1. Os portugueses são capazes de vigorosos protestos individuais ou coletivos - quando se trata de defender interesses ou direitos próprios, individuais ou corporativos. Nada disso, porém, quando se trata de defender bens coletivos ou bens públicos, sem expressão direta na esfera individual, como o património público, o ambiente ou a qualidade de vida urbana. Aí os protestos, quando existem, são de pequenos grupos de ativistas, em geral sem eco social ou mediático. O que prevalece é o conformismo social e a passividade individual.
O que sucede com a ocupação selvagem do espaço público pelos partidos políticos, especialmente em períodos eleitorais, com painéis, cartazes, outdoors, faixas e bandeiras, por tudo quanto é sítio (rotundas, praças e passeios), à margem da lei e da decência pública - que denunciei aqui e aqui -, seria intolerável em qualquer país civilizado, mas passa entre nós sem protesto e sem revolta.
2. Não há inocentes aqui: as câmaras municipais não delimitam as áreas de propaganda autorizadas, previstas na lei, nem fazem remover os materiais ilegalmente instalados; o Ministério Público não cumpre a sua missão de defesa da legalidade, apesar de estar em causa o domínio público, e as ONGs não exercem o seu direito de "ação popular" nos tribunais. E para cúmulo, a imprensa silencia, cúmplice, e os cidadãos calam, indiferentes.
Pelos vistos, o aumento do nível de vida e da educação não é acompanhado do correspondente aumento da responsabilidade cívica e do empenho cívico. Continua a prevalecer a tradicional complacência e indiferença cívica perante o assalto ao que é de todos, como se não fosse de ninguém.
Decididamente, este país não tem emenda!