de apagar o desmentido prático das suas teses.
2. O que dificulta o desempenho económico de vários países do euro não são as regras orçamentais e económicas da moeda única, que são iguais para todos, mas sim as más políticas internas, a começar pelas políticas orçamentais e a ausência de reforma dos obstáculos que travam a economia.
Fazer do euro o "bode expiatório" das nossas dificuldades não passa de um dispositivo tático para justificar a falta de determinação reformista ou a oposição ao euro e à União Europeia. Era conveniente não haver dúvidas sobre isso.